7.9.19

«Estabilidade»



Arrisca-se a ser a palavra do ano. De António Costa a Frederico Varandas, todos a pedem.
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Presu(assu)nção e água benta…



… cada qual toma a que quer.

(Expresso, 07.09.2019)
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Um PS à maneira: o de Coimbra




«A Federação Distrital do PS de Coimbra utilizou uma fotografia com Marcelo Rebelo de Sousa num folheto de campanha eleitoral. (…) O Presidente pediu já a retirada da fotografia e o PS assim fez, tendo mandado destruir o folheto e pedindo desculpa através da sua direção de campanha e de António Costa, secretário-geral do partido e primeiro-ministro.»
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O museu Salazar nunca existiu



«Uma coisa que agradeço é que não me contem historietas. Pois em relação à proposta do autarca de Santa Comba Dão para a criação de um “centro interpretativo” dedicado a Salazar, na terra natal do ditador, sintomaticamente a situar na cantina-escola Salazar, convenientemente sediada na avenida dr. António de Oliveira Salazar, não só nos querem contar uma historieta como, enquanto o fazem, tomam-nos por parvos.

Não faltam bons motivos para promover exercícios interpretativos do Estado Novo. Na transição para a democracia, descurou-se esta vertente, perpetuando uma certa invisibilidade da natureza ditatorial do regime, explicável pela ausência de um movimento social fascista e por uma passividade bucólica, traço marcante da sociedade. Até com uma rutura política seguida de revolução social, o país preferiu não interpretar o passado, remetendo-o para o mesmo lugar silencioso.

De certa forma, o museu Salazar, proposta que afinal nunca existiu, representa o regresso desta invisibilidade crónica do salazarismo enquanto regime repressivo e autocrático. Sintomaticamente, num artigo trôpego, o historiador Luís Reis Torgal – a quem é atribuída alguma responsabilidade científica na proposta autárquica – tentou promover uma “reflexão séria e calma” sobre o tema. E o que nos propõe (enquanto referenciava um rol de dissertações que orientou sobre os mais diversos assuntos)? Que ajudemos a autarquia a resolver o problema que é “manter em ruínas” a casa do ditador, garantindo que o que está em causa é a criação de um centro interpretativo, a partir do “espólio” de Salazar, articulando-o com outros projetos de musealização a criar na região (António José de Almeida em Penacova; Tomás da Fonseca em Mortágua; Afonso Costa em Seia e, cereja no topo do bolo, Aristides de Sousa Mendes em Carregal do Sal).

Quanto mais se sabe, pior se torna o cenário. Só uma exorbitante neutralidade axiológica e uma fúria normalizadora podem levar a que se pondere juntar, na mesma rede, republicanos insignes, figuras de cultura, democratas corajosos e referências morais absolutas com um ditador abjeto e de baixa estirpe.

Fica demonstrado que temos, como comunidade, um problema com o legado do Estado Novo. O que torna imperioso que se multipliquem centros interpretativos: nos tribunais plenários, nas antigas prisões políticas, nas fábricas, nas faculdades onde a PIDE entrou ou nas escolas onde professores foram expulsos. Em todos os lugares menos na aldeia natal do ditador.

A ideia é uma afronta à memória e, pior, adensa um espetro que paira sobre o futuro. Não sei se os historiadores de Coimbra têm dado conta, mas o regresso do fascismo não se fará de botas cardadas, com marchas militares e mecanismos repressivos como os do passado. É precisamente pela forma sonambúlica como se deixa entrever que o fascismo de hoje é assustador. Não ajudemos, por isso, a promover um voyeurismo mórbido em torno do “espólio” de um tirano.»

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6.9.19

Brasil, para além do imaginável




«O presidente Jair Bolsonaro atacou nesta quarta-feira (4) o pai de Michelle Bachelet, alta comissária da ONU para Direitos Humanos e ex-presidente do Chile. Alberto Bachelet foi morto pela ditadura militar de Augusto Pinochet. (…) 

Alberto Bachelet, pai de Michelle, era general de brigada da Força Aérea e se opôs ao golpe militar dado por Augusto Pinochet em setembro de 1973. Ele foi preso e torturado pelo regime e morreu sob custódia, em fevereiro de 1974.

A própria ex-presidente também foi presa e torturada por agentes de Pinochet em 1975.»
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Yanis Varoufakis




Já agora...

