15.8.15

Antes que o dia acabe



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15.08.1969 – Início do festival de Woodstock



Este velhinho LP ainda deve andar cá por casa.

Do primeiro dia retive, obviamente e para sempre, Joan Baez em «We shall overcome»


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Prefiro nem comentar



De uma entrevista a Sampaio da Nóvoa, Expresso de hoje, p.13 do 1º Caderno.
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Alguma dúvida?




«Greece’s experience thus demonstrates that national illiquidity and a banking crisis are synonymous with rising risk of a euro breakup. Without much hope that a third bailout will restore Greece’s solvency, it is only a matter of time before the country finds itself back at the euro exit door.» 
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14.8.15

No dia dela



... bem jeito por cá daria. Regressa, Padeira!
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14.08.1936 – Os massacres de Badajoz



Em 12 de Agosto de 1936, as tropas nacionalistas começaram o assalto a Badajoz, naquela que foi a luta mais dura desde o início da Guerra Civil. Quando a cidade se rendeu, todos os que tinham resistido foram levados para a praça de touros, ou para as imediações do cemitério, para serem executados ─ no dia 14 de Agosto de 1936. Não se conhece exactamente o número de mortos, que varia, segundo as fontes, entre 2.000 e quase 4.000.



Uma das primeiras testemunhas a chegar ao local foi Mário Neves, jornalista do Diário de Lisboa, citado em todos os relatos dos acontecimentos e que se ouve neste vídeo. Afirma ter tido a «visão mais dantesca da sua vida» e jurou não voltar.



O governo português foi cúmplice das tropas nacionalistas, tanto deixando que alguns dos seus elementos penetrassem no nosso território em perseguição aos republicanos, como colocando alguns destes na fronteira do Caia, de onde foram levados para Badajoz e executados. 
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Dica (114)




A Comissão para a Verdade sobre a Dívida Pública Grega apresentou as suas A Comissão para a Verdade sobre a Dívida Pública Grega apresentou as suas primeiras conclusões em Junho de 2015. É nesse quadro que Eric Toussaint, que coordena os trabalhos da comissão, resumiu em 17 de junho de 2015 os resultados, numa sessão pública no Parlamento helénico.
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O vazio nacional



«Por estes dias a política portuguesa resume-se à acção dos coladores de cartazes. Colocam novos para substituir os que ou usaram pessoas que não deram autorização para serem porta-vozes de um partido ou pessoas que talvez não saibam onde é Portugal apesar de opinaram sobre ele. (...) É certo que, nestes tempos de crise, a verdade é uma coisa impopular, mas a classe que deseja o poder deveria discutir coisas mais importantes do que cartazes. (...)

Notoriamente, é visível a bancarrota de ideias na política portuguesa, como se Portugal tivesse apenas de tentar não se molhar muito entre as gotas de chuva da crise europeia, a dívida brutal e o pagamento impossível desses compromissos sem pôr em causa qualquer melhoria das condições de vida dos portugueses nos próximos, e largos, anos. É certo que esta é a era do vazio ideológico e do colapso do pensamento. (...)

A questão é que, numa Europa que vai cavando a sua sepultura, temos à porta o capitalismo sem democracia (como na China ou na Rússia) e isso empolga muitas mentes. Afinal a democracia foi emprateleirada na Grécia com requintes selvagens e não pára, como se está a ver nas "reticências" alemãs ao acordo leonino com Tsipras. Em Portugal, a política perdeu autonomia para actuar em benefício do conjunto da sociedade e parece estar contente com isso. Ao mesmo tempo que parece diminuída pela corrupção e pela extinção do pensamento. O problema é que o vazio ocupou a política portuguesa. Nem sequer alternativas credíveis surgem no horizonte, nem que seja para agitar os ânimos, como sucede na Europa em todas as áreas políticas. Tudo se reconduz à qualidade e à autenticidade dos cartazes. Isso diz bem para onde caminhamos.»

Fernando Sobral

13.8.15

13.08.1961 – Início da construção do muro de Berlim



E eis senão que, quando se pensava que a Europa tinha festejado o fim dos seus muros em 1989, se  erguem outros hoje, numa absurda e ineficaz tentativa de evitar que milhões de humanos procurem sobreviver.

