8.6.24

Continuemos no azul

 


Vaso «Lebres» em vidro azul eléctrico com patine branca. 1923.
René Lalique.


Daqui.

Sónia Braga

 


Não consigo deixar de estranhar, nem entranhar, que a eterna Gabriela chegue hoje aos 74.


Estão a reflectir?

 


Paula Rego

 


Dois anos sem ela.

Dia de cão

 


«Por sair ao Domingo, este espaço está sujeito à maldição dos períodos de reflexão eleitoral. Ainda há pouco mais de um ano, tal sucedeu com as presidenciais e eu derramei por aqui meia dose de queixumes e outro tanto mau feitio. E embora a autocitação costume ser vista como uma variante benigna de onanismo, seja-me consentido algum recurso a ela.

A reflexão imposta por lei é o produto directo e linear de uma transição democrática. Ao cabo de quase meio século de cidadania mutilada, o seu pleno exercício, pelos cidadãos em tirocínio que nós éramos, parecia aconselhar medidas dessas. Mas, trinta e tal anos e dezenas de votações depois, a sua subsistência é a manifestação de um puro paternalismo de Estado. "O Estado legislador já não protege o cidadão. Protege, sim, o estado administrador contra algumas maçadas técnicas." Cada um devia "ser dono e senhor do período de reflexão de que carece (se é que carece de algum)", porque o dispositivo, "concebido para defesa do repouso intelectual dos eleitores, só parece já salvaguardar o repouso físico dos candidatos".

Ora, porque assim não é, o dia de reflexão torna-se estranho, enevoado e penoso de viver. Há uma bruma anómala à nossa volta e parece que nos movemos numa second life onde cada olhar é um espanto e cada passo uma aventura. De manhã, no café, primam pela ausência os amigos e vizinhos mais político-dependentes. E os demais avatares que pontuam a esplanada são seres desconhecidos, translúcidos e dotados de sorrisos lentos e mãos que mexem como num espaço sem gravidade. É assim nas Amoreiras velhas, uma amável aldeia urbana, logo pela manhã. Mas é assim também em Campo de Ourique, cidade na cidade, bairro onde nasci e ao qual muito me liga ainda. (Por vezes, nem sei ao certo em qual moro. Em qualquer deles vem-me à mente uma frase provocatória do Lee Marvin/Liberty Valance, no clássico de John Ford: "Home is where I hang my hat", que eu peço licença para traduzir por "Eu moro onde penduro o meu chapéu").

É nesse ambiente equívoco, feito de trocas de olhares entre gente vagamente conhecida, que se gera uma forma bizarra de cerimónia cívica, por força da qual ninguém diz nada que remotamente evoque as eleições iminentes. Como se a opinião de um pudesse lesar, ou contagiar, o outro. Ou o juízo deste, que na véspera teria sido de seu inteiro direito, fosse hoje um abuso ou uma agressão. A meio do dia, já quase preferimos não conhecer ninguém. É certo que, quando eu nasci, também não conhecia cá ninguém. Mas, demasiadas décadas depois, um exercício de quase regresso ao útero materno violenta uma vida inteira de direitos adquiridos. É maçador, embaraçoso - enfim, em sentido próprio, um atraso de vida.

Ignoro que remédio lhe dão os mais destemidos. Por mim, recolho às vantagens práticas de uma resposta tímida e timorata à situação: recolho a casa. Onde não terei serenidade psicológica para ler, nem vertigem activista para escrever. Olharei bovinamente para a televisão, na esperança (sempre) vã de ver passar, por entre as pálpebras a meia haste, o relance de um candidato, a sombra de um eleitor ou, ao menos, o olhar cúmplice de um "pivot" de telejornal a transmitir-me qualquer coisa que se assemelhe, já não a solidariedade, mas pelo menos a um pouco de compreensão. Em vez disso, porém, serei bombardeado com desastres de viação, fogos frustrados, crimes passionais e patetices ditas "sociais" de "celebridades" que o não são. Com sorte, terei talvez o comendador Berardo a explicar mais uma iniciativa altruísta. Ou até um dirigente da oposição a dizer que exige ao poder o que não pode dar e um governante a dar-me aquilo que já é meu. Depois, terei minuciosas e por vezes ininteligíveis notícias sobre acontecimentos políticos, mas da Europa e do Mundo, onde a maldição não chega. E, logo que se tenha dado despacho a quase vinte minutos de electrodomésticos, automóveis, detergentes, telemóveis e supermercados, servir-me-ão os eventos do mundo admirável da época das transferências no futebol nacional.

Está escrito, vai ser assim. E, pelos vistos, até que a morte nos separe.»