«“I’m thinking of uploading the recordings to the internet. After all, I was the only one who respected privacy, everyone else leaked. It would be good for Europe’s historical archive, ” Varoufakis said, speaking on to protothema FM.»
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Santana Lopes


Que não vos falte esta pérola: 

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E você, gosta de maiorias absolutas?



«António Costa disse em entrevista à TVI que os portugueses não gostam de maiorias absolutas. José Sócrates sentiu-se atingido e prontificou-se a escrever um artigo no Expresso defendendo os méritos da sua governação. Na quarta-feira, Costa foi à SIC e invocou Deus para dizer que não queria atingir Sócrates. Será que temos boas razões não apreciar maiorias, como diz o primeiro-ministro?

A má memória que guardamos de Sócrates deve-se ao cunho despesista da sua governação e aos escândalos de corrupção que entretanto foram surgindo. Boas políticas públicas dependem, em primeiro lugar, de atrair pessoas competentes e honestas para a política. Há estudos que analisam como atrair bons políticos, alterando por exemplo o sistema eleitoral, introduzindo quotas, ou mexendo nos salários dos eleitos. Claramente, com José Sócrates, esta primeira etapa falhou. Pior: como falhou com ele, poderá falhar com outros da mesma laia.

A questão seguinte é como podemos desenhar leis que minimizem o impacto dos maus políticos, uma vez que vamos tendo de viver com eles. Por exemplo, a separação de poderes, a existência de órgãos de fiscalização, a transparência da contratação pública ou a liberdade de imprensa fazem parte de um pacote que nos defende, até certo ponto, de eleitas e eleitos incompetentes ou desonestos. É evidente que as más decisões dos governos Sócrates são, em larga medida, resultado das características pessoais do próprio. Mas será que Sócrates teria feito menos asneira se estivesse em coligação?

A resposta a esta questão é difícil, porque duas coisas acontecerem em simultâneo não significa que uma das coisas seja causa da outra, como explicou Luís Aguiar-Conraria recentemente nas páginas do PÚBLICO. Se num determinado momento um país tem um governo de coligação e gasta mais, é possível que a coligação resulte dum clima de grande conflitualidade social que se manifesta em escolhas eleitorais fragmentadas, que simultaneamente requer um aumento dos gastos públicos. Nesse caso, não podemos verdadeiramente dizer que uma maioria seria menos despesista, porque mesmo um governo maioritário faria as tais despesas prioritárias para fazer face ao clima de conflito. Mas há uma solução para esta pescadinha de rabo na boca. Uma pequena diferença na percentagem de votos pode determinar a possibilidade de se formar um governo maioritário, como temos visto com a discussão das últimas semanas sobre a possibilidade de António Costa atingir a maioria com cerca de 39% dos votos. Os estudos recentes analisam os governos formados com estas percentagens no limite da maioria absoluta. Por exemplo, a 6 de outubro, o grau de fragmentação do eleitorado será praticamente o mesmo quer o PS obtenha 36%, quer obtenha 40%, mas numa situação teremos, provavelmente, um governo maioritário, e na outra não. Em casos destes, não é a fragmentação da sociedade que determina os gastos, mas o carácter maioritário do governo.

Estes estudos concluem que as maiorias gastam mais. Ronny Freier Christian Odendahl, em 2012, e Sebastian Garmann, em 2014, chegam a essa conclusão em duas análises separadas dos municípios alemães. Joaquín Artés e Ignacio Jurado, em 2014, numa análise de municípios espanhóis, mostram que as maiorias têm défices maiores. Numa tese de mestrado defendida na Nova SBE e publicada na seleção de melhores teses de mestrado em economia, uma iniciativa conjunta da FFMS e do Banco de Portugal que seleciona teses de especial relevância que estudam a realidade portuguesa, Filipe Caires mostra que também nos municípios portugueses as maiorias gastam mais. Se reparou que todos estes estudos se concentram em governos locais, não se admire. É que para ter suficientes casos com as tais percentagens no limite da maioria, que permitam estabelecer conclusões sólidas, precisamos de muitas eleições. Mas o mais importante é que há algo no funcionamento de um governo maioritário, talvez um menor escrutínio parlamentar ou da assembleia municipal, que o leva a gastar mais.

