1.10.16
Dica (404)
Germany Prepares for Possible President Trump. (Holger Stark e Christoph Schult)
«Concerned about what would happen to German-American relations in the event Donald Trump wins the US presidential election, government officials are holding low-key talks with his advisors. It's clear that if the Republican wins, it could be expensive for Berlin.»
. A instabilidade inscrita na governação
José Pacheco Pereira no Público de hoje:
«Já exprimi várias vezes a minha dúvida, receio, reserva, quanto ao sucesso da actual experiência governativa por uma única e exclusiva razão: não pode fazer a política que desejava, nem a que corresponde à sua base social e política, e é obrigada a fazer uma política imposta de fora pelo Eurogrupo, cujos resultados na estagnação da economia são reconhecidos por todos, menos pelo próprio Eurogrupo e as suas emanações nacionais, em particular o PSD.
O governo não está em risco pelos desentendimentos interiores da coligação, nem pela hostilidade da opinião pública, com as sondagens a revelarem uma queda crescente do PSD, está em risco porque existe uma enorme coacção sobre a sua política e um dia a corda quebra. Suspeito que quebre para o lado torto, ou seja, que o PS aceite políticas impostas que colocam em risco a coligação, apesar da actual maioria de militantes do PS e muitos eleitores dos outros partidos não concordarem com elas. Será a chantagem europeia, apoiada por muitos interesses económicos e políticos nacionais, a que se pode somar nesse momento crítico o Presidente, que abaterá a “geringonça”. Mais valia ter a lucidez de pensar que este momento vem a caminho e ter um plano para ele. (…)
No entanto, se a governação económica do PS é mais próxima da do PSD, que teria hoje quase todas as dificuldades que o PS está a ter, só com a diferença que contaria com muito mais benevolência europeia, já não é correcto dizer que a governação social e política sejam idênticas. Aí muita coisa mudou e aí sim há dois “modelos”, um, à direita, muito definido, embora às vezes ocultado (é por isso que o PSD não quer apresentar propostas orçamentais); outro, entre o centro e a esquerda, menos definido, com ambiguidades, mas diferente. Uns e outros não olham da mesma maneira para os mesmos lados: o PSD e o CDS são os guardiões da ofensiva fiscal sobre o trabalho, os salários, pensões e reformas e sobre a débil melhoria que uma parte da “classe média” teve em Portugal depois do 25 de Abril, o governo pretende “reverter” essa situação. (…)
É por isso que, em matéria política, o actual governo faz de facto também uma diferença. A começar porque assenta numa aliança sem precedentes, cujos efeitos de ponto de não retorno são enormes. Quem pensar que, a haver uma queda do actual governo, as eleições seguintes serão iguais às anteriores, está completamente enganado. O sistema político-partidário mudou, tornando qualquer “bloco central” uma anomalia, e favorecendo uma fractura esquerda-direita, que varreu o centro. À direita continua a ser mais fácil fazer o pleno da votação, à esquerda não se sabe.
O actual governo é sustentado pela política no mais nobre sentido da palavra, pela política em democracia, sem se disfarçar de “realidade”, como hoje a ideologia de direita faz. O actual governo é o único da Europa assente neste tipo de alianças partidárias. Convém lembrar que o que permite a sua existência é a recusa liminar que o PSD e o CDS governem (que o PS português aceitou e o PSOE espanhol não, com as consequências desastrosas que se conhecem), e esse acto genético é traumático para a direita que nunca conviverá com ele.
A política o fez, a política o desfará. Se é sustentável pela política, tem que compreender com clareza duas coisas: identificar sem hesitações os seus adversários políticos (e se olhar para eles com lucidez apanhará um susto que lhe faz muita falta para perceber no que está metido e com quem está metido) e saber que qualquer saída da governação será sempre muito traumática. Sendo assim, deve começar a pensar desde já como ultrapassará o impasse a que leva a pressão do Eurogrupo, para de novo não ter que se sentar em duas cadeiras ao mesmo tempo, e começar a pensar em encontrar uma solução política que lhe permita ir a eleições assente numa aliança de poder, ou estará condenado a ver o ex-PAF a ganhá-las de novo.»
