10.5.14

Cúpulas e mais cúpulas (20)



Basílica Catedral da Assunção, León (Nicarágua, 2014)

(Para ver toda a série, clique na Label: «CÚPULAS».)
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Cinco anos, cinco chumbos



Um alerta de Pedro Santos Guerreiro, no Expresso de hoje, em texto intitulado «Importa-se de não repetir?», não podia ser mais oportuno: é bem provável que venham aí grandes e más surpresas! E sublinhe-se: cinco anos, cinco chumbos do TC. E insiste-se.

«Nem é ameaça, é probabilidade: o Tribunal Constitucional chumba medidas, o Governo aumenta impostos. Mas que impostos pode ainda aumentar? Ui...

O Governo assumiu a pressão sobre o Tribunal Constitucional como nunca antes tinha feito. Desta vez, o primeiro-ministro deixa claro que um chumbo será "perturbador" para Portugal, que haverá novo aumento de impostos e que até a última tranche do empréstimo do FMI ao país pode estar em causa. (...)

Este Governo já colecciona cinco chumbos do Tribunal Constitucional em cinco anos. Para o próximo possível (ou provável) chumbo, o primeiro-ministro tem de ter um plano B mas provavelmente escondeu-o de si próprio. Dependendo do valor em causa, as medidas de substituição poderão envolver montantes tão elevados que fazem dos arredondamentos anunciados na semana passada (...) uma pequena colher de chá.»
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Lagarde versus Zico



Eu sei que o Zico (que já reuniu mais de 80.000 assinaturas numa Petição contra o seu abate) é mais importante do que a Lagarde, mas mesmo assim há que subscrever isto, não?

Petição Contra a Cimeira da Troika no dia das eleições
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Tragédia limpa


O texto de Sandra Monteiro em Le Monde Diplomatique (ed. portuguesa) de Maio de 2014: 

«Estamos perante uma farsa limpa, uma realidade suja e uma saída que, nestes moldes, simplesmente não existe. A farsa, eficazmente montada por responsáveis políticos preocupados com as eleições de 25 de Maio para o Parlamento Europeu e reproduzida sem qualquer exigência crítica pela generalidade dos meios de comunicação, está a tornar-se intoxicação. E isso fará dela uma tragédia. (...)

A celebração da "saída limpa" não é, portanto, nem "saída" nem "limpa". A única "limpeza" é a da farsa, que aproveita de forma obscena as fragilidades de uma população sequiosa de boas notícias e alguma esperança. Há poucas mentiras tão detestáveis quanto as que são ditas nestas condições de sofrimento colectivo. Pelas ausência de limites na prossecução dos seus fins, mas também por serem um concentrado de anti-democracia. Governar pela impostura é expulsar do conflito político-social as regras do jogo democrático (e a confiança nelas depositada para resolver problemas colectivos); é alimentar soluções que prescindem da democracia. As farsas não se transformam em tragédias de um dia para o outro. Durante algum tempo convivem traços de uma e de outra no tecido social. Os cidadãos das classes populares e médias que se sentem gozados quando ouvem falar de "saídas limpas" e as comparam com a sua realidade, cada vez mais encardida pelas políticas que lhes são impostas, têm razões para não terem esperança no "pós-Troika". Esta espécie de "ir para fora cá dentro" já não promete uma perspectiva de férias, como na publicidade de outrora, mas as mil e uma formas de a Troika anunciar que sai, não saindo. (...)

Se não for agora que a esquerda, que todas as esquerdas, se empenham em deter este empreendimento criminoso e substituí-lo por políticas que promovam a justiça social, quando será? Quando as regras de saída das crises já nada quiserem com o jogo democrático? Por muito que se tente manipular a realidade, a tragédia, quando se instala, é sempre suja.»

Na íntegra AQUI
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Também tenho direito


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9.5.14

Cartas em tinta invisível



«António Oliveira Salazar não escrevia cartas de compromisso. Outros faziam-no por ele. No tempo em que o Barings ainda funcionava como o FMI desses tempos, emprestando dinheiro a Portugal em tempos de crise, em 1934, mas em que as relações estavam tremidas, o banco britânico enviou uma carta ao Director-Geral do Ministério das Finanças dizendo que um dos seus directores, Evelyn Baring, iria estar daí a umas semanas em Lisboa, vindo da América do Sul. A ideia era que ele se encontrasse com Salazar. Com antecipação, a Direcção-Geral escreveu ao Barings dizendo que Salazar gostaria de receber Evelyn, "se estiver melhor da sua doença". Nunca o recebeu.