Já se a corrupção piora com maiorias, não sabemos. Mas sabemos que já houve três partidos no governo depois de Sócrates: PSD, CDS e PS. Está na altura de lhes perguntarmos que políticas colocaram em prática para combater a corrupção. Por exemplo, no site da Transparência Internacional podemos descarregar as “Best practices for anti-corruption commissions”. E do que precisam estas comissões? De recursos financeiros suficientes, autonomia para gerir o orçamento e meios tecnológicos apropriados, que acompanhem a sofisticação crescente dos métodos de corrupção, incluindo monitorização de emails e vigilância financeira. Em Portugal, temos um Conselho de Prevenção da Corrupção que conta apenas com quatro pessoas, uma das quais é uma professora dedicada a “campanhas de sensibilização nas escolas”. É isto. Por aqui, para evitarmos outra maioria à la Sócrates, ensinamos as criancinhas que a corrupção não é fofinha.»

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5.9.19

E se a Terra for plana?


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Catarina Martins em entrevista à rádio «Observador», 02.09.2019


Porque estou farta, fartíssima, de ver gente desonesta ou distraída, que não terá tido o cuidado de ouvir o que está a gozar, aqui fica o que Catarina Martins disse, exactamente, sobre a «social-democracia» do Bloco.

«O Bloco de Esquerda é um partido socialista. Portanto, isso é claro. Quer uma economia absolutamente diferente em que não haja uma minoria detentora dos meios de produção e que, portanto, também se decida como é que a riqueza é distribuída, diga-se de passagem sempre em benefício de uma pequeníssima elite e com prejuízos da enorme maioria. (…)

Os partidos também têm de ter projetos para os tempos históricos que vivem. O Bloco de Esquerda tem proposta, apresenta um programa – às vezes as pessoas ficam um pouco chocadas, mas eu acho importante dizê-lo, que é na sua essência um programa social-democrata.»
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Calor?



Isto até está razoável. Em Lisboa, há três anos, era assim.
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Patrimonializar Salazar?



«A Câmara Municipal de Santa Comba Dão decidiu recuperar o seu projeto para visibilizar a figura de António de Oliveira Salazar, com a ideia de construção de um “Centro Interpretativo do Estado Novo”, na aldeia do Vimeiro, terra natal do ditador. É uma história longa, com vários capítulos, e que agora parece avançar. A iniciativa levou a um abaixo-assinado de repúdio por parte de 204 ex-presos políticos e a uma carta dirigida a António Costa, assinada por cerca de 18 mil pessoas. Ao mesmo tempo, levantaram-se vozes que entendem que o que se trata fundamentalmente é de preencher o futuro espaço memorial com a isenção histórica. A assessoria ao processo por parte do CEIS20 da UC, com o envolvimento de importantes historiadores do Estado Novo, como Luís Reis Torgal e João Paulo Avelãs Nunes, reforçaria esta perspetiva.

Acho, porém, que a questão essencial se coloca num outro plano. Desde logo, observe-se que a intenção do projeto é a de impulsionar o “potencial turístico da região”, nas palavras do próprio presidente da Câmara Municipal de Santa Comba Dão. Integrado num Roteiro de Figuras Históricas da região, trata-se no fundo de estimular as oportunidades turísticas que se abrem com o aproveitamento da figura do ditador como um ilustre “filho da terra”. Essa exploração comercial já teve outros momentos – caso da tentativa de criar uma marca de vinhos da região intitulada “Memórias de Salazar” – e nada garante que não se possa acentuar havendo um enquadramento local que objetivamente o legitime.

Basta olhar para o exemplo de Predappio, localidade onde nasceu Mussolini, transformada há anos num espaço que acolhe celebrações fascistas e ampla comercialização de merchandising sobre o Duce. Com razão se dirá que Portugal não é a Itália e que o salazarismo não foi o fascismo italiano. Mas é impossível garantir – mesmo não sendo essa a intenção dos promotores - que o espaço não venha a ser apropriado por mobilizações de timbre antidemocrático, num quadro de ascensão um pouco por todo o mundo da extrema-direita. Nem é possível desconsiderar o facto de estes lugares terem uma especial apetência para aguçar a atração nostálgica, com tudo o que isso tem de perverso para o próprio conhecimento histórico. Não se trata, portanto, de recear o saber, mas o oposto. Qualquer musealização ali será sempre sobredeterminada pela experiência emocional de andar nos espaços do ditador. É esse o seu peculiar chamariz.

