28.10.23

Edifícios

 


Edifício De Beck, Arte Nova, com fachada assimétrica. Bruxelas, 1902.
Arquitecto: Gustave Strauven,

Daqui.
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Ontem, em Nova Iorque

 

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O direito ao “mas, porém, todavia, contudo”

 


«Eu não coloco nenhum “mas” no massacre do Hamas, mas coloco na resposta israelita, que é uma coisa interligada, mas distinta. Esta é, aliás, a posição que toda a gente sensata e moderada tem tomado, incluindo muitos israelitas que conhecem o Governo Netanyahu melhor do que nós e sabem muito bem o que eles são e o que querem, os americanos e Biden. Uma coisa é o plano moral da condenação do que fez o Hamas, e isso é a preto e branco, só que, se o Governo israelita cometer crimes de guerra, o mesmo plano moral aplica-se, sem um diminuir o outro.

Porém, há hoje um ambiente de radicalização — de que falarei vezes sem conta porque ele está por todo o lado nas democracias, e é nas democracias que ele é mais perigoso —, que acha que ou nos arregimentamos calados, cegos e surdos num lado ou pertencemos ao Exército adversário. E daí nasce uma falência da política, mas também da ética, quando não se pode falar das fragilidades do lado que escolhemos como nosso, sem isso pôr em causa a condenação total e absoluta dos massacres do Hamas. É suposto ser assim quando se vive em democracia e se actua em liberdade, ou isso já não conta nos dias de hoje? E o direito também só se aplica quando é útil? E os crimes são objectivos, ou são ou não são conforme quem os pratica?

Todavia, o que se está a passar é o incremento da censura. Veja-se o caso da declaração de Guterres. O problema com essa declaração é que colocou o “mas” no sítio errado, mas, sejamos justos, o conjunto da declaração condena em termos claros o ataque do Hamas. Mas o que provocou a fúria dos israelitas “oficiais” é o chamar a atenção para a situação de ocupação da Palestina nos termos das resoluções da ONU, e as violências cometidas na faixa de Gaza, não a ambiguidade com o Hamas. O que está a acontecer nos dias de hoje é que o Governo israelita — e é necessário fazer esta distinção, entre Israel, os judeus, e o Governo de Netanyahu — tem uma história negra de violação dos direitos reconhecidos internacionalmente aos palestinianos, em particular da Cisjordânia, incentiva colonatos ilegais e cauciona os ataques que os colonos fazem contra os palestinianos que têm a casa e a família nos terrenos de expansão dos colonatos.

Contudo, o que o Governo israelita quer é que, a pretexto da condenação do Hamas, se dê uma caução à sua política de antes e de agora, que está presente na resposta ao Hamas na faixa de Gaza, de violências sobre os civis muito para além dos terríveis “danos colaterais” inevitáveis na resposta militar, e justificados pela necessidade de punir o Hamas. É que o modo como está a ser feita a resposta, que tem claramente como um dos alvos a população civil de Gaza para além do Hamas, é muito mais coerente com a política rácica, de expulsão dos palestinianos, de retirada de direitos à Autoridade Palestiniana e aos palestinianos que são cidadãos israelitas, e de total violação da integridade daquilo que seria um Estado palestiniano, conforme todas as resoluções da ONU e os acordos assinados por Israel, e isso vai muito para além da justa resposta ao Hamas e de defesa de Israel.

Porém, esta radicalização tem como efeito gerar um surto de polícias do pensamento e de denunciantes, e a bufaria está por todo o lado nas redes sociais. A mistura de agressividade (na resposta a Guterres), de censura e cancelamento como aconteceu com Paddy Cosgrave, que se limitou a dizer o óbvio, de que crimes de guerra são crimes de guerra seja quem for que os pratique, ou as campanhas de censura e imbecilidade na cloaca das redes sociais, como a que fez Greta Thunberg ter de tirar o polvo de peluche de cima do sofá, que não tinha obviamente qualquer significado anti-semita. Aliás, pôr animais nos vídeos ou por perto é péssimo: polvos, ratos, macacos, gatos, cães, peixes, pandas, caracóis, gafanhotos, lesmas, por aí adiante, é perigoso. Veja-se os gatos. Coloquem um gatinho muito giro e fofo — nem acredito que estou a usar estas palavras — e eu posso dizer que é um anarquista em acto ou em potência, porque há-de haver momentos em que esse gatinho embravece porque o colocaram no Tik-tok sem respeito pelos seus direitos de personalidade e passa ao “gato vadio”, que os anarquistas gostam de usar no nome das livrarias, publicações ou panfletos.

No entanto, como hoje quem vive do favor dos media, ou quem precisa dos seus grandes empregos politicamente correctos, tem uma espinha dorsal dobrável, os pedidos de desculpa são muito piores do que as ambiguidades, quando existem, nas declarações iniciais. E lá se foi o polvinho de peluche, que podia ser anticapitalista, denunciar os tentáculos de um ditador, ou prever os resultados dos jogos de futebol, mas que, aos olhos dos censores, tinha de ser anti-semita. Isto está bonito…

Mesmo assim, contudo, no entanto, apesar, não obstante, não contem comigo para não usar as adversativas, que são, no plano da racionalidade e da análise, boas palavras.»

