18.7.09

Strawberry fields forever












Estou desde há alguns dias numa casa que já foi minha e que é hoje morada habitual da geração que se segue. Da banda do Tejo onde o engº Lino via camelos e não queria aeroportos, tem a grande vantagem de estar no campo, muito perto da praia (é bom saber-se que ela existe, mesmo evitando-a) e não longe de Lisboa. Semi-férias, portanto, sossegadíssimas, apenas com um dos moradores permanentes – um silencioso cão.

Uma coisa é visitar regularmente uma casa de muitas dezenas de fins-de-semana e meses, ao longo de décadas, outra bem diferente é voltar a habitá-la. Não por qualquer assomo de nostalgia, mas porque se descobrem a toda a hora objectos que por cá foram ficando e que tinham deixado de existir. Abrir um armário e pegar na chávena de Sacavém (cavalinho azul…) por onde se beberam centenas de bicas, encontrar um prato trazido de Estocolmo há mais de trinta anos, o último de uma dúzia de copos comprada na feira anual da terra ou um pífaro do Mistério que recorda o velho Mercado da Primavera, são gestos agradáveis que deixam de ser puramente banais.

O problema é que há também o reverso da medalha: a enorme frustração de olhar para uma meia dúzia de discos vinil, rigorosamente alinhados onde sempre estiveram, mas hoje condenados à mudez, já que, no lugar anteriormente pelo objecto que lhes dava som, estão hoje - imagine-se!... - altifalantes de um iPod… Essas coisas não deviam acontecer. Queria mesmo ouvir agora «este» velhíssimo disco dos Beatles…

Eles andam por aí aos molhos


















Mais um Manifesto
- com um site: O nosso presente e o nosso futuro
- um texto, 27 páginas: O nosso presente e o nosso futuro: algumas reflexões prementes
25 autores e muitos outros signatários.

Leitura para fim-de-semana.

17.7.09

«Se diz que é homossexual, está feita a avaliação»

Oiçam mesmo, na íntegra, o que disse Gabriel Olim, director do Instituto Português de Sangue, sobre a recusa em aceitar dádivas de homens homossexuais.

Hoje, no noticiário das 13:00 da TSF. (Início: 1:58)

Se ainda não leram, façam o favor…

Balas a mais












Vi, há pouco menos de um ano, no DocLisboa, «Anna, Seven Years on the Frontline», um impressionante filme sobre Anna Politkovskaya, a jornalista russa cujo assassinato, em Outubro de 2006, foi largamente noticiado. Ligados à mesma causa, foram também eliminados em Moscovo, em Janeiro deste ano, o advogado Stanislas Markelov e uma jornalista que o acompanhava.

Entretanto, soube-se ontem da morte de Natalia Estemírova, uma outra activista da mesma causa - mas a notícia foi, desta vez, recebida quase como se de rotina se tratasse. E não pode ser.

Natalia foi abordada por vários assaltantes na passada 4ª feira em, Grozny, empurrada para dentro de um carro e encontrada morta, algumas horas mais tarde, numa floresta. Imediatamente antes de morrer, estudava o caso de um jovem tchetcheno, forçado a regressar do Egipto e entretanto desaparecido, bem como execuções públicas efectuadas em várias aldeias.

O seu crime, como o dos seus companheiros, foi o de exercer a profissão de jornalista com coragem e desassombro. Tal como Anna Politkovskaya que aqui recordo com um pequeno vídeo extraído do documentário acima referido: «Anna, Seven Years on the Frontline».




P.S. – Agradeço a Jorge Conceição o envio de uma série de artigos publicados ontem sobre o assunto, um pouco por toda a parte. Fica a referência de um:
«La mort d'Estemirova est une exécution pure et simple»

16.7.09

Claro que a Sibéria não é um jardim













O dr. Alberto João (e também, certamente, a drª Manuela, o seu amigo PR e muitos mais) gostava de ver a proibição do «comunismo» consagrado na Constituição. Lá mais para a noite, Lobo Xavier dirá mesmo (cito de cor) que «a iniciativa até é oportuna» porque chama a atenção para a condescendência com que têm sido tratados o passado e a ideologia comunistas (*).