Na verdade, a produção académica dedicada à relação entre memória, património e território alerta para a necessidade de se integrar a dimensão contextual na análise de memoriais, museus, monumentos ou centros interpretativos. Por outras palavras, fazer um centro interpretativo no Vimieiro não é igual a fazê-lo num outro local qualquer. A existir, o futuro centro interpretativo ficará instalado na Cantina-Escola Salazar, que se situa na Avenida Dr. António de Oliveira Salazar, e que é enquadrado por um complexo memorial que dotará de um certo sentido qualquer experiência de visita. Teremos em redor os espaços onde Salazar se fez moço, a casa de Salazar e da sua família, os seus objetos domésticos, a campa rasa destinada a atestar essa imagem de um político que soube representar-se como antipolítico, um humilde servidor da nação que só com ela se casou. Esta imagem, que Salazar e as elites propagandísticas do regime cuidadosamente criaram, é ainda hoje preservada em setores consideráveis da população. A vitória do ditador no concurso Grandes Portugueses ou os milhares que estão a assinar uma petição que brada “Museu Salazar, sim!” são pequenos e episódicos sintomas disso.

Sabe-se como a democracia portuguesa ainda lida mal com este passado. Basta pensar na constante rasura da guerra e da violência colonial – parte frequentemente esquecida desta história - ou na consideração tardia e deficiente do lugar da resistência como marca fundamental da rutura democrática. É verdade que a decadência do regime e a legitimidade pós-25 de Abril, entre outras razões, acabou por obstar ao ressurgimento de grupos abertamente salazaristas com expressão popular. Mas também é certo que permanece uma certa imagem do ditador – distante, austero, quase desconectado do que ia acontecendo por cá e nas ex-colónias – cuja manutenção é o seu paradoxal sucesso. Salazar sempre soube ficcionar-se como ausente através do que José Gil definiu como uma “retórica da invisibilidade”. Ironicamente, ele acaba por regressar novamente como presença invisível, como um nome que se retrai na designação do anunciado “Centro Interpretativo do Estado Novo”. Alavancado pelo poder local, todo o contexto que aí se estabelecerá corre o sério risco de patrimonializar a figura do ditador. E isto parece-me, no mínimo, uma má ideia.»

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4.9.19

04.09.1970 - A vitória de Allende



Há 49 anos, Salvador Allende ganhou as eleições presidenciais no Chile.

Excertos do discurso:



Texto na íntegra AQUI.


Eduardo Galeano em Los Hijos de los días:


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Foi você que pediu um Polígrafo?



Já ganhei pelo menos meio dia e sinto-me muito mais segura: o Polígrafo analisou um texto da Imprensa Falsa e concluiu que é uma Sátira.
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A tabuada escondida de António Costa



«Às vezes as coisas são mais simples que aquilo que parecem. Quando Costa destronou Seguro e se candidatou a secretário-geral para o PS ser o partido mais votado, tal não aconteceu. Quem teve mais votos foi a coligação do PSD com o CDS. A essas eleições o PS concorreu com um programa, o BE e o PCP cada qual com o seu.

Se o PS tinha um programa e negociou com o PCP e o BE, tal significou que teve de haver um ajustamento entre os vários programas, como sucede em qualquer acordo. Simples. Se ao cabo da legislatura as coisas correram bem a explicação reside no facto de PS, BE, PCP e Verdes terem adaptado em parte os seus programas e funcionarem com o objetivo de cumprirem o que acordaram. Dois e dois são quatro, é da tabuada.

Não se sabe (pode imaginar-se) o que seria um governo apenas do PS, tanto mais que o lastro deste partido sozinho no governo é de má memória, até para muitos socialistas…

Desde o Congresso do PS que uma série de dirigentes daquele partido têm vindo pedir à boca cheia a maioria absoluta. Se não fosse esse o desígnio do líder certamente que não seriam tantos a pedir o fim dos “constrangimentos”.

Por outro lado, o silêncio do líder poderá significar ficar a ver o que dá esta agitação das águas. Costa é muito hábil, gosta de treinar o campo de manobra, mas (há sempre um mas) a jogada é de tentar a maioria absoluta.

De repente passou a criticar os parceiros por causa dos programas de cada um, embora no debate com Jerónimo na SIC tenha deixado elogios ao PCP, o que se insere na sua bizarra manobra de obter o que quer, dando a entender que não é bem a maioria absoluta que quer, mas se lha derem…coitadinho, tem de aceitar. Com base nos resultados dos acordos à esquerda dá ares de ter sido só o PS o obreiro do trabalho dos quatro partidos e empalma os louros.

Pedir, por vias subliminares, ao país uma maioria absoluta, dizendo que a não pretende, com a direita de gatas é o caminho para jogar à cabra cega com os eleitores.