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30.9.16
Forte de Peniche - Defesa da memória, resistência e luta
«Os abaixo assinados democratas antifascistas, surpreendidos com as recentes notícias sobre a concessão do Forte de Peniche, empenhados na defesa da necessária preservação da memória e resistência ao fascismo e pelo respeito de milhares de portugueses que deram o melhor das suas vidas para que o povo português pudesse viver em liberdade, apelam ao Governo para que o Forte de Peniche permaneça património nacional, símbolo da repressão fascista e da luta pela liberdade.»
Uma Petição que pode ser assinada a partir DAQUI.
. 30.09.1935 – Porgy & Bess
Porgy & Bess estreou-se na Broadway, em Nova Iorque, há 81 anos, com um elenco formado unicamente por elementos afro-americanos – uma decisão mais do que ousada para a época, que retardou o seu êxito até 1976.
«Summertime» é certamente o trecho mais conhecido da ópera, mas há muitos mais.
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Bravo, CML!
Diz-se por aí que as árvores retiradas em Lisboa, por causa de obras, serão recolocadas algures. Esta, que está a dar hoje a volta nas redes sociais, só servirá para lenha nalguma grande lareira municipal e está muito longe de ser caso único.
Esta alucinante vertigem de obras não vai acabar bem. Cada vez me confino mais ao meu bairro e às saídas de Lisboa. Fujo do centro como o diabo da cruz.
. Diabo Bank
«Desde Julho de 2015, o valor das acções do Deutsche Bank caíram mais de 65%. Neste momento, muitos jornais falam da necessidade de ajuda pública Mas assumir que precisam de ser salvos é algo muito complicado para os alemães, e até já há quem diga que o Deutsche Bank não é a Grécia.
O último ano e meio tem sido fatal para a fama de profissionalismo, exigência e excelência das grandes empresas alemãs. Se juntarmos o Deutsche Bank com a VW, temos banqueiros alemães a suicidarem-se com monóxido de carbono.
O colosso DB está em perigo. Os alemães, como são frios, são muita bons nos testes de stress, é assim que eles nos enganam. Se há alguma coisa que podemos ensinar aos alemães é saber ver os indícios de que vem lá chatice da grossa com um banco e vamos ter de pagar. Neste momento, devia estar uma troika de portugueses em Berlim, composta por: um lesado do BPN, um do BES e outro do Banif. (…)
É num momento como este que vemos a grandeza de um homem como Schäuble. Com chatices tão grandes lá em casa e só se preocupava connosco. Os nossos noticiários estão repletos da preocupação europeia com o nosso défice, porque o José Gomes Ferreira não sabe ler jornais em alemão. (…)
O problema é que não é o Deutsche Bank que é demasiado grande para cair, o resto é que é demasiado pequeno se ele cair. O diabo, afinal, pode chegar em Outubro, sob a forma dos anjos do arauto.
Chegamos à triste conclusão que a banca alemã esteve a viver acima das suas possibilidades e as suas possibilidades eram infinitas. Não sei se é possível fazer como a VW e o euro recolher à oficina para corrigir um defeito de fabrico. Este problema com o DB faz lembrar 2008 e perceber como, rapidamente, nos esquecemos de 2008.»
João Quadros
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29.9.16
Dica (402)
A viola no saque. (José Soeiro)
«Tributar fortunas acumuladas e património de luxo é pois uma boa escolha económica e é um imperativo de justiça. É certo, como se provou, que os comentadores e os deputados que tentaram lançar o pânico esta semana não são muito sensíveis nem a factos nem a argumentos – e até os dispensam. Mas a estratégia que montaram em conjunto não tinha fundamento, não deu certo e, já se percebeu pelo silêncio, saiu derrotada.»
. Deutsche Bank – Ironia das ironias
Ou um mundo que é tudo menos previsível e monótono:
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Donald Trumpolineiro
Ricardo Araújo Pereira na Visão de hoje:
«Antigamente, uma pessoa com as ideias e a personalidade de Trump não se candidatava a presidente dos Estado Unidos: tentava matar o presidente dos Estados Unidos. Tenho saudades desses tempos. Estávamos todos mais seguros.»
Na íntegra AQUI.
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Memória e espelhos: faltam-nos!