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Entretanto em Israel

 


Samuel Frey, jornalista israelita, ameaçado de morte pela extrema direita por este tipo de intervenções.
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27.10.23

Uma espécie de vaso

 


Vaso de vidro «Jack-No-Púlpito», gravado em pontil côncavo polido. 1900-1920.
Quezal.

Daqui.
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Banksy em Gaza

 

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A Terra dos Mil Sorrisos não é aqui

 

«Mais de 30 tailandeses morreram nos ataques de 7 de outubro. Feridos são 16. E reféns são 19. Na fronteira com o Líbano, a norte, dois tailandeses foram feridos num ataque do Hezbollah, ou das milícias que se confundem com o Hezbollah. Números, para certas cabeças os números são mais importantes do que o sofrimento, a desumanização e a irracionalidade. Todos vieram da Terra dos Mil Sorrisos, migrantes em busca de vida melhor. Os mortos, feridos e sequestrados não a encontraram. Encontraram uma terra onde o sorriso é escasso. O povo israelita não é pródigo em sorrisos e em amabilidades de circunstância. (…)
 
Imaginem o choque de um tailandês, nascido e criado na tolerância sorridente do budismo Theravada, aqui chegado e confrontado com as características de um povo especialmente traumatizado que se julga especial, o povo escolhido. E imaginem o choque de um judeu aqui chegado no princípio do século XX, um judeu da Europa Central, refugiado dos pogroms e guerras europeias, nascido e criado dentro dos rigores e da disciplina alemães, amante da ordem e da liturgia da ordem. A uma terra de areia, poeira e calor, a uma terra onde os árabes eram a maioria dos ocupantes da terra, a uma terra de suor e trabalho, onde tudo teria de ser inventado pela primeira vez depois do êxodo e o exílio dos judeus.» 

Clara Ferreira Alves (a partir de Israel)
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O ataque inaceitável contra Guterres desvia-nos das questões essenciais

 


«Na crónica de 13 de outubro lembrei a posição das Nações Unidas sobre o terrorismo. Em resumo, escrevi que o terrorismo e todas as ações criminosas desse tipo, destinadas a provocar vítimas, destruição e o pânico geral, não podem ser justificadas ou minimizadas por considerações de ordem política, filosófica, ideológica, racial, étnica ou religiosa. Devem ser sempre condenadas de modo inequívoco. Acrescentaria agora, depois da comunicação que António Guterres fez ao Conselho de Segurança da ONU, que a análise objetiva e fatual do contexto em que esses atos ocorrem não pode ser vista como uma tentativa de desvalorização dos crimes praticados. Reagir como Israel o fez é um abuso inaceitável e uma distração política. Essa análise é imprescindível para que se possa encontrar as vias de solução do problema.

Nessa crónica, e em várias intervenções televisivas, também recordei que a resposta dos Estados, mesmo quando se trate de uma crise de grandes proporções, deve ser adequada e balizada por razões políticas e morais, e igualmente pelo respeito pelas convenções internacionais, os direitos humanos e a lei e princípios humanitários. Tudo isso tem impacto sobre a imagem dos dirigentes do país e sobre a legitimidade das medidas tomadas. Tem igualmente uma forte dimensão humana: hoje não se pode aceitar que à violência sanguinária de alguns se responda com uma violência institucional sem limites. Uma reação desmesurada levará sempre a que saia o tiro pela culatra. O Presidente Macron acaba de reconhecer esse risco, após a sua visita à região. O Presidente Biden, quando em Israel, disse-o de uma maneira oblíqua, mas para bom entendedor, meias-palavras bastam. É preciso, no entanto, que se esteja pronto para ouvir a voz da prudência.

O terrorismo combate-se derrotando os seus agentes, mas não só. Os militares e os polícias, por mais enérgicos e equipados que estejam, não constituem uma solução suficiente. É preciso atacar as causas profundas, denunciar e isolar os Estados que apoiam ou promovem o terror, reforçar a segurança interna e a cooperação entre os diferentes serviços de informação dos países aliados.

Este último ponto parece evidente. Mas há pouco mais de uma semana um tunisino matou dois cidadãos suecos em Bruxelas, num ato obviamente terrorista. Andava à solta na Bélgica, apesar da polícia tunisina ter informado a sua congénere belga sobre a sua perigosidade e pedido a sua captura e extradição.

