21.11.15

Dica (169)




«Ce n’est sans doute pas le moment pour une nation française profondément blessée, pour une Europe bouleversée et une civilisation occidentale ébranlée, de se souvenir de l’origine de ce potentiel de conflit explosif et momentanément non maîtrisé du Proche-Orient – de l’Afghanistan et de l’Iran jusqu’à l’Arabie saoudite, l’Egypte et le Soudan.

Que l’on se remémore seulement ce qui s’est passé dans cette région depuis la crise de Suez de 1956. Une politique des Etats-Unis, de l’Europe et de la Russie déterminée presque exclusivement par des intérêts géopolitiques et économiques s’est, dans cette fragile région du monde, heurtée à un héritage de l’époque coloniale à la fois artificiel et fait de déchirements ; et cette politique a tiré profit des conflits locaux sans stabiliser quoi que ce soit.»
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Há 40 anos, o juramento no Ralis



A quatro dias do 25 de Novembro, o juramento de bandeira dos cento e setenta novos recrutas do RALIS, em 21 de Novembro de 1975, ficou para a história como símbolo de fim de ciclo, foi uma espécie de canto do cisne de um PREC que se aproximava do seu fim.



Imagens e palavras quase surrealistas quando vistas e ouvidas hoje, mas que funcionam para muitos como uma espécie de relíquia de «um sonho lindo que acabou». Para a frente é que é o caminho, mas este que ficou para trás não se apaga – nunca.

A notícia no Diário de Lisboa do dia:


Como ainda não nos livrámos do laranjal...



René Magritte nasceu num 21 de Novembro.
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A geringonça e a avantesma



José Pacheco Pereira no Público de hoje:

«A caracterização do eventual governo do PS como uma “geringonça” foi feita por Vasco Pulido Valente e repetida com evidente gozo por Portas, dando o mote para vários deputados do CDS que costumam repetir o chefe. Muito bem, não me parece que haja qualquer problema em aceitar a classificação, tanto mais que ela não é tão pejorativa como eles pensam. Mas proponho outra simétrica para o governo PSD-CDS, muito menos ambígua e que não há imaginação criadora que lhe encontre qualquer sentido positivo: a avantesma. A geringonça apareceu para que não nos assombre a avantesma. (...)

O governo minoritário do centro-esquerda do PS com a apoio parlamentar do BE e do PCP ainda é uma geringonça, mas quanto mais baixas forem as expectativas mais a geringonça se pode transformar numa máquina a sério. Ou talvez não. (...)

A geringonça é um frágil meio de combater a avantesma, mas hoje não há outro para reequilibrar o sistema político puxado violentamente à direita. Talvez o melhor exemplo dessa viragem à direita esteja no número de vozes que afirmam alto e bom som que preferem um governo de gestão sabendo bem de mais os estragos que isso trará à economia, à paz civil e à legalidade democrática. É que a avantesma alimenta-se do “único”, do “não há alternativa”, do direito natural e irrevogável de governarem, para si e para os seus.

Se gosta de ser enganado, junte-se ao exército dos mortos vivos, mas não se esqueça em Janeiro de 2016 de ir lá buscar a reposição dos 35%. Sim, porque para si, nem Passos, nem Portas, nem Albuquerque, iriam fazer essa coisa socratista de mentir para ganhar eleições.

É que a avantesma, mete medo e deve meter medo. Não me canso de dizer, é perigosa, muito capaz na defesa dos seus interesses, com enormes recursos, com muitas contas a ajustar, e muitas velhas e novas mentiras para dizer.

E deve-se ser implacável com a geringonça, para que não se parta por dentro, já que por fora vai respirar ácido sulfúrico.

Ou que esperam da avantesma que é do domínio do enxofre? Sim, daquele enxofre que vem na Bíblia.» 
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A Arábia Saudita, um ISIS vencedor



Leitura muito aconselhada de um texto de Kamel Daoud, publicado no New York Times. Acessível aqui em inglês ou em francês.
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20.11.15

É isto



Expresso diário, 20.11.2015. 
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Será que a procissão ainda vai no adro?