Não se pretende condenar partidos mas regimes, dizem eles. Repentinamente preocupados com as vítimas de Estaline, e angustiados com a perspectiva de virem a ser atirados para um qualquer Gulag em Trás-os-Montes, sentir-se-iam mais seguros se se proibisse «isso» por decreto. Mas o quê? O que existiu na URSS? O que há hoje na China? Na Coreia do Norte? A concretização de utopias várias que bailam numas tantas cabeças? Ou estão com medo que PCP e/ou Bloco ganhem eleições e gostariam de poder impedi-los de formar governos «anticonstitucionais»?

Andam por aí alucinações que só podem ser já efeitos colaterais da tal mui anunciada gripe!

(*) Excertos do programa «A Quadratura do Círculo» desta noite, ouvidos na SIC N.

P.S. (17/7) Foram ditas verdadeiras barbaridades no programa de ontem - com honrosíssima excepção para António Costa.

Este país perdeu o tino, a armar ao fino
















Maçanetas de portas, teclados de computador, galheteiros nos restaurantes, carrinhos de compras no supermercado, livros na FNAC, hóstias e água benta nas igrejas, qualquer nota de 20 euros – tudo objectos perigosíssimos, a evitar sem hesitação se não tiver um lavatório no raio de um metro (e, mesmo assim, não se esqueça de lavar a torneira do dito lavatório antes de a fechar ou correrá o risco de ser ela a infectá-lo).

Nem sei quantos mails recebo por dia cheios de avisos e de conselhos (só comparável ao número daqueles que me pediam para convergir com esquerdas na corrida à CML e que, agora que estas já convergiram muito, me sugerem que diga que votarei em António Costa, aparentemente para que outros me imitem). Já nem os abro – salto, compulsivamente, para a tecla «delete».

Que venha a gripe se for caso disso. Mas nada, nem ninguém, conseguirá acordar uma hipotética costela hipocondríaca que nunca reconheci em mim. Vou passear o cão - sem desinfectar a trela.


P.S.- Mesmo a propósito.

14.7.09

«Outubro» em Julho















Andámos a ler o texto em episódios em «A Terceira Noite», mas aí está ele agora, revisto e aumentado, no livro de Rui Bebiano.

A editora explica:

«A Revolução de Outubro não representa apenas aquele episódio datado que na velha Rússia recém-liberta do domínio dos czares levou Lenine e os bolcheviques ao assalto do poder: permanece também como sinal de esperança que nem mesmo a perversão e a derrocada do "socialismo real", e a acelerada transformação do mundo que se lhe seguiu, foram capazes de apagar. Enquanto sinal de utopia, mobiliza as capacidades do ser humano para traçar colectivamente um mundo alternativo, desejavelmente melhor.»

P.S. - E Rui Bebuiano também.

Palma Inácio









Morreu hoje com 87 anos. Desaparece assim mais um «fazedor» de história, ímpar na sua espécie, que começou uma longa caminhada aos 25 anos e só parou verdadeiramente quando a doença o travou.

O seu nome ficou principalmente ligado a duas acções espectaculares – em 1961, o desvio de um avião da TAP que partira de Casablanca e que foi utilizado para lançar sobre Lisboa cerca de 100.000 panfletos contra o regime de Salazar e, em 1967, o assalto a uma agência do Banco de Portugal na Figueira da Foz, com vista à obtenção de fundos para financiamento das acções da LUAR, de que foi fundador.

Pelo meio, prisões e fugas mais ou menos rocambolescas e a saída de Caxias em Abril de 1974.

