12.11.11

Os cortes nos transportes


Um grande texto de São José Almeida no Público de hoje (sem link):

«Venho publicamente discordar da grande maioria dos que têm criticado os autores de um estudo, divulgado pela comunicação social, que prevê cortes na oferta de transportes, dizendo que estes autores não percebem nada do que estão a fazer. Percebem, sim, muito. E não só de transportes.(…)

Há razões estratégicas e ideológicas para o tipo de cortes estudado, numa conjuntura como a que se vive em Portugal e na Europa. Este tipo de opções foi tomado em locais onde foi aplicada a chamada “receita de austeridade”, de orientação neoliberal, como aconteceu na Argentina e antes no Chile de Pinochet – a primeira experiência histórica do neoliberalismo em acção para inverter o funcionamento de uma sociedade democrática.(…)

O objectivo de tal estratégia é cristalino e está inscrito de forma transparente no estudo divulgado. É afastar do centro das cidades, do centro do poder de decisão política e económica, a contestação. É retirar do centro das cidades fora do normal horário laboral, em que são necessárias ao funcionamento da economia, as populações que aí podem manifestar-se, amotinar-se, revoltar-se contra esse mesmo poder.(…)

Quem domina o poder e impõe à Europa as novas regras de empobrecimento forçado das populações e de perda de direitos, em favor do aumento do lucro das grandes empresas financeiras e dos donos do mundo e suas aristocracias reinantes, sabe que está a correr um risco imenso e que está a brincar com o fogo em termos de estabilidade social. Sabe que está a provocar a instabilidade e o fim da paz social conseguida pelo pacto social europeu do pós II Guerra Mundial.»
(Clicar e ampliar para ler)
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Sonhei com isto e acordei à gargalhada



Não se argumente com sentido de humor do PGR porque não colhe. E, que eu saiba, nem ele nem a Rádio Renascença estão ao serviço do Inimigo Público

(Dei a primeira gargalhada ontem, via Ana Cristina.)
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Guilty

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A violência de uma abstenção


Da crónica de José Manuel Pureza no DN de ontem.

«Por mais violenta que se reclame, a abstenção do PS não é senão isso: uma abstenção, uma transigência, um laissez passer. Um sinal inequívoco de que, para o Largo do Rato, o programa extremista do Governo não justifica um gesto claro de oposição. Na encruzilhada, o PS escolheu de novo juntar-se à direita liberal, privatizadora e destruidora do Estado social. Não foi obrigado a isso, optou. Invoca Seguro um abstracto sentido de responsabilidade para justificar este injustificável braço dado com o Governo. Sinal dos tempos: para o secretário-geral do PS e os seus companheiros, são os mercados financeiros e os credores internacionais que definem os bons padrões de responsabilidade a que o PS se vincula, não os seus militantes de base, os seus activistas sindicais ou os seus quadros profissionais qualificados. Nem sequer os seus eleitores. A razão é óbvia: é que para estes não há "austeridade digna", há apenas austeridade. A que pune de modo incompetente e injusto.»

Na íntegra aqui.
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11.11.11

Ela aí está e veio para ficar...

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Há 93 anos


A Primeira Guerra Mundial terminou em 11 de Novembro de 1918. Nesse dia, foi assinado o Tratado do Armistício, na carruagem de um comboio, na floresta de Compiègne. Muita informação sobre este conflito aqui.


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Estamos a despedir-nos do mundo tal como o conhecemos

Trabalho forçado


São tantas as pedras que nos caem em cima todos os dias que já reagimos pouco ou nada às que nos parecem ser mais pequenas. O corte de quatro salários dói tanto que passou para a boca de cena e deixou nos bastidores a malfadada ½ hora de trabalho gratuito, oferecida de bandeja pelo governo às empresas.