20.11.1975 – Um governo «em greve» e uma manifestação convocada em poucas horas



Há 40 anos, os jornais anunciavam que, na madrugada de 20 de Novembro de 1975, a Presidência do Conselho de Ministros tinha emitido um comunicado onde explicava que o VI Governo Provisório decidira «suspender o exercício da sua actividade» até estarem garantidas condições para o exercício da mesma. O próprio primeiro-ministro confirmou-o, algumas horas mais tarde.



Na tarde do mesmo dia, teve lugar uma grande manifestação em Belém, com muitos milhares de participantes, convocada pelas Comissões de Trabalhadores da Cintura Industrial de Lisboa e apoiada pela Intersindical, PCP e FUR. Foi pedida a nomeação de um governo «verdadeiramente revolucionário» e gritou-se, repetidamente, «Suspensão é demissão!»

Para além da recordação da efeméride note-se o seguinte: a manifestação foi convocada para o próprio dia, não para semanas mais tarde, e repito que contou com a participação de milhares de pessoas. Num tempo em que não existiam telemóveis, nem internet , foi a rádio, o passa-palavra, telefonemas para empresas e para amigos, que serviram de arautos para a mobilização. E esta funcionou, sem hesitações. Dir-me-ão que estávamos em período revolucionário (mais exactamente, a escassos dias do fim do mesmo) e que havia esperança e espírito de luta. E agora? Se mais logo Cavaco anunciasse entraves à nomeação de um governo de esquerda, estariam ainda hoje, ou amanhã, muitos milhares de pessoas nos jardins de Belém? Permitam-me que duvide e agradecia que me explicassem por que motivo isso não aconteceria.
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Já está!


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O empata democracias




«Já tinha escrito há uns meses, a quando da famosa frase sobre uma possível saída da Grécia do euro - "19 -1 =18" - , que Cavaco Silva era o nosso Dalai Lama. O homem a que a idade, a pensão e o cargo lhe deram a capacidade de poder entrar numa espécie de bucolismo transcendental, em que as situações de crise são adiadas e trocadas pela simplicidade do sorriso de uma vaca , o olhar tímido de uma cagarra ou a inocência escorregadia de uma banana. (...)

Segundo explica o gabinete de comunicação do nosso PR, Aníbal Cavaco Silva está a "recolher informação junto daqueles que conhecem bem a realidade social, económica e financeira" - se são aqueles que conhecem bem a realidade social e económica, imagino que tenha andado a falar com desempregados e pensionistas com pensões de miséria. (...)

Acho que ainda vamos a meio da viagem e que Aníbal na segunda-feira recebe a Associação de Socorros a Náufragos, na terça, o Ginásio Clube Português, na quinta vai ao zoo, na sexta tem curso de bonsai, no sábado vai visitar o museu do suor a Paderne e no domingo tem esgrima. Só lá para Dezembro temos Governo.

Importante assinalar que Cavaco Silva ainda vai receber Carlos Costa, não lhe vá ter escapado alguma coisa e o governador do Banco de Portugal é daqueles que topa tudo. Provavelmente, Aníbal vai pedir a Carlos Costa para tirar a idoneidade à Catarina Martins. Gostava de recordar que o último banqueiro a ser recebido pelo Aníbal foi o Salgado. Atenção banqueiros, diz que ele dá azar.

Desenvolvi uma teoria sobre a estratégia comunicacional de Aníbal. Queira o leitor fazer o obséquio de seguir o raciocínio: a banana da Madeira é grande, o BES é seguro, Dias Loureiro está acima de suspeitas. Vêem a forma de comunicar de Aníbal? Já perceberam o padrão? "Não darei posse a Governo sem maioria", o que é que aconteceu? Exacto. É inverter. Vamos ver se já perceberam. Quando Cavaco diz que governo de gestão não tem problema e dá a entender que é isso que vai acontecer... Significa que? Isso. Boa.»