Não se vê Passos Coelho a dizer que receberia Subir Lall se estivesse melhor de uma constipação. Não há hoje subtileza ou inteligência política para isso. (...)

As cartas de intenções são declarações de amizade eterna. Nas entrelinhas (ou em documentos que não têm de ser divulgados) ficam selados os verdadeiros compromissos. Escritos em tinta invisível. Com Portugal, o FMI sabe o que conta: vai vir cá até pagarmos a nossa dívida. Em caso de dúvida, o país está amarrado ao Tratado Orçamental. A carta de intenções é uma história da Carochinha. Serve para fazer comícios eleitorais. A realidade ficará na sombra. Até ser inscrita no OE de cada ano.»

Fernando Sobral, no Negócios.
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Lido por aí (33)

Pelo menos este é como o algodão




«Quanto ao actual Governo de coligação PSD/CDS, Assis espera que a atribuição da coordenação política a Paulo Portas “seja uma boa notícia para o país e para o PS”.»

Votem no PS e depois queixem-se!

(P.S. - Só agora reparei que a entrevista é de 2013. Mas não parece, porque esta notícia é actual.)
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Os Filipes em Sintra



José Manuel Pureza, directo ao assunto e cristalinamente certeiro:

«Imaginem que uma confederação internacional de sindicatos marcava para o dia das eleições europeias uma sessão em Lisboa sobre o repúdio da austeridade como caminho para a Europa. Ou que uma plataforma de organizações não governamentais convocava para essa tarde, no Porto, uma sessão de solidariedade com as vítimas da catástrofe humanitária na Grécia. Ou ainda que um conjunto de artistas organizava nesse domingo um concerto de apoio à luta dos precários por um emprego com direitos e contra o abuso dos recibos verdes.

Assim fosse e era ver os líderes, sublíderes, aspirantes a líderes e jotinhas em bicos de pés, todos em uníssono a bradar pelo cumprimento da lei eleitoral, exigindo a proibição liminar de todos os atos públicos que interferissem direta ou indiretamente na liberdade de escolha dos eleitores. Ora sucede que se aqueles três cenários são óbvia fantasia, é a mais pura das verdades que o Banco Central Europeu, o Fundo Monetário Internacional e a Comissão Europeia entenderam organizar em Sintra, no dia das eleições, uma jornada de propaganda da receita de austeridade. (...)

Ter marcado viagem e alojamento a Draghi, a Lagarde e a Barroso para o dia em que o País, pelo voto, vai ter a oportunidade de avaliar pela primeira vez o verdadeiro programa de governo da grande convergência que é o arco do Tratado Orçamental já não pertence ao domínio da tática política de momento. Não, é outra coisa. É uma estratégia de humilhação do dominado pelo dominador. (...)

O 1640 de que fala vibrantemente Paulo Portas é isto: os Filipes vêm a Sintra festejar a ocupação libertadora de Portugal. (...) O que ela [a troika] nos vem dizer, em Sintra, no domingo em que votamos, são duas coisas muito importantes: a primeira é que milhões dos nossos votos não valem nada, o que vale é a carta de intenções que o Governo enviou ao FMI para poder anunciar uma saída limpa; a segunda é que o que está errado na expressão "saída limpa" não é o adjetivo "limpa", é o substantivo "saída".» 
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8.5.14

V-E Day, 1945



Foi há 69 anos.







Como é sabido, também se festejou em Portugal. Multidões saíram à rua com bandeiras dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha e do Benfica. Estas últimas substituíam as da União Soviética – um dos vencedores da guerra na Europa –, obviamente proibidas... Em Almada, depois dos patrões ingleses de algumas fábricas de Cacilhas darem 1/2 dia feriado, também houve desfile com as bandeiras dos vencedores e um pau sem nada.

Lisboa, em frente à Embaixada Britânica:

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Grandolada, versão alemã



Foi hoje, numa universidade de Berlim. A ver e ouvir.

