4.7.09

Questões de léxico





















«Há uma palavra, sobretudo, que temos estranhado notavelmente não ver nos movimentos eloquentes da câmara: é a palavra canalha.
- O ilustre deputado é um canalha! – isto é sonoro, retórico, científico, discreto, digno!
Há outra palavra igualmente excelente:
- O ilustre deputado é um ladrão!
É um pouco mais especial, mas tem também uma alta significação nas discussões políticas de princípios!
Estamos convencidos que estas duas estimáveis injúrias encontrarão brevemente, – graças aos nossos discretos conselhos – um uso, moderado sim, mas incisivo e franco, na câmara dos srs. Deputados.»


As Farpas, p. 143
(coordenação de Maria Filomena Mónica, Principia, 2004)

Alternativas


Com 56 anos e uma carreira de mais de 30, Lucinda Williams, considerada por muitos «a diva do Country alternativo», controversa mas classificada pela revista Time como «a melhor compositora dos Estados Unidos», fala de si própria num artigo publicado no Babelia de hoje:

«"Sería difícil encasillar mi música en una sola palabra. Parte de ella es country, pero hoy en día eso requiere especificar qué tipo de country, porque incluso en Estados Unidos la palabra remite inmediatamente a gente como Shania Twain o Faith Hill", afirma riendo entre dientes en conversación telefónica. "Normalmente digo que hago una mezcla de blues, country y rock. A veces digo que es rock de raíces. Prefiero no usar el término "americana", porque ha terminado por convertirse también en un estereotipo. Así es que yo diría que es una mezcla de country y folk rock. A veces he dicho que soy una especie de Bob Dylan-Neil Young-Tom Petty femenina, para hacerme entender. Es que en realidad no hay muchas mujeres haciendo este tipo de música". »

«Little Rock Stars», do disco «Little Honey», de 2008







It's clear you have a death wish
And from what I hear, your latest dish
Lives for you, and scares you half to death

3.7.09

Enquanto há vida, há esperança

















Segundo notícias de hoje:
«O adiamento do dossier Barroso para o Outono é o desfecho de uma ronda de consultas promovida pela presidência sueca junto dos líderes das famílias políticas do Parlamento Europeu. Com a excepção do PPE, as lideranças do Partido Socialista Europeu, dos Verdes e da Aliança dos Democratas e Liberais para Europa (ALDE) recusam-se a dar tradução prática ao apoio outorgado a Durão na última cimeira de líderes sem um completo escrutínio do programa do candidato.»

Mas além disso:
«Depois do apoio unânime que o Conselho europeu deu a Barroso, é pouco verosímil que o descarte. A não ser que considere preferível dar ouvidos à hostilidade do Parlamento e propor um candidato alternativo.»

Adenda (4/7) - O opinião de Cohn-Bendit.

Zeca Afonso





Com a Coreia no horizonte













Durante o Debate da Nação de ontem, bem antes do episódio Pinho, não me saíam da cabeça umas animadas cenas no parlamento da Coreia do Sul, há cerca de dois anos: quando as palavras já não chegaram para a disputa, os deputados passaram à «acção directa».

Paulo Rangel e Jaime Gama (uns decibéis acima do que é normal no presidente da AR) , num diálogo improvável de «Estou!» / «Não está!» a propósito de uma norma regulamentar, Sócrates, aos gritos, a chamar histérico (ou algo de parecido) a Paulo Portas, etc., etc., foram diatribes verbais insuportáveis, que poderiam ter sido substituídas, com vantagem, por uns puxões em bandas de casacos e umas gravatas desalinhadas. A gritaria que ocupou horas, com toda a gente a chamar mentiroso (no mínimo…) ao resto do mundo, foi um espectáculo de pura má-criação, aparentemente reconhecido e aceite como normal. Manuel Pinho foi apenas mais um puto mal-educado, que regressou aos tempos da escola primária e fez um gesto a que nenhum outro adulto se lembraria de recorrer. Não destoou tanto assim.

