17.4.10

Um vídeo ao serão (8)


ilusões

Perder tempo com a Revolução


Foram necessários 67 anos de vida e 36 democracia para que este ex-militante do PCP enquanto jovem, exilado político até ao 25 de Abril, membro do PS logo a seguir, deputado à Constituinte e não só, celebérrimo e contestadíssimo Ministro da Agricultura em tempos de Reforma Agrária, e que diz ter saído da vida política activa por vontade própria há vinte anos, venha agora dizer que «perdemos tempo com a Revolução». Está na moda, é verdade, muitos o acompanham, não faz mais do que seguir os ventos da (sua) própria história. Lamenta, no fundo, que Marcelo Caetano tenha falhado a «evolução na continuidade»? Certamente.

António Barreto, hoje no «i»:
«Em relação a Espanha, o mais importante é o facto de não ter feito nem guerra colonial, nem Revolução. Portugal perdeu tempo com a guerra colonial, com os últimos anos de ditadura, com a Revolução e com a contra-revolução. Isto é um puro palpite, mas acredito que em relação a Espanha perdemos entre 20 a 30 anos. Cheguei a escrever que a Revolução em Portugal e a contra-revolução não deixaram sequelas. Acho que me enganei. Há um abismo entre patronato e sindicalismo que não existe dentro de algumas empresas. Esta dificuldade de discutir racionalmente creio que é uma sequela aberta e que vem desses 20 ou 30 anos que perdemos. Apetece-me dizer que foram inúteis, mas na História não há inutilidade, as coisas foram o que foram.»
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Rectângulo tipo País

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Transições e nostalgias


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16.4.10

Islândia, um país improvável


Há pouco mais de vinte anos, não conhecia ninguém que tivesse ido à Islândia e foi com curiosidade que fui lá parar, durante três ou quatro dias, por motivos mais ou menos profissionais.

Mas confesso que levei tempo a refazer-me da experiência. Disse desde então muitas vezes que, das viagens que fiz e que não foram assim tão poucas, foi certamente a mais desinteressante e que a Islândia é destino que nem ao cardeal Saraiva Martins é justo aconselhar.

Reykjavík é, ou era, uma cidade absolutamente desconcertada, invadida permanentemente por um cheiro a enxofre insuportável (sim, dos tais géisers…), com um centro miserável comparado com o qual a Rua do Comércio no Bombarral fazia figura de 5ª Avenida de Nova Iorque. Do clima, nem vale a pena falar porque chovia todos os dias, se tiritava em Maio e não havia relva que não estivesse ainda negra pelo gelo do inverno. Quanto a comida, salvavam-se os ovos mexidos do pequeno-almoço no hotel, já que, nos restaurantes, toda a desconfiança era pouca porque até um animal mais ou menos aparentado com um pinguim nos foi requintadamente servido.

Em longuíssimas excursões em que não havia rigorosamente nada para ver, os guias paravam para louvar uma florestação de meia dúzia de abetos ou para mostrar uma igreja, reconstruída depois de um décimo incêndio e sem qualquer pretensão ou estilo arquitectónico. Tudo o resto era uma sensação permanente de mergulho em The day after. Sei que há quem goste mas não foi o meu caso, nem o das dezenas de pessoas que me acompanhavam.

Com tanto espaço vazio e agradável no mundo, é verdadeiramente um mistério perceber o que terá levado uns pescadores nómadas a fixarem-se no local mais inóspito do universo e a dele fazerem um país.

E, no entanto: já então se sabia que os islandeses eram ricos, com um PIB de fazer inveja a quase todos os outros europeus, nas ruas viam-se mais carros topo de gama do que peões e, tudo, dos ditos carros às couves, era importado e tinha preços exorbitantes.

De onde vinha o dinheiro? De alguma indústria (pouca), da pesca, sem dúvida (durante muito tempo, que ninguém me falasse em comer salmão, fresco ou fumado…), mas, segundo constava, sobretudo das licenças para a dita pesca, vendidas a tudo o que era país ocidental. E como os islandeses eram poucos, e não gostavam muito de ter filhos, conseguiam assim viver que nem nababos.

