Na sua crónica semanal no Público (sem link, mas transcrita na íntegra no fim deste post), José Pacheco Pereira (JPP) disserta hoje sobre o estado actual da blogosfera portuguesa e reflecte a posição que tem sobre a mesma desde a escolha do próprio título: «Por que razão os blogues têm cada vez menos importância?».
O texto é longo, tem partes com que concordo, mas peca, na minha opinião, por generalizações fáceis e apressadas – como acontece quase sempre que se generaliza apressadamente…
Refiro-me ao que é dito sobre os chamados «blogues políticos», os quais, para JPP, estão «em profunda crise, (…) perderam independência, autonomia e transparência» e «são por isso menos interessantes, menos importantes e têm menos leitores».
Porquê? Em resumo porque «a agenda dos blogues tornou-se a agenda comunicacional; os blogues tornaram-se espelhos miméticos dos partidos e fracções políticas, e os blogues são hoje uma “área de negócio”».
Há milhares de blogues predominantemente políticos activos em Portugal e, como simples mortal que é, JPP só deve conhecer uma zona relativamente limitada dos mesmos. E eu concluo que devo andar, pelo menos parcialmente, por outras diferentes.
Se é certo que a blogosfera evoluiu (estranho seria se tal não tivesse acontecido…), dizer, por exemplo, que estes blogues se tornaram «meros acrescentos dos partidos políticos e das suas facções» e que «parecem-se cada vez mais com secções das “jotas” partidárias» é algo em que nem me revejo de todo como blogger, nem consigo identificar, por exemplo, na lista de mais de vinte blogues que mantenho como «permanentes» na barra lateral e que, de certo modo, «recomendo» – nem nos grandes, nem nos pequenos, nem nos de esquerda, de centro ou de direita. Mais: como uma ou outra excepção, nem os colectivos são monopartidários quanto à sua composição, nem algum dos individuais pode ser considerado correia de transmissão do que quer que seja e, na sua esmagadora maioria e tanto quanto sei, são de bloggers sem partido.
Quanto à convicção de que os blogues políticos têm cada vez menos leitores, não sei de que está a falar JPP. Não ando a estudar audiências, mas hoje fui percorrer o Blogómetro e não me parece que, de um modo geral, o número de visitas tenha tendência para diminuir – muito pelo contrário e tanto no que se refere aos «turbo» blogues como aos outros. No que diz respeito a esta casa, em comparação com semanas e meses equivalentes dos dois anos passados, a média diária de visitas mais do que triplicou.
Muito mais haveria a dizer, mas ficam apenas duas observações:
- JPP omite a influência das redes sociais na blogosfera, que é muito significativa. Não só por serem fontes de acesso para muitos leitores, mas também e sobretudo porque alimentam os blogues com um certo tipo de informação que, ao contrário do que JPP afirma («a relação de “novidade” vem dos jornais para os blogues e não o contrário»), a comunicação social não veicula de todo ou fá-lo tardiamente. E há muitos leitores de blogues que, pura e simplesmente, recusam aderir ao Twitter ou ao Facebook e continuam fiéis à blogosfera.
- Por outro lado, parece-me que JPP confunde, ou mistura, partidarismo com «militância». Talvez pelas características da época que atravessamos, julgo que há cada vez mais bloggers, nada dependentes partidariamente, que utilizam o seu espaço na defesa de «causas», iniciativas e projectos, nacionais e não só, e na difusão de informação sobre os mesmos. São talvez os mais procurados, da direita à esquerda (são esses que eu mais procuro…) e parece-me normal que assim seja.
Resumindo e concluindo: a idade da inocência da blogosfera terminou certamente, ela está mais «dura», certamente menos elitista, mas nem por isso com menos importância. Mas é óbvio que cada um a vê através do seu prisma de cristal…