27.4.24

Un œillet rouge a fleuri au Portugal

 


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27.04.1974 –Os novos «hóspedes» de Caxias: Pides

 


O Diário de Lisboa de 27 de Abril relata que, na madrugada desse dia, 170 agentes da PIDE foram levados da António Maria Cardoso para a prisão de Caxias, depois de cerca de outros 200 terem fugido por uma passagem subterrânea que ligava a sede daquela polícia a um outro prédio. 24 horas depois da saída dos presos, Caxias teve novos «hóspedes».

Além disso:
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Ahahahah!

 

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O 25 de Abril “divide”? Em 2024, divide...

 



«O domínio da direita nos órgãos de informação está a fazer mais uma mistificação, que depois circula com sucesso, não só porque não tem contraditório, mas também porque o espírito de rebanho é muito poderoso. Esta mistificação é despolitizar a parte das comemorações que é mais difícil de “engolir” à direita, que são as manifestações “populares”, com muitas centenas de milhares de pessoas que foram para a rua, muito mais do que é costume, não para comemorar os 50 anos, mas para contrariar aquilo que parece ser a tendência política-eleitoral dos nossos dias: a ascensão do Chega em primeiro lugar e, em segundo, o Governo da AD. Esse foi o grande motivador e, goste-se ou não, não é possível analisar o que se passou sem ter em conta que uma sensação de perda e risco está a mobilizar muita gente contra aquilo que parece ser o statu quo político.

Se este tipo de mobilização se reflecte eleitoralmente nas europeias, é prematuro prever, porque depende de muitos factores. Na verdade, por muito que o facto de centenas de milhares virem para a rua e não se limitarem a uma oposição cómoda seja relevante, este tipo de mobilização pode não ter projecção eleitoral significativa. Mas significa que, com excepção do populismo do Chega, não existe nenhum impulso mobilizador nos outros sectores de direita. Não há grande empatia pela governação da AD, nenhum entusiasmo pela mudança governativa em si, e quer o PSD quer muito menos a sua "versão actual dos Verdes do PCP", o CDS, estão longe de ter a dinâmica que o Chega revelou. Mesmo à direita, as pessoas interiorizaram o impasse político gerado pelo facto de o partido indesejável, o Chega, ser quem decide, e sem o Chega a AD parece ter tido uma vitória de Pirro.

É por isso que a esquerda teve a sua primeira manifestação de força e um grande dia, porque era evidente que na rua era a esquerda e as pessoas que não querem a direita no poder que fizeram a manifestação. Sim, o “25 de Abril é de todos”, mas na realidade em 2024 não foi, porque a manifestação respondeu a um receio sobre a liberdade e a democracia que a actual situação política parece justificar. Pensar que foi outra coisa, e que o que de mais significativo aconteceu na manifestação foi haver famílias com criancinhas, adolescentes, “jovens” na acepção actual – havia igualmente muitos velhos, –, esquece deliberadamente o que diziam os milhares de cartazes artesanais que representavam vozes individuais inorgânicas. Esses cartazes são já mais do que a presença na manifestação, são vontade de dizer coisas com voz própria, com a individualidade de quem os fez em casa num bocado de cartão e com um marcador e que depois se erguem na rua. E as mensagens eram inequívocas, e não se pode falar da manifestação sem as ter em conta.

A manifestação dita “popular” do 25 de Abril tem uma história à esquerda. Sempre foi tida como um contraponto às comemorações oficiais, e umas vezes contra o PS, noutras contra o PSD, conforme quem esteja no governo, sempre representou uma atitude crítica mais à esquerda. Veja-se quem tem sido a comissão organizadora das manifestações, o papel da Associação 25 de Abril, que a abre com as suas chaimites, e partidos como o PCP e o Bloco, a CGTP, e a miríade de pequenas organizações de extrema-esquerda que desfilam.