2.7.09

Na quietude do voto













Dois textos publicados ontem, um de Manuela Cruzeiro nos Caminhos da Memória, e um outro de João Tunes no Água Lisa, estão na origem deste terceiro que começou por ser pensado como comentário aos dois primeiros e acabou por ganhar existência própria.

Manuela Cruzeiro faz uma reflexão sobre dois «inimigos íntimos» - Cunhal e Soares – e sobre tudo o que eles representaram, e ainda significam, na história da democracia portuguesa. João Tunes comenta e complementa a abordagem, trazendo-a até às repercussões que ainda hoje se fazem sentir na «quietude do voto».

Passados os primeiros dias eufóricos de Abril, tornou-se evidente que aqueles dois seres, desigualmente carismáticos, tinham sido forçados a entender-se no antifascismo e viriam a desencontrar-se, rápida e inevitavelmente, em que tudo o ia seguir-se. É também indiscutível, como João Tunes aponta, que a maioria dos resistentes dos tempos de ditadura, e os recém-chegados à esquerda em democracia, acabaram por se reunir em torno de Soares ou de Cunhal – uns logo em 74/75, outros mais tarde, depois de umas tantas derivas frustrantes ou experiências mais ou menos esgotadas.

Mas importa não esquecer que houve uma parte da oposição anterior ao 25 de Abril, que atravessou todo o PREC, que se sentiu certamente «vencida» no 25 de Novembro e que passou os restantes anos da democracia sem alguma vez ter seguido Soares ou Cunhal. Foi sempre mais ou menos residual? Em certa medida. Numa faixa que tem vindo a estreitar-se? Sim e não. Sim, na medida em que um número significativamente elevado de pessoas acabou mesmo por se aliar recentemente ao PS, militantemente ou apensa em termos eleitorais. Não, porque nela se foram acolhendo «desiludidos» do próprio PS, várias levas de dissidentes do PC e muitos e muitos jovens, entretanto chegados à idade adulta, que passaram totalmente ao lado da dicotomia PS/PC. Trata-se de uma mancha de contornos necessariamente indefinidos, que foi fazendo experiências e identificando afinidades e que, de alguns anos a esta parte, começou a olhar para o Bloco, e a nele encontrar, apesar de todos os seus defeitos e limitações, muitas vezes por mera exclusão de partes, a única opção eleitoral possível - não por causa da «crise», mas porque ela aparece como a mais próxima de fidelidades a alguns ideais e a muitos princípios inalienáveis, uma réstia de esperança para quem não se compadece com a tristeza da «real politik» e do voto útil, nem acredita que a história de Portugal acabe no Outono de 2009. O futuro confirmará ou não a bondade da escolha, ou se encarregará de mostrar novos horizontes. Continuemos, entretanto.

Fico sempre preocupada quando vejo o PC de acordo com todo o resto do mundo

1.7.09

Já???

















«O presidente da Câmara Municipal de Lisboa desferiu hoje um violento ataque ao Governo, particularmente ao Ministério das Obras Públicas. A autarquia foi excluída da administração do Metropolitano de Lisboa, sem ter sido previamente ouvida.
"No melhor pano cai a nódoa e esta é uma nódoa muito grande. Não é a única nódoa provinda do Ministério das Obras Públicas, onde lamentavelmente as nódoas se têm sucedido", disse António Costa na sessão pública de Câmara.
O PS votou favoravelmente uma moção apresentada pelo movimento de Carmona Rodrigues, aprovada por unanimidade. O texto exprime o "repúdio" pela alteração dos estatutos do Metropolitano, sem audição prévia da Câmara. A autarquia é afastada do conselho de administração da empresa, em que até agora tinha assento.
"Esta actuação do Governo é inaceitável e lamentável", afirmou mais tarde António Costa aos jornalistas.»

(Expresso online)


P.S. A ler: Amnésias...