A direita está derrotada. Fez tanto mal com o programa da troika que poucos portugueses a querem. Não tem quem seja capaz de apresentar alternativa aos acordos que deram sustento à legislatura que se mostrou bem mais estável que a de Passos/Portas/Cristas. Bem chamaram o Diabo e ele vai aparecer-lhes quatro anos depois com todo o esplendor no dia 6 de outubro por volta das 19h do tempo do meridiano de Greenwich.

Há na direita mais sábia quem queira impedir uma nova “geringonça” votando PS para este ter maioria absoluta e assim tentar evitar esse acordo com as esquerdas.

Nestas eleições o que vai ser decisivo são os votos no BE e no PCP. O PS já ganhou as eleições. Ninguém duvida dessa verdade. O que se não sabe é que votações vão ter os parceiros da “geringonça”. Se reforçarem as suas posições haverá de novo acordos. A chantagem à espanhola é manobra para encher o saco do PS e ameaçar com a instabilidade que ninguém consegue descortinar. Não houve em quatro anos.

Costa será de novo primeiro-ministro. Só falta saber se terá votos suficientes para enviar o PCP e o BE para a oposição. Essa é a questão para Costa e o PS – ter ou não ter todo o poder.»

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3.9.19

Museu de Salazar aka «Centro Interpretativo do Estado Novo» (4)



Estou convencida de que não chegará a existir, mas João Abel Manta poderia fornecer algum material. Lá vão estes, a caminho de Santa Comba, para ajudarem a «interpretar» o Estado Novo.
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Boas notícias



Fátima Campos Ferreira está em Moçambique para receber o papa. A rentrée do «Prós e Contras» deve estar atrasada.
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Bom conselho para daqui a um mês


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Subvenções vitalícias: história de um privilégio injustificável



«O regime já não existe - já contarei essa história -, mas devemos saber quem dele ainda beneficia. O contrário, a política a esconder-se do escrutínio, é inaceitável em democracia.

Este regime atribuiu em 1985 um privilégio absurdo aos detentores de cargos políticos ou juízes: ao fim de 12 anos em funções, recebem (se já tiverem atingido os 55 anos de idade ou quando os atingirem) uma pensão vitalícia acumulável com rendimentos privados. Em 2004, o Bloco propôs o seu fim, mas o projeto não chegou a ser discutido porque o Parlamento foi dissolvido entretanto por Jorge Sampaio. Foi já na maioria absoluta do PS, em 2005, que a proposta bloquista foi discutida e chumbada, com os votos de PS e PSD, e abstenção do CDS. Em alternativa, o Governo Sócrates pôs fim à atribuição de novas subvenções (o Bloco votou a favor desta parte), mas manteve as subvenções já em pagamento e garantiu a aplicação do regime aos deputados que, à data, cumprissem os critérios de atribuição. E é esta a lista que agora foi publicada.

Já em 2013, o Governo de Passos anunciou o corte nas subvenções superiores a 2000€/ mês. Nesse mesmo ano, o Bloco propôs aos restantes partidos a eliminação por completo dos pagamento, mas sem sucesso. Um ano depois, na preparação do Orçamento de 2015, um grupo de deputados do PS e PSD propôs repor o pagamento por inteiro das subvenções. Só o Bloco e o PCP votaram contra, e a medida foi aprovada. Inconformado com o resultado, o Bloco obrigou à repetição da votação em plenário. A vergonha levou a melhor e a medida acabou por ser chumbada, mantendo os cortes.

Em 2016, um grupo de 22 deputados do PS e oito do PSD pediu ao Tribunal Constitucional que impedisse os cortes nas subvenções. Como consequência desta ação por parte de deputados a quem nunca se viu tamanho esforço na defesa de salários e pensões, os cortes foram então levantados por ordem do Constitucional.

Na semana em que são conhecidos os nomes e valores deste privilégio, é bom que as pessoas saibam que houve quem sempre tivesse lutado pelo seu fim.»

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2.9.19

02.09.1939. Neruda e a chegada, ao Chile, de exilados da Guerra Civil Espanhola



Há 80 anos, na noite de 2 de Setembro de 1939, o Winnipeg chegou a Valparaíso, no Chile, com 2.365 espanhóis, exilados da Guerra Civil Espanhola e que se encontravam refugiados em campos, em França.