No PS, para além da ala esquerda do partido cujas personalidades figuram entre os organizadores, é a JS que tem tido o principal contingente. É verdade que quer a JSD quer a IL participaram no fim da marcha oficial, e fazem bem, porque não só têm pleno direito de se manifestar no 25 de Abril, como é correcto do ponto de vista da saudação à liberdade que lhes permitiu a organização e a acção. Mas as poucas centenas de pessoas que com eles desfilaram não alteram a composição global e o sentido político que em 2024 teve a manifestação.

É igualmente verdade que a manifestação tem um ambiente de festa e que já foi noutros anos, com menos gente, mais agressiva no plano político. Mas uma parte dessa festa tem um sentido comunitário, muitas pessoas só se encontram nesta altura e os encontros que se puderam testemunhar eram de pertença e de afirmação de que naquela luta estavam juntos. Como se fosse um exército e uns e outros mostravam que estavam no seu posto. Muitos se encontravam, família, grupos, amigos, saudando-se com palavras de ordem do género “25 de Abril sempre” e o outro lado dizia “fascismo nunca mais”. Não é mesmo a direita que lá está.

A mistificação parte do princípio de que em 2024 há unanimidade à volta do 25 de Abril, o que não é verdade. O modo como à direita, radical, se tem usado como contraponto ao 25 de Abril o 25 de Novembro é objectivamente contra o 25 de Abril, até porque o 25 de Novembro da direita é uma falsificação histórica. Não me parece que o objectivo de criar uma comissão oficial para celebrar o 25 de Novembro seja para homenagear o grande lutador pela democracia em 1975 no plano civil, Mário Soares, ou o partido mais relevante nessa luta, o PS, e os militares do Grupo dos Nove, como Vasco Lourenço ou Sousa e Castro ou Ramalho Eanes e o Presidente Costa Gomes, tudo gente que a direita detesta. E limitar essas comemorações a Jaime Neves, que actuou sob ordens, é um reducionismo absurdo, assim como esquecer o papel decisivo de Melo Antunes, que somou à derrota da esquerda militar no dia 25 a vitória sobre a contra-revolução, recusando no dia 26 ilegalizar o PCP.

Aliás, seria interessante ver como seria a dimensão de uma manifestação “popular” comemorando o 25 de Novembro, e compará-la com a de há dias.»

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26.4.24

Taças

 


Taça Gazela, Art Deco, Steuben Glass,1935.
Desenho de Sidney Waugh.


Daqui.
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Guernica

 



Guernica foi bombardeada em 26 de Abril de 1937.
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26-27.04.1974 – A libertação dos presos de Caxias

 


Que esta memória nunca se apague.

Seis vídeos com a libertação dos presos AQUI.
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Com um cravo na mão à hora certa

 


«Quando perguntaram a Palmiro Togliatti, líder do PCI entre Gramsci e Berlinguer (com Luigi Longo pelo meio) e teórico da “via italiana” parlamentar para o socialismo, o que tinham os comunistas ensinado aos italianos, ele respondeu: “Ensinámos aos camponeses e aos operários a não tirarem o chapéu quando o patrão passa.” Ouvi esta frase quando revi “A Coisa”, o documentário de Nanni Moretti sobre o debate interno antes da transfiguração do menos pró-soviético dos partidos comunistas em coisa nenhuma. Mas não é de comunistas que quero falar. É daquilo a que se quer reduzir a nossa Revolução.