Nuno Brederode Santos
Diário de Notícias, 15.07.2007

7.6.24

Jarras

 


Jarra para flores, de vidro opala transparente com suporte de metal. Birmingham, 1903-1910.
Vidreiro: John Walsh.

Daqui.

Ursula von der Leyen: um discurso terrível

 




𝐐𝐮𝐞 𝐝𝐢𝐬𝐜𝐮𝐫𝐬𝐨 𝐭𝐞𝐫𝐫í𝐯𝐞𝐥, 𝐨𝐧𝐭𝐞𝐦 𝐧𝐨 𝐏𝐨𝐫𝐭𝐨, 𝐪𝐮𝐚𝐧𝐝𝐨 𝐮𝐦𝐚 𝐦𝐚𝐧𝐢𝐟𝐞𝐬𝐭𝐚çã𝐨 𝐝𝐞 𝐚𝐩𝐨𝐢𝐨 à 𝐏𝐚𝐥𝐞𝐬𝐭𝐢𝐧𝐚 𝐢𝐧𝐭𝐞𝐫𝐫𝐨𝐦𝐩𝐞𝐮 𝐨 𝐬𝐞𝐮 𝐝𝐢𝐬𝐜𝐮𝐫𝐬𝐨 𝐧𝐮𝐦 𝐜𝐨𝐦í𝐜𝐢𝐨 𝐝𝐚 𝐀𝐃. 𝐍ã𝐨 𝐚𝐜𝐡𝐨𝐮 𝐦𝐞𝐥𝐡𝐨𝐫 𝐚𝐫𝐠𝐮𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐝𝐨 𝐪𝐮𝐞 𝐜𝐨𝐦𝐩𝐚𝐫𝐚𝐫 𝐚 𝐑ú𝐬𝐬𝐢𝐚 𝐚 𝐏𝐨𝐫𝐭𝐮𝐠𝐚𝐥 𝐞𝐦 𝐭𝐞𝐫𝐦𝐨𝐬 𝐝𝐞 𝐥𝐢𝐛𝐞𝐫𝐝𝐚𝐝𝐞 𝐝𝐞 𝐦𝐚𝐧𝐢𝐟𝐞𝐬𝐭𝐚çã𝐨!

Chega: cenas de uma campanha

 


O Ministério Público nunca desperdiça uma campanha eleitoral

 


«A dois dias do fecho da campanha para as europeias surge a notícia de que foram realizadas buscas pela Polícia Judiciária (PJ) em torno do “caso das gémeas”. O trabalho esforçado da investigação criminal decidiu centrar-se no gabinete do ex-secretário de Estado do PS, Lacerda Sales, e no Hospital de Santa Maria.

Não desvalorizo o caso, nem a investigação, mas pergunto-me sobre a estranha agenda de atuação do Ministério Público. É que nos dias que correm sabemos que há três coisas que são garantidas quando temos eleições em Portugal: discursos enfadonhos (check); uma ameaça ao Chega, que lhe permite o discurso de vitimização (check); e buscas do Ministério Público (MP) em torno de processos e figuras ligadas ao PS (check).

Quanto às buscas, já nem consigo fingir qualquer surpresa. A história dos últimos anos do MP deixa cada vez menos espaço para interpretações ou ambiguidade. Em linguagem de investigação diria que os indícios se acumulam.

Sabemos que há anos que o MP arrasta uma investigação sobre a Câmara Municipal de Lisboa, onde achou por bem envolver figuras do PS, porque eram referidas em conversas de dirigentes do PSD. O resultado prático de quase 7 anos de investigação da “operação Tutti-frutti” sobre os dirigentes do PS são, contudo, escassos. De tempos a tempos, o MP coloca algumas notícias nos jornais que nada esclarecem. E a investigação tende a avançar ritmada pelo calendário eleitoral, porque é quase sempre em véspera de eleições que se realizam mais algumas buscas.

Mais recentemente, o MP brindou-nos com a “operação Influencer”, que foi colapsando por indecente e má figura aos olhos de todo o país. Mas que fez cair um primeiro-ministro, levou à demissão do governo e conduziu a eleições que deram uma vitória à direita.

Agora, nas vésperas de europeias, a Polícia Judiciária volta a realizar buscas em torno do PS. Curiosamente, nada é dito sobre eventuais investigações em torno da Presidência da República, onde o “caso”, como todos sabemos, teve a sua origem.

Dir-se-á que esta atenção especial do MP devota ao PS se deve ao facto de os socialistas terem governado por longo tempo e de as suspeitas e indícios terem de ser investigados. Acresce o óbvio: o caso Sócrates e a recente condenação de Manuel Pinho mostram à saciedade a permeabilidade de governantes socialistas à captura do Estado por interesses privados.