Escrevo isto a pensar na reação às palavras de Guterres por parte do ministro dos Negócios Estrangeiros e de outros diplomatas israelitas. Repito que considero essa reação inadmissível. O Secretário-Geral expressou um repúdio completo pelos massacres cometidos pelo Hamas, como aliás já o havia feito de forma inequívoca e reiterada. Por outro lado, exerceu o seu dever político e moral, que lhe é reconhecido pelo Artigo 99 da Carta das Nações Unidas, ao chamar a atenção do Conselho de Segurança para as distintas dimensões do problema, incluindo o que considera ser violações da lei internacional. Mostrou independência e equilíbrio perante uma crise extraordinariamente complexa. É isso que se espera das Nações Unidas, é a sua mais-valia, como tive várias vezes que lembrar aos Estados membros, incluindo no Conselho de Segurança.

Voltando à Carta, o Artigo 100 requer que os Estados respeitem o Secretário-Geral e os funcionários das Nações Unidas. Dizer que se "vai dar uma lição" à ONU é uma declaração estrambólica e intemperada, única na história da organização. Também não é admissível, de acordo com a Convenção sobre os Privilégios e as Imunidades da ONU, recusar vistos de entrada aos funcionários, quando a deslocação for de natureza oficial. Por isso, o passaporte dos funcionários tem a designação de Laissez-passer. A única exceção para negar um visto diz respeito à segurança nacional. Nesse caso, o país tem a obrigação de informar o Secretário-Geral, invocando essa razão.

No meio disto tudo, o importante é não perder de vista que a situação naquela parte do Médio Oriente está numa espiral muito perigosa. Cabe a todos os protagonistas compreender a gravidade da situação, os riscos inerentes e procurar as soluções que respondam às preocupações dos dois povos, israelitas e palestinianos. É aí que a atenção do Conselho de Segurança se deve focar. Mas o Conselho, e não o Secretário-Geral, está num impasse muito intrincado.»

Ex-secretário-geral-adjunto da ONU
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26.10.23

Regressam os candeeiros

 


Candeeiro «pavões», 1910.
René Lalique.


Daqui.
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Mahalia Jackson nasceu num 26 de Outubro

 


Mahalia Jackson nasceu em 26 de Outubro de 1911, gravou o primeiro disco com 26 anos, acumulou sucessos no mundo inteiro ao longo de décadas.

Cantou quando John Kennedy foi eleito presidente em 1961 e na inesquecível «Marcha sobre Washington», em 1963, depois do célebre discurso de Martin Luther King «I have a dream!». Mais tarde, em 1968, cantou também no seu enterro.





Entre todas as canções por que passou, esta será talvez a mais «batida» de todas, mas com selo de garantia para sempre:


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José Cardoso Pires

 


Um quarto de século sem ele. Este país ficou mais triste – e eu também.
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Guterres: o salto em frente

 


«1. António Guterres fez uma declaração histórica no Conselho de Segurança da ONU, esta terça, 24 de Outubro. Não porque a verdade do que disse seja radical, mas porque se tornou radical dizer aquela verdade. Guterres resgatou-a com clareza e coragem. Foi tão longe quanto possível e mais além: subiu a fasquia do possível naquele lugar, e a partir dele nas organizações e governos. Desde 7 de Outubro é uma nova era, e desde terça é já outro momento. Guterres surpreendeu quem não esperaria tanto do secretário-geral.

Incluindo o Estado de Israel, que lhe declarou guerra através do embaixador lá, dizendo-se “chocado” com o discurso, exigindo a demissão de Guterres e anunciando que vai recusar vistos à ONU, porque “chegou o momento de lhes dar uma lição”.

Eis o estado a que chegou Israel. A supremacia de quem se acha acima da lei humanitária e internacional. De quem se acha acima das Nações Unidas. E pensa que pode tudo, porque tem podido muito, com ajuda dos EUA e capitulação da União Europeia (UE).

A 20 de Outubro, Guterres foi a Rafah dizer que do outro lado estavam dois milhões de pessoas trancadas sem água nem comida. A 24 disse as palavras que a ONU devia a essas pessoas, e a si mesma. O discurso de terça faz dele o líder contra a barbárie. Sobretudo quando na véspera a UE, herdeira de guetos, cercos e massacres, foi incapaz até de apelar a um cessar-fogo humanitário.

Não falhar de novo é apoiar Guterres agora. António Costa não poderia não o fazer, e fê-lo. À hora a que escrevo aguardamos o resto.

2. Testemunhei e fiz críticas à ONU em duas décadas a acompanhar Israel/Palestina no terreno. É todo um debate, a longa dependência da assistência humanitária, como isso perpetua o statu quo. Mas desprendemo-nos desse statu quo desde 7 de Outubro, e haverá tempo para um novo debate. Urge agora que 2,3 milhões continuam sob bombas, com fome, sede, milhares no chão de hospitais em colapso, operados sem anestesia. 6500 mortos, 2000 dos quais crianças.

Tantos que há escavadoras a enterrarem corpos em valas comuns porque falta tudo, e há risco de epidemias. Valas comuns no século XXI perante os nossos olhos: se acompanharmos os bravíssimos repórteres locais (depois de tantos já terem morrido), e inúmeros telemóveis carregados com sol, partilhados nas redes. Enquanto a imprensa do mundo está à espera de entrar. Nunca precisámos tanto de jornalismo ali. Não é uma catástrofe natural. É a violência de um Estado sobre um povo sem Estado.