Abril deu ao trabalhador a dignidade de não tirar o chapéu ao patrão, à mulher o direito a deixar de pedir autorização ao marido, ao negro a experiência de não tratar o branco por “senhor”. Primeiro em explosão de liberdade, só depois com direitos formais. O 25 de novembro, que o povo apoiou sem alguma vez festejar, foi necessário para travar a caminhada para o abismo das “vanguardas”. Mas hoje serve para os outros derrotados desse dia (os que Melo Antunes travou quando queriam a revanche saudosista) tentarem criminalizar essa explosão inicial, transformando a Revolução num mero golpe de Estado. Do 25 de Abril fazem parte o 28 de setembro, o 11 de março, o 25 de novembro. Mas só Abril libertou. E resumir essa libertação ao fim da censura e da polícia política ou à adoção da democracia parlamentar é ignorar o que há mais tempo oprimia os portugueses: a miséria, a dependência, o favor, a herança. O que acabou com a indignidade foram os direitos dos trabalhadores, o sistema de reformas universal, as fé¬rias, o 13º mês, a escola pública para todos, o Serviço Nacional de Saúde. Sobraram relíquias, como o corporativismo. Na justiça, onde está intacto, alimenta o justicialismo antidemocrático de uma casta “moralmente superior”. Tivéssemos optado pela serena transição e assim seria tudo o resto, com os velhos poderes a tutelar a jovem democracia.

Não há liberdade a sério para quem vive em necessidade. Quem não tem direitos não pode deixar de tirar o chapéu ao patrão que passa. Não há mulheres livres que não se sustentem a si mesmas. Um cidadão não vive em democracia se o medo impera na empresa onde trabalha. O que libertou e democratizou o nosso país foi, antes de tudo, uma profunda revolução social. Parte vinha de antes, muito chegou depois, como acontece sempre nestas mudanças. Sem exagerar nos resultados, porque ainda somos dos países mais desiguais da Europa, os portugueses libertaram-se quando deixaram de depender do padre para continuar a estudar, da sorte para não morrer no parto, do berço para chegar ao ensino superior, da obediência ao patrão para manter o emprego. Se a extrema-direita ameaça a democracia política, outros têm atacado estas conquistas, que veem como um perigo para a liberdade do privilégio. Não atacam o Abril que nos une. Atacam o Abril que, democraticamente, continua em disputa. Aquele que operou uma mudança ainda mais profunda do que a mudança de regime.

Em “A Coisa”, um outro militante em sofrimento existencial diz: “Quando os comunistas perdem a ideia da revolução, perdem o sentido da aventura. Sem sentido da aventura tornam-se gente aborrecida e, como vimos, até gente perigosa.” Não quero o regresso da utopia comunista que, tendo combatido a exploração onde foi resistência, deixou um rasto de crime onde chegou ao poder. Por estes dias, a (verdadeira) social-democracia chega e sobra como radicalidade. Quero que alguém se recorde que o 25 de Abril não se fez para estarmos de acordo. Se gritamos “25 de Abril, sempre”, é porque ele está sempre em disputa. Quando apenas servir para unir os que defendem um modo de Governo, estará tão morto como o 5 de outubro. Abril deu-nos o direito a sermos do “contra”. Por isso o celebramos com uma manifestação de protesto, coisa incompreensível para estrangeiros que vão espreitar a avenida. Porque ainda não é apenas mais uma festa do regime.

Engana-se quem diz que Abril não se cumpriu. Conquistámos os instrumentos para decidir o nosso futuro. Se, nas últimas décadas, reduzimos a democracia à seleção dos gestores de coisas inevitáveis, isso foi escolha nossa. E essa escolha talvez tenha ajudado a inchar a extrema-direita. A democracia deixou de prometer mais do que o olhar alcança. E isso mata as ditaduras, as democracias, todos os regimes. A extrema-direita cresce porque as pessoas precisam que alguém diga que quer mudar alguma coisa. Apesar de não serem mais do que o sistema por meios mais agressivos, ao menos fingem que são do “contra”. Nós, como diria José Mário Branco, “saímos à rua de cravo na mão sem dar conta de que saímos à rua de cravo na mão a horas certas”. Defendemos as conquistas de Abril, a memória de Abril. Tanto empenho em defender Abril que nos esquecemos que Abril nos trouxe o direito à dissidência. Esquecemos que somos os que um dia tomarão o castelo, não os que o defendem. Se queremos celebrar Abril, reinventemos a desobediência. Ou, perante a evidência que deixámos de conquistar coisas novas, os seus inimigos ocuparão esse lugar.»