Não tenho qualquer discordância. Pelo contrário: as minhas expectativas são até mais ambiciosas em relação ao MP. O que me parece estranho é que outras responsabilidades governativas e outros indícios não mereçam a mesma atenção da PJ e do MP.

Estou entre aqueles que ainda aguarda serenamente que as investigações sobre a privatização da TAP em 2015, em que se suspeita que a compra pelo investidor privado tenha sido feita com o dinheiro da própria TAP, chegue a alguma conclusão. Sou daquelas que gostaria também de saber como é que a privatização da Groundforce, paga supostamente pelo privado com a própria receita operacional da empresa, foi negociada. Gostaria de ser esclarecida como é que a concessão dos aeroportos à Vinci foi tão negligentemente negociada, com custos brutais para o Estado Português como o Tribunal de Contas recentemente demonstrou. Valia igualmente a pena que soubesse mais sobre o famoso contrato secreto de venda do BES a um “fundo abutre” e da negociação que Sérgio Silva Monteiro, ex-secretário de Estado do governo de Passos Coelho, conduziu já sob a tutela de Centeno e António Costa e que tanto custou aos cofres públicos. Sou paciente, mas noto o silêncio ruidoso do MP em negócios que venderam por tuta e meia empresas que são agora “galinhas dos ovos de ouro” para os privados, prejudicando o Estado e os contribuintes portugueses em milhares de milhões de euros. Por outro lado, gostava ainda de saber se já temos algumas conclusões ou avanços na investigação sobre o financiamento do Chega, que na última campanha eleitoral não conseguia explicar as verbas avultadas que lhe têm chegado aos bolsos. Gostava de saber também se André Ventura não incorreu num conflito de interesses ao estar numa comissão parlamentar de inquérito em que um dos seus financiadores partidários tinha um interesse direto. Não me assusto com investigações, quero mesmo mais investigação. Só me inquieto com a sua aparente seletividade.

A sensação de instrumentalização política da investigação criminal já não pode ser ignorada e os riscos que esta dúvida implica para o regime democrático são brutais. O MP está em risco de ser visto como um ator político interveniente no combate político, com interesses ilegítimos que não a justiça e a legalidade, e com um alvo partidário a abater. O combate à corrupção perde a legitimidade e a confiança, que são condições centrais na investigação criminal. O Ministério Público é hoje um grave problema do regime democrático.»


Catarina Martins – O outro lado

 



6.6.24

Perfumes

 


Frasco de perfume de cristal gravado com ácido azul. Cerca de 1900.
Val Saint Lambert.

Daqui.

06.06.1968 – Maurice Béjart expulso de Portugal

 


Há 56 anos, dois dias depois do assassinato de Robert Kennedy, Maurice Béjart deu um concerto no Coliseu de Lisboa. No final do espectáculo, veio ao palco para afirmar que Robert Kennedy fora “vítima de violência e de fascismo” e para pedir um minuto de silêncio “contra todas as formas de violência e de ditadura”.

Com a maior parte dos espectadores de pé, renovaram-se os aplausos, com mais força e mais entusiasmo: lutávamos, mas tínhamos quem nos ajudasse na nossa luta. Informado do sucedido, Salazar proibiu os espectáculos seguintes e ordenou que Béjart saísse imediatamente de Portugal.

Para ler um resumo detalhado dos acontecimentos, num excerto de um livro que publiquei em 2007, clicar AQUI.

Imigrantes, ainda

 


Mais claro é impossível.

São precisos dois para dançar o tango, mas chegam três para parar o baile

 


«As sondagens mais recentes mostram a AD e o PS tão próximos entre si, quanto distantes das percentagens dos outros tempos, o Chega cada vez mais consolidado como a terceira força que nutre a ambição de suplantar a direita tradicional, e os restantes partidos envolvidos numa árdua luta para virem a ter, pelo menos, um deputado no Parlamento Europeu.

A confirmarem-se as indicações das sondagens, por muito que quem ficar à frente se vá esforçar por enquadrar o próximo domingo como a confirmação ou a desforra do resultado das Legislativas, as Europeias serão apenas mais um sinal do impasse e da ingovernabilidade que caracterizam o 2024 de Portugal.

O primeiro sinal veio dos Açores, onde o social-democrata José Manuel Bolieiro não conseguiu elevar a AD à maioria absoluta - muito dificultada pelo Círculo de Compensação, embora a sua existência seja mais do que defensável enquanto instrumento que limita a quantidade de votos desperdiçados -, onde o PS de Vasco Cordeiro ficou aquém da Vitória de Pirro que em 2020 fez de si o Passos Coelho do arquipélago, e o Chega elegeu cinco deputados.