Israel bombardeia escolas, hospitais, a mais antiga igreja de Gaza. Ordena que um milhão fuja para sul, depois ataca o Sul. Pelo meio, a família de W. fica soterrada, salva-se porque vizinhos arriscam tudo para os desencravarem. W., esse amigo que há anos foi torturado pelo Hamas. Quando consegue rede, conta-me como as pessoas se salvam umas às outras, partilham comida, água, Internet. Horas para arranjar água potável ou pão. Tendas e gente ao relento sob bombas.

Mais de dois milhões reféns em Gaza. E quase três milhões na Cisjordânia, agora também bombardeada com drones, além dos ataques dos colonos. Centenas de mortos e feridos lá, à hora a que escrevo. Ao falar por eles, Guterres falou por nós: que é urgente um cessar-fogo, que Israel viola a lei humanitária internacional, que é um “sofrimento épico” o dos palestinianos, que há uma “ocupação sufocante” há 56 anos, que a violência do Hamas não aconteceu no vazio. Dizer a verdade junto dessa outra verdade que é o 7 de Outubro ter sido horrífico não é justificar o horror, e Guterres deixou isso claro. É lembrar que há outras verdades.

3. Também comunico com amigos em Israel, e nunca senti a atmosfera tão cerrada, mesmo na esquerda que combate a ocupação. Israel recolheu-se na dor dos seus 1400 mortos, na angústia dos seus 220 reféns, da orgia de sangue agora reproduzida em múltiplos vídeos que as autoridades distribuem aos media, enquanto centenas de milhares de soldados aguardam a iminente invasão terrestre, milhares de civis têm agora licença para se armarem, e as bombas caem em Gaza.

Não em nosso nome, declaram milhares de judeus fora, sobretudo nos EUA. Que não só dizem o que Guterres disse sobre o cessar-fogo, a ocupação, as violações de Israel, como vão além. Dizem a Israel e a esse novo presidente de Israel que se tornou Joe Biden: a nossa dor não é a vossa arma.

Como de outra forma fez uma das reféns que o Hamas libertou, a espantosa Yocheved Lifshitz, de 85 anos. Sofreu no rapto, conta-o. Também conta que foi bem tratada em cativeiro. Não tenho espaço aqui para o que isto pede. Mas a sequência de imagens em que ela estende a mão para se despedir dos captores, e as mãos se apertam, é assombrosa.

Que cada um dos 220 reféns do Hamas se salve. Têm Israel, Biden, UE e parceiros a lutar por isso, e ainda bem. Guterres também o pediu. Mas até ele falar agora, quem com poder falara pelos milhões de palestinianos reféns de Israel há décadas?

4. Há um par de dias, Obama criticou o corte de água, comida e energia, a desumanização dos palestinianos que endurece gerações. Ajudou a atenuar o belicismo de Biden. O próprio Biden parece tê-lo atenuado.

Mas foi Guterres quem deu o salto em frente. Será mais difícil proibir bandeiras palestinianas, reprimir manifestações, expor um preconceito em curso. Que a Europa se pergunte: se fossem cristãos, judeus, brancos, já apelaria ao cessar-fogo? Teríamos chegado ao gueto de Gaza? Nunca mais é nunca mais para toda a gente. Zero tolerância para anti-semitismo vai a par com zero tolerância para qualquer racismo.

E no seu salto em frente, Guterres toca essa nova geração que está agora mesmo a sair à rua pelo mundo contra o horror em Gaza. Em vigília frente ao Parlamento português, na língua do secretário-geral da ONU, no instante mesmo em que termino este texto.»

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25.10.23

Binóculos

 


Binóculos de teatro em latão esmaltado e madrepérola. Bordéus, França, cerca de 1900.
I. Larghi.

Daqui.
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Noite densa dos chacais

 

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Pablo Picasso, 25.10.1881

 


Venha outro que pinte uma Guernica dos tempos que hoje correm.
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Declaração de António Guterres na ONU, 24.10.2023

 


«A situação no Oriente Médio está a ficar mais terrível a cada hora.

A guerra em Gaza está a assolar-se e corre o risco de espiral em toda a região.

Divisões são sociedades fragmentadas. Tensões ameaçam ferver.

Num momento crucial como este, é vital que fique claro sobre os princípios — a começar pelo princípio fundamental de respeitar e proteger os civis.

Condenei inequivocamente os horrorosos e sem precedentes actos de terror do Hamas em Israel de 7 de Outubro.

Nada pode justificar o assassinato deliberado, ferimentos e sequestros de civis - ou o lançamento de foguetes contra alvos civis.

Todos os reféns devem ser tratados humanamente e libertados imediatamente e sem condições. Noto respeitosamente a presença entre nós de membros das suas famílias.