Quando desembarcaram, no dia seguinte, nem queriam acreditar no que viam, nem percebiam bem onde estavam: o Chile era um terra longínqua e estavam a ser recebidos como heróis...

Se Pablo Neruda não foi o único promotor desta iniciativa, foi certamente o principal. No dia 4 de Agosto, quando o barco saíra do porto francês de Trompeloup, tinha escrito o que viria a relatar mais tarde nas suas Memórias: «Que la crítica borre toda mi poesía, si le parece. Pero este poema, que hoy recuerdo, no podrá borrarlo nadie.» Em Memorial de Isla Negra, incluiu o seguinte poema:


Yo los puse en mi barco.
Era de día y Francia
 su vestido de lujo
de cada día tuvo aquella vez,
fue
la misma claridad de vino y aire
su ropaje de diosa forestal.
Mi navío esperaba
con su remoto nombre “Winnipeg”
Pero mis españoles no venían
de Versalles,
del baile plateado,
de las viejas alfombras de amaranto,
de las copas que trinan
con el vino,
no, de allí no venían,
no, de allí no venían.
De más lejos,
de campos de prisiones,
de las arenas negras
del Sahara,
de ásperos escondrijos
donde yacieron
hambrientos y desnudos,
allí a mi barco claro,
al navío en el mar, a la esperanza
acudieron llamados uno a uno
por mí, desde sus cárceles,
desde las fortalezas
de Francia tambaleante
por mi boca llamados
acudieron,
Saavedra, dije, y vino el albañil,
Zúñiga, dije, y allí estaba,
Roces, llamé, y llegó con severa sonrisa,
grité, Alberti! y con manos de cuarzo
acudió la poesía.

Labriegos, carpinteros,
pescadores,
torneros, maquinistas,
alfareros, curtidores:
se iba poblando el barco
que partía a mi patria. Yo sentía en los dedos
las semillas
de España
que rescaté yo mismo y esparcí
sobre el mar, dirigidas
a la paz
de las praderas.
 .
(Mais descrições aqui e aqui.) .
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Catarina Martins




Passei 1.04.14” a ver e ouvir esta entrevista que Catarina Martins deu ao Observador. Deixo-a aqui, não só por a considerar muito esclarecedora, nem por ser apoiante do Bloco (o que não escondo), mas porque anda por aí gente que se diz de esquerda ou de direita e que, de forma mais ou menos apatetada, extrai a seguinte parte de uma frase do primeiro parágrafo do texto introdutório do jornal, interpretando-a propositadamente fora do contexto: «o programa eleitoral que o BE preparou é essencialmente social-democrata».

Ou não perceberam e tivessem estudado, ou nem ouviram o que quer que seja e comentam à toa porque é giro…
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É isto...


Contas certas e cinco cardeais – um país feliz.
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O dr. Salazar



«Que boa ideia, a da Câmara de Santa Comba Dão, de construir um museu em homenagem a Oliveira Salazar. Um museu que o retrate a trabalhar, sentado no seu fauteuil, com os óculos sobre o nariz e uma manta nos joelhos… a despachar, quase ininterruptamente, os assuntos da governação de um Império, cujas províncias ultramarinas jamais visitou, a partir do Palácio de São Bento, onde havia um galinheiro no jardim. D. Maria, a sua fiel governanta, ajudava a filtrar as visitas dos poucos que lhe tinham acesso directo e a quem concedeu, ao longo dos anos, grandes benesses, aquém e além-mar.

As mulheres do Povo aclamavam-no nas suas aparições públicas: Professor de Finanças Públicas, solteiro, “casado” com a Nação, católico devoto e honesto, segundo a imagem dele construída e divulgada por António Ferro. O que pensava sobre elas é conhecido: deviam conservar-se na sombra e desempenhar a nobre função de reproduzir a valorosa raça lusitana enquanto cosiam as meias do marido. Inquietavam-no, como diz num dos seus discursos, as suas ânsias de emancipação, de estudar e trabalhar fora de casa… onde nos levariam?

Poriam em causa a família cujos membros tinham um papel bem definido (sim, menina também vestia rosa, no seu pensamento e menino azul, apesar de não ter escrito sobre o tema, de tão óbvio que era à data) e cada família o seu lugar bem determinado na sociedade portuguesa. Havia generais e magalas, senhoras e sopeiras, “famílias-como-as-nossas” e “as outras” com as quais só misturávamos sangue se, “apesar de recentes fossem ricas”, numa sociedade em que não eram necessários os cem anos de hoje para se mudar de classe social: tal simplesmente não era suposto acontecer.