Seguiram-se as Legislativas, nas quais o PS perdeu 42 dos 120 mandatos que deram maioria absoluta ao mais instável dos três Governos de António Costa e a AD só tem dois deputados a mais, graças à dupla do retornado CDS, incrustada no canto do hemiciclo onde passaram a sentar-se cinco dezenas de deputados do Chega.

Mais recente é o desfecho das Eleições Regionais da Madeira, antecipadas devido ao impacto de investigações judiciais que abalaram os frágeis equilíbrios que sustentavam o Executivo de Miguel Albuquerque. Salvo in extremis por um acordo com o desavindo CDS, que subiu para 21 o seu insuficiente respaldo parlamentar, mais não conseguiu do que ficar um mandato acima da soma de deputados do PS e do Juntos Pelo Povo. Mas para garantir a maioria absoluta, mais uma vez, precisaria dos quatro eleitos do Chega.

Em comum nos três Parlamentos Nacionais, condicionados por outros tantos triângulos nos antípodas de serem amorosos, encontra-se a impossibilidade prática de acordo estável. O “não é não” de Luís Montenegro a André Ventura, ainda mais compreensível quando o líder do Chega alimenta uma ambição assaz anunciada de promover uma “grande substituição” no quadro partidário português, trava qualquer política de alianças suficientemente forte à direita.

Só que, em simultâneo, o PS de Pedro Nuno Santos não pode ignorar o risco de poder ser visto como aliado de facto do partido que rotula como sendo de extrema-direita, mesmo que isso ocorra por o Chega aprovar iniciativas legislativas socialistas em detrimento do que consta do Programa do Governo.

Diz a sabedoria popular de inspiração argentina que são precisos dois para dançar o tango, mas numa conjuntura em que faltam pares dispostos a conduzir ou a serem conduzidos, resulta ainda mais claro que chegam três para parar o baile. E que momentos decisivos, como os processos orçamentais, podem conduzir a sucessivas idas às urnas até os eleitores encontrarem pares compatíveis. Basta ver o que se está a passar noutros países europeus, com a Espanha e a Holanda a servirem de exemplo, à esquerda e à direita, para ter noção de como isso poderá ser difícil ou até traumático.»


5.6.24

Assim se resolviam crises na habitação?

 


Considerada a porta de entrada para a Calábria (Itália), Rocca Imperiale é uma das mais pitorescas aldeias medievais de toda a região. O castelo no topo, com uma posição de comando, foi ampliado algumas vezes após a primeira estrutura erguida por Frederico II de Svevia no século XIII, especialmente pelos duques de Aragona, no século XV.

Daqui.

05.06.1967 - «Cien años de soledad»

 


Foi nesse dia que foi lançada, na Argentina, aquela que viria a ser uma das grandes obras literárias da segunda metade do século XX: Cem anos de solidão, que Gabriel García Márquez escreveu no México entre 1965 e 1956, e que teve uma primeira edição de oito mil exemplares, que esgotou rapidamente. 

García Márquez nasceu em Aracataca e lá viveu parte da infância, em casa dos avós, que o marcaram profundamente. De uma família desafogada, não aprovaram o casamento da filha com um simples telegrafista e exigiram guardar a custódia do neto.

Com dez anos, foi viver com os pais e só regressou a Aracataca com a mãe, em 1950, numa tentativa falhada de vender a casa da família, entretanto vazia. Terá sido o choque que teve ao ver o estado lamentável em que encontrou a sua querida terra natal, que esteve na origem da obra que viria a torná-lo célebre. Chamou-lhe «Maconde» e criou a família Buendía.

Guardadas as devidas proporções, não terá ficado muito mais orgulhoso de Aracataca quando lá voltou pela última vez, em 2007, para uma tripla comemoração: dos seus 80 anos, do 40º aniversário da publicação de Cem anos de solidão e do 25º da atribuição do Nobel da Literatura. Nem gostaria de saber que ainda há pouco tempo os seus conterrâneos estiveram envolvidos em graves distúrbios quando se manifestavam contra permanentes cortes da distribuição de electricidade. 

Estive em Aracataca / Maconde há alguns anos e também a vi feia e desmazelada, sem honrar como devia o que de mais importante deu ao mundo (quando a Colômbia gasta fortunas, por exemplo, em iluminações faraónicas das suas grandes cidades).

Aracataca salva-se pela moradia em que «Gabo» nasceu, actualmente transformada num pequeno museu bem conservado, que justifica, sem dúvida, a deslocação e a visita. E pela «peregrinação» que significa passear pelas ruas onde brincou e que o viram crescer…

Casa e quarto onde nasceu:

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05.06.1898 – Federico García Lorca

 


García Lorca nasceu em Granada há 126 anos.