Não foi a primeira vez, e não será certamente a última, que o «nosso» presidente da UE foi acarinhado assim. 
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Portugal é assim



Ricardo Araújo Pereira, na Visão de hoje:

«Segundo se diz, a troika vai sair de Portugal no dia 17 de Maio. Uma vez que o Governo desejava ir além da troika, não deveria sair primeiro e para mais longe? (...)
O Governo disse que a chegada da troika era fundamental para a salvação do País, e agora diz que a alegada partida da troika é fundamental para a salvação do País. Há nisto um verto calvinismo político: Poerugal está predestinado à salvação, aconteça o que acontecer.»

Na íntegra AQUI.
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A festa das troikas



«Para os que duvidam da sinceridade de propósitos das instituições europeias, as declarações de júbilo de Schäuble, Barroso, Regling, Dijsselbloem e Van Rompuy perante o modo de saída do programa de assistência escolhido pelo governo português vêm provar que as coisas são mesmo o que parecem – a única preocupação da Europa é que a crise dos países periféricos não perturbe as economias do centro. Para demonstrar o seu apreço pela submissão portuguesa aos seus interesses, teremos a presença alegre da tríade, representada por Barroso, Lagarde e Draghi, num jantar festivo, em Lisboa, no próprio dia das eleições europeias. No imediato, pouco lhes importa o risco que Portugal irá correr perante a imprevisibilidade e a voracidade dos mercados financeiros. Após as eleições europeias, contam com a nossa habitual mansidão no caso de as coisas darem para o torto e as taxas de juro voltarem a morder violentamente a dívida soberana. Algo se há-de arranjar, pensam eles, nem que seja necessário impor uma nova dose de sacrifícios aos portugueses.»

Luís Nazaré
(O link pode só funcionar mais tarde.)
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Lido por aí (32)

7.5.14

Cúpulas e mais cúpulas (19)



Catedral da Santíssima Trindade, Addis Abeba (Etiópia, 2013)

(Para ver toda a série, clique na Label: «CÚPULAS».)
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Há 40 anos, a absolvição das Três Marias



Não tivessem os capitães acabado com a ditadura duas semanas antes e Maria Velho da Costa, Maria Isabel Barreno e Maria Teresa Horta teriam vivido um desfecho bem diferente do julgamento que decorria no Tribunal da Boa-Hora, em que eram rés, e que terminou em 7 de Maio de 1974 com a absolvição das três.

A história é conhecida e está hoje bem descrita, mas recorde-se que as três autoras decidiram, em Maio de 1971, escrever «a seis mãos» as Novas Cartas Portuguesas. Reuniam-se uma vez por semana para discutir o que tinham feito entretanto, mas prometeram nunca dizer quem tinha escrito o quê. (Mais tarde, em interrogatórios individuais, a PIDE bem tentou, em vão, descobrir qual delas havia escrito as partes consideradas de maior atentado à moral...)

A primeira edição de 1972 foi recolhida e destruída três dias depois de ser lançada (mas eu tenho aqui o meu exemplar, bem velhinho...), foi instaurado a seguir um processo judicial por o conteúdo ser considerado «insanavelmente pornográfico e atentatório da moral pública», com acusação por «pornografia, obscenidade, atentado à moral pública», a que se seguiu o julgamento que teve início em 25 de Outubro de 1973.

A onda de solidariedade foi grande a nível internacional, registando-se uma marcha de mulheres em Paris, invasão da embaixada portuguesa na Holanda, protestos em frente da embaixada portuguesa em Washington, etc., etc.

Na sua página do Facebook, Maria Teresa Horta transcreveu hoje algumas passagens da sentença final: «O livro “Novas Cartas Portuguesas” não é pornográfico nem é imoral. Pelo contrário: é obra de arte, de elevado nível, na sequência de outras obras que as autoras já produziram. [...] Nestes termos, julgo a acusação improcedente e não provada e consequentemente a todos absolvo e mando em paz».

Com a chegada da liberdade e Portugal em festa, «o juiz ficou tão aliviado que organizou um jantar e nós fomos as três», disse em tempos Maria Teresa Horta. 
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Um país, um sistema, duas fotografias


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Como um trapezista mal preparado



«Da mesma forma que nunca existiu verdadeiramente uma "saída à irlandesa", também não temos agora uma saída à portuguesa: tratou-se simplesmente de uma saída «à europeia», que resulta antes de tudo, da vontade dos credores em pôr fim ao atual modelo de intervenção, sendo claro que não existe a vontade política necessária para construir soluções estruturalmente mais sólidas e diferentes das atuais.