João Quadros
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Dica (168)




«Eu sei que Paris é diferente para vocês, mas para mim é o mesmo que ouvir Saana, Alepo, Damasco, Bagdad. Desculpem se não parece fazer sentido, mas eu tenho lá amigos, jantei lá muitas vezes fora, bebi copos, fui a jogos de futebol, a espectáculos de teatro ou de dança, comi peixe à beira do Eufrates e do Tigre, fumei cigarros à noite na rua à conversa com amigos, enquanto trocávamos canções, gente da minha idade que só quer o mesmo que eu quero, gente que podia ter estado em Paris na sexta-feira passada se a vida lhes tivesse sorrido de outra maneira.»
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19.11.15

A morte da morte



Excertos de um excelente texto de Jacinto Godinho no Público de hoje (19.11.2015):

«Numa amena noite de sexta-feira (por acaso ou talvez não, uma sexta-feira 13, que é 13 e de azar por causa da prisão, também em massa, dos cavaleiros da ordem dos templários em 13 Setembro de 1307), aos locais agradáveis do descanso do modo de vida ocidentalizado, chegam grupos de homens armados e disparam indiscriminadamente sobre cidadãos anónimos. Como interpretar este teatro do absurdo? O terror de que um desconhecido passe por nós e sem motivo comece a disparar? A primeira ponta solta que se oferece à interpretação é que seis dos assassinos fizeram-se explodir. Iam preparados para o martírio. O que é o mártir? É alguém para quem a morte não é um limite, apenas uma passagem para uma outra condição de existência que acredita ser mais forte que a vida actual. (...)

Sabemos que os mártires acreditam em algo, numa utopia. Mas como pensar que a crença seja mais forte que o medo da morte? Nós os racionalistas temos dificuldade em entender e aceitar isto. Mas a crença numa utopia também é uma forma de medo. O medo de não serem merecedores da sociedade perfeita ou do reino dos céus. (...)

Os vilões, apesar de demonizados pelo estigma, preservam a imortalidade através de fascinantes lendas negras. Salazar, Hitler e Estaline ainda por aí estão para o testemunhar. Os jihadistas suicidas também buscam a sua utopia e trocam a vida pelo feito da visibilidade mediática. Sabem que o crime só se consumará definitivamente quando as mortes em massa encherem as páginas dos jornais de imagens de terror cénico. É inevitável os media caírem nesta armadilha. (...)

O Estado Islâmico está a roubar o palco da produção do visível a Hollywood com espectáculos que retiram o real da ficção e dos efeitos especiais e o devolve com violência aos corpos reais, à dor à carne e ao sangue. As páginas dos jornais são os pósteres das suas produções, os novos cartazes do espectáculo do real onde a morte morre deixando de contar como fronteira limite da razão e da humanidade.

Não tenho resposta, mas a questão é: quem consegue parar esta destruidora máquina do espectáculo?»

Na íntegra AQUI
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Um título que faz ganhar o dia

Assassinos sanguinários



Ricardo Araújo Pereira na Visão de hoje:

«Depois de mais de uma centena de pessoas ter sido assassinada por estar a ouvir música, a jantar num restaurante ou a ver um jogo de futebol, ainda ninguém veio chamar a atenção para o modo como o comportamento das vítimas ofendeu os fundamentalistas islâmicos. (...)

O comunicado no qual o estado islâmico reivindicou o atentado dizia que Paris rinha sido escolhida por ser "a capital do vício", que o Bataclan era um alvo por ser o sítio onde estavam reunidos "centenas de pagãos", que os terroristas tinham aberto fogo sobre "um ajuntamento de incréus" e que os araques continuarão "enquanto continuarem a ofender o nosso profeta".»

Na íntegra AQUI.
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Síria, 2014



Bansky
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Maquiavel e as bananas


@Pedro Vieira

«Cavaco Silva acha que a Madeira tem "uma banana maior e mais saborosa". Ao tentar transmitir um elogio, o Presidente da República depreciou um alimento único.

A qualidade única da banana da Madeira baseia-se no seu tamanho reduzido, o que a torna mais sólida quando comparada com as uniformizadas em formato XL. O político que um dia disse que "eu nunca me engano e raramente tenho dúvidas" equivocou-se, mais uma vez. Nada que espante, nestes seus penosos últimos meses como PR. A política não é uma banana. Mas em Portugal parece. (...)