Daniel Oliveira
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25.4.24

25.04.1974 – Uma das minhas relíquias

 


(Francisco Sousa Tavares, Nuno Bragança, Maria Belo, eu e Pedro Tamen.)

A tarde tinha acabado, o Largo do Carmo estava já vazio, nós ficámos a andar por ali e a Liberdade também.

(Fotografia de M. de Carmo Galvão Teles)
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Sim, fomos muitos a ver

 


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Poema de Abril

 



A farda dos homens
voltou a ser pele
(porque a vocação
de tudo o que é vivo
é voltar às fontes).
Foi este o prodígio
do povo ultrajado,
do povo banido
que trouxe das trevas
pedaços de sol.


Foi este o prodígio
de um dia de Abril,
que fez das mordaças
bandeiras ao alto,
arrancou as grades,
libertou os pulsos,
e mostrou aos presos
que graças a eles
a farda dos homens
voltou a ser pele.


Ficou a herança
de erros e buracos
nas árduas ladeiras
a serem subidas
com os pés descalços,
mas no sofrimento
a farda dos homens
voltou a ser pele
e das baionetas
irromperam flores.


Minha pátria linda
de cabelos soltos
correndo no vento,
sinto um arrepio
de areia e de mar
ao ver-te feliz.
Com as mãos vazias
vamos trabalhar,
a farda dos homens
voltou a ser pele.


Sidónio Muralha, Poemas de Abril
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Foi isto todo o dia



E ficou gravada em mim para sempre.
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24.4.24

Um vaso diferente

 


Vaso «Junon», de esmalte policromado em cobre, com pegas e base em prata. Cerca de 1900.
Eugène Feuillâtre.

Daqui.
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Quarenta e sete anos, dez meses e vinte e quatro dias depois

 


«A cidade apareceu ocupada e radiosa. Deparámos com colunas militares, inundadas de sol; e povo logo a seguir, muito povo, tanto que não cabia nos olhos, levas de gente saída do branco das trevas, de cinquenta anos de morte e de humilhação, correndo sem saber exactamente para onde mas decerto para a LIBERDADE!

Liberdade, Liberdade, gritava-se em todas as bocas, aquilo crescia, espalhava-se num clamor de alegria cega, imparável, quase doloroso, finalmente a Liberdade!, cada pessoa olhando-se aos milhares em plena rua e não se reconhecendo porque era o fim do terror, o medo tinha acabado, ia com certeza acabar neste dia, neste Abril, Abril de facto, nós só agora é que acreditávamos que estávamos em primavera aberta depois de quarenta e sete anos de mentira, de polícia e ditadura. Quarenta e sete anos, dez meses e vinte e quatro dias, só agora.»

José Cardoso Pires, Alexandra Alpha
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Ironias do (nosso) destino

 


Bugalho sai da Impresa, Costa entra no Correio da Manhã.

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Para a AD, experiência é cadastro?

 


«Conheço Sebastião Bugalho há uns dez anos (o que quer dizer que o conheço quase desde que saiu da adolescência). Como se costuma dizer, tenho muita estima pessoal e respeito intelectual por ele. Na realidade, arriscaria a falar de amizade, não usasse o termo com parcimónia. Tive muitas discussões com pessoas de esquerda em sua defesa. Acho-o inteligente, com cultura política e rápido. Mas o facto de comentadores e jornalistas andarem pelo mesmo ramo não deve levar a um tratamento diferenciado, ou seremos mais uma corporação que se protege e assim vai tomando o poder. Escreverei sobre Sebastião Bugalho o que ele escreveria, se decidisse fazer uma análise politicamente desapaixonada.