Romântico? Aventureiro? Revolucionário ingénuo? Certamente, mas não só. Talvez a morte lhe faça justiça e alguns se encarreguem de estudar, com mais rigor, o seu papel e a sua influência nas últimas décadas da resistência à ditadura. Porque foi com o aparecimento da LUAR que se pôs pela primeira vez, para muitos, a questão de «sair» dos métodos clássicos de intermináveis discussões ideológicas como único meio de oposição á ditadura – estou entre esses muitos. A ARA e as Brigadas Revolucionárias só nasceriam uns anos mais tarde. Seja como for, está por mostrar e demonstrar o papel que estas três organizações tiveram na luta contra o marcelismo - marginalmente, e a título de mero exemplo, «desnortearam» a PIDE, psicológica e organicamente preparada para combater o PCP e afins. Mas um dia essa história será feita.

Até o 14 de Julho se globaliza


220 anos depois de 1789, no 120º aniversário da Torre Eiffel, o desfile nos Campos-Elísios, imagem de marca da festa nacional francesa, é hoje aberto por 400 militares indianos que verão o seu primeiro ministro ao lado de Sarkozy.

À noite, Johnny Hallyday (ele ainda…) dará um concerto. Pelo caminho, alguém cantará certamente La Marseillaise, mas sem o brilho, pompa e circunstância com que Jessye Norman o fez, há vinte anos, por ocasião dos bicentenário da Revolução Francesa. Disso lembro-me eu bem, com um certo arrepio - porque estava lá e porque, no 14 de Julho, sou sempre francesa.

Para o caso de não terem percebido: estão todos a falar da mesma realidade

13.7.09

José Afonso


De Irene Flunser Pimentel
Colecção FOTOBIOGRAFIAS SÉCULO XX,
direcção de Joaquim Vieira
Círculo de Leitores e Temas & Debates
Lançamento: 15 de Julho, às 18h30,
Casa da Imprensa
Rua da Horta Seca, n.° 20, Lisboa

Não se chame português quem cristão de fé não for

















César das Neves diz hoje, no DN, que «a Igreja Católica, pela primeira vez desde o 25 de Abril, enfrenta uma oposição séria e profunda do poder político» porque «um dos grandes partidos nacionais apresenta no seu programa uma medida claramente oposta à doutrina da Igreja Católica» - a eliminação das barreiras para a realização de casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.

O que César das Neves sabe muito bem – mas finge o contrário – é que quem governa Portugal não se rege, nem tem de se reger, pela doutrina social da Igreja e, também, que nenhum homossexual ortodoxamente católico será obrigado a casar-se ou a deixar de o fazer, se a nova lei vier a ser aprovada.

No fundo, embora não ouse dizê-lo, ele movimentar-se-ia certamente muito bem nos tempos em que a tal doutrina social da Igreja era apregoada aos quatro ventos (e «respeitada», pois claro…), mas em que os homossexuais eram vítimas de perseguições de toda a espécie com a cumplicidade, explícita ou tácita, da hierarquia da Igreja (*).

Cereja em cima do bolo, termina lembrando que «depois do Verão a implicação será para os eleitores católicos na decisão do voto». Era aí que ele queria chegar e a drª Manuela Ferreira Leite agradece….

(*) Na Pública de ontem, três excelentes artigos de São José Almeida relacionados com este assunto e que podem ser lidos aqui.

Basta pouco, poucochinho, p'ra alegrar uma existência singela

«Hoje, à saída da Praia fui com a minha Filha à Rua dos Pescadores comer um gelado que agora é duas lojas mais acima. Lembrei-me dos tempos do cinema ali ao pé do Mercado com os filmes da Marisol e do Joselito.»

12.7.09

Campanhas eleitorais Plano B - Cursos intensivos de Verão

Aos 68

















Cesária Évora em Espanha, agora:

«Su música, que colmó la noche de palabras dulcemente enunciadas envueltas en notas puras, confirmó su avanzar por una senda nueva que va dejando atrás la guitarra de la morna caboverdiana, mengua también un ápice el piano, para dar más vuelo al violín y el saxo (...)
Pero Évora, a sus 68 años, compareció en Madrid, transgredió el códido al fumar sobre el escenario, incitó a bailar, regaló un par de bises y mantuvo el tipo porque cumplió ante todos con esa voz prodigiosa que se encarama por encima del sonido y lo guía con dicción suave hasta donde ella quiere llegar.»







(Velocidade)