Cavaco parece acreditar que, como o Tio Patinhas, vivemos numa caixa-forte e a nossa piscina, em vez de água, tem dólares ou euros. É uma convicção como qualquer outra. O problema é que todas estas afirmações de Cavaco, desconexas e contraditórias, apenas servem para iludir o óbvio: temos um Governo que não governa. E o PR parece desejoso de, com a sua dilação de decisões, ir desgastando António Costa até que ele possa ser alvo fácil de todas as contradições de um acordo à esquerda.

Cavaco quer vencer pelo cansaço. Acredita que a dilação, o não fazer nada, é a táctica perfeita para domesticar António Costa. Ao contrário de Maquiavel, que recorria à eficiência, à energia política e ao espírito empreendedor, como prática política, Cavaco prefere não tomar decisões. O que, no caso, é uma decisão: favorecer Passos Coelho. Cavaco tenta ser Maquiavel: soube como alcançar o poder e está à procura de saber como há-de manter Passos Coelho no poder. É uma atitude clara: Cavaco não deseja glória, pretende eternizar o poder do seu partido. Mas a ânsia talvez lhe esteja a toldar a razão.»

Fernando Sobral

18.11.15

Que o Presidente da República deixe de fazer pouco do país


José Manuel Pureza, hoje, na AR:



«O Presidente da República foi mais rápido que a própria sombra quando se tratou de proteger o seu governo prestes a evaporar-se pela demissão irrevogável de Paulo Portas, espera-se que responsavelmente deixe de fazer pouco do país e garanta o regular funcionamento das instituições democráticas.» 
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No Sábado, ouve os sete anões

Síria: 10 minutos que ajudam a perceber a realidade



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Manuel António Pina, 72



Nasceu em 18 de Novembro de 1943 e morreu há três anos. Por mais banal que seja, nem por isso deixa de ser importante lembrar que continua a fazer-nos muita falta com as suas crónicas inconfundíveis e com os seus excelentes livros.

Neste momento tão especial da vida deste país, seria certamente uma voz bem forte e lúcida que nos daria força e alento para ler o momento presente e enfrentar o que aí vem – «A pensar de pernas para o ar»:

Pensar de pernas para o ar
é uma grande maneira de pensar
com toda a gente a pensar como toda a gente
ninguém pensava nada diferente

Que bom é pensar em outras coisas
e olhar para as coisas noutra posição
as coisas sérias que cómicas que são
com o céu para baixo e para cima o chão

Manuel António Pina, in O país das pessoas de pernas para o ar

Também, um belo pretexto para rever este excelente documentário:


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Ponham aqui o Cavaco



... para ver se ele acorda!
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Filme mudo com legendas



«A política portuguesa, por estes dias, parece um filme de série B. Compreende-se: em tempos de austeridade, os orçamentos para contratar actores são bastantes reduzidos. É por isso que muito do que a generalidade dos dirigentes do sítio diz parece um argumento de um filme de "suspense" ou de terror.

Alguns parecem saídos de um filme "de autor". Mas, na generalidade dos casos, como começa a ser evidente no caso de Cavaco Silva, é um filme mudo com legendas. O comum português não percebe: como é que é possível, um mês e meio depois das eleições, continuarmos sem ter um Governo e o PR dizer, como se estivesse a falar do ciclo de vida das cagarras, que ele próprio esteve cinco meses em gestão. E o país não pereceu, é claro.

Compreende-se que Cavaco prefira falar de si em vez de resolver algo que é fundamental para o país, mas este nível de abstracção começa a assemelhar-se ao dos piores momentos da alucinação psicadélica dos anos 1960. O que vale é que, consciente ou não, Passos Coelho confidenciou a Van Rompuy que teremos Governo "dentro de duas semanas" para alegria de Bruxelas. Numa coisa PS e PSD parecem estar de acordo (já que tudo o resto os separa): um Governo de gestão é o pior que pode acontecer. Mas como Cavaco parece ainda sonhar com os tempos em que esteve cinco meses em gestão não se sabe se não vai optar por esse delírio. Mesmo que isso torne a AR um pandemónio, as ruas um pesadelo, com um Governo atado de pés e mãos com uma maioria parlamentar contra.