A Björk já cantava sem que o soubéssemos então e a Islândia só muito recentemente nos entrou mesmo pela casa dentro como expoente máximo e simbólico da crise que nos apanhou ao virar de todas as esquinas.

E agora, numa espécie de vingança involuntária, paralisa a Europa com as suas cinzas que, aparentemente, nem os incomoda muito localmente. Se conseguissem aquietar o Eyjafjallajökull, nós agradecíamos.
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Isto não é um «post» sobre o Papa

… e não leva imagem porque o Brumas é uma casa decente. Por isso também, não copio os comentários delirantes que este link provocou ontem à noite no Facebook.
Até a irmã Lúcia deve dar voltas no túmulo!

P.S. - Entretanto, foi mudada a imagem da Nossa Senhora para a qual o link apontava. Para que este post faça sentido, vejam-ma aqui.

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Máxima do dia


Ver sempre o lado positivo da vida.
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15.4.10

Voz do povo


17:30, esta tarde. Alguém me alertou para o «Opinião Pública» na SIC Notícias, que ia a meio e cujo tema era o conjunto de tolerâncias de ponto concedido pelo governo. Do que ouvi, retive que o principal argumento de quem estava contra a decisão era a desigualdade de tratamento entre funcionários públicos e privados.

Qual laicidade, qual crise! O Sol quando nasce é para todos, comem todos ou não come nenhum e outros aforismos de que o camarada Jerónimo não desdenharia.
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O longo caminho de Joseph Ratzinger


Não é a primeira vez que Hans Küng critica o pontificado de Bento16, mas fá-lo com uma especial clareza e veemência numa «Carta aberta aos bispos católicos de todo o mundo», publicada hoje em El País.

Agora com 82 anos, começa por recordar que ele e Ratzinger foram os dois teólogos mais novos do Concílio Vaticano II, e descreve depois, detalhadamente, os motivos da desilusão que tem vindo a ter com a actuação do seu ex-colega na Universidade de Tübingen, que não só «relativiza os textos conciliares e os interpreta de forma retrógrada (…) como se situa expressamente contra o concílio ecuménico que, segundo o direito canónico, representa a autoridade suprema da Igreja católica».

Pararia por aqui aconselhando apenas mais uma leitura, não fosse dar-se o caso de me lembrar muito bem de Hans Küng e de Ratzinger durante o Vaticano II, não só pelo que escreveram e subscreveram (já  lá chego), mas porque o primeiro esteve em Portugal em Abril de 1967, para fazer duas conferências, uma em Lisboa e outra no Porto sobre «A liberdade dentro da Igreja». Eram tão «revolucionárias» então as esperanças que sobravam do Concílio, encerrado dois anos antes, que os eventos em questão até meteram PIDE, identificação de matrículas de carros, entre as quais o de Mário Soares, etc. etc. (Escrevi em tempos algo sobre este assunto, que os mais interessados poderão ler aqui.)

Mas o que me interessa é chegar a Ratzinger, numa tentativa para que se entenda de onde ele vem, o que talvez permita uma melhor leitura da «desilusão de Hans Küng e uma menor «desculpa» para as posições que o papa hoje toma.

A propósito da tal história de César e também da sua mulher




Por razões de segurança e para evitar congestionamento no trânsito, o governo decidiu dar uma tarde de tolerância de ponto a Lisboa e uma manhã ao Porto, quando Sua Santidade (que raio de expressão…) por cá andar. Deve ter certamente um qualquer ressentimento em relação ao Oeste, já que quer que todo o Portugal entupa os seus caminhos, no dia 13.

Isto, obviamente, porque longe de mim suspeitar que um Estado laico ande a decretar feriados por motivos puramente religiosos.