«A desvalorização relativa do país ocorre lentamente, e é da nossa responsabilidade. Vai agravar-se, enquanto não tivermos a microeconomia das empresas ricas, competitivas no mundo, lucrativas e de altos salários. É muito favorável para os estrangeiros comprar de novo em Portugal: os preços relativos são fantásticos. As férias dos portugueses, na época do crédito abundante, e da cultura de que "havia vida para além do défice", às ilhas e resorts prazenteiros da América Central e do Sul justificavam-se pelos baixos salários dessas economias pobres. Agora temos o oposto: o estrangeiro invade-nos, porque embaratecemos. O preço crescente dos bons ativos imobiliários, aproveitado, e bem, pelos aforradores dos países estrangeiros atirará a classe média para fora das melhores zonas das cidades. As férias e a habitação poderão não vir a ser o que foram.
Perdemos um passado dos centros de decisão nacional (políticos, sociais e económicos) e de bem-estar relativo. Não o substituímos por nada de novo. Governa-se o país como se estes se pudessem reconstituir, ou como se ainda existissem. Fomos ultrapassados pela montanha de dívida pública e privada. Não se quer reconhecer esta revolução. O verdadeiro desastre nunca será um novo resgate, seja de que natureza for. É a lenta agonia da sociedade que depaupera, sem se dar conta dos males que a afligem.
O exterior vai invadir-nos e tomar posse do melhor de Portugal. O reequilíbrio económico só pode ser este. Quando não houver ricos, nem os remediados puderem viajar para a Europa e os EUA, a velha Europa e a globalização serão responsabilizadas.»
Jorge Marrão
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28.9.16
28.09.1974 – A «Maioria Silenciosa»
Antes que o dia acabe: há 42 anos, o país esteve agitado. Esperava-se a realização da chamada «Manifestação da Maioria Silenciosa» – uma iniciativa de apoio ao apelo do general Spínola. Relembrar os factos.
Ver aqui, um post do ano passado.
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Sugestão
O prof. Marcelo ainda não se lembrou de dar umas voltinhas de carroça, em visita a alguns ministérios. Dariam umas belas selfies!
. Dica (401)
As histórias assustadoras não vão impedir as insurreições populares. (Wolfgang Münchau)
«‘O brexit é um bom exemplo sobre como funciona a dinâmica das insurreições eleitorais nas democracias do Atlântico Norte. Ele mostrou-nos como as posições estabelecidas firmemente arraigadas podem desmoronar rapidamente e como o improvável se torna no inevitável. A classe política dirigente do mundo ocidental precisa de agir de forma mais inteligente.»
. 28.09.1932 – Victor Jara
Víctor Jara ainda bem podia andar por cá se não tivesse sido assassinado por um comando militar secreto, em 1973, cinco dias depois do golpe em que morreu Salvador Allende.
Que regressem alguma das «clássicas»:
Yo pregunto
a los presentes
si no se han puesto a pensar
que esta tierra es de nosotros
y no del que tenga más.
Yo pregunto si en la tierra
nunca habrá pensado usted
que si las manos son nuestras
es nuestro lo que nos den.
¡A desalambrar, a desalambrar!
que la tierra es nuestra,
tuya y de aquel,
de Pedro, María, de Juan y José.
Si molesto con mi canto
a alguien que no quiera oír
le aseguro que es un gringo
o un dueño de este país.
si no se han puesto a pensar
que esta tierra es de nosotros
y no del que tenga más.
Yo pregunto si en la tierra
nunca habrá pensado usted
que si las manos son nuestras
es nuestro lo que nos den.
¡A desalambrar, a desalambrar!
que la tierra es nuestra,
tuya y de aquel,
de Pedro, María, de Juan y José.
Si molesto con mi canto
a alguien que no quiera oír
le aseguro que es un gringo
o un dueño de este país.
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Trump e a vitória do populismo
«No rescaldo do primeiro "round" televisivo, que decorreu na madrugada de segunda-feira, os líderes de opinião e as sondagens efectuadas logo a seguir ao debate convergiram na mesma direcção: Hillary bateu Trump nesta primeira batalha de argumentos.