Se olharmos para os cinco partidos menos recentes, tiveram, como cabeças de lista ao Parlamento Europeu, Mário Soares, Pacheco Pereira, Lucas Pires, Carlos Carvalhas ou Miguel Portas. O PSD teve, para além de Pacheco Pereira, António Capucho, depois de ter sido ministro dos Assuntos Parlamentares de Cavaco Silva; Eurico de Melo, depois de ter sido ministro da Administração Interna e da Defesa; João de Deus Pinheiro, depois de ter sido Ministro dos Negócios Estrangeiros e comissário europeu; e Paulo Rangel, com vasto pensamento sobre política europeia (que, apesar das suas inúmeras intervenções, não conheço em Bugalho), sendo uma reserva para a liderança do partido. Gosto mais do uns do que outros, mas é óbvio que o estatuto tem contado. E isso não está errado.

O cargo político mais relevante que Sebastião Bugalho ocupou foi o 6º lugar na lista do CDS para Lisboa (não eleito), em 2019. Seria um cabeça de lista possível (e ainda assim arriscado) para o CDS ou para a IL – esta foi uma excelente semana para Cotrim de Figueiredo, que passou a ser o candidato politicamente mais sólido e qualificado à direita. É impensável para liderar o partido que acabou de vencer as eleições e governa o país. O Sebastião vai-me perdoar, mas não tem o estatuto, que vem da experiência política e cívica e dos testes políticos pelos quais se passa, para liderar uma lista nacional do maior partido português.

Quando olhamos para Catarina Martins, Cotrim de Figueiredo ou João Oliveira, cabeças de lista de partidos muito mais pequenos do que o PSD, percebemos o absurdo do truque mediático, que causa entusiasmo na semana do anúncio. Que alguém tenha achado boa ideia convidar o presidente da Câmara Municipal da segunda principal cidade do país (que até acho que seria um mau candidato) para ser o seu número dois de Bugalho diz bem de como as coisas estão de pernas para o ar. E se toda a gente percebe isso, fica a dúvida: o que é ofensivo para Rui Moreira é bom para os eleitores?

Sei que o populismo faz do currículo político cadastro. Não se espera que o PSD, que tem como vantagem em relação aos seus concorrentes à direita a experiência dos seus quatros (pense-se em alguém como Poiares Maduro, por exemplo), siga esse caminho. E mesmo a experiência fora da política não está lá. O Sebastião Bugalho tem qualidade na análise do jogo político e tem cultura política. Não tem experiência que o qualifique para o lugar. Guardarei para outro texto a transformação dos comentadores numa casta política selecionada pelas televisões. Mas a sociedade civil onde querem ir buscar novos rostos não é o objeto que temos na sala e que se desliga com um comando. O mundo fora das sedes partidárias não se resume, ao contrário do que parecem pensar quem só conhece os partidos, aos estúdios da televisão.

A questão também não é a idade. Oiço falar de Paulo Portas. Ele tinha quase a idade de Sebastião Bugalho quando fundou o jornal que fez abalar o cavaquismo, mudado, para o bem e para o mal, o jornalismo português. Antes de ter direito a um lugar de destaque na política (com 33 anos, ao lado de Monteiro, e 35, como líder do CDS) teve de dar muitas provas fora dela. Sebastião Bugalho ainda só fez comentário. Como disse João Cotrim de Figueiredo, o argumento de Montenegro para esta escolha parece resumir-se à visibilidade no núcleo que se espera que vote nestas eleições.

Também vi comparações com Marta Temido. Não estou certo que tenha sido a escolha ideal para quem quer virar a página, passando os próximos dois meses a discutir o legado no SNS. Mas a cabeça de lista do PS foi ministra da Saúde durante a maior pandemia num século. Cada um fará a sua avaliação, boa ou má (era a ministra mais popular na altura?), mas não me ocorre maior teste a um político. Temido pode ser avaliada como política, Sebastião apenas pelas coisas que disse na televisão. Mesmo o número dois da lista, Francisco Assis, deu muito mais provas, como autarca, eurodeputado e presidente do Conselho Económico e Social, tendo um vasto pensamento sobre a Europa, que desconhecemos em Bugalho.