Em muitos casos, o principal problema nem será o esforço pedido, porque milhares e milhares de pessoas já trabalham centenas de horas a mais gratuitamente, mas o que está em causa no plano dos princípios. E mal vamos se deles abdicarmos calando a nossa indignação. Este texto de Manuel António Pina é útil na medida em que dá o nome adequado às coisas.

«Noticiou a imprensa que a PJ resgatou quatro portugueses sujeitos a trabalho escravo em Espanha, tendo detido o "gang" suspeito da autoria do crime. 

Não se afigura, no entanto, provável que alguma Polícia venha um dia a resgatar os milhões de portugueses a quem o Governo pretende impor meia hora diária de trabalho não remunerado. É que tal medida não constitui tão só uma redução ilegal, por vias travessas, do salário/hora de milhões de trabalhadores, mas verdadeiro trabalho escravo, de acordo com a Convenção n.º 29 da OIT, de 1930, que define trabalho forçado como "todo o trabalho ou serviço exigido de uma pessoa sob a ameaça de sanção e para o qual não se tenha oferecido espontaneamente". (…)

Se, em Portugal, as leis (e a moral) fossem para todos, incluindo o Governo - e não é, como, com a cumplicidade do Tribunal Constitucional, se viu no confisco dos subsídios de Natal e férias -, a PJ já estaria, como no caso ontem noticiado, a bater à porta do ministro Álvaro.»

Daqui.
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Curiosidade


Onze segundos depois das onze e onze da manhã do dia onze de Fevereiro de 2011, a data / hora é uma sucessão formada por um único dígito repetido doze vezes: 11/11/11/11/11/11.

Daqui.
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10.11.11

Janela para o espelho


Escorre o sol e leva os restos das sombras deixados pela noite.
As carroças puxadas por cavalos recolhem, de porta em porta, o lixo.
No ar, a aranha estende os seus fios de baba.
Parafuso caminha pelas ruas de Melo. Na aldeia, é tido por louco.
Leva um espelho na mão e vê-se nele com uma expressão fechada.
Não tira os olhos do espelho.

- O que está a fazer, Parafuso?
- Estou aqui, responde. A controlar o inimigo.

Eduardo Galeano em As Palavras Andantes
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Num cinema muito perto de si


(Via Humberto Pacheco no Facebook)
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Visões do mundo

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Para quebrar um pouco a negritude dos dias...


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E o próximo PM de Portugal pode ser…?

A direita e a esquerda


No «i» de ontem, mais uma excelente crónica de Luís Januário.

«Pensei que podia ser útil escrever sobre a esquerda e a direita. No “Governo Sombra”, um programa da TSF, Pedro Mexia perguntou, retoricamente: “Que há de comum entre José Lello e José Mário Branco?”, querendo com isso significar o vasto leque de registos, todos eles reclamando-se da esquerda, que podemos encontrar entre os nossos contemporâneos. Implicitamente, para Pedro Mexia, e provavelmente para José Mário Branco, não faz sentido procurar o menor denominador comum entre estes dois Josés, esse quid que seria a marca da esquerda. E não pode deixar de ter significado que Pedro Mexia, tão cuidadoso na metáfora, tenha escolhido o nome José, o obscuro carpinteiro bíblico, como o nome do homem de esquerda. Zé-Ninguém, Zé dos Anzóis, o nome que depende do sobrenome e com ele adquire as inúmeras variações atribuíveis à esquerda.(…)

Voltei a perguntar, numa reunião de família. A morsa declarou que a esquerda era a consciência ecológica, menos a Helena Apolónia. O professor esquilo disse que em cada momento sabia reconhecer o que era ser de esquerda, mas a toupeira perguntou se o vinho que se servia, um Quinta de Falorca de 2004, era de esquerda ou de direita.(…)

A direita é geralmente conservadora. Mas há uma esquerda muito conservadora. E a direita que tomou o poder em Portugal é revolucionária, está a destruir o pacto social do pós-guerra e utiliza o estado para o fazer.»