Poeta e dramaturgo, conta-se entre as primeiras vítimas da Guerra Civil Espanhola. Foi fuzilado, com 38 anos, em Agosto de 1936, entre 17 e 19, pelo seu alinhamento político com os Republicanos e por ser declaradamente homossexual.

Todos os anos, nessa data, em Viznar, perto de Granada, ciganos cantam, dançam e dizem poesia em honra de Lorca e de cerca de 3.000 fuzilados pelos franquistas, cujas ossadas se encontram por perto.

Ver dois vídeos AQUI, num post do ano passado.
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Plano de Ação para a Imigração Ilegal: da porta estragada para a janela que não funciona

 


«Depois do SNS (para os eleitores mais velhos) e da habitação (para os eleitores mais novos), veio o Plano de Ação para as Migrações, a pensar na concorrência do Chega. Os conservadores britânicos bem tentaram conter a coisa, radicalizando cada vez mais a sua ação, e o resultado será, para alem de uma provável derrota eleitoral, o regresso de Nigel Farage à política. Porque quanto mais se promete impedir a chegada de imigrantes maior a frustração de não o conseguir.

Tenho ouvido Sebastião Bugalho a celebrar esta decisão, por resolver o problema de 400 mil pessoas. A única coisa que vejo, de prático, com decisão tomada e prazos conhecidos, é um novo problema para mais uns milhares de imigrantes. Porque, por razões estritamente eleitorais, o governo decidiu transformar o debate sobre o mau funcionamento da AIMA e do SEF (sobre isso já escrevi aqui) numa mudança de política de imigração.

Dificultar o acesso legal, com a ilusão que só para aqui virá quem já vem do país de origem com contrato de trabalho, terá como única consequência aumentar o número de trabalhadores ilegais, permitindo que a imigração sem direitos cumpra a função de redução da pressão salarial. Os imigrantes continuarão a ser necessários para a economia. Apenas serão, como se deseja, mais baratos.

As filas para pedir a regularização vão seguramente diminuir. A ilegalidade não levanta problemas burocráticos, porque quem não tem direito a papéis não faz filas para os receber nem dá má publicidade ao governo. Os efeitos serão mais estruturais e, quando quiserem fingir que os resolvem será com mais um endurecimento inútil das regras.

A decisão de pôr fim à manifestação de interesse como forma de legalização de imigrantes baseia-se numa mentira e numa ilusão. A mentira que tem sido passada é de que esta manifestação de interesse tem sido a porta de entrada descontrolada. Só podia usar este instrumento quem tivesse entrado legalmente em Portugal e tivesse um contrato de trabalho ou quem, não podendo provar a legalidade da entrada (até por muitos entrarem por via terrestre), tivesse umcontrato de trabalho e descontos para a segurança social há pelo menos um ano.

Em resumo, o mecanismo que o governo extinguiu era a forma de legalização de quem já tinha trabalho em Portugal. Sabendo que fim do fluxo migratório não se decreta, o que pretendem fazer quem venham a estar na mesma situação? Deportar pessoas que têm trabalho? O próprio governo deu a resposta, abrindo a possibilidade a novas regularizações extraordinárias, a conta-gotas. A prova de que isto não resolve coisa alguma.

O segundo pressuposto desta alteração não é uma mentira, é uma ilusão. É que os consulados, que nem para os portugueses funcionam, vão tratar dos vistos com contrato de trabalho prévio. O Sindicato dos Trabalhadores Consulares já se riu. Nem aos vistos normais conseguem dar resposta. O reforço de três pessoas suplementares em 15 embaixadas servirá, no máximo, para ajudar a cumprir as atuais funções consulares. Alem de muitos países ou regiões de onde vêm grandes fluxos migratórios nem sequer terem representação diplomática ou consular portuguesa. Quem acha que esta será a via de entrada no país gosta de ser enganado. E quem acha que restaurantes, construtoras e pequenas fábricas vão fazer contratações por via das embaixadas não sabe em que país vive.

Em que é que as novas normas resolvem os problemas de quem espera e desespera pela regularização? Na realidade, limita-se a pôr outros tantos na mesma situação e, no que toca a quem espera por uma resposta, o governo nem sequer consegue avançar com prazos. Está tudo na mesma. A solução foi deixar novos imigrantes na ilegalidade. A promulgação desta decisão, mal foi conhecida e sem ter havido qualquer debate político ou estar implementada qualquer solução alternativa, cria um vazio. É a demonstração que o Presidente já pouco mais é do de que amanuense do governo.