Ora era justamente desse tipo de soluções que Portugal e a periferia da zona euro precisavam, no sentido de reduzirem os encargos da dívida para patamares compatíveis com níveis de crescimento realistas e correspondente trajetória orçamental. (...)

Atribuir a melhoria dos mercados financeiros a uma evolução dos fundamentais económicos (e não a um simples processo de competição de aplicação de liquidez) e defender uma estratégia económica em que voltamos a ficar na sua total dependência pode ser muita coisa, mas não é a "saída certa" para nada.

Neste momento precisávamos de condições para enfrentar os bloqueios fundamentais - de funcionamento da zona euro e da economia portuguesa. Infelizmente, empurrado pelos seus parceiros europeus e pela miopia eleitoral dos partidos do governo, a partir de agora Portugal ficará na situação do trapezista pouco preparado, que inicia a travessia, de um longo e fundo desfiladeiro. À mercê das circunstâncias. E sem rede.»

Fernando Medina
(O link pode só funcionar mais tarde.)
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Saída limpa (2)


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6.5.14

Sttau Monteiro: a primeira «Redacção da Guidinha» em liberdade



Quem já era crescido entre 1969 e 1980 não terá esquecido as Redacções da Guidinha que Luís Sttau Monteiro publicou, primeiro no suplemento do Diário de Lisboa, «A Mosca», e mais tarde em O Jornal.

À procura de outra coisa, esbarrei hoje por acaso neste texto que julgo corresponder à primeira «redacção» publicada depois do 25 de Abril, mais concretamente no Diário de Lisboa de 11 de Maio de 1974.

Pode ser lida AQUI. Vale a pena. 
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A guardar para a posteridade



(Do Expresso online diário, cujo 1º número acaba de sair.)
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Os raptos na Nigéria



Mal vai um mundo, na segunda década do século XXI, em que os seus principais líderes se revelam impotentes ou nem sequer se sentem responsáveis pela resolução do drama das mais de 200 meninas capturadas, algures no Nordeste da Nigéria, há mais de três semanas.

A história é (vagamente) conhecida: membros de um grupo islâmico ultraradical raptaram as alunas de uma escola enquanto dormiam, levaram-nas para a selva e terão começado já a vendê-las por 12 dólares como escravas, para casamentos forçados, nas fronteiras com o Chade e com os Camarões. Tudo para que não continuem a receber educação «ocidental».

Um excerto do vídeo de 56 minutos em que Boko Haram, líder do grupo raptor, se explica:



As famílias desesperam, o governo nigeriano titubeia, a ONU pressiona hoje, lembrando que «escravizar e abusar sexualmente de pessoas pode constituir crime contra a humanidade» e pede ao presidente do país « agilidade na solução do caso».

Mas a verdade é que o mundo em geral (e os meios de comunicação em particular) prestou muito mais atenção à queda de um avião da Malásia e ao naufrágio de um barco na Coreia do Sul, situações em que, infelizmente, pouco ou nada havia a fazer para além de recuperar cadáveres e identificar culpados, do que a este caso em que 200 pessoas estão vivas e deviam poder ser resgatadas, tão urgentemente quanto possível.

Mas o sobressalto não parece ser tão grande assim. Tivesse isto acontecido nos Estados Unidos ou num país europeu e outros galos cantariam. Esta é a triste realidade dos factos. 
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Saída limpa


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Navegar (nem sequer) à vista



«"A saída limpa", anunciada [ante]ontem pelo primeiro-ministro – num estilo épico inapropriado –, representa a vitória do tempo mínimo. O triunfo da tática parcelar e fragmentar. A nossa "saída limpa" não espelha a nossa liberdade reconquistada, mas o nosso abandono por parte dos países que, connosco, formam o corpo da zona euro, onde deveria reinar a solidariedade, mas impera um egoísmo vesgo e malsão. (...)

Ficamos à mercê de forças que não controlamos, sejam elas o humor dos mercados, as decisões dos bancos centrais mundiais, a incerteza sobre o rebentar das bolhas chinesas (do crédito e do imobiliário), a sorte das armas na guerra civil ucraniana. (...) A zona euro transformou-se numa planura desértica. Sem estadistas visionários que escalem montanhas para vislumbrar o melhor rumo para o bem comum de todos os europeus.»