Na íntegra aqui.
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9.11.11

Dar p’rá troca?


«Igreja renuncia a dois feriados se Estado também o fizer com feriados civis» – Uma conversa de putos que querem completar a cadernetas de cromos? E onde aquele que já tem mais estabelece as regras?

Além disso, isto é que é o verdadeiro centralismo democrático: «A sugestão da Igreja Católica portuguesa vai agora ser apresentada à Santa Sé, a quem compete autorizar a mudança.» Autorização para a transcendente questão de anular dois feriados? 
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Graçola do dia


O pior efeito da queda do Muro de Berlim foi ela passar para o lado de cá.
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Economia e feminismos


Rua da Cozinha Económica, Bloco D, Espaços M e N, Alcântara
1700-300 Lisboa

Necessário efectuar inscrição, para o mail umar.sede@gmail.com, até 2 dias antes do curso, para obter materiais e garantir lugar.

Programa

9h30 - Recepção das participantes e entrega dos materiais;
10h - Apresentação do curso e dos seus objectivos - Lídia Fernandes (UMAR)

10h15/13h 1º Painel
Moderação: Anne Marie Delettrez (UMAR)
Ana Costa (ISCTE-IUL; Dinâmia) - “O mercado revisitado: uma leitura institucionalista”
Lina Coelho (FEUC; CES) - “Os homens, nos estados ou nos mercados, só fazem desaguisados! Reflexões feministas para a travessia da crise”
Sara Falcão Casaca (ISEG; SOCIUS) - “As mulheres e a crise do emprego”

13h/14h – Almoço

14h/17h - 2º Painel
Moderação: Magda Alves (UMAR)
Heloísa Perista (CESIS) – “Trabalho não pago e usos do tempo de mulheres e de homens - uma ‘questão da economia?'”
Maria da Paz Campos Lima (ISCTE-IUL)
Joana Lopes (Portugal Uncut) - “Anti-austeritarismo em tempo de crise”
Ana Bela Dinis (CGTP)

17h30 - Conclusões: Helena Neves (UMAR)

Introdução
Ao longo dos últimos anos, vimos a economia dominar os discursos e a agenda política nacional, europeia e, em grande medida, internacional. Sabemos há muito que a economia afecta decisivamente as nossa vidas, mas nem sempre sabemos como (re)pensá-la e entendê-la.
Como traduzir os grandes chavões do economês na nossa vida concreta, distinguir a dimensão financeira da dimensão económica, o rigor da austeridade, ou as escolhas políticas da “inevitavilidade”? Articular o bem comum e a escolha individual são questões que muitas vezes se colocam na nossa intervenção feminista em diferentes campos da nossa vida. Face à gravidade da situação que se vive hoje, e uma onda austeritária que pressiona a precarização da vida e ameaça direitos sociais e civilizacionais, temos sentido a necessidade de articular as questões da economia e procurar construir e afirmar uma agenda feminista para os tempos que vivemos.
Com este curso, pretende-se assim abordar diferentes aspectos relacionados com economia, como ela está presente na vida de todos e todas nós e de que modos ela afecta particularmente as mulheres. Queremos com ele pensar, sob a lente dos feminismos, os sistemas capitalistas nos quais vivemos, as suas relações de produção e de poderes, e dotar-nos de ferramentas teóricas e de intervenção para aprofundar o nosso trabalho na construção de um outro modelo de sociedade. As diferentes dimensões do trabalho, da sua (re)conciliação com a vida familiar e pessoal, da pobreza ou do sindicalismo encontram-se relacionadas e serão por isso também elas objecto de reflexão e discussão neste curso.
De que modo(s) podemos – e devemos - em tempos de crise e de austeridade construir uma agenda feminista que se integre num processo mais amplo de transformação social?
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Numa data decisiva também para a sra. Merkel

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Fotografias e pequenos vídeos, enter os quais um com um excerto do discurso de J.F.Kennedy, em 26/6/1963, com a frase que ficou célebre: «Ich bin ein Berliner».