Este facto, contudo, está longe de significar que Hillary Clinton tem o caminho aberto para chegar à Casa Branca. Trump fez-se candidato a Presidente com base num discurso populista, em matérias como a migração e a segurança, o qual marca pontos junto do eleitorado. Trump diz mal dos hispânicos. E depois? Os brancos representam 65% da população norte-americana e estão assustados com o crescimento demográfico dos latinos e dos afro-americanos no seu país. A resposta básica para os seus medos está, por exemplo, no muro a construir na fronteira entre o México e os EUA prometido por Trump.
O candidato republicano pode até repugnar pelos valores que defende, mas tem a fórmula mágica para captar a simpatia dos eleitores – soluções simples para problemas complexos. A mesma receita que explica a força crescente da extrema-direita na Europa, a qual está cada vez mais próxima do poder. Essas soluções podem ser desmontadas, como o fez Hillary no primeiro debate com Trump, mas continuam a ser magnéticas. (…)
O facto de Donald Trump ter chegado a este patamar, onde disputa taco a taco as presidenciais norte-americanas com Hillary Clinton, já é por si uma vitória estrondosa do populismo e um sinal de degradação de um sistema de representação política em que os cidadãos não se revêem. O sucesso de Trump, neste sentido, é uma vergonha para a democracia.»
Celso Filipe
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27.9.16
Há 41 anos foi assim
Em 27 de Setembro de 1975 foram fuzilados cinco antifascistas espanhóis e, em Portugal, não se esperou pela execução e iniciou-se, na véspera, assaltos aos consulados de Espanha, ataque a sedes de empresas espanholas e incêndio e destruição da embaixada de Espanha em Lisboa.
Ver aqui um post do ano passado.
. PS e ideologias
«O comovente movimento em defesa da pureza do PS, que se gerou nos últimos dias, nasce de uma perplexidade, se não de um susto. Parece que meia dúzia de militantes socialistas aplaudiram uma esquerdista de voz doce, o que prenuncia a pior das catástrofes, aliás já aqui desmontada, e que o governo do mesmo partido pondera aplicar um imposto sobre propriedades de luxo. (…)
A ideologia do PS nunca esteve em risco, pois na verdade não há ali ideologia, ou se há importa pouco. Suspeito mesmo que haja muito quem veja com algum enfado a palavra “socialista” e prefira apressar-se a explicar que “socialista” quer dizer “capitalista”, nos termos de Sousa Pinto. Há ideias, isso certamente, e são evidentes: respeitar a norma europeia e procurar aliviar os seus efeitos. Mas na política o que tem que ser tem muita força e por isso a “geringonça” está a tomar conta da Pátria. Quanto ao mais, purificar o PS seria supor que ele mudou de ideias, de estratégia ou de visão europeia – e seria supor demasiado.»
Francisco Louçã
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Parabéns, IVA?
Conferência comemorativa dos 30 anos do IVA em Portugal.
Será que há outros países em que se comemorem lançamentos de impostos? Só visto…
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O síndrome da cabeleireira?
Daniel Oliveira escreveu ontem, no Expresso diário, um texto ainda a propósito do malfadado, e aparentemente inesgotável, tema de discussão em que se transformou o possível imposto sobre o imobiliário.
Especialmente interessante o último parágrafo em que aborda o papel da comunicação social no que está em causa:
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26.9.16
Dica (399)
Todo va mal. (Lluís Bassets)
«Un profundo pesimismo se ha instalado entre los europeos justo en los mejores años de la historia del continente. (…)
Parece evidente que no sabemos gobernar este nuevo mundo. Nuestro cerebro de cazadores recolectores, atentos a las señales preocupantes de la naturaleza y de un entorno hostil, puede engañarnos en la percepción del mundo en el que vivimos. Seguro que este mundo es mejor, como son mejores nuestros vidas, pero si no sabemos gobernarlo podemos convertirlo en mucho peor e incluso retroceder a épocas anteriores y empezar a perder los mejores estándares de vida de la historia de la humanidad. No todo va mal, pero si algo va mal es precisamente la forma que tenemos de gobernarnos.»
. Gal Costa, 71
Nasceu em Salvador, em 26 de Setembro de 1945 e ainda canta, 52 anos anos depois de se ter estreado ao lado de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia, no espectáculo Nós, Por Exemplo...
E quem não se lembra da sua «Modinha para Gabriela», de Dorival Caymmi?