Ruirão estes novos muros, como ruiu aquele que começou a ser construído há exactamente 54 anos.


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Desempregado: procura-se



Ricardo Araújo Pereira, na Visão de hoje:

«Quando se descobriu que um cartaz do PS continha uma falsidade, fui tomado por um niilismo tão intenso que Nietzsche, junto de mim, é um incrédulo consumidor de time sharing. (...)
O PS poderia ter recorrido a uma pessoa cujo nível de vida desceu incontestavelmente durante a governação de Passos Coelho e reside agora num T0 em Évora.»

Na íntegra AQUI.
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Dica (113)




«Portugal is the EU country hit hardest by a Europe-wide demographic problem as falling fertility rates and ageing populations threaten economic growth and the provision of pension, public health and elderly care services.» 
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Uma Europa com interesses e sem ideias



«Há alguns anos alguém que detestava Silvio Berlusconi dizia dele: "Não tem ideias, só interesses." Da Europa pode dizer-se o contrário: só tem interesses e não tem ideias. E, acrescente-se, as que julga ter não são originais.

O novo resgate à Grécia apenas demonstra a bancarrota europeia: vai fingindo resolver os problemas enquanto vai atirando dinheiro, em vez de salva-vidas, para um país e um povo que se vai afogando no Mediterrâneo. O resgate esconde uma coisa: a verdadeira luta na Zona Euro está apenas a começar. Alexis Tsipras, para lá de todos os seus erros tácticos, demonstrou uma realidade: a Zona Euro não funciona segundo um sistema de regras mas na base de acordos de circunstância entre países. E a continuação deste sistema atabalhoado apenas vai semeando o nacionalismo em diversos países. (...)

Tendo encostado Tsipras à parede, Berlim e Bruxelas julgam ter controlado o caos. Mas esquecem que a casa europeia está mal construída e ameaça ruir. Os europeus não podem ter integração, democracia e soberania ao mesmo tempo. Teriam de abdicar da soberania para entrar no jogo comum de uma Europa dominada pelos mais poderosos. Não nos podemos admirar que foi nos extremos, sobretudo à direita, que mais se aplaudiu o gesto de Tsipras pela dignidade e pela soberania. Os nacionalistas, que poderão conquistar o poder em França, têm agora um exemplo para mostrar aos seus eleitorados: a UE é um palco para a humilhação e o empobrecimento dos povos.»

Fernando Sobral
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12.8.15

Importam-se de repetir?



«Imprensa alemã explica porquê: o FMI só entra no terceiro resgate se houver reestruturação da dívida grega, mas o governo de Merkel quer afastar essa exigência. Para isso, quer salvaguardar o FMI de eventuais perdas, mas serão os europeus a pagar caso corra mal.» 
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12.08.1963 – «Havemos de chorar os mortos se os vivos os não merecerem»



Foi em 12 de Agosto de 1963, duas semanas depois de o Conselho de Segurança ter condenado a política colonial portuguesa, que Salazar fez um importante discurso – «Vamos a ver se nos entendemos» – , na RTP e na Emissora Nacional.

Mas seria esta frase, rebuscada bem no seu estilo, que ficaria na lista das citações históricas do ditador: «Havemos de chorar os mortos se os vivos os não merecerem».



«Sem hesitações, sem queixumes, naturalmente como quem vive a vida, os homens marcham para climas inóspitos e terras distantes a cumprir o seu dever. Dever que lhes é ditado pelo coração e pelo fim da Fé e do Patriotismo que os ilumina. Diante desta missão, eu entendo mesmo que não se devem chorar os mortos. Melhor: havemos de chorar os mortos se os vivos os não merecerem

aqui e aqui mais duas partes do discurso.