Afinal os chineses não precisam de comprar o Correio da Manhã













Tinha dito há uns dias que, «a partir de 1 de Julho, todos os novos computadores serão vendidos na China com um software pré-instalado, que filtrará diversos conteúdos da internet», nomeadamente pornográficos, para defesa da moral e dos bons costumes.

Leio agora que a entrada em vigor da lei foi adiada, alegadamente porque «certos fabricantes declararam que uma tal instalação exigia mais tempo» de preparação. Entretanto, não se tinham feito esperar reacções, tanto por parte de internautas chineses como no resto do mundo. Investigadores de Michigan examinaram o software em questão e afirmam que o mesmo põe graves problemas de segurança, permite controlo de computadores a distância e está configurado para bloquear palavras politicamente sensíveis. Por supuesto

Nem no Terreiro do Paço?

30.6.09

Para derrotar o real












Muito discretamente, o Luís diz-nos que A Natureza do Mal «entrou hoje no sexto ano consecutivo de publicação». Pois que vá entrando em muitos outros anos, já que é companhia mais do que indispensável nesta espécie de caminhada dos solitários.

Sem ponto





1º Ler isto e isto.

2º Ver isto.

3º Comprar o «Correio da Manhã».

29.6.09

«Silly season»? Aí está ela: Cavaco versus Marcelo

















É impressão minha ou estes também andam um pouco nervosos?

Marcelo Rebelo de Sousa, ontem, 28/6, no programa «As escolhas de Marcelo»:
«Eu acho que o Presidente não foi feliz no comentário que fez. (…) Num processo judicial em curso, o Presidente não pode formular juízos porque a sensação é que está a condenar aquelas pessoas que ainda não foram condenadas. E levanta-se uma questão: tenciona fazer o mesmo noutros processos, com outros banqueiros, com outra gente ligada à Banca? Também se vai pronunciar? (…) O Presidente não devia ter dito aquilo.»

Cavaco Silva, em Nota Informativa da Presidência da República, hoje, 29/6:
«Nos últimos dias, por mais de uma vez, surgiu na comunicação social a informação de que o Presidente da República teria, no passado dia 25, durante a sua visita ao AvePark, em Guimarães, formulado juízos sobre um processo judicial envolvendo alguns ex-administradores do BCP. Não é verdade, como qualquer cidadão pode verificar pela gravação vídeo das declarações então proferidas pelo Presidente da República, constante do site da Presidência da República www.presidencia.pt.
Depois de responder a uma pergunta sobre um eventual negócio entre a PT e a TVI, uma jornalista inquiriu o Presidente da República sobre a banca portuguesa.
Na sua resposta o Presidente da República limitou-se a falar da importância da estabilidade do sistema financeiro para o crescimento económico dos países e sobre as reuniões do Conselho Europeu e do G20, em Londres, sobre a estabilização do sistema financeiro internacional. »

Murais de Lisboa

No dia 10 de Junho de 1974, um grupo de quarenta e oito artistas plásticos pintou, em Lisboa, um mural que viria a desaparecer, num incêndio, em 1981. Entre os pintores, muitas caras conhecidas : Júlio Pomar, João Abel Manta, Nikias Skapinakis, Menez, Vespeira, Costa Pinheiro, etc., etc.

O filme que hoje se divulga é um documento precioso, muito pouco conhecido. É da autoria de Manuel Costa e Silva e foi-me disponibilizado por Fernando Matos Silva.

(

(Já estava nos Caminhos, mas fica também aqui.)

Honduras – à primeira vista














Importante:
«A pesar del golpe de ayer en Honduras, América Latina, con los riesgos que conlleva generalizar sobre 21 países, vive su mejor periodo democrático de las últimas tres décadas. Sus presidentes, sin embargo, han adquirido una costumbre inquietante: cambiar las reglas del juego en mitad del partido para permanecer en el poder. La patología no sigue un patrón ideológico concreto: no importa que el viento sople por la izquierda, como en Venezuela; por la derecha, como en Colombia, o que dé bandazos, de un lado a otro, como en Honduras.»