O problema dos comentadores é a sua vantagem: apareceram muito, mas também falaram muito. Em outubro, Bugalho previu a dificuldade da AD arranjar “cabeças de lista mais prestigiados e mais prestigiantes – ex-governantes, nomes que consigam disputar a eleição”. Entretanto, houve legislativas e Montenegro venceu. Paulo Portas já não é a única possibilidade para evitar uma “derrota flagrante ou honrada”. Mas, sem desprimor para o Sebastião, a dificuldade em arranjar um cabeça de lista prestigiado e prestigiante não se resolveu. Porquê?»

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23.4.24

Bugalho, Bugalho, quem és tu?


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23.04.1936 – Tarrafal, 88 anos

 


A Colónia Penal do Tarrafal foi criada pelo Governo de Salazar ao abrigo do Decreto-Lei n.º 26. 539, de 23 de Abril de 1936.

Seis meses depois, em 18 de Outubro, os primeiros presos saíram de Lisboa, no paquete Luanda, com destino ao que viria a ser o «Campo da Morte Lenta», na ilha de Santiago, em Cabo Verde. Aquele navio era normalmente usado para transporte de gado proveniente das colónias e os porões utilizados para esse efeito foram transformados em camaratas. Depois de uma escala no Funchal e de uma outra em Angra do Heroísmo, para recolher mais alguns detidos e / ou largar os menos perigosos, e no fim de uma viagem em condições degradantes, foram 152 os que desembarcaram, no dia 29, em fila indiana, antes de percorrerem os 2,5 quilómetros que os separavam do destino final.

Depois, foi o que se sabe: histórias de terror, 32 pessoas por lá morreram e o Campo durou até 1954. Foi reactivado em 1961 quando começou a Guerra Colonial, como «Campo de Trabalho do Chão Bom», para receber prisioneiros oriundos das colónias. Durou até 1974.
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Grande José Barata Moura!

 



Mais actual do que quase nunca.
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Europeias, o comentador da TV e a ministra da pandemia

 


«Sebastião Bugalho e Marta Temido. Os nomes saltaram nesta segunda-feira para a ribalta no momento em que foram anunciados pela comunicação social como os cabeças de lista escolhidos pela AD e pelo PS para as eleições europeias de 9 de Junho.

Os próximos dias serão importantes para perceber como Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos chegaram a estas escolhas. Tendo em conta que estamos a falar de eleições para o Parlamento Europeu será legítimo pensar que na base da decisão de cada um dos líderes possam estar critérios como: o pensamento de cada um sobre a Europa, o peso que cada um pode ter junto dos eleitores, e, numa perspectiva mais táctica, as implicações que cada uma destas escolhas terá no jogo de xadrez que cada partido faz entre os seus militantes mais destacados.

A escolha de Sebastião Bugalho é a que representa maior mistério. O ex-jornalista, e comentador da SIC e colunista do Expresso, terá opinião sobre a Europa, mas terá pensamento como eurodeputado? Quanto à mobilização para o voto: ninguém sabe. É certo que está no prime-time da SIC Notícias muitas noites, mas não é certo que audiências se convertam em votos. Quanto ao que a escolha de Bugalho representa para opções futuras do PSD ou da AD, a incógnita é grande.

Sabe-se apenas que Sebastião Bugalho sucede ao sólido Paulo Rangel, que em 2019 foi o cabeça de lista e que acumula créditos na UE, ocupando agora o cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros. Sabe-se ainda que Bugalho é um independente e que, à partida, a sua escolha, não sugerindo uma leitura típica do jogo de xadrez partidário, pode revelar um salto no escuro da parte de Luís Montenegro, que terá recebido uma nega do também independente, mas reconhecido Rui Moreira.

Já a escolha de Marta Temido parece sinalizar uma estratégia diferente. A deputada socialista tem no currículo a experiência de ter sido a ministra da Saúde durante a pandemia. A tarimba governativa em tempos desafiantes – cá e no resto da Europa – poderá ter dado a Temido a possibilidade de mais pensamento sobre os temas europeus.

