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Leitora de uma fidelidade incondicional a toda a sua obra de ficção, de uma imaginação fulgurante, por vezes fantasmagórica, nunca me passou pela cabeça que o subtítulo do seu auto-retrato - «enquanto corredor de fundo» - fosse isso mesmo: a descrição detalhada da dedicação ao jogging, à maratona e ao triatlo como práticas desportivas e formas de terapia, dos treinos, das frustrações, do estoicismo, das pequenas vitórias, da relação de tudo isto com a escrita, como forma de concentração e sobretudo de perseverança.
Não será um grande livro, nada que se compare à força da outra inesquecível obra de não ficção (Underground), mas lê-se bem.
E estou com Murakami quando ele diz, numa das últimas páginas: «Daqui a instantes, preparo-me para nadar uma distância de mil e quinhentos metros, depois é pegar na bicicleta e percorrer quarenta quilómetros e, por fim, correr dez quilómetros. E para quê, não me dizem? Não seria mais fácil se me pusesse a deitar água numa velha panela com um buraquinho no fundo?»
Eu escolheria a panela, como é óbvio.
Haruki Murakami, Auto-retrato do escritor - enquanto corredor de fundo, Casa das Letras, 2009, 192 p.