Viriato Soromenho Marques

Lido por aí (31)


@João Abel Manta

* Behind the Masks in Ukraine, Many Faces of Rebellion (C. J. Chivers e Noah Sneider)

* «Se a negociação falhar, podemos impor a reestruturação da dívida» (entrevista a Francisco Louçã). AQUI, na íntegra, em vídeo

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5.5.14

O país dos sacanas


@João Abel Manta

Que adianta dizer-se que é um país de sacanas?
Todos os são, mesmo os melhores, às suas horas,
e todos estão contentes de se saberem sacanas.
Não há mesmo melhor do que uma sacanice para poder funcionar fraternalmente a humidade de próstata ou das glândulas lacrimais, para além das rivalidades, invejas e mesquinharias em que tanto se dividem e afinal se irmanam.

Dizer-se que é de heróis e santos o país,
a ver se se convencem e puxam para cima as calças?
Para quê, se toda a gente sabe que só asnos,
ingénuos e sacaneados é que foram disso?


Não, o melhor seria aguentar, fazendo que se ignora.
Mas claro que logo todos pensam que isto é o cúmulo da sacanice,
porque no país dos sacanas, ninguém pode entender
que a nobreza, a dignidade, a independência, a
justiça, a bondade, etc., etc., sejam
outra coisa que não patifaria de sacanas refinados
a um ponto que os mais não são capazes de atingir.


No país dos sacanas, ser sacana e meio?
Não, que toda a gente já é pelo menos dois.
Como ser-se então nesse país? Não ser-se?
Ser ou não ser, eis a questão, dir-se-ia.
Mas isso foi no teatro, e o gajo morreu na mesma.


Jorge de Sena
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Se o mundo fosse apenas uma anedota



Confesso que nunca achei muita graça ao hábito tão americano de começar ou acabar discursos com anedotas e, ainda menos, ao uso sistemático das mesmas no jantar anual da Associação de Correspondentes da Casa Branca, como aconteceu de novo há dois dias.

O presidente dos Estados Unidos pode brincar com coisas sérias, como qualquer outra pessoa, mas nem tanto assim: referir o drama da Malásia para uma graçola ou a Ucrânia para lançar umas farpas sem graça a Putin são puro mau gosto – para não dizer pior. Por isso me parecem bem certeiras estas linhas do Editorial do Público de hoje:

«Obama gracejou sobre Putin no jantar dos correspondentes da Casa Branca. Putin, pelo seu lado, talvez conte piadas sobre Obama no seu círculo restrito do Kremlin. Se o mundo fosse uma anedota, seriam momentos de inócua leveza. O problema é que não é. Na Ucrânia, onde o humor das altas esferas mundiais não chega, morre-se por razões insanas, vizinhos matam vizinhos porque passaram a habitar lados opostos da barricada. E tudo se encaminha para uma divisão sangrenta do país, pasto dos seus próprios ódios. Se não for possível pôr ordem nas facções desavindas, nacionalistas e pró-russos, nada travará a guerra civil e os seus efeitos. Vimo-lo na antiga Jugoslávia, dividida e devastada, sangrada a ajustes de contas e massacres. E vê-lo-emos na Ucrânia, porque ninguém soube evitar a tempo o que era evitável. Se o mundo fosse uma anedota, rir-nos-íamos. Mas ninguém rirá do que, ameaçador, aí vem.» 
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A cantiga ERA uma arma




O documentário de Joaquim Vieira «A Cantiga Era uma Arma», sobre os músicos e as músicas do 25 de Abril e do PREC, e com intervenções de Carlos Alberto Moniz, Ermelinda Duarte, Fausto, Fernando Tordo, Francisco Fanhais, José Jorge Letria, José Mário Branco, Luís Cília, Manuel Freire, Maria do Amparo, Paulo de Carvalho, Samuel e Sérgio Godinho, além dos já desaparecidos Adriano Correia de Oliveira, Zeca Afonso e José Carlos Ary dos Santos, estreia-se amanhã, terça-feira 6 de Maio, na RTP2 pelas 23h30. 

Sublinho o «ERA», era uma arma...
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O simples cobrador de impostos



«Ronald Reagan conquistou a Casa Branca dizendo aos americanos coisas tão certeiras como esta: o contribuinte é uma pessoa que trabalha para o Governo sem ter feito concurso para funcionário.