Além disso, a socialista tornou-se uma figura popular no PS e fora dele. Recebeu o cartão de militante do PS das mãos de Costa e há um ano era apontada numa sondagem como a socialista que melhor resultado obtinha contra Montenegro, se excluíssemos António Costa da equação, e mesmo à frente de Pedro Nuno Santos. A escolha de Temido, que se segue à de Pedro Marques há cinco anos, tem ainda outra possível vantagem: afasta-a de uma eventual candidatura à Câmara de Lisboa, abrindo caminho a Duarte Cordeiro, aliado político do líder do PS.»

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22.4.24

Uma capa que vale mais do que muitas palavras

 

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“Portugal distingue-se pela negativa por ter muita gente que defende formas de governar não democráticas”

 



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«Nunca pensei viver»

 


Nunca pensei viver para ver isto:
a liberdade – (e as promessas de liberdade)
restauradas. Não, na verdade, eu não pensava
– no negro desespero sem esperança viva –
que isto acontecesse realmente. Aconteceu.
E agora, meu general?

Tantos morreram de opressão ou de amargura,
tantos se exilaram ou foram exilados,
tantos viveram um dia-a-dia cínico e magoado,
tantos se calaram, tantos deixaram de escrever,
tantos desaprenderam que a liberdade existe –
E agora, povo português?

Essas promessas – há que fazer depressa
que o povo as entenda, creia mais em si mesmo
do que nelas, porque elas só nele se realizam
e por ele. Há que, por todos os meios,
abrir as portas e as janelas cerradas quase cinquenta anos –
E agora, meu general?

E tu povo, em nome de quem sempre se falou,
ouvir-se-á a tua voz firme por sobre os clamores
com que saúdas as promessas de liberdade? 
Tomarás nas tuas mãos, com serenidade e coragem,
aquilo que, numa hora única, te prometem?
E agora, povo português?

Jorge de Sena, 40 anos de servidão

CDS, um PEV com lugar cativo

 


«Quando o CDS saiu do parlamento a comunicação social parece ter decidido ignorar a vontade popular e vários dirigentes e militantes, que estavam no espaço de comentário em representação partidária, mantiveram os seus lugares, apesar de representarem muito menos portugueses do que a IL ou o Chega. Nuno Melo continuou a aparecer na comunicação social, para transmitir a posição do partido em questões nacionais (nas europeias, compreendia-se) e o PSD até teve o topete de tentar que o líder de um partido extraparlamentar representasse a AD em alguns debates. A comunicação social parecia ter um lugar cativo para o CDS.

Em março deste ano, o CDS voltou ao parlamento. Umas vezes tem existência autónoma, outras, quando o Presidente quer que ignoremos o empate de deputados entre PS e PSD, vai a Belém com o PSD, numa originalidade constitucional que garante à AD existência pós-eleitoral. Mas, se o CDS deve a si a eleição de dois deputados, o PS é o maior partido parlamentar. Os 50 mil votos de diferença entre o PS e a AD nem chegariam para eleger um deputado do CDS. Se assumimos que o PSD é o primeiro partido em votos, aqueles deputados foram oferecidos. O CDS não voltou ao parlamento pelo seu pé. Nada mudou, que se saiba, na vontade popular.

Achei que fazia sentido, do ponto de vista da direita, o PSD oferecer ao CDS o regresso à Assembleia da República. Muito provavelmente para o que deverá ser um processo de fusão ou absorção de alguns bons quadros do partido. O PSD está mais à direita do que quando a verdadeira AD nasceu, o espaço à sua direita foi ocupado por liberais radicais e a extrema-direita e resta ao CDS ser a ala conservadora do centro-direita.

Como a formiga que, em cima do elefante, se gaba da poeira que os dois fazem, o CDS tem dito, com uma risível insistência, que garantiu a vitória da AD. Mas já não existe eleitorado do CDS que conte. E toda a gente o sabe. Começando pelos próprios, que têm consciência que não poderão fazer com Montenegro o que Portas fez com Passos e de que este hoje se queixa. O CDS não tem autonomia estratégica. Se se voltar a separar do PSD, morre. O CDS é, hoje, o PEV da direita. Existe porque outro partido quer que ele exista.