Nada disto deve ser esquecido: 1963 foi anteontem, há muito sangue que ainda nos corre nas veias. 
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Dica (112)



Sala de pânico 2.0 (Viriato Soromenho Marques) 

«Mesmo que Atenas declarasse agora bancarrota total, as perdas alemãs seriam inferiores em dez mil milhões aos ganhos já obtidos. (...) Por quantos mais anos poderá sobreviver uma união monetária em que os mais fortes beneficiam da desgraça dos mais frágeis? Por quanto tempo sobreviverá uma Europa governada pela propaganda, e não pela coragem de estar à altura da realidade?» 
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Um país em chamas



«Durante milhares de anos o homem tentou dominar o fogo. Mas nunca o conseguiu. O fogo pode ser purificador e regenerador, como foi sempre visto em muitas filosofias e religiões, mas a sua capacidade destruidora é arrasadora. (...) Enquanto a classe política nacional faz piruetas sobre o nada, o país volta a arder sem compromissos, indiferentes a governos estáveis e maioritários. (...)

Fica clara uma coisa: há anos que falamos na quantidade sempre reforçada dos meios de reacção ao fogos, mas apesar de se dizer que o problema é sempre da falta de prevenção, nada de concreto se faz. O fósforo continua sempre aceso à espera do momento propício, enquanto os responsáveis falam para marcar presença. Não há resposta política a sério, porque todos estão mais interessados na intriga lisboeta. Falta ordenamento do território, limpeza e fiscalização a sério das florestas, uma estrutura de combate eficaz onde a maioria são voluntários. Falta vontade de fazer. Em Lisboa todos ficam muito chocados com as imagens na televisão. Mas, no país real, fica o deserto total.»

Fernando Sobral

11.8.15

A democracia no coração da luta pela Grécia

Candidatos presidenciais? Venham mais cinco



Regressa uma vez mais a questão dos eventuais inconvenientes de surgirem múltiplos candidatos às eleições presidenciais. Nos últimos dias, as redes sociais «ardem» com a possível candidatura de Maria de Belém, com argumentos que vão desde a sacrossanta e desejável união da «esquerda» à temível «dispersão de votos».

Esquematicamente, porque é de contas que se trata:

1 – «Os votos em branco e os votos nulos não têm influência no apuramento dos resultados», como a Comissão Nacional de Eleições vem sempre recordar. (Basta fazer as contas, por exemplo aqui.) Será eleito, à primeira ou segunda volta, o candidato que tiver mais de metade dos votos expressos, qualquer que seja o número de votos brancos ou nulos.

2 – Quanto maior for a abstenção (+ brancos e nulos), menos votos expressos são necessários para que um dos candidatos seja eleito à 1ª volta – seja ele de esquerda, de direita, ou daquilo que cada um quiser considerá-lo.

3 – Na teoria e na prática, a existência de mais candidatos faz diminuir a abstenção, na 1ª volta, porque há mais opções de escolha.

5 – Assim sendo, só têm razão para vociferar quando mais alguém dá um passo em frente aqueles que:
a) vivem na esperança de que o seu candidato preferido ganhe logo na 1ª volta;
b) têm tão pouca confiança nele que temem que não passe à 2ª.

Cá por mim, «venham mais cinco!»
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Que alívio!


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Don Draper não vem



«Don Draper não vai ser contratado por nenhum partido político português para lhe salvar a campanha eleitoral. Ele recusa-se a reproduzir neste cantinho a sua ideia vencedora para um refrigerante: "I'd like to teach the world to sing in perfect harmony."

Os Saatchis também não estão disponíveis para replicar a campanha que, muitos acreditam, levou Margaret Thatcher ao poder: "Labour Isn't Working." Assim PSD, CDS e PS têm de se contentar com ideias mais pobres. O choque frontal do PS com os seus cartazes mostra sobretudo uma coisa: a confiança absoluta é perigosa, excepto quando o convencido tem os punhos fortes. E o PS não tem. Por isso, a campanha do PS tem parecido, até ao momento, um canteiro de obras sempre em construção: cai um tijolo, coloca-se outro. Em vez de ter o canteiro cheio de ideias políticas fortes.

E o certo é que, até agora, o sentido das palavras nos cartazes do PS lembra o esperanto de George Orwell em "1984": vencedor, no esperanto do PS, significa vencido. O que é grave para quem quer ser alternativa. António Costa tem tempo, mas ele desgasta-se em batalhas inúteis com a inutilidade das ideias que circulam no seu círculo criativo. O mais grave em toda esta polémica servida num copo de água é que ela parece desvalorizar a ferida maior que não cicatriza neste país: o desemprego. Os números, um bocadinho mais acima ou mais abaixo, são o espelho da pobreza nacional e da esperança que se eclipsou, entre os que não conseguem empregos, os que o têm mas deixaram de ter segurança e os que, desistindo, emigraram.