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Um Novembro antigo


Se este mês de Novembro nos parece agitado, não me canso de recordar como ia este país, há 36 anos, a poucos dias do fim do PREC.

Tal como «Olhe que não!» do debate entre Cunhal e Soares, também «O povo é sereno, é apenas fumaça!», de Pinheiro de Azevedo, entrou para a pequena história que nos ficou dessas semanas.

No dia 9 de Novembro de 1975, PS e PPD, secundados por CDS, PPM e PCP de P-ML, convocaram uma manifestação de apoio ao VI Governo Provisório e ao primeiro-ministro. O Terreiro do Paço encheu-se mas ninguém recordaria hoje o facto (todos os espaços se enchiam, dia sim, dia sim…) sem as granadas de fumo e de gás lacrimogéneo que deflagraram (mais alguns tiros) durante o discurso de Pinheiro de Azevedo contra as forças à esquerda do PS.

De autoria não muito clara e objecto de acusações cruzadas, foi susto para muitos e gáudio para quem não apoiava a dito VI Governo – as granadas de gás lacrimogéneo funcionaram como hackers numa versão anos 70…



Tudo isto em vésperas da independência (pouco pacífica) de Angola e do cerco à Assembleia, levada a cabo por operários da construção civil em greve.

O quotidiano era tudo menos monótono e nem dá para imaginar como teria sido se já existissem então Blogues, Twitter e Facebook!... E como pareceria surreal se alguém tivesse previsto, nesse dia, que exactamente 14 anos mais tarde cairia o muro de Berlim...

P.S. - Para os mais curiosos, o episódio relatado no Diário de Lisboa:
(Clicar e ampliar para ler)
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8.11.11

Novos conceitos

Violenta ou violeta?


Delicioso este excerto da crónica de hoje, de Manuel António Pina, ainda a propósito do discurso de Seguro:

«O conceito de "abstenção violenta", ainda por cima "construtiva", levanta perplexidades q.b.. Irá o PS abster-se aos gritos e partindo a mobília do Parlamento?, irá fazê-lo arrepelando os cabelos (e convenhamos que tem razões para isso)?, ou Seguro quis dizer "violeta" e não "violenta"? De facto, ao contrário de "violenta", que sugere luta, "violeta" sugere "luto". E "luto" parece palavra mais adequada do que "luta" para qualificar a resignação (termo mais bonito do que cumplicidade) do PS face a um Orçamento que Seguro acusa de conter "medidas violentas e profundamente injustas" e de o ter deixado em "estado de choque".»

E pronto: lá terá António José Seguro que recorrer à violência (ou à violeta…) porque Miguel Relvas afirma que "não há almofadas" que permitam manter um subsídio.
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Recusar o futuro inevitável e alargar o leque de escolhas

@Gui Castro Felga

Um grande texto de José Vítor Malheiros, no Público de hoje (sem link, mas na íntegra aqui).

«Na narrativa neoliberal as coisas são simples: gastámos de mais, a culpa é nossa e é preciso pagar em dinheiro e contrição. Quem nos empresta é nosso amo e devemos-lhe a nossa alma, uma libra de carne viva e a suspensão da democracia. Precisamos de menos serviços públicos para gastar menos, de privatizações porque o Estado precisa de dinheiro e não sabe gerir, de mais desemprego para poder baixar salários e de reduzir as regalias dos pobres porque incentivam a preguiça. Depois, se fizermos isso tudo, os deuses apiedam-se de nós, as empresas começam a ganhar dinheiro a sério e recomeçam a contratar trabalhadores e podemos viver um bocadinho melhor - mas não tão bem como antes, nem com tanta educação e saúde pública porque era um desperdício. No fim, os serviços públicos ficam reduzidos à sua ínfima expressão e os ricos podem viver felizes para sempre. E não há nenhuma injustiça social nisto porque se um pobre quiser ser rico só tem de trabalhar muito e pronto. (…)

