Não tivessem os capitães acabado com a ditadura duas semanas antes e Maria Velho da Costa, Maria Isabel Barreno e Maria Teresa Horta teriam vivido um desfecho bem diferente do julgamento que decorria no Tribunal da Boa-Hora, em que eram rés, e que terminou em 7 de Maio de 1974 com a absolvição das três.
A história é conhecida e está hoje
bem descrita, mas recorde-se que as três autoras decidiram, em Maio de 1971, escrever «a seis mãos» as
Novas Cartas Portuguesas. Reuniam-se uma vez por semana para discutir o que tinham feito entretanto, mas prometeram nunca dizer quem tinha escrito o quê. (Mais tarde, em interrogatórios individuais, a PIDE bem tentou, em vão, descobrir qual delas havia escrito as partes consideradas de maior atentado à moral...)
A primeira edição de 1972 foi recolhida e destruída três dias depois de ser lançada (mas eu tenho aqui o meu exemplar, bem velhinho...), foi instaurado a seguir um processo judicial por o conteúdo ser considerado «insanavelmente pornográfico e atentatório da moral pública», com acusação por «pornografia, obscenidade, atentado à moral pública», a que se seguiu o julgamento que teve início em 25 de Outubro de 1973.
A onda de solidariedade foi grande a nível internacional, registando-se uma marcha de mulheres em Paris, invasão da embaixada portuguesa na Holanda, protestos em frente da embaixada portuguesa em Washington, etc., etc.
Na sua página do Facebook, Maria Teresa Horta transcreveu hoje algumas passagens da sentença final: «O livro “Novas Cartas Portuguesas” não é pornográfico nem é imoral. Pelo contrário: é obra de arte, de elevado nível, na sequência de outras obras que as autoras já produziram. [...] Nestes termos, julgo a acusação improcedente e não provada e consequentemente a todos absolvo e mando em paz».
Com a chegada da liberdade e Portugal em festa, «o juiz ficou tão aliviado que organizou um jantar e nós fomos as três»,
disse em tempos Maria Teresa Horta.
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