«Há alguns anos alguém que detestava Silvio Berlusconi dizia dele: "Não tem ideias, só interesses." Da Europa pode dizer-se o contrário: só tem interesses e não tem ideias. E, acrescente-se, as que julga ter não são originais.
O novo resgate à Grécia apenas demonstra a bancarrota europeia: vai fingindo resolver os problemas enquanto vai atirando dinheiro, em vez de salva-vidas, para um país e um povo que se vai afogando no Mediterrâneo. O resgate esconde uma coisa: a verdadeira luta na Zona Euro está apenas a começar. Alexis Tsipras, para lá de todos os seus erros tácticos, demonstrou uma realidade: a Zona Euro não funciona segundo um sistema de regras mas na base de acordos de circunstância entre países. E a continuação deste sistema atabalhoado apenas vai semeando o nacionalismo em diversos países. (...)
Tendo encostado Tsipras à parede, Berlim e Bruxelas julgam ter controlado o caos. Mas esquecem que a casa europeia está mal construída e ameaça ruir. Os europeus não podem ter integração, democracia e soberania ao mesmo tempo. Teriam de abdicar da soberania para entrar no jogo comum de uma Europa dominada pelos mais poderosos. Não nos podemos admirar que foi nos extremos, sobretudo à direita, que mais se aplaudiu o gesto de Tsipras pela dignidade e pela soberania. Os nacionalistas, que poderão conquistar o poder em França, têm agora um exemplo para mostrar aos seus eleitorados: a UE é um palco para a humilhação e o empobrecimento dos povos.»
Fernando Sobral
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