A conversa sobre a atração de imigrantes qualificados onde nem se conseguem fixar os nacionais qualificados demonstra o registo propagandístico do plano. Se estamos a falar de trabalhadores qualificados, como pedreiros ou eletricistas, de que temos falta, a imigração brasileira tem trazido muitos e muitos até fazem, se trabalharem com direitos, a qualificação em Portugal. É nisso que devemos trabalhar. Se estamos a falar de altamente qualificados (têm vindo de países comunitários, norte-americanos e estudantes), isso depende da atratividade da nossa economia, das nossas empresas e das universidades. Aí, o principal papel do Estado cumprir a sua função burocrática em vez de ser uma permanente barreira.

O que o governo acabou de fazer não foi passar de portas escancaradas para portas abertas. Foi passar de uma porta com problemas para uma janela que não funciona. Os imigrantes que fazem a economia andar e entravam como turistas vão continuar a entrar, na mesmíssima quantidade e da mesma forma, porque há trabalho para eles. Enquanto a economia deles precisar, eles virão. Seja qual for a lei, como tem descoberto o Reino Unido, por mais que a endureça. Apenas permanecerão ilegais, nas mãos das redes e dos patrões, sem acesso à regularização e a instrumentos de integração. O plano do governo, que criminaliza a imigração, é impraticável. Mas uma excelente notícia para quem lucra com a clandestinidade.»


4.6.24

Perguntar não ofende, mas já quanto a responder…

 




Gastei uma hora a ouvi-lo porque se trata de alguém perigosamente inteligente que exercerá funções de direita, extrema se necessário, onde quer que venha a mover-se.

Tiananmen foi há 35 anos

 


Voltei há poucos anos à Praça Tiananmen. Confirmo que 1989 continua a ser tabu intransponível e retive o silêncio da simpática guia que nos acompanhava. Várias vezes interrogada, foi dizendo que dos acontecimentos de 1989 «nada sabia», que nasceu e vivia então na Manchúria, que nada viu, que não se aprende na escola, que há muitos milhões de chineses que nunca ouviram falar desse não assunto. «Não sei nada, não posso saber, não insistam, por favor.» Calámo-nos.

Jorge de Sena

 


Morreu em 04.06.1978.

A viragem à direita na Europa

 


«Aproximam-se as eleições europeias e, no que se refere a política partidária, o destaque pré e pós-eleitoral irá recair com grande probabilidade na performance da direita radical. É expectável que os grupos europeus que habitam o espaço mais à direita do espectro político tenham um resultado coincidente com o ganho de poder que os vários partidos nacionais têm vindo a obter nos respetivos parlamentos dos Estados-membros.

Importa saber que existem diferentes grupos políticos europeus que, por sua vez, agregam diferentes partidos europeus (dos quais fazem os vários partidos nacionais de cada Estado-membro). Usando o exemplo do partido de direita radical português, o Chega faz parte do ID Party (Partido Identidade e Democracia) e o ID Party é membro do grupo europeu ID (Identidade e Democracia).

Existem dois grupos que agregam os principais partidos de direita radical europeus: o já referido ID, que inclui o Chega, os franceses da Rassemblement National (RN), os italianos da Lega, entre outros; e o ECR (Reformistas e Conservadores Europeus) que inclui partidos de direita radical como o Vox ou os Fratelli d'Italia, mas também partidos conservadores do espaço de centro-direita. A extrema-direita (que difere da direita radical pelas suas posições abertamente antidemocráticas, revolucionárias e elitistas) encontra-se, sobretudo, no partido europeu Alliance for Peace and Freedom – uma força política com pouca projeção e que não está inscrita em qualquer grupo.

Atualmente, é expectável que o Partido Popular Europeu (PPE) e o grupo dos Socialistas & Democratas continuem a ocupar as duas primeiras posições no parlamento. Mas é à direita do PPE que poderão surgir novidades transformadoras na política europeia. Há várias semanas, algumas sondagens indicavam que a votação conjunta do ID e ECR poderia ultrapassar a do PPE; atualmente, o cenário mais provável é o de que essa votação conjunta ocupe o segundo lugar à frente dos Socialistas & Democratas.

Mas fará sentido pensar em votação conjunta de duas forças cujos partidos membros nunca foram capazes de mostrar união? Existem alguns dados que sugerem um futuro em conjunto. Por um lado, os fatores de divisão entre este tipo de partidos estão cada vez mais mitigados, nomeadamente a questão do apoio à Rússia que era mais evidente no seio do ID, antes da invasão da Ucrânia. Por outro, o movimento crescente de "mainstreamização" da direita radical europeia parece uni-la na imposição de linhas vermelhas a posicionamentos mais extremos (como o da AfD) e na aproximação a soluções governativas com partidos do espaço de centro-direita como o PPE que, não por acaso, se mostra mais aberto à cooperação.