No meio de tudo isso o INE tornou-se a bruxa das novas inquisições: vai para a fogueira por qualquer dos números que apresente. É esta a primeira lição desta pré-campanha: já ninguém confia em ninguém. E simboliza a miséria franciscana da campanha eleitoral que se viverá em Setembro, com muito pó e frases empolgadas e poucas ideias. Nem Don Drapper ou os Saatchis salvariam a imagem deste pântano folclórico que se adivinha.»

Fernando Sobral

10.8.15

Já não deve ter hipóteses


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Aprender com a Segurança Social


O texto de Sandra Monteiro em Le Monde Diplomatique (ed. portuguesa) de Agosto de 2015:

«Um ano depois do colapso do Banco Espírito Santo (BES) e do grupo do mesmo nome, que por sua vez se seguiu a uma crise financeira sem precedentes, com os Estados a serem chamados a injectar milhares de milhões de euros em situações de falências, más gestões e fraudes bancárias, dir-se-ia que era má altura para partidos em campanha eleitoral, sobretudo em países com crises sem fim à vista, recuperarem propostas de privatização, mesmo que parcial, do sistema de Segurança Social.

Dir-se-ia mesmo que dificilmente poderiam encontrar pior momento para o fazer, pois está muito viva a memória da facilidade com que as perdas de instituições bancárias se repercutem em perdas para os investidores privados e para os orçamentos públicos, da situação em que ficam os que depositaram as poupanças de uma vida de trabalho em fundos bancários. Neste cenário, cuja repetição é mais que provável numa economia financeirizada que os poderes públicos mal regulam, quem arriscará entregar parte dos rendimentos do seu trabalho a fundos de pensões privadas ou mutualistas quando o risco é ficar sem nada?

O problema é que as aprendizagens que as sociedades fazem sobre os dramas que as afligem são, elas próprias, um campo de combate. E o drama de um sistema financeiro instável, orientado para interesses privados mas protegidos pelos poderes públicos quando se trata de escolher a quem infligir perdas (bancos ou cidadãos), não é o único que aflige o cidadão comum. Não é sequer necessariamente o drama que todos vêem por detrás dos problemas que enfrentam no quotidiano – apesar de nele residir a compreensão do capitalismo financeiro actual. No quotidiano, para a maioria, o difícil é pagar as contas do mês, ter emprego ou viver com uma pensão de pobreza e constantemente reduzida.»

Continuar a ler AQUI.
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Dica (111)




«A história do PS é uma longa peregrinação que passou pela criação dos contratos a prazo, pela promoção das empresas de trabalho temporário, pela restrições à contratação colectiva, pela punição fiscal das vítimas dos recibos verdes. Por isso, não se diga que a culpa é do Athayde. O PS, que lhe paga, faz bem em preservar a imagem do “marqueteiro”. Porque o que ele faz ou deixa fazer não tem defesa, simplesmente porque o PS é o que é, um partido que se empenhou em enfraquecer os direitos, as regras e os mecanismos de criação de emprego. Os seus cartazes podem dizer o que for, mas serão sempre o retrato dessa realidade: o PS foi inimigo do emprego e agora não apresenta uma proposta consistente para a criação de emprego. Por isso, faz estes cartazes que desdizem o que dizem.»
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O FMI não saiu daqui



«Estamos dependentes do que os outros pensam de nós. Antigamente tínhamos de suportar apenas o que os viajantes românticos descobriam por aqui. Agora vivemos obcecados com o que pensam os alemães de nós ou, pior, os homens de negro.

Os Men in Black que não foram convocados para actores de filmes de série Z e acabaram como mensageiros do FMI. A redacção do FMI, chamada "segunda avaliação" depois de a troika ter fingido que se tinha ido embora, é um conjunto de recados. Ou de flechas envenenadas. Umas para este Governo e outras para o que há-de vir. De "medidas credíveis" para cortar despesa até ao "adiamento" ou "cancelamento parcial" do alívio da sobretaxa do IRS há de tudo para todos. (...)