Ou seja, Cavaco ameaça com um Governo que fique a "assar" no espeto, na expressão feliz de Passos Coelho. Mesmo que o país fique "torrado" por causa disso.»

Fernando Sobral

17.11.15

Dica (167)




«O homem que nos disse, antes das eleições, que sabia muito bem o que fazer e que tinha todos os cenários estudados e preparados, é o que hoje nos diz que, por causa do que se passou há quase trinta anos, Portugal deve agora esperar pelo ajuste de contas.

Podemos concluir que Cavaco Silva é persistente.

Mas fazia falta um Presidente da República.»
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Um pouco de masoquismo por dia, nem sabe o bem que lhe fazia



Quando os portugueses elegeram Cavaco Silva para o segundo mandato, nas eleições presidenciais de 2011, devem ter sido especialmente motivados pela letra deste hino oficial da sua campanha. Queixam-se agora de quê?


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Sem pachorra...


António Costa almoçou ontem com um grupo de banqueiros, Cavaco Silva recebe-os amanhã, um a um. Eles, os banqueiros, que tão bem se têm comportado, serão certamente excelentes conselheiros e saberão o que é melhor para o nosso futuro. 
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Honi soit qui mal y pense

O coração nas trevas



«As últimas palavras do coronel Kurtz em "Apocalipse Now" são retiradas de "O Coração das Trevas" de Joseph Conrad. São proféticas: "O horror! O horror!" Conrad sempre nos explicou esses dias amorais. Nada mudou.

Só que agora as notícias caem em cima das nossas cabeças, segundos depois e ao vivo. Choramos Paris, mas 250 mil mortos na Síria, um atentado em Beirute com dezenas de mortos, e 2.000 assassinatos pelo Boko Haram na Nigéria são notas de rodapé. O nosso coração está empedernido, nas trevas, para algo mais longe do que o nosso pequeno mundo. E, no fundo, o Estado Islâmico vem-nos lembrar que a globalização não é só financeira, nem económica ou cultural. E que a política francesa (e americana) no Médio Oriente é um desastre.

Os atentados de Paris são a outra face da moeda dos refugiados que batem todos os dias à porta da Europa. O problema é que o caos semeado pela invasão do Iraque nunca mais foi travado. Relembre-se: quando Palmyra foi atacada pelo EI, a aviação americana não ajudou à sua defesa, porque esta era feita pelas tropas de al-Assad. Depois chorámos com as barbaridades culturais do EI. E continuamos a não entender a sua dimensão da táctica: terrorismo urbano, guerrilha nos meios de comunicação, economia de guerra. Onde o que interessa é disseminar o medo.

Enquanto existir, por culpa da miopia das grandes potências, o EI vai continuar a utilizar operações suicidas, cada vez mais pérfidas. E vai conseguir radicalizar a sociedade ocidental, libertando os seus fantasmas. Só destruindo o EI será possível alguma respiração. Mas, até lá, o nosso coração anda perdido nas trevas. Será possível ele reencontrar o caminho da verdade?»

Fernando Sobral

16.11.15

Dica (166)



De onde vem o dinheiro? (José Gusmão) 

«Os últimos dias têm sido marcados por várias notícias e análises sobre os impactos das medidas negociadas entre os partidos à esquerda no parlamento, particularmente na esfera da política económica, fiscal e orçamental. Todas essas notícias e análises incorrem no mesmo erro: calculam o impacto das alterações ao programa do PS em termos absolutos e não comparados.» 
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O discurso «marcial» de François Hollande



Atenção especial a partir do minuto 19.27 e, sobretudo, de 28:50.