É importante também reconhecer que os ataques do Hamas não aconteceram no vácuo.

O povo palestino foi submetido a 56 anos de ocupação sufocante.

Eles viram as suas terras constantemente devoradas por colonatos e atormentadas pela violência; a sua economia sufocada; o seu povo deslocado e as suas casas demolidas. As suas esperanças de uma solução política para a sua situação têm desaparecido.

Mas as queixas do povo palestiniano não podem justificar os terríveis ataques do Hamas. E esses ataques terríveis não podem justificar o castigo colectivo do povo palestiniano.

Até a guerra tem regras.

Temos de exigir que todas as partes cumpram e respeitem as suas obrigações ao abrigo do direito humanitário internacional; tenham cuidado constante na condução de operações militares para poupar civis; e respeitem e protejam os hospitais e respeitem a inviolabilidade das instalações da ONU que hoje abrigam mais de 600.000 palestinianos.

O bombardeamento implacável de Gaza pelas forças israelitas, o nível de vítimas civis e a destruição por grosso de bairros continuam a aumentar e são profundamente alarmantes.

Choro e honro as dezenas de colegas da ONU que trabalharam para a UNRWA — infelizmente, pelo menos 35 e a contar — mortos no bombardeamento de Gaza nas últimas duas semanas.

Devo às suas famílias a minha condenação destes e muitos outros assassinatos semelhantes.

A proteção de civis é primordial em qualquer conflito armado.

Proteger civis nunca significa usá-los como escudos humanos.

Proteger civis não significa ordenar que mais de um milhão de pessoas evacuem para o sul, onde não há abrigo, nem comida, nem água, nem remédios e nem combustível, e depois continuar a bombardear o próprio sul. Estou profundamente preocupado com as claras violações do direito humanitário internacional a que estamos a assistir em Gaza.

Deixe-me ser claro: nenhuma parte num conflito armado está acima do direito humanitário internacional. Felizmente, alguma ajuda humanitária está finalmente a entrar em Gaza.

Mas é uma gota de ajuda num oceano de necessidade. Além disso, os nossos abastecimentos de combustível da ONU em Gaza esgotarão numa questão de dias. Isso seria outro desastre.

Sem combustível, a ajuda não pode ser entregue, os hospitais não terão energia, e a água potável não pode ser purificada ou mesmo bombeada.

O povo de Gaza precisa de uma prestação contínua de ajuda a um nível que corresponda às enormes necessidades. Essa ajuda deve ser prestada sem restrições.

Saúdo os nossos colegas da ONU e parceiros humanitários em Gaza a trabalhar em condições perigosas e a arriscar as suas vidas para prestar ajuda àqueles que precisam. Eles são uma inspiração.

Para aliviar o sofrimento épico, tornar a entrega da ajuda mais fácil e mais segura e facilitar a libertação de reféns, reitero o meu apelo a um cessar-fogo humanitário imediato.

Mesmo neste momento de perigo grave e imediato, não podemos perder de vista a única base realista para uma verdadeira paz e estabilidade: uma solução de dois Estados.

Os Israelitas devem ver as suas necessidades legítimas de segurança materializadas, e os Palestinianos devem ver as suas aspirações legítimas para um Estado independente realizadas, em consonância com as resoluções das Nações Unidas, o direito internacional e os acordos anteriores. Finalmente, temos de ser claros quanto ao princípio da defesa da dignidade humana.

Polarização e desumanização estão sendo alimentadas por um tsunami de desinformação.

Temos de enfrentar as forças do anti-semitismo, fanatismo anti-muçulmano e todas as formas de ódio. Hoje é o Dia das Nações Unidas, completando 78 anos desde que a Carta da ONU entrou em vigor.

Essa Carta reflecte o nosso compromisso comum de promover a paz, o desenvolvimento sustentável e os direitos humanos.

Neste Dia da ONU, nesta hora crítica, apelo a todos para que se retirem da beira antes que a violência ceife ainda mais vidas e se espalhe ainda mais.

Muito obrigado»

(Tradução publicada por Alexandra Lucas Coelho no Facebook. Texto em inglês AQUI.
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24.10.23

Banheiras

 


Banheira «vintage» e azulejos de Portugal, cerca de 1920.

Daqui.
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Catarina Martins e Francisco Assis

 





Uma conversa importante.
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Alguém me explica o que são “contas certas”?

 

«A expressão “contas certas” merece um prémio de marketing político, mas é difícil associá-la com rigor às opções orçamentais do Governo. O que Costa e Medina estão a fazer com os nossos recursos parece-se cada vez mais com uma pessoa a quem chove em casa mas não faz obras, que está doente mas não vai ao médico e que abdica de investir na educação dos filhos porque tem de encher o mealheiro, não vá alguma coisa acontecer no futuro. Chamar a isto “contas certas” é um pouco absurdo. Mas em termos políticos funciona.»

