Estou desde há alguns dias numa casa que já foi minha e que é hoje morada habitual da geração que se segue. Da banda do Tejo onde o engº Lino via camelos e não queria aeroportos, tem a grande vantagem de estar no campo, muito perto da praia (é bom saber-se que ela existe, mesmo evitando-a) e não longe de Lisboa. Semi-férias, portanto, sossegadíssimas, apenas com um dos moradores permanentes – um silencioso cão.
Uma coisa é visitar regularmente uma casa de muitas dezenas de fins-de-semana e meses, ao longo de décadas, outra bem diferente é voltar a habitá-la. Não por qualquer assomo de nostalgia, mas porque se descobrem a toda a hora objectos que por cá foram ficando e que tinham deixado de existir. Abrir um armário e pegar na chávena de Sacavém (cavalinho azul…) por onde se beberam centenas de bicas, encontrar um prato trazido de Estocolmo há mais de trinta anos, o último de uma dúzia de copos comprada na feira anual da terra ou um pífaro do Mistério que recorda o velho Mercado da Primavera, são gestos agradáveis que deixam de ser puramente banais.
O problema é que há também o reverso da medalha: a enorme frustração de olhar para uma meia dúzia de discos vinil, rigorosamente alinhados onde sempre estiveram, mas hoje condenados à mudez, já que, no lugar anteriormente pelo objecto que lhes dava som, estão hoje - imagine-se!... - altifalantes de um iPod… Essas coisas não deviam acontecer. Queria mesmo ouvir agora «este» velhíssimo disco dos Beatles…