Quando se referem os críticos deste discurso, os media também nos mostram uns hippies insatisfeitos acampados um pouco por todo o mundo, quando não uns violentos manifestantes gregos que incendeiam coisas. Será de estranhar que nos pareça haver mais senso no discurso daquele senhor de gravata elegante? Afinal em que mundo queremos viver? No daquele embuçado que atira pedras aos polícias ou no do senhor da gravata? (…)

Não é que a narrativa alternativa não exista. Não é que ela não tenha porta-vozes respeitados. É que ela não é defendida por estes com o vigor e a inspiração que as suas ideias exige. O que acontece é que os senhores das gravatas elegantes estão sempre mais disponíveis para falar do que os outros e não se importam de ser tão catastrofistas quanto necessário. (…)

Quando o futuro não se pode escolher, vive-se em ditadura. Democracia significa poder escolher e é responsabilidade dos intelectuais ajudar-nos a alargar o nosso leque de escolhas
(o sublinhado é meu.)
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Prós & (sobretudo) Contras

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Vale a pena ouvir estes excertos do programa de ontem:


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7.11.11

Não há almoços grátis


… e quem aposta em teorias da conspiração só pode concluir que esta da troika desembarcar em Lisboa num 7 de Novembro só pode trazer água no bico…


Isto deve andar tudo ligado e a realidade está a ultrapassar a ficção. O «Inimigo Público» que se cuide porque estão a tirar-lhe o core business!
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O direito a perceber

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(Via Luís Bernardo no Facebook)
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«Um hacker destes por dia não sabem o bem que nos fazia!» (*)

(Clicar e ampliar para ler)

Está / estava !...aqui.
(Via Maria João Pires no Facebook)

(*) Título roubado à Andrea Peniche no Facebook.
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Onde está a esquerda?


Do Editorial do último número de Le Monde Diplomatique (edição portuguesa), por Serge Halimi.

«Podem os eleitores e militantes de esquerda que aderem de preferência a conteúdos, mais do que a rótulos, esperar combater a direita, inclusive nos países ocidentais, com camaradas conquistados pelo liberalismo mas que continuam a ser eleitoralmente hegemónicos? Com efeito, o bailado tornou-se um ritual: durante as campanhas eleitorais, a esquerda reformista distingue-se dos conservadores por mero efeito de óptica. E depois, quando surge a ocasião, governa como os seus adversários, não perturba a ordem económica e protege as pratas do palácio. (…)

Sempre que expõem os seus argumentos a favor do «voto útil», os socialistas lembram que uma derrota eleitoral da esquerda desencadeia a aplicação pela direita de um arsenal de «reformas liberais» – privatizações, redução dos direitos sindicais, amputação das receitas públicas –, reformas essas que irão destruir os eventuais instrumentos de uma outra política. (…)

Sair desta armadilha requer que se estabeleça uma lista das condições prévias que sancionem a globalização financeira. Mas surge desde logo um problema: tendo em conta a abundância e a sofisticação dos dispositivos que desde há trinta anos inseriram o desenvolvimento económico dos Estados na especulação capitalista, até mesmo uma bonacheirona política de reformas (menor injustiça fiscal, progressão moderada do poder de compra dos salários, contenção do orçamento do ensino, etc.) impõe daqui para a frente um número significativo de rupturas. Ruptura com a actual ordem europeia, mas também com as políticas a que os socialistas se associaram. (…)

Apesar de ser apoiada por toda uma quinquilharia institucional e mediática, a república do centro vacila. Começou a corrida de velocidade que opõe o endurecimento do autoritarismo liberal e o início de uma ruptura com o capitalismo. (...)