O sucesso de Meloni em Itália e na Europa tem atraído e inspirado tanto a cúpula do PPE – Ursula von der Leyen já entendeu que o peso eleitoral cada vez mais evidente à sua direita poderá ser-lhe útil na sua reeleição – como a cúpula do ID, considerando o caminho de moderação discursiva que Le Pen tem realizado ao longo dos anos com o objetivo último de vencer as presidenciais francesas de 2027.

Giorgia Meloni é o elemento-chave na união das direitas radicais e na sua aproximação ao PPE, mas há dois partidos de peso neste complexo este espaço político que podem complicar as contas e que, neste momento, não são membros de nenhum partido europeu: o Fidesz de Orbán, que mantém posições controversas relativamente à Rússia; e os alemães da AfD, o patinho feio da direita radical europeia, recentemente expulso do ID, que nos últimos tempos soma posições mais condizentes com o espaço ideológico da extrema-direita do que da direita radical.

No momento em que este artigo é escrito, existem negociações entre Le Pen e Meloni para formar um único bloco político. Independentemente do sucesso desta iniciativa, a Europa continuará a sua viragem à direita e é expectável que as próximas eleições europeias resultem em mais políticas de restrição à imigração e controlo fronteiriço, no enfraquecimento do Green Deal e, possivelmente, em menos consensos na gestão da política externa.

Entretanto, os desafios que a Europa enfrenta mantêm-se ou agravam-se. A UE é hoje um espaço político e económico que evidencia sinais preocupantes: não tem grandes empresas tecnológicas de referência (como os EUA ou a China), está dependente energeticamente de terceiros (nomeadamente da Rússia), não têm a capacidade de atrair cérebros para as suas universidades (como os EUA ou o Reino Unido) e precisa de, rapidamente, tornar-se autónoma na área da segurança e defesa – um tema crucial e interconectado com a Guerra na Ucrânia, o resultado das próximas eleições norte-americanas e o futuro alargamento da UE.»


3.6.24

Elevadores

 


Elevador da montanha Mangshan na China. Tem uma altura de 130 metros e permite chegar-se ao topo da montanha em apenas 1 minuto, com uma velocidade de 2 metros por segundo.

Daqui.

Já nem sabe se sonha ou se recorda

 


Europeias: resultados de uma sondagem

 


Daqui.

A Madeira e o elogio ao parlamentarismo

 


«Depois das eleições da Madeira, pareceu-me evidente que o Partido Socialista não teria condições para se propor a formar governo. A opção de Paulo Cafôfo foi oposta à de Pedro Nuno Santos, que não seguiu a ideia de Rui Tavares – de saber que bloco tinha mais força (se o da Geringonça ou da AD com a IL) para se propor a governar –, assumiu imediatamente a derrota. Mas há outra diferença: o que estaria em causa, na Madeira, seria mudar o ciclo de poder do Partido-Estado que, manietando a sociedade e a economia, tem conseguido impedir a construção de alternativas.

O erro do Partido Socialista e do Juntos Pelo Povo não foi apresentarem-se como alternativa. Sou um parlamentarista e isto facilita estes debates, não tendo que andar a ver nas dobras dos discursos, nas vitórias ou nas derrotas decretadas por comentadores, a legitimidade de um governo. Não corro o risco das incongruências de quem não se opôs a um governo liderado por um partido derrotado nos Açores, em 2020, que foi ao representante da República sem sequer ter uma maioria segura e a quem foi dado o direito de tentar formar governo, procurando outros aliados. E assim conseguiu mudar o ciclo de 24 anos de poder do PS. Na altura, Montenegro não falou, como agora, de um inaceitável “geringonçar”, nem se espantou por, numa democracia, poder governar quem perdeu. Se há uma maioria parlamentar ela corresponde a uma maioria de votos e o governo é legitimo. Ponto.

O erro do PS e do JPP foi terem dado este passo sem nenhum sinal de que contariam com o apoio do CDS e da IL. Dirão que uma aliança entre estes partidos seria contranatura, mas retirar do poder um partido que lá está há meio século, forçando uma mudança de ciclo, podia ser cimento suficiente. Não foi. Aparentemente, não tinham esta segurança. Mas não fizeram mal algum à democracia com a sua tentativa. Apenas passara a vergonha de não ter base política para o passo que queriam dar.

O representante da República recebeu garantias de que o Chega não vai bloquear a aprovação de orçamentos. É o mesmo PSD que governa a Madeira e os Açores com a anuência do Chega que acusa o PS de fazer uma coligação negativa com Ventura.