Arquitetonicamente a Colónia Penal do Tarrafal aberta por Decreto-lei também assinado, em 1936, pelo Senhor Presidente do Conselho, António de Oliveira Salazar, não se afasta significativamente dos campos de concentração nazis. Era um dos campos para onde o Regime enviava quem ousasse pensar de forma diferente, os “presos políticos e sociais”. Havia covas no chão onde eram interrogados os detidos quando as temperaturas atingiam mais de quarenta graus centígrados. Péssimas, diriam hoje os defensores do regresso a um regime semelhante, as condições de trabalho de quem os interrogava! Um dos médicos do campo, Esmeraldo Prata, escreveu: “o meu trabalho não é tratar pessoas, mas assinar certificados de óbito”. O Campo esteve em funcionamento várias décadas… mais do que os campos de concentração da II Guerra Mundial?

Talvez a nostalgia do regresso à ordem representada por Salazar, expressa no adágio “Deus, Pátria, Família”, seja a nostalgia da boa ordem que nos acompanhou durante os longos tempos da Santa Inquisição primeiro e, mais tarde, da PIDE … O desejo, não do regresso de Dom Sebastião e do que este simbolizou (que utilidade teria um senhor de 24 anos que não saberia o que é o Twitter e a quem teríamos de explicar, pacientemente, o funcionamento da União Europeia?), mas sim de um regime ditatorial onde cada um teria o seu lugar numa estratificação social previamente delineada por alguns e onde seria possível enviar o vizinho ou colega de trabalho que detestássemos para um novo Tarrafal, apenas porque a sua presença nos incomoda.

Ou, talvez, o desejo de celebrar um protocolo de cooperação com São Tomé e Príncipe e de retomar a pena de degredo… rezam as nossas Leis que havia lá grandes lagartos que comiam os meninos, filhos dos Judeus expulsos, mal desembarcavam… Talvez, no museu dedicado à defesa dum regime ditatorial, seja de substituir a palavra “lagartos” por “crocodilos”. Convém que os visitantes saibam, com precisão, quem comerá os próximos grupos de cidadãos indesejados e a ostracizar na sociedade portuguesa.»

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1.9.19

Setembro com ela



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Ele aí está


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O russo é um génio



«Andava eu ausente em partes incertas e destituídas de notícias quando me chegou aos ouvidos o rumor da notícia da compra da Gronelândia pelo Donald. Ou pela América do Donald, que inclui o conjunto de deploráveis da senhora Clinton, coisa mais ofensiva de dizer do que elogiar os supremacistas broncos, perdão, brancos, fine people, very fine people. Pois o Donald, sem mais nem porquê, achou que era um bom negócio. Já a compra da ilha de Manhattan aos índios se tinha revelado um bom negócio, pelo menos para ele, os índios saberiam lá construir arranha-céus e torres com os nomes em cima. Torre Águia Branca Voadora ou Torre Grande Touro Sentado, um disparate. Trump Tower é imbatível. E, já agora, experimentem a linha de bonés e acessórios de golfe das montras da dita, um mimo de merchandising.

Voltando à Gronelândia, aquilo é tudo gelo e mais gelo e uns esquimós gordinhos de que mal se vê a cara com as peles. E os cães dos trenós. O que aqui interessa ao Donald e à grande América dele são os recursos naturais por baixo do gelo e a exploração de novas rotas, as autoestradas do Ártico, uma bem-aventurança das alterações climáticas. Pois o Donald já tinha uns esquemas combinados com os filhos para pôr a terrinha a render. Uns prédios de família, com vistas glaciais sobre os ursos polares mortos e embalsamados, mostra museológica do passado, terraços com piscina aquecida, ginásio e hotéis para o sol da meia-noite. E uns casinos, uma meia dúzia. Já os índios americanos tinham ido nesta conversa e viviam agora nas reservas com os rendimentos dos casinos, que davam e chegavam para as suas bebedeiras e para a Kentucky Fried Chicken e o Big Mac. Eram todos uns psicopatas deprimidos. O que fazer com os esquimós? E os cães?