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Todas as guerras são iguais em cada vez pior

 


«Animalizada ou tratada como inominável, a população palestiniana sofre um duplo cerco: o do manto de bombas que dia a dia vai destruindo Gaza e o silenciamento hipócrita dos que assinaram a autorização para a matança. António Guterres é insultado como sendo amigo dos terroristas por um exaltado embaixador israelita que o acusa do crime de querer levar ajuda humanitária a hospitais; Biden dá luz verde a uma operação de extermínio e só pede que seja feita devagar; Scholz, Macron e Sunak, três governantes aflitos nos seus países (o pobre Zelensky foi impedido de vir a uma cerimónia idêntica, não fosse pedir mais armas), fazem fila para cumprimentar Netanyahu, para quem tudo isto se resume a escapar da prisão por corrupção. E o Hamas festeja a sua vitória política, com cada bomba sobre Gaza reforça a sua liderança na região.

A guerra é só isto. É uma matança, é o genocídio disfarçado com argumentos políticos, é a limpeza étnica assente no princípio da culpa coletiva dos povos. Uma palavra, exterminismo, resume melhor do que outras o que é a norma da guerra e vemos como é aplicada em todo o seu esplendor. Os porta-vozes oficiais apontam no mapa por onde vão atacar e como vão destruir casa a casa, comentadores briefados pela embaixada pululam em televisões pelo mundo inteiro e banalizam-se as distantes vítimas colaterais na cultura, onde havia de ser (Adania Shibli não recebeu o seu prémio na Feira do Livro de Frankfurt, Nathan Thrall não pode apresentar o seu romance sobre uma vida na Cisjordânia, músicos palestinianos são cancelados, o Festival de Cinema Palestiniano de Boston deixou de ser presencial), tudo o que já tinha acontecido com as proibições de Tolstoy ou Dostoievsky e desde então se banalizou. As raças banidas não podem ser ouvidas, há religiões proibidas, a isso voltámos. E, a BBC é insultada se se limita a tratar as forças em guerra como inimigos, o que tinha feito com os nazis, e não aceita reduzir o jornalismo ao discurso político.

É um tempo sombrio em que a defesa da paz fica resumida a Guterres e ao Papa, ambos sem poder, e a iniciativa da guerra é capturada não só pelos seus generais como por uma raivosa trupe de vingadores de sofá. Entendamo-los bem: eles estão a dizer-nos que a humanidade é um pseudónimo da barbárie e querem que nos habituemos à irracionalidade. A beleza da guerra, a estética do bombardeamento, a arte deve passar a ser a evocação do massacre, diziam os fascistas italianos nos anos vinte do século passado. Cem anos depois, deram drones, bombas de precisão e bolhas de ódio aos seus herdeiros e eles rejubilam ao usá-las.»

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23.10.23

Jarras

 


Jarra de vidro azul com flores prateadas, Arte Nova americana, Denver Art Museum, 1900.
La Pierre Mfg. Co.

Daqui.
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O Banksy é que sabe

 

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23.10.1956 - A «Revolução Húngara»

 


A chamada «Revolução Húngara» começou numa terça-feira, 23 de Outubro de 1956, no centro de Budapeste, com uma manifestação de milhares de estudantes que tentaram ocupar a rádio para transmitirem as suas exigências: fim da ocupação soviética e a implantação de um «verdadeiro socialismo». Foram detidos e quem do lado de fora exigia a sua libertação foi alvejado pela polícia a partir do interior do prédio.

Espalhada a notícia, a revolta alastrou primeiro a toda a cidade de Budapeste e depois ao resto do país, provocou a queda do governo e a sua substituição. Mas em 4 de Novembro deu-se a invasão pelas tropas do Pacto de Varsóvia e a resistência não durou mais de seis dias.

Pouco mais de duas semanas, portanto, que se saldaram por duas dezenas de milhares de mortos e por um verdadeiro êxodo de cerca de 200.000 húngaros, sobretudo jovens, que fugiram do país e pediram asilo um pouco por toda a Europa e também na América, do Norte ao Sul. Conheci uns tantos na Universidade de Lovaina, uns anos mais tarde.

Os estudantes de 56 são agora velhos ou já morreram. Gostava bem de saber o que pensam disto tudo os meus amigos Eva, Nicholas e Elisabete, mas perdi-lhes o rasto.
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E os palestinianos têm direito a defender-se? Como?

 


«Muitos têm dito, com razão, que Israel tem direito a defender-se. É um direito universal de todos os povos. Mas raramente se faz a pergunta ao contrário: os palestinianos têm direito a defender-se? A pergunta não é sobre o Hamas. É sobre os milhões de palestinianos que têm estado fora de todos os discursos. E ela está longe de ser retórica para quem vive sob ocupação na Cisjordânia e totalmente isolado do mundo em Gaza (e agora bombardeado de forma indiscriminada). São vítimas de um ataque quotidiano, da limitação severa de direitos elementares e da total recusa do seu direito à autodeterminação.