Há por aí uns católicos ressabiados pelas reacções que vão aparecendo contra esta decisão de Sócrates e que dizem esperar que os ateus empedernidos se apresentem garbosamente ao trabalho. Como se nesses dias, por um qualquer milagre da Virgem, nos tornássemos todos suecos, cheios de civismo e de zelo pelo PIB…

Se S. Pedro ajudar – e o que não fará ele pelo seu sucessor – as praias estarão mais cheias do que várias Covas da Iria e o Porto terá este ano um segundo S. João antecipado. Valha-nos isso.

P.S. - Leia-se o que muito correctamente sublinha a Fernanda Câncio.

O melhor conselho que recebi nos últimos tempos


«Não sejam tudo, em directo, a todo o tempo, com todas a pessoas. Não presumam que estão autorizados a ser, sempre, absolutamente sinceros. A transparência, vício dos impolutos, está a dois ténues passos do asselvajamento e nem todos conseguem abster-se de transpor a perigosa linha. Os amigos dos nossos amigos não serão, por osmose, nossos amigos e as relações relativamente próximas não são necessariamente íntimas. Por isso, façam o favor de fingir, engolir em seco para não ofender, mentir, se preciso for, em vez de dar largas à vossa indefectível verdade.»
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14.4.10

Viva a República! Viva Garzón!


No dia em que se assinala o 79º aniversário da implantação da República, multiplicam-se as manifestações em Espanha, de um modo geral associadas à defesa do juiz Baltasar Garzón que se arrisca a ser destituído de funções por ter pretendido investigar crimes ligados ao franquismo.

É o caso, por exemplo, da Izquierda Unida que lançou um manifesto a favor de Garzón e aproveitou para sublinhar que «a monarquia é a negação da igualdade perante a lei», que é tempo de «avançar na legítima aspiração pela III República» e de recordar que o rei Juan Carlos nunca condenou a ditadura de Franco.(A propósito, talvez seja bom rever o juramento do rei.)

Mas foi em Buenos Aires que ocorreu hoje a mais importante iniciativa relacionada com o caso Baltasar Garzón: já que se pretende impedir que os julgamentos aconteçam em Espanha, então que sejam feitos na Argentina – é o que exigem familiares de vítimas do franquismo e uma dezena de organizações argentinas e espanholas que apresentaram ao Tribunal Federal uma denúncia por genocídio e crimes contra a humanidade, cometidos em Espanha, de Julho de 1936 a Junho de 1977.

Entre outras coisas, pedem uma lista com o número de desaparecidos, assassinados e torturados, outra com as fossas encontradas em Espanha, a identificação das crianças roubadas às famílias durante a ditadura e os nomes de todas as empresas privadas, ainda activas, que beneficiaram do trabalho forçado dos presos republicanos.

(Aqui, texto na íntegra.)

P.S. - Ler também.

Com dedicatória a todos os «geeks» do novo mundo

Cheguei lá através do meu amigo Nelson de Matos, já espalhei pelo Fabebook, mas aqui fica também.


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Uma maravilha...

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13.4.10

Cuba - à petits pas?


Em terra dos irmãos Castro, os barbeiros e salões de beleza com um máximo de três cadeiras (!...) deixaram de ser explorados pelo Estado. Isto significa que os até agora «funcionários públicos» deixam de o ser, vão passar a pagar uma renda (15% das receitas, aparentemente) para utilização de espaço e equipamentos e contribuição para a segurança social - e a poderem ter lucros, assume-se. Muitos estarão satisfeitos, outros nem tanto assim por não verem grandes oportunidades de negócio.

Isto não é propriamente novo: desde a década de 1990 e quando se começaram a fazer sentir as consequências da falta de apoio soviético, legalizaram-se pequenos negócios por conta própria - como, por exemplo, alguns táxis, pequenas oficinas de artesanato (péssimas…), restaurantes nas próprias casas da de família – primeiro em grande número, depois, não sei porquê, com significativa redução de número de licenças.