Mas também:
«Au Honduras, comme dans beaucoup d'autres pays d'Amérique latine, les élus ne peuvent accomplir qu'un seul mandat (au Honduras, il est de quatre ans) et Zelaya a voulu organiser ce dimanche un référendum non pour modifier la constitution, mais pour demander au peuple s'il veut convoquer dans un prochain scrutin une assemblée constituante afin qu'elle permette aux élus de briguer un second mandat.»

E ainda:
El delito imperdonable de preguntar al pueblo

28.6.09

Se quer ser padre, case-se primeiro











Em trânsito e depois de um breve zapping, parei na Rádio Renascença, onde Maria José Nogueira Pinto, João Ferreira do Amaral e um tal padre Hermínio Rico conversavam, segundo me pareceu, sobre falta de vocações na igreja actual. Fatal como o destino, acabaram por discutir a questão do casamento dos padres.

Está-se sempre a aprender. O dito padre disse-se convictamente a favor da ordenação de homens casados e, ainda mais convictamente, contra o casamento de homens ordenados. Explicando melhor: à imagem do que é prática corrente nas igrejas orientais, também Roma estará cada vez mais disponível para analisar, caso a caso, a situação de homens com família constituída, «com uma situação matrimonial claramente resolvida», que queiram tornar-se padres. Mas o inverso - ou seja, admitir o casamento de padres ordenados quando solteiros - é absolutamente «inconcebível» para Hermínio Rico. Porquê? Cito de cor: «Imaginem o que seria um padre a namorar!». Ou então: «Quando ele estivesse a confessar uma mulher, acabaria por estar sempre a perguntar-se a si próprio se ela queria ou não ser sua namorada.»

Que raio de argumentos! Tudo num mundo angélico e perfeito, em que padres já casados, ou definitivamente solteiros, nunca foram - nem serão - tentados a «namorar», no confessionário ou fora dele. Nem nunca «namoraram» - séculos e séculos de história estão aí para o comprovar. Haja deus!

Magalhães foi nome que deu sempre luzes ao mundo












Quando Don Tapscott esteve em Portugal, há cerca de dois meses, percebi que se tratava de um ilustre desconhecido para a esmagadora maioria de jornalistas e bloggers. Chamei então a atenção para as suas principais obras e para um entrevista que deu a Jorge Nascimento Rodrigues, em 2008. Trata-se de alguém que sabe do que está a falar.

Volta agora às primeiras páginas porque, com base no seu entusiasmo pelo uso do Magalhães e suas consequências, aconselhou Obama a olhar para Portugal:
«Yet Portugal is on a campaign to reinvent learning for the 21st century. The technology is only one part of that campaign. The real work is creating a new model of learning. I believe this could help the U.S. revive students’ interest in school and perhaps keep them in school long enough to graduate, and even go to college. (...) Yet after seeing the promise of the exciting classrooms in Portugal, I’m convinced it is worth it. Your child should be so fortunate.»

Algum exagero, conceda-se, porque bom seria que Portugal estivesse, de facto, a «reinventar o ensino para o século XXI»… Dito isto, as observações de Don Tapscott estão longe de ser disparatadas, já que, no meu entender e apesar de todos os defeitos, erros e limitações, esta iniciativa ficará para sempre assinalada como o que de melhor se fez durante o governo de José Sócrates. (De sublinhar que vários portugueses deixaram já comentários ao texto de Don Tapscott, a favor ou contra - mesmo quem, habitualmente, nunca deixa rasto nos nossos modestos blogues lusitanos…)

P.S. - Entretanto, acabo de ler que um grupo de professores está a testar um software que permite «controlar o que cada aluno está a fazer no seu Magalhães», já que «Se cada criança tiver um Magalhães na sala de aula, são 20 computadores que ali estão de costas para o professor, sem ele saber o que é que os alunos estão a fazer». Acredito que o dito software seja muito útil, mas há, em todo este texto, uma preocupante ânsia de controle.

Pensamento do dia