E mais, muito mais:
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Abram alas à China
«Um país farto em indignações fugazes e pouco substantivas é curioso observar a falta delas quando o assunto envolve a China.
O último capítulo desta história de remanso foi escrito na semana passada quando o Governo aprovou em conselho de ministros um regime que permite o reagrupamento de acções, uma das condições da Fosun para entrar no capital do BCP e o facto passa entre os pingos da chuva.
A mesma Fosun é dona da seguradora Fidelidade e da Luz Saúde, a China Three Gorges é a maior accionista da EDP e a State Grid of China assume igual posição na REN. Outro grupo chinês, a HNA, tornou-se accionista da TAP, o Haitong adquiriu o BESI e a KNJ Investment Limited, uma sociedade chinesa com sede em Macau, é apontada como compradora de uma posição maioritária na Global Media. A estes, juntam-se vultuosos investimentos na área do imobiliário que garantiram a muitos chineses os chamados "vistos gold".
Perante esta avalanche de investimentos ergue-se uma montanha de silêncio. Ninguém se indigna com a invasão chinesa e o controlo de sectores relevantes da economia nacional, poucos questionam a natureza autocrática do regime de Pequim e raros se revoltam com o facto do país manter ainda a pena de morte ou reprimir militarmente o movimento independentista da região do Turquestão Oriental. (…)
Há muitas boas explicações para a aceitação passiva desta estratégia chinesa e nem todas elas se encontram dentro de portas. Uma delas, porventura a essencial, tem a ver com o facto dos grandes países da Europa serem eles também beneficiados com o imperial investimento de Pequim.
O Reino Unido lidera esta tabela, em segundo lugar surge a Alemanha, em terceiro a França e em quarto Portugal. O dinheiro, entre outras coisas, comprou também a benevolência dos grandes países europeus, os quais cobiçam o gigantesco mercado interno chinês como uma bóia de salvação para as suas empresas exportadoras. A força da China constrói-se à conta da fraqueza da Europa e Portugal é apenas um exemplo paradigmático desta hipócrita realidade.»
Celso Filipe
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25.9.16
Sócrates e o PS
Vêm aí tempos «interessantes» para o PS, ou talvez não. (E ainda há quem diga que os outros partidos da Geringonça são o único grande problema que António Costa tem…)
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O grande caos líbio
«A Líbia tornou-se a grande aposta das acções do Daesh. E o Ocidente, depois dos erros cometidos quando derrubou Kadhafi, continua a cometê-los em série.
No meio das tentativas de garantir alguma paz para a Síria, as atenções ocidentais perderam algum foco no que se passa na Líbia. Mas o que se vai observando, entre as tentativas de criar um governo unificado e as acções do Daesh (que têm tentado, até com algum sucesso, ocupar instalações ligadas à produção de petróleo), é que a política da Europa tem sido um completo desastre nos últimos anos no país com vista para o Mediterrâneo. No dia a seguir à sua resignação como deputado, o antigo primeiro-ministro britânico, David Cameron, foi confrontado com o relatório da comissão de negócios estrangeiros do Reino Unido sobre a sua acção na Líbia. E não é simpático o que lá se diz. Refere que o argumento da "responsabilidade para proteger" foi utilizado como cobertura para o derrube do regime de Kadhafi, que o "iminente uso da força" pelas tropas do líder líbio contra as populações de Benghazi foi exacerbado, que a "inteligência" foi inadequada e que a Grã-Bretanha seguiu a política bélica de França sem a tentar influenciar. (…)
Nos bastidores fala-se entretanto que a ideia de França, da Grã-Bretanha e de Itália seria dividir a Líbia em três zonas de influência. É certo que os principais responsáveis pela intervenção na Líbia, Cameron e Sarkozy, já não estão no poder, mas o apoio que ambos os países dão a Haftar e as agendas próprias do Egipto e dos Emirados Árabes Unidos na Líbia não deixam de contribuir para a confusão reinante. E sabe-se que a Líbia continua a ser uma das fontes de onde partem os migrantes rumo à Europa. Ou seja, a política ocidental, sobretudo da Europa, relativamente à Líbia continua a ser um desastre visível.»
Fernando Sobral
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