É perante isto que a exaustiva cobertura televisiva do congresso de um pequeno partido sem existência autónoma é inexplicável. Dirão: tem peso na governação. Faço minha a pergunta de João Maria Jonet: lembra-se se algum congresso do PEV teve esta cobertura, no tempo da “geringonça”? Será que o CDS tem direito a um lugar cativo na democracia portuguesa, independentemente da vontade dos eleitores? É um hábito da comunicação social?»

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21.4.24

Mais um candeeiro

 


Candeeiro em vidro cetim, com seis dançarinas rodeadas de grinaldas de flores, 1931.
René Lalique.

Daqui.
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Uma oportunidade perdida?

 


Tinham passado 10 anos quando Melo Antunes fez esta afirmação. Claro que avançámos e muito. Mas não tanto como devíamos - e podíamos.
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25.04.1974 – Não houve só cravos no Largo do Carmo



Também houve tiros. Por volta das 12:30, as tropas cercaram o Largo e três horas mais tarde disparam contra a fachada, depois de um pedido de rendição feito por Salgueiro Maia 20 minutos antes, através de megafone, não ter sido atendido.

O som e os tiros, em reportagem de Adelino Gomes:


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Vergonha na face ao ano passado

 

João Fazenda


«Quando o primeiro-ministro disse que o Governo ia introduzir uma medida que proporcionaria “uma diminuição global de cerca de €1500 milhões nos impostos do trabalho dos portugueses face ao ano passado”, não mentiu. Somando a redução de €1327 milhões que já estava em vigor à descida de €173 milhões decidida agora, o resultado é, de facto, uma diminuição de €1500 milhões face ao ano passado. Este modo de anunciar medidas permite antecipar outros projectos de Luís Montenegro. Por exemplo, é óbvio que, com este Governo da AD, teremos duas novas pontes sobre o Tejo face a 1960. E Lisboa poderá contar com um novo e imponente mosteiro em gótico manuelino face a 1500. Tudo isto é excelente — menos face às expectativas. Depois de ter passado a campanha eleitoral a prometer um vigoroso choque fiscal, Montenegro revela que, afinal, o choque consiste apenas em €173 milhões além do que já estava decidido pelo Governo anterior. É, no máximo, um daqueles choques de electricidade estática. Não é propriamente transformador, limita-se a causar irritação.

Montenegro disse que não ia governar para as aberturas dos telejornais, o que constitui um primeiro falhanço do novo Executivo, uma vez que esta medida abriu todos os telejornais duas vezes: primeiro para ser anunciada, depois para ser desmentida. De qualquer modo, o espírito da declaração de Montenegro está correcto: o Governo não vai adoptar políticas que têm o objectivo de agradar ao eleitorado, vai fingir que está a adoptar medidas que têm o objectivo de agradar ao eleitorado. É bastante mais barato. As medidas populistas efectivas podem ser perigosas, mas as medidas populistas a fingir têm a grande vantagem de não desequilibrar o orçamento.

A reacção à medida de diminuir impostos que, basicamente, já estavam diminuídos deve ter surpreendido Montenegro. Desde que é primeiro-ministro, tomou duas grandes decisões: a substituição de um logótipo e a manutenção de uma descida de impostos. Quando disse que ia reverter uma obra do Governo anterior, ouviu críticas; quando disse que ia manter uma obra do Governo anterior, ouviu críticas. Assim é difícil, coitado.

Pessoalmente, devo confessar que o episódio me deixou satisfeito. É verdade que, ao fingir que a descida de impostos era toda da sua responsabilidade, Montenegro se apropriou indevidamente de €1327 milhões. Mas temos de admitir que, no que toca a apropriações indevidas de dinheiro por um titular de cargo público em Portugal, esta é das mais aceitáveis a que já assistimos.»

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