Comi em «restaurantes» desse tipo durante duas estadias em Cuba: em 1995 e em 2003. Devo dizer que julgo que estive em iniciativas clandestinas e não autorizadas, embora os «donos» dissessem o contrário, e tudo aquilo me pareceu lamentável, sem um mínimo de profissionalismo ou de qualidade – miserabilismo, embora com a maior das simpatias.

Há quem veja grandes potencialidades e ponha grandes esperanças nestes «avanços» que procurariam responder às muitas críticas de mau funcionamento das pequenas empresas.

Mas leio que «o governo pede paciência para experimentar soluções que não impliquem medidas 100% capitalistas». E é aqui que eu fico confusa. Que percentagem de capitalismo representam medidas como esta, agora aplicada aos barbeiros? Alguma porque os preços a cobrar são livres e comandados pelo mercado? Não elevada porque se houver quatro clientes, o último tem de esperar que vague a terceira cadeira?

Parece que estou a brincar mas não é o caso. Espera-se caminhar para o quê? É esta a tal Revolução sem R de que fala Silvio Rodriguéz? Tudo isto me provoca uma grande tristeza.

(Fonte) entre muitas outras, todas iguais

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Imagens que mudam o mundo

Os fotógrafos não se limitam a documentar a história - também a fazem.

Grandes verdades


Desde que redescobri o Portugal Contemporâneo, passo por lá de vez em quando e nunca me arrependo. A produção de Pedro Arroja é tão grande que não consigo acompanhá-la, mas julgo que a sua longa série de posts recentes começou com a defesa de Bento16 e da Igreja e chegou agora a uma luta aguerrida contra o protestantismo, com longas dissertações sobre filósofos e filosofias. E eu, que há décadas substituí Kant por outro tipo de software mas ainda tenho «A Crítica da Razão Pura» aqui bem perto, abro os olhos de espanto ou dou uma gargalhada, conforme a dimensão do disparate.

Mas adiante quanto a coisas muito complicadas e regressemos ao protestantismo como raiz de muitos males, com duas citações apenas:



Quando eu for grande, também hão-de ler neste blogue coisas destas e assim.
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Um vídeo ao serão (7)



(Via Virgílio Vargas)

12.4.10

Caras e coroas


Interessantíssimo este artigo de Immanuel Wallerstein - «Antigo dilema da esquerda: o caso do Brasil» - ou, indo directamente ao assunto, «como medimos a "popularidade" de um partido e como avaliamos as suas credenciais de esquerda».

No caso concreto, discute-se, em termos de balanço, a actuação do ainda presidente Lula da Silva, por ocasião do 30º aniversário do PT (Partido dos Trabalhadores), do qual foi um dos fundadores. Teve o PT «de fazer concessões ao pragmatismo» para se tornar mais popular?

Para uns, americanizou-se, não é mais do que uma máquina eleitoral, um partido conservador e pragmático, pequeno-burguês e o preço que pagou foi o «abandono dos princípios e metas políticas que estavam presentes em sua origem». Outros consideram que o seu programa de estatização está «cem anos atrasado» e nada tem a ver com esquerda ou com socialismo. Finalmente, há quem pense que, nos últimos anos, se assiste a uma viragem à esquerda e que a actual crise do capitalismo trouxe o socialismo de novo para a cena do debate. Todos parecem temer o populismo, nenhuns têm em conta o factor geopolítico e a actual importância do Brasil neste campo.

Curiosíssimo é o contraponto a tudo isto, num artigo publicado por Fidel de Castro há poucos dias: «El último encuentro con Lula». O que os intelectuais de esquerda criticam são razões para elogios por parte de Fidel.

Wallerstein explica porquê: «Os intelectuais de esquerda brasileiros estavam a olhar principalmente para a vida interna do Brasil e a lamentar o facto de Lula nada mais ser do que, na melhor hipótese, um pragmático de centro-esquerda. Castro olhava principalmente para o papel geopolítico do Brasil e de Lula, que ele vê como sendo de enfraquecer o principal inimigo, o imperialismo dos Estados Unidos.»