Gente com este aspeto esquisito e os olhos em bico, baixinhos, sem saberem falar um inglês decente, não pode ser usada como criadagem. Dá mau tom. E os CEO das multinacionais amigas, que iriam explorar os recursos naturais, incluindo a terra rara para lixar a China, não iriam apreciar criados anões e meninas de vida fácil com um metro de altura. Fora os olhos em bico. Os esquimós cheiram a óleo de foca e só servem para isso, caçar focas. Haveria que arranjar-lhes uma reserva e exterminá-los lentamente, de tédio e melancolia e decrepitude. Com os índios deu resultado. Iam desaparecendo. Quem dera que os mexicanos e os latinos todos pudessem ser metidos na mesma cena. Mas eram muitos, demasiados. Uns filhos da mãe que se multiplicavam como coelhos. Quanto aos cães, punham-se a render no turismo, voltinhas de trenó com os lorpas para cima e para baixo. Até caírem, iam rendendo. Como os cavalos.

A proposta foi bem apresentada à Dinamarca, com todo o protocolo Trump que se resume a uma twittada de madrugada, quando a digestão do hambúrguer e da Coca-Cola pesa, e quando o Donald está farto das loiras da Fox News, raparigas que já foram um dez mas agora não passam de um sete. Desde que correram com o Roger Ailes aquilo deteriorou-se espetacularmente. Quem quer apalpar aqueles estafermos? E andam a contratar jornalistas a sério, caramba, o filho do Murdoch estava doido. Num tweet de génio, como todos são, o Donald concluiu que o negócio se faria. A Dinamarca estava farta de gastar dinheiro em subsídios com os esquimós que não rendem um chavo com as focas deles. Seria justo e normal que os dinamarqueses dessem um salto de contentes por o Tio Sam os livrar do embrulho.

Pois os dinamarqueses, muito armados em marqueses, reagiram mal. Que era um absurdo, disse aquela primeira-ministra, nota quatro, loura desmaiada, não se admiraria o Donald se fosse lésbica, os nórdicos têm a mania das lésbicas no Governo, que era uma humilhação, e que ele, o Donald, era um desbocado. O Donald? O Presidente dos Estados Unidos da América? Não se diz ao Presidente da America Great que ele é absurdo. Bate-se a bola baixinho, aquilo é a América, não é a Europa. E o Donald cancelou a viagem de Estado ao país com a melhor qualidade de vida do mundo, apesar dos sanguessugas dos esquimós. E até estes oleosos entraram na conversa para dizer que não estavam à venda. Não senhor. Olhem, vão vender o vosso óleo de foca à China, que eles compram, compram tudo.

E já agora que falamos na China, o que andam os chineses a fazer senão a comprar meio mundo? Só que vão lá com falinhas mansas, fecham o negócio e chamam àquilo investimento estrangeiro. Um porto aqui, uma praia ali, mais os recursos naturais e as redes energéticas. Compram, tal e qual o Donald quer fazer, mas untam umas mãos e deixam os governos vendedores ficar bem na fotografia, as tretas da soberania nacional de que os falidos dos europeus tanto gostam.

A verdade é esta. Os ricos compram os pobres, sempre assim foi e sempre assim há de ser. Mas dantes, quando os países tinham colónias, uma pessoa podia comprar tudo e ninguém vinha com manias de independência, o índio vendia Manhattan ou o Alasca e empochava o dinheiro para gastar em álcool e drogas. Agora eram só paninhos quentes. E já que falamos do Alasca, o Donald também tem umas ideias, aquilo nunca foi suficientemente explorado e rentabilizado, e com o degelo havia que começar a extrair o petróleo e abrir as rotas aos navios. Esta cena do clima é uma bênção para a terra, embora o Donald ache que são tudo patranhas. Há dinheiro a fazer com o aquecimento. Muito. Dinheiro para o manter no poder por muitos e bons anos.

Daqui a uns meses ia repetir a proposta aos dinamarqueses. O Donald nunca se ofende, é um negociante. Deixá-los amolecer. No estado em que a Europa está, com aquele socialismo todo, seriam os europeus a pedir batatinhas. Oh, Donald, compra-me lá os esquimós que eu vendo barato. Com sorte, ainda metia no pacote uns casacos de peles para a Melania e a Ivanka, uma coisinha para usarem nas viagens de Estado à Rússia. O Putin é que sabia. Quando ele lhe disse pela primeira vez, já reparaste que a Gronelândia era um bom negócio para vocês, ele nem tinha reparado. Um bom negócio como? O russo explicou. E, no fim, disse, lixas os europeus. A Crimeia ficou-me caríssima em material de guerra. Devia ter comprado em vez de invadir. Com aquele sorrisinho dele, o russo era um génio.»

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