Poderia fazer aqui a descrição do inferno quotidiano nos territórios ocupados, a que assisti, ou do que vi e senti em Gaza. Mas tenho tentado deixar de lado a emoção num tema que me emociona muitíssimo. Acho que no meio da tragédia e da polarização, apelar à racionalidade não é apelar ao cinismo. É apelar ao que tem faltado.

Voltando à pergunta: os palestinianos têm direito a defender-se? Da mesma forma que só consigo debater com quem conceda esse direito aos israelitas, só consigo debater com quem o aceite para os palestinianos. A pergunta que interessa é, então, como se podem ou devem defender.

Pela via política e diplomática? É o que a Autoridade Palestiniana faz há décadas, desde que abdicou da violência que Israel nunca abandonou, já que a exerce sem interrupção no quotidiano dos palestinianos. A razão da impopularidade de Mahmoud Abbas entre os palestinianos é essa. Não porque que aqueles que eram a elite cultural do mundo árabe, os mais tolerantes e cosmopolitas entre os muçulmanos, sejam naturalmente violentos. Mas porque o resultado foi a perda constante de território, o endurecimento da repressão israelita, a expansão imparável dos colonatos em terras legalmente palestinianas e a radicalização do governo de Israel. O que os palestinianos veem é que esta via só lhes ofereceu derrotas. Aquilo a que Netanyahu chama de “paz” e que Putin sonha ver na Ucrânia.

Há a via da resistência pacífica. Foi de alguma forma tentada na Grande Marcha do Retorno, em Gaza, com soldados israelitas a abater quem se dirigia à fronteira. Mas o apoio incondicional (é sempre uma péssima forma de apoiar) ao ocupante tornou o ocidente totalmente insensível à perda de vidas palestinianas. O sacrifício pacifico está condenado à invisibilidade e à indiferença. Como se vê pela fila de líderes ocidentais a querer cumprimentar Netanyahu enquanto ele comete crimes de guerra. Deste lado, só mesmo António Guterres e o Papa Francisco querem saber das vidas palestinianas.

Há a via militar, que é a legitimamente usada pelos Estados quando são agredidos ou ocupados. Só que a Palestina não teve direito a um exército formal. E mesmo que o tivesse, o apoio que Israel recebe dos EUA chegaria para esmaga-lo em horas numa guerra convencional. Restaria o apoio de outros países árabes, que levaria à generalização da guerra, que ninguém deseja.

Assim, a resposta só pode ser política. Não há, no contexto interno israelita, qualquer vontade de a tentar. Nem qualquer razão, na verdade. Mesmo que o caminho oposto represente a perda de algumas vidas inocentes, que fanáticos como Netanyahu veem como um preço a pagar, tem permitido canalizar os apoios dos palestinianos para grupos de terroristas com quem não se tem de negociar, expandir território e manter intactos os apoios internacionais, conseguindo até a traição das ditaduras árabes, que não têm de prestar contas aos seus povos.

A solução está nas mãos dos aliados de Israel, a começar pelos Estados Unidos. Até hoje, o único que teve a coragem de condenar o que chamou “apartheid” foi Jimmy Carter, lamentando o abandono da solução dos dois Estados. Apesar de ter negociado a paz entre Israel e o Egito, foi acusado de antissemitismo, obviamente.

Os aliados de Israel têm de obriga-lo a sentar-se à mesa com a Autoridade Palestiniana, a única entidade moderada que resta nesta neste conflito. O objetivo é, antes de tudo, o de fazê-lo respeitar o direito internacional e os acordos celebrados, negociando a retirada dos territórios ocupados e desmantelando os colonatos ilegais. Depois, começar uma negociação difícil sobre o estatuto de Jerusalém e trabalhar em medidas de segurança conjuntas, que não correspondam à cultura colonial instituída. Só isto pode transformar um Hamas num inimigo comum de israelitas e palestinianos. Até lá, a paz será impossível. Porque nenhum povo aceita ser vítima para sempre. Os judeus não aceitaram, felizmente. Os palestinianos não aceitarão.

A total ausência de critérios morais, que leva a que se aceite que Israel faça o que a lei não permite a qualquer outro Estado, que esteja acima do direito internacional e de todas as resoluções da ONU, também tem um preço, em segurança, para a Europa. Por isso, este conflito não precisa de aliados incondicionais, precisa de mediadores. E de partes para conversar. Do lado palestiniano, há o poder reconhecido, enfraquecido por três décadas de derrotas e desprezo geral. Do lado israelita, é preciso substituir por um líder um desqualificado que vê na carnificina a última oportunidade de não acabar preso.

Só assim não veremos o povo da Cisjordânia a gritar pelo Hamas. Os palestinianos não podem estar condenados a escolher entre a extinção e a barbárie.»

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22.10.23

Estações

 


Estação Central de Caminhos de Ferro de Antuérpia. Arte Nova, 1895-1905.
Arquitecto: Louis Delacenserie.