Os partidos sabem que prometer não arruína ninguém. Os cidadãos precisam de sonhos. De outra forma para que é que servem os continuados sacrifícios? É essa sensibilidade que não existe no FMI ou em Berlim. Os Men in Black que por aí andam como fantasmas errantes conseguiram que com a "desvalorização interna" se atirasse a maioria dos portugueses para a indigência ou para a emigração. E não se calam.»

Fernando Sobral
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9.8.15

Nagasaki, para além da bomba



A acção da célebre ópera de Puccini, Madame Butterfly, passa-se em Nagasaki e relata uma relação trágica entre um oficial da marinha americano e Cio-Cio-San (butterlfy ou borboleta), uma gueixa de 15 anos.

Entre 1915 e 1920, o papel de Cio-Cio San foi interpretado por uma célebre cantora japonesa, Tamaki Miura, e há uma estátua sua, e outra de Puccini, no magnífico Jardim Glover que se situa numa colina sobre Nagasaki e ao qual se acede pelo maior e mais íngreme complexo de escadas rolantes, que alguma vez me foi dado ver e utilizar.


(Maria Callas)

Aí se visita também a residência de Thomas Blake Glover, um empresário escocês que muito contribuiu para a modernização industrial do Japão - uma lindíssima casa de estilo ocidental, a mais antiga que resta naquele país.


[Republicação]
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Filhos e enteados





O primeiro-ministro grego insurgiu-se contra a instituição do princípio de solidariedade “à la carte” na União Europeia, em que alguns Estados se recusam a contribuir com ajuda técnica e financeira aos países de acolhimento dos refugiados, como a Grécia e Itália.
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Dica (110)




«“Hay una mayoría del Comité Central de Syriza que está en contra del acuerdo y a favor de tomar medidas radicales”, responde. Toussaint considera que “la salida del euro ahora se convierte en una perspectiva necesaria”.»
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Naquele 13 de Julho



«Sólo en las películas de terror se ven escenas tan sádicas como las que vimos el 13 de julio pasado en Bruselas, cuando el primer ministro griego Alexis Tsipras – herido, derrotado, humillado – tuvo que acatar en público, cabizbajo, el diktado de la canciller de Alemania, Angela Merkel, renunciando así a su programa de liberación por el cual fue elegido, y el cual precisamente acababa de ser ratificado por su pueblo mediante referéndum.

Exhibido por los vencedores como un trofeo ante las cámaras del mundo, el pobre Tsipras tuvo que tragarse su orgullo y tragar también tantos sapos y culebras que el propio semanario alemán Der Spiegel, compadecido, calificó la lista de sacrificios impuestos al pueblo griego de “catálogo de horrores”… (...)

Al presentar a las muchedumbres a un Tsipras con la soga al cuello y coronado de espinas –“Ecce Homo”–, Merkel, Hollande, Rajoy y los otros pretendían demostrar que no hay alternativa a la vía neoliberal en Europa. Abandonad toda esperanza, electores de Podemos y de otros frentes de izquierda europeos; estáis condenados a elegir gobernantes cuya función consistirá en implementar las reglas y los tratados definidos una vez por todas por Berlín y el Banco Central Europeo. (...)

Lo que Angela Merkel ha querido demostrar de manera muy clara es que, hoy en día, no existe lo que llamamos alternativa económica, representando ésta una opción contraria a la política neoliberal de recortes y de austeridad. (...) Todo esto significa, simplemente, que el gobierno de un Estado de la zona euro, por mucha legitimidad democrática que posea y aunque haya sido apoyado por el sesenta por ciento de sus ciudadanos, no tiene las manos libres. (...)

Lo que está ocurriendo no sólo en Grecia sino en toda la zona euro – en nombre de la austeridad, en nombre de la crisis – es, básicamente, el paso de un Estado de bienestar hacia un Estado privatizado en el que la doctrina neoliberal se impone con un dogmatismo feroz, puramente ideológico. Estamos ante un modelo económico que está arrebatando a los ciudadanos una serie de derechos adquiridos después de largas y, a veces, sangrientas luchas.»

Ignacio Ramonet