Não sou grande apreciadora das crónicas de Baptista-Bastos, mas a que hoje publica no DN é bem certeira:
«Salazar afastou-nos da política. Alegava que percebíamos pouco ou nada dos enredos que determinavam o processo histórico. (...)
Promovia a ascensão dos ambiciosos, sobretudo dos que abjuravam dos ideais, e a história dos seus governos está repleta dessa gente. Alguns, mantinham uma relativa ética republicana, de onde procediam, e do ideário maçónico, do qual se não tinham completamente dissociado.
Esta caracterização tem semelhanças, nada abusivas, com o político actualmente no poder. É apenas uma verificação histórica. Acontece um porém: Salazar era culto e bom manejador da língua. Frequentador, com mão diurna e mão nocturna, dos padres António Vieira e Manuel Bernardes, consumia pelo menos 36 horas a redigir os discursos mais importantes. O que nos calhou agora é aquilo que tem provado à exaustão. Mas a consciência antidemocrática é comum aos dois. Por muito que este encha a boca com a palavra "democracia", ele e sua prática são quase um sacrilégio, enquanto o outro só a proferia raramente e, claro!, para a escarmentar.
Somos responsáveis por um e por outro. Muito respeitadores por quem nos desrespeita, nos violenta e nos agride com mentiras e omissões, os nossos protestos quedam-se na obediência à estrutura "orgânica", por natureza cumpridora e legalista. (...)
Os episódios ocorridos na escadaria do Parlamento, e na "invasão" de quatro ministérios, representam veementes censuras ao recalcamento que este Governo nos aplica. O direito à desobediência impõe-se, quando o poder cria formas e estimula métodos contrários aos princípios das próprias noções de convivência social.» (Realces meus.)
.
1 comments:
Isto de comparar o incomparável ajudou muito à segunda eleição de um primeiro ministro Cavaco Silva.
Também o acusavam de ser um segundo Salazar.
Com certos cabelos brancos como BB era melhor meter a viola no saco.
Nem é original, e até é enganar os mais novos.
A coroa de glória do Benfica foi a taça da Europa em...1961!
Enviar um comentário