Dizendo ser tão ou mais liberal que Reagan, mas sem a sua sapiência glamorosa, Pedro Passos Coelho colocou todos os portugueses a trabalhar para o Governo. Isso torna-o mais próximo de Nikita Khrushchev do que de Ronald Reagan. Nada que o pareça incomodar. (...)

Quem brinca com pólvora um dia destes fica com a cara cheia de fuligem. Passos Coelho ficará num dicionário como um sinónimo de impostos. Foi incapaz de fazer uma reforma do Estado. É incapaz de combater o desemprego. A despesa continua firme como cimento (onde está o corte de custos nas PPP?). Os impostos sobem como um balão desgovernado. Pior: Passos Coelho consegue fazer e dizer que não o fez.»

Fernando Sobral, no Negócios.
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Brincar com coisas sérias


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4.5.14

Quando éramos senhores de meio (novo) mundo



Em 4 de Maio de 1493, por pressão de nuestros hermanos, o papa Alexandre VI dividiu o «Novo Mundo» entre Portugal e Espanha, pela bula Inter Coetera. Um meridiano (virtual, diríamos nós hoje...), desenhado a 100 léguas a Oeste de Cabo Verde, definiu que Espanha ficaria com tudo o que se situasse a Oeste do meridiano em questão e Portugal com o que estivesse a Leste. Mais exactamente:

«Esta bula origina-se de termos feito doação, concessão e dotação perpétua, tanto a vós (reis), como a vossos herdeiros e sucessores (reis de Castela e Leão), de todas e cada uma das terras firmes e ilhas afastadas e desconhecidas, situadas em direção do ocidente, descobertas hoje ou por descobrir no futuro, Seja descoberto por vós, seja por vossos emissários para este fim destinados.»

Espanha garantia assim a posse das terras descobertas no ano anterior por Cristóvão Colombo e Portugal a costa africana que estava a ser explorada na procura de um caminho marítimo para a Índia. Mas Portugal não gostou da decisão porque o conteúdo da bula só lhe atribuía a parte mais oriental do Nordeste brasileiro e acabou por conseguir alterar o efeito da Inter Coetera, no ano seguinte, pelo Tratado de Tordesilhas, onde foi definido um novo meridiano a 370 léguas de Cabo Verde.

Mas porquê uma bula e um papa no meio do processo? Segundo a tradição medieval, a Santa Sé tinha o direito de dispor das terras e dos povos, em parte devido ao Édito de Constantino, que dera ao papa Silvestre a soberania sobre todas as ilhas do globo (e, supostamente, apenas ilhas estariam ainda por descobrir...).

De longe nos vem a sina de termos mandantes, hoje com papas substituídos por mangas de alpaca troikados. E assim chegamos a este 521º aniversário de um meridiano virtual com uma saída nem sequer virtualmente limpa.

(Fonte, entre outras)
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Eu dava-lhe um visto gold para ele viver por cá



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Mundividências


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Veiga Simão, Paulo Portas e a Revolução



Era fatal como o destino que a morte de Veiga Simão iria desencadear um sem número de reacções, de todas as cores e para todos os paladares. Paulo Portas escolhe destacar uma «derrota» do último ministro da educação de Marcelo Caetano:

«Veiga Simão faz parte de uma geração que procurou que Portugal fizesse uma transição de um regime autoritário para um regime de liberdade, suavemente, serenamente, e ter-se-ia evitado um processo revolucionário. Infelizmente, não foi possível», «tivemos um processo revolucionário com todas as suas sequelas».

Primeiro, pode ser ignorância ou falta de memória da minha parte, mas não me lembro de qualquer proximidade entre VS e a Ala Liberal, ou algo de parecido, durante o marcelismo.

Segundo e principalmente, para o dr. Portas, a Revolução foi mesmo uma maçada «com todas as suas sequelas»! Só falta dizer que, tivesse VS atingido o seu fito de uma evolução suave e serena da ditadura para a democracia, de uma passagem directa e sem cravos de 24 de Abril de 74 para 26 de Novembro de 75, e não teria havido por cá troikas, correria mel pelas nossas vidas e ele seria (sei lá?!), primeiro-ministro ou presidente da República de um Portugal, ele também suave e sereno.
Infelizmente, tivemos um processo revolucionário.

(Fonte)