A reter (minuto 32:05) : «Nestas circunstâncias, o Pacto de Segurança prevalece sobre o Pacto de Estabilidade». 
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Por um pequeno chocolate




... um grande murro no estômago.
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A angústia de Cavaco



«A capa da Der Spiegel dizia tudo sobre um dos grandes políticos europeus do século XX, Helmut Schmidt. Citava-o: "Precisamos de determinação. E de cigarros." Hoje os cigarros são politicamente incorrectos.

E a determinação evaporou-se da política porque os estadistas implodiram. Em Portugal, precisamos de rapidez. Porque determinação parece não existir em Belém. Portugal votou a 4 de Outubro e estamos a 16 de Novembro. Sem Governo. Portugal não é a Grécia. É uma República do Terceiro Mundo que finge pertencer à Europa. Cavaco representa esta insuficiência, maior do que a dívida e o défice. Cavaco vive angustiado. Tem angústia por um país que considera seu, moldado pela sua presença tantos anos à frente do Governo e da presidência. Cavaco ainda se considera a consciência do PSD, algo que Passos Coelho sempre renegou. Passos é de um PSD que Cavaco não moldou.

Ao julgar que ainda é o herdeiro do país que criou, mas que abdicou já do seu criador, Cavaco arrasta uma decisão urgente. Portugal precisa de um Governo. E precisa de um OE. Para quem passa a vida a falar de estabilidade e previsibilidade, sempre com uma mão a segurar o fantasma dos mercados, Cavaco contradiz-se a si próprio. Não faz o que diz. E por isso esgota-se na sua inércia. O seu silêncio pode destruir as últimas teias que sustentam esta sociedade. Porque estão a contribuir para que se radicalize ainda mais. Cavaco só tem duas soluções: António Costa ou um Governo de gestão. Não há outra. Só tem de decidir. Tristes dias finais de Cavaco em Belém. E na política portuguesa.»

Fernando Sobral

O meu reino por uma cagarra


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15.11.15

Dica (165)

O melhor dos tempos, o pior dos tempos?



«Vivemos tempos novos. Os melhores ou os piores, consoante o ponto de vista. Mas, indiscutivelmente, diferentes. Que abrem a porta para outros tempos.

Charles Dickens, excelso observador do seu tempo, escreveu certeiramente: "Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos, foi a idade da sabedoria, foi a idade da tolice, foi a época da fé, foi a época da incredulidade, foi a estação da luz, foi a estação das trevas, foi a Primavera da esperança, foi o Inverno do desespero, tínhamos tudo diante de nós, tínhamos nada diante de nós." Portugal, neste Novembro de 2015, é isto. Nada mais, nada menos. Vive-se por estes dias momentos inexplorados entre nós. Fechou-se um ciclo, as janelas estão abertas para que se abra outro. Consoante o olhar, e muitos olham com um monóculo para só verem o que desejam ver, estes tempos que aí vêm podem ser tudo: bons ou maus, sábios ou tolos. Ninguém tem o dom de os prever. Só se pode pedir uma coisa: bom senso. (...)

Há algum tempo o sociólogo alemão Ulrich Beck escrevia que: "Os cidadãos, as pessoas da rua, confrontam-se com situações que a maioria deles não entende. Não sabem o que se está a passar. Os especialistas não têm resposta, os políticos não têm resposta, e assim, as pessoas não têm resposta. Mas, por outro lado, a sociedade está a mover-se, pensando em todo o tipo de alternativas." E está. A sociedade portuguesa, entre o desvario consumista de anos anteriores e a austeridade totalitária destes últimos, aprendeu a sobreviver. Uns emigraram e os outros ficaram cá, emagrecendo e tentando descobrir uma nova economia, apesar de cercados por um Fisco inclemente. E por um Estado que, ao contrário do que se diz, não se tornou mais liberal. Transformou-se num pequeno "Big Brother". Vivemos tempos de perplexidade, em que o tecido económico se transformou: virámo-nos para a exportação e para o turismo, os portugueses são cada vez mais unidades de produção não enquadrados em empresas como antigamente. Mas, por outro lado, a competitividade continua a depender excessivamente da desvalorização do valor do trabalho. Uma sociedade moderna nunca se poderá sustentar com salários de 500 euros que são pagos a uma parte substancial dos trabalhadores portugueses. E esse é um estrangulamento. A menos que o modelo seja fazer de Portugal uma Singapura pobretanas. Por outro lado, Portugal integra-se numa Europa que está flácida, sem ideias e sem respostas. Já não é a Grécia a dor de cabeça. Nem Portugal poderá continuar a servir como laboratório e corta-fogos para que a crise das dívidas soberanas irrompa pela Espanha e pela Itália e afogue a Europa. Portugal é pequeno. Mas se em Espanha as próximas eleições mudarem o "status quo", aí o problema começa a ser grave. O maior, no entanto, tem a ver com a crise de credibilidade da economia exportadora alemã (que o escândalo VW fomentou) e com os refugiados, a que a UE não consegue dar respostas.