Conclusões? Absolutamente nenhumas. Apenas matéria para muitas e variadas reflexões.

P.S. – Entretanto, o pragmatismo «geopolítico» de Lula já terá ultrapassado muito os limites do admissível.
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Tomás Vasques e os meus «posts» sobre o General Spínola

Detesto blogues sem comentários (já o disse 1.500 vezes, eu sei…) por muitas e variadas razões, uma das quais é a de não permitirem que se esclareça em duas linhas o que não justifica um post.

No Hoje há conquilhas, Tomás Vasques refere este post que publiquei ontem e diz já não o encontrar, sugerindo que eu possa tê-lo apagado. Enganou-se de blogue, até já mo disse no Facebook, mas, inexplicavelmente, não corrigiu na origem.

Abro aqui um parêntesis para sublinhar que tudo isto se tornou agora muito mais complicado e trabalhoso porque bloggers com Caixa de Comentários fechadas «em casa» a têm aberta, para os mesmos textos, no Facebook (que remédio se querem usar, publicitariamente, aquela plataforma…). Acontece que nem todos os leitores de blogues estão no Facebook, nem eu lá tenho a mesma lista de pessoas que o T. Vasques.

Fica aqui portanto o esclarecimento: o primeiro post existe (não é meu hábito apagar o que publico…) e escrevi já hoje um segundo em que explico e reforço a minha posição quanto à avenida ontem inaugurada com o nome de António de Spínola.

Já agora, aproveito para registar que T. Vasques preferiria que a ponte sobre o Tejo continuasse a chamar-se Ponte Salazar, o que não é o meu caso. Porque, guardadas as devidas proporções, percebo e aplaudo que os alemães tenham arrancado as estátuas de Hitler e que a Memoria Histórica em Espanha se esforce para que não se esbarre, a cada esquina, com recuerdos de Franco e dos vitoriosos da Guerra Civil. E isso não tem mesmo nada a ver com apagamentos de fotografias em tempos de estalinismos.
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Spínola, o nosso herói


Ao ver ontem que tinha sido inaugurada em Lisboa uma nova avenida, a minha primeira reacção foi apenas de indignação, sobretudo ao ler que, para Cavaco, «ao homenagear a figura do marechal António de Spínola, a Câmara Municipal de Lisboa pratica um acto de grande justiça, a que todos nos devemos associar com o maior júbilo».

A memória tende a ser curta para todos, mas talvez nem se trate de falta dela no caso do presidente de todos nós: muito provavelmente, ele rejubila-se mesmo quando pensa em Spínola e em tudo o que a sua figura e a sua complexa vida representou. (Menos compreensível, digo eu cheia de boa vontade, é ver António Costa associado ao evento, mas adiante.)

Podia lembrar aqui apenas, e seria o suficiente, a ligação de António de Spínola ao ELP / MDLP, organizações terroristas responsáveis, entre muitos outros actos, pelo ataque a dezenas de sedes de partidos de esquerda e pelo assassinato do padre Max.

Mas vale a pena recordar mais alguns elementos da sua biografia e J. M. Correia Pinto fá-lo bem no Politeia. «Como militar serviu devotadamente o Estado Novo e Salazar, como tantos outros», «era um fervoroso apreciador da bravura do exército alemão, cujas façanhas acompanhou, no cerco de Leninegrado, como observador», «simpatizava politicamente com o que de mais reaccionário havia então na Europa: o franquismo, a tradição prussiana do exército alemão enquadrada e dominada pelos nazis, e Salazar. Este pendor autoritário e anti-democrático acompanhá-lo-ia durante toda a sua vida».

Sabe-se que «Spínola, uma vez na Guiné, teve uma percepção mais correcta da guerra em que estava envolvido», mas também que «tal como Marcelo também ele não compreendeu o nacionalismo africano e sempre acreditou, ao ponto de ter mitificada a ideia durante toda a sua vida, que seria possível encontrar um rearranjo constitucional capaz de acomodar a presença política (económica e social) portuguesa com as aspirações autonomistas dos povos colonizados» e que o que «nunca foi capaz de superar foi a subalternidade do interesse nacional português no processo de libertação dos povos africanos».