Esta última parece estar ainda muito longe. Mas quando os povos deixam de acreditar num jogo político cujos dados estão viciados, quando observam que os governos se privaram da sua própria soberania, quando se obstinam em reclamar que se controlem os bancos, quando se mobilizam sem saber aonde os vai conduzir a sua exasperação, isso significa que a esquerda ainda está viva.»

Na íntegra aqui.
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Trabalho – Mais ½ hora? Menos um dia?


Num daqueles longuíssimos fins-de-semana de Junho do antigamente, encontrei numa esplanada do Algarve um amigo especialmente bem-disposto. Sócio de uma fábrica à beira da falência (e que faliu…), explicou-me que a alegria lhe vinha da poupança que estava a fazer nesse dia feriado: 500 contos em energia para fazer rodar as máquinas, no refeitório, em água e papel higiénico, etc., etc.

É óbvio que esta história me veio à cabeça quando se começou a falar dos benefícios de uma ½ hora adicional de trabalho. O Álvaro terá feito as contas do acréscimo de despesas?

Julgo que não, mas esta eventual poupança (para além do corte de 20% nos salários doa trabalhadores) não terá provavelmente escapado a António Costa, quando anuncia a redução do funcionamento de certos serviços da CML (não só na recolha do lixo) a quatro dias por semana (*)

Mas há algo de intrigante nessas declarações: se é afirmado que tudo isto acontecerá sem prejuízo para os cidadãos e, simultaneamente, que haverá «uma fortíssima redução» das horas extraordinárias, não é isto uma confissão de que há muitas pessoas que actualmente pouco fazem? Se uma parte da população poderá vir a trabalhar menos 20% do tempo e a mesma ou outra fará muito menos horas extraordinárias, como acontecerão os acréscimos exponenciais de produtividade, de um dia para o outro, onde se sabe que, desde sempre, o que reina é a ineficácia, a burocracia e espera de anos para resolução de pequeníssimos problemas? Ora…

(*) Aliás, há um trabalhador que a elas se refere, depois das declarações do presidente da CML à TSF.
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6.11.11

Se ele aparecesse por cá é que era...

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Os registros sonoros que fazem parte deste CD têm origem na produção de um filme de curta-metragem realizado no Maranhão, nos meses de janeiro e fevereiro de 1979.

Dizem que o Rei Sebastião desapareceu nas areias do Marrocos, na Batalha de Alcácer-Quibir, e transformou-se num touro negro. Esse touro aparece na noite de 24 de junho nas praias da misteriosa Ilha dos Lençóis, na costa maranhense, a dois dias de barco de São Luís. Se alguém, um dia, desafiar o touro e ferir com uma espada a estrela de prata que ele leva na testa, a cidade de São Luís submergirá e aparecerá o Reino Encantado do Rei Sebastião, o Reino de Queluz.
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O que nós andámos para aqui chegar


«Comissão Administrativa dos Condutores de Carroças», 1925
(Roubadíssimo aqui.)

E 86 anos depois:
- Sindicatos repudiam aumento do horário de trabalho.
- Meia hora de trabalho extra é medida "fulcral neste grave momento de crise" - ministro da Economia.
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Regresso ao (nosso) futuro?

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Como diz a Maria João Pires no Facebook: «Imaginem o Colombo assim!»
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Olhe que não!


Em 6 de Novembro, regresso todos os anos a 1975, à noite em que o país parou para ver, durante 4 horas, um frente-a-frente que viria a ficar célebre, entre Soares e Cunhal.

Dessa noite, ficou para a história uma frase com que Cunhal respondeu a Soares quando este afirmou que o PC dava provas de querer transformar Portugal numa ditadura: «Olhe que não! Olhe que não!»

Muito estranho revisitar este passado, 36 anos depois! Se algum destes dois pudesse então prever «o filme» de Novembro de 2011…




Texto com alguns excertos do que foi dito:
Adelino Gomes e José Pedro Castanheira, Os dias loucos do PREC, Expresso / Público, Lisboa, 2006, pp. 382-383.
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