Daqui.
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22.10.1921 – Georges Brassens

 


Georges-Charles Brassens nasceu há 102 anos, em Saint-Gély-du-Fesc, um porto de pesca francês banhado pelo Mediterrâneo. Aos 18 foi para Paris, regressou às origens quando a capital francesa foi bombardeada em 1940, mas para lá voltou poucos meses depois para mergulhar na leitura de grandes clássicos: Baudelaire, Verlaine, Victor Hugo...

Ainda durante a guerra, foi forçado a trabalhar numa fábrica na Alemanha, mas acabou por fugir e manteve-se escondido em Paris até ao fim do conflito. No início dos anos 50 fez umas incursões sem grande sucesso em cafés parisienses, mas foi avançando e, em 1972, viu editados 11 álbuns, acompanhados de um livro com todos os seus textos e poemas.

Com várias doenças pelo meio, acabou por morrer de cancro poucos dias depois de fazer 60 anos.

Alguns vídeos para o recordar AQUI.
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Catherine Deneuve

 


Chega hoje aos 80!


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Olha, cancelaram o Paddy Cosgrave!

 


«Paddy Cosgrave foi obrigado neste sábado a demitir-se de chefe daquele grande acontecimento que Lisboa acarinhava com enlevo: a Web Summit.

O que fez o pobre irlandês Patrick “Paddy” Cosgrave? Disse umas coisas sobre Israel que aquela entidade chamada “Ocidente”, ou, melhor, empresas ocidentais, achou que não podiam ser ditas.

Foi no X (antigo Twitter) que Paddy revelou os seus estados de alma, ao mostrar-se chocado pela “retórica e acções” de vários governos ocidentais depois do ataque do Hamas a Israel de 7 de Outubro, “com a excepção particular do Governo da Irlanda, que, por uma vez, está a fazer a coisa certa”.

“Crimes de guerra são crimes de guerra mesmo quando são cometidos por aliados, e devem ser chamados exactamente pelo que são”, escreveu Paddy, e esta é uma afirmação que está absolutamente correcta face ao direito internacional. Mas, claro, de cada vez que há uma guerra, o direito internacional vai à vida e defendemos emocionalmente “os nossos aliados”.

Mr. Cosgrave ainda veio ridiculamente pedir desculpas, depois do anúncio do boicote de Israel à Web Summit, mas já não se safou. Ainda acrescentou que o ataque do Hamas foi “monstruoso”, mas o estrago estava feito. Pediu “a libertação incondicional de todos os reféns”, mas nada do que ele viesse, depois da frase fatal, dizer evitaria a debandada geral das empresas tecnológicas da cimeira marcada para Novembro, em Lisboa.

Neste sábado, Paddy Cosgrave demitiu-se de chefe executivo da Web Summit, que agora vai arranjar um substituto que defenda cegamente as matanças passadas e futuras de Israel – que nunca cometeu, obviamente, nem cometerá qualquer “crime de guerra” aos olhos da maioria dos governos ocidentais.

A expressão “cancel culture”, muito em voga nos Estados Unidos e nos vários países do Reino Unido, é apenas uma expressão nova que define uma coisa velha – tentar calar o outro em função das suas opiniões.

Nós, portugueses, vivemos em “cancel culture” durante 48 anos. Já depois do 25 de Abril, em 1983, lembro-me de um filme chamado Pato com Laranja ter a sua transmissão interrompida pela RTP depois de alguns telefonemas de ouvintes chocados.

A Grande Reportagem sobre a guerra civil de Angola, de José Manuel Barata-Feyo, foi censurada em 1984, outra das nossas medalhas de honra governamentais em matéria de “cancel culture”. Quando está em causa uma guerra, as democracias são perfeitamente capazes de se (auto-)suspender.

O editorial de sexta-feira do Haaretz (um diário de referência israelita, que provavelmente poucos terão a lata de identificar como anti-semita) insurge-se contra a frase do chefe máximo da polícia de Israel que disse que “mete em autocarros qualquer um que apanhe a defender Gaza”.

Escreve o Haaretz: “As ameaças do chefe da polícia contra os israelitas que querem exprimir protestos ou solidariedade não mantêm a ordem pública; antes, perturbam-na ainda mais. Mesmo em tempo de guerra, é aceitável a identificação com os residentes de Gaza e com o seu sofrimento ou criticar as acções de Israel.”

Um dos argumentos que há séculos servem para justificar toda e qualquer acção israelita é que é a única democracia da região. É um facto objectivo.

Só que, como diz o Haaretz, é um facto “escorregadio” por estes tempos. “O que começa com zero tolerância para com quem exprime solidariedade com os habitantes de Gaza pode desenvolver-se em zero tolerância para com as críticas contra o Governo ou o primeiro-ministro. Não é uma coincidência que a perseguição de israelitas por coisas que disseram ou escreveram atingiu uma dimensão intolerável por estes dias.”

Agora, falem de democracia e de minissaias.»

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