É neste tempo sem respostas que os portugueses voltaram a discutir política com acutilância. Como há muito não se via. O tempo da paz podre parece ter desabado e as posições extremaram-se porque o centro (debilitado pela crise e pela austeridade selvagem) implodiu. Sem classe média remediada que sirva de balança, os pólos extremam-se. E isso aconteceu à direita e à esquerda, como se viu pelos discursos destes últimos dias. Cavaco Silva ajudou a isso, não sendo o elemento moderador que seria essencial neste período. Vivemos tempos novos. Os melhores ou os piores, consoante o ponto de vista. Mas, indiscutivelmente, diferentes. Que abrem a porta para outros tempos.»

Fernando Sobral

Pobrezinhos mas solidários



Na Assembleia da República, aproveitaram uma bandeira da Holanda?
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Agenda de Cavaco


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Porque estamos em 2015



«Questionado porque escolheu tantas mulheres para o seu Governo, Justin Trudeau, recentemente eleito primeiro-ministro do Canadá, respondeu: porque estamos em 2015.

O mesmo se pode dizer do acordo à esquerda. O que durante muito tempo foi impensável hoje é não só possível como desejável. Fez-se. Porque estamos em 2015.

A direita não percebeu isto. Não percebeu a mudança sociológica que ela própria operou com a sua política brutal. Não percebeu que a sua política se tornou insuportável para uma maioria dos portugueses. (...)

Portugal mudou muito nestes últimos dias. A primeira consequência desta mudança é o regresso em força da política. Nos últimos anos fomos dominados pela tirania dos mercados. As pessoas, a sociedade no seu conjunto, a própria soberania do país, foram totalmente desvalorizadas. Interessava acima de tudo agradar aos mercados. Como se Portugal fosse uma espécie de apartado, um "offshore" deserto, sem gente. Com a esquerda recolocam-se as pessoas no centro da actividade política. As suas expectativas, os seus direitos, a ambição de vida melhor.

O regresso da política trouxe também consigo uma nova dignidade para o Parlamento. Desacreditado pela irrelevância que a maioria absoluta da direita lhe conferiu, volta agora a ser o centro do debate político e partidário. Os portugueses vão seguir com maior atenção o que se passa no Parlamento. Porque é das suas vidas que ali se trata. Vamos perceber o que está em causa, as dificuldades de se chegar a consensos, o que pode e não pode ser feito a cada momento.

Mais política significa menos espaço para os simplismos económicos, para os humores dos mercados, para a submissão a poderes não democráticos e alguns antidemocráticos, nomeadamente quando se trata de ingerência num país soberano.

Mais política anima a conversa no campo da esquerda precisamente porque é essa a sua natureza. Não será uma conversa fácil, algumas vezes tornar-se-á conflituosa, mas ao contrário do que por aí se diz também não será tão mau assim. Como é hábito, a direita, sem outros argumentos, acena com o medo. Os perigos do radicalismo à esquerda, a catástrofe económica que aí vem, mas acima de tudo a ideia de que o PS fica nas mãos do PC e do Bloco. É ridículo, nem sequer faz sentido. (...)

Insisto. A direita pode continuar com o choradinho da derrota e com os prenúncios da desgraça. Mas não lhe valerá de muito. A política da esquerda será incomparavelmente mais excitante.»

Leonel Moura
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