É verdade que foi o primeiro PR em democracia, mas todos estarão recordados das suas tibiezas desde a noite do dia 25 de Abril, por exemplo com as hesitações quanto à libertação de todos os presos políticos. Para não falar, obviamente, do 28 de Setembro e das manobras de bastidores que antecederam o 11 de Março.

Não há como ver e ouvir para recordar e por isso aconselho vivamente este vídeo da RTP, nomeadamente do minuto 33:29 ao 44:06. Extraio apenas a seguinte afirmação de Spínola, em vésperas do 28 de Setembro:

«Não estamos dispostos a transigir, a nossa determinação de amor à Pátria com que nos batemos no Ultramar mantém-se intacta.»

Eu não me rejubilo com personagens destas, nem reconheço a ninguém o direito de se rejubilar por mim.

P.S. - Leitura absolutamente indispensável: «Antes Lisboa tivesse ganho uma Avenida Erich von Stroheim», de João Tunes.

(Publicado também em Vias de Facto.)
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Um vídeo ao serão (6)



(Via Paz Carvalho no Facebook)

11.4.10

Três anos por aqui? Uma eternidade!


Dizem os registos que «esta coisa» nasceu em 11 de Abril de 2007.
Escrevi no primeiro dia que o blogue teria uma vida efémera e constato hoje que até a efemeridade já deixou de ser o que era.

Entretanto, a blogosfera deu muitas voltas e eu talvez ainda mais. Balanços? Tal como os prognósticos, só no fim do jogo. Mas qual fim? E qual jogo?
Muito obrigada a todos os que por aqui têm passado - a porta continua aberta...


P.S. – Por acaso, este pequeno vídeo pode vir a propósito.

(Via Luís Osório no Facebook)
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Delírios americanos


Que os Tea Party estão na moda não é novidade e que Sarah Palin é uma das suas vedetas femininas mais em evidência também não. Também é sabido que nascem todos os dias grupúsculos de extrema-direita, armados até aos dentes.

Mas cresce o tom dos ataques delirantes a Obama – um clandestino que devia ser deportado porque falsificou a certidão de nascimento, um muçulmano que dá suporte a organizações terroristas, um comunista que pretende impor um regime marxista, um nazi comparável a Hitler.

A cereja em cima do bolo é no entanto a verdadeira obsessão pela figura do anticristo: Obama é frequentemente representado com cornos, dentes de drácula e olheiras vermelhas e - pasme-se ! - há 24% dos republicanos que acreditam que é o anticristo que vive na Casa Branca (14%, tendo em conta o conjunto dos americanos). Nem mais!


P.S. - Nem de propósito, via José Gabriel Pereira Bastos, no Facebook:


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Lá como cá: Marcha dos Precários em França


Num total de 3.000 milhões de desempregados em 2009, e de 4 milhões previstos para 2010, 850.000 chegaram ao fim dos subsídios em 2009 e o mesmo acontecerá a mais 1.000.000 em 2010.

Em preparação, uma grande Marcha de 900 kms, entre Marselha e Paris, de 25 de Maio a 14 de Julho de 2010. À chegada, será apresentada às autoridades uma série de exigências mínimas de protecção para os que não aceitam ser «os esquecidos da mundialização económica».

«Os governantes não hesitam em citar alegremente a Convenção universal de direitos do homem para aparecer como “ardentes defensores dos direitos humanos e democráticos”. (…) É inaceitável que a 4ª potência económica mundial irradie os desempregados que deixam de ter direito a subsídio (…), ao mesmo tempo que dá de graça aos banqueiros, principais responsáveis pela banca rota e arquitectos da crise permanente, várias dezenas de milhões».

Todos diferentes, todos iguais - por essa Europa fora.

Mayday Lisboa - Visite o blogue
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