Foi encontrada uma solução com sustentação no parlamento e ainda bem. Se o PS e o JPP o conseguissem, também seria aceitável. Qualquer uma destas soluções é mais saudável do que uma minoria governar na condição de parte da maioria dos deputados deixar de representar os seus eleitores, estando impedida de fazer oposição e até de apresentar propostas que sejam aprovadas pela maioria dos deputados. Seria especialmente absurdo exigir que a oposição se anulasse em nome da estabilidade de 48 anos de poder do mesmo partido. O problema da Madeira é excesso de estabilidade. Imaginem o bem que faria à tão frágil democracia madeirense se, para alem de uma sociedade e de uma economia manietadas, também se manietasse a oposição.

A crise adiada em que vivemos no País tem um responsável: um Presidente da República que, antes de dar posse a Montenegro, não cuidou de saber com que maioria pretendia ele governar. E não esperou, como se faz por esse Europa fora, por vezes durante meses de negociação, que cada um assumisse a sua responsabilidade. Pelo contrário, depois de acelerar a tomada de posse de um governo com o apoio muitíssimo minoritário, tem-se dedicado à chantagem pública sobre os atores políticos, passando do lugar de árbitro para o de jogador. O parlamentarismo funciona e tem as soluções. Só não está preparado para quem, em vez das suas regras, prefere o jogo cínico das sombras.»


É isto mesmo

 


2.6.24

Cúpulas

 


Cúpula de vidro do Hotel Hermitage Monte Carlo, Mónaco, 1890-1896.
Arquitectos: Nicolas Marquet com a participação de Gustave Eiffel. 
Vitrais: L. Jacques Galland.

Daqui.

Assim devera eu ser

 


Coimbra: do passado a 2024

 



Marcelo e a popularidade: cansou-se o amador da coisa amada

 


«Uma das maiores liberdades pessoais é a de não precisar de ser amado. Obviamente, todos queremos ser amados pelos nossos amigos e pela nossa família. O problema é o desejo insaciável de ser amado por toda a gente.

A descida da popularidade do Presidente da República é particularmente dolorosa para quem, como Marcelo, deseja ser profundamente amado pelo povo e foi nesse amor que construiu a base da sua presidência – a chamada “política dos afectos”, que, por estes dias, está em baixa.

Não tão baixa como a popularidade de Cavaco Silva, que liquidou a sua relação com os portugueses em 2012, quando fez as famosas declarações sobre a reforma não lhe chegar para as despesas. Para quem não se lembra, Cavaco disse isto: “Tudo somado, o que irei receber do Fundo de Pensões do Banco de Portugal e da Caixa Geral de Aposentações quase de certeza não vai chegar para pagar as minhas despesas, porque como sabe também não recebo vencimento como Presidente da República.” Foi surreal. De resto, Cavaco não recebia ordenado de Presidente porque era inferior aos dez mil euros que recebia em pensões – e escolheu ganhar mais.

Com Portugal a cumprir o programa da troika, cortes salariais na função pública e em muitas empresas privadas, a taxa de desemprego a subir para os 16% (em Abril passado estava em 6,3%), as palavras de Cavaco Silva provocaram um choque em cadeia que nenhuma das mais desastradas intervenções de Marcelo, até agora, provocou.

Ninguém ouvirá Marcelo a reproduzir declarações iguais às de Cavaco, até porque, como explica Ângela Silva numa excelente reportagem no Expresso (já aqui citada por João Miguel Tavares), Marcelo tem uma vida frugal e vive numa casa arrendada.

Talvez a vida dos presidentes da República seja sempre difícil à medida que o tempo passa. Jorge Sampaio perdeu muitas das graças que sempre teve junto do PS (e do resto da esquerda) por ter dado posse a Pedro Santana Lopes em 2004, contra a opinião de quase todos os seus conselheiros políticos.

A Marcelo caiu em cima o caso das gémeas, que começou por ignorar e até a dizer que não sabia de nada. A questão continuou com a conferência de imprensa sobre os mails trocados com o “Dr. Nuno, seu filho” e terminou naquela conversa apoteótica com a imprensa estrangeira, em que “o Dr. Nuno seu filho” acabou praticamente deserdado.

As contradições em Marcelo Rebelo de Sousa não são novidade. Foi sempre assim. É por isso que, num dia, diz que não comenta algo porque estamos em período eleitoral e, depois, desata a pressionar o PS a aprovar o Orçamento do Governo a uma semana e meia das eleições para o Parlamento Europeu.

Isto é o que se chama entrar a pés juntos na campanha. É que, com alguma probabilidade, o resultado das eleições europeias vai contar para a reflexão sobre qual será o sentido de voto do PS.

Já a desculpar-se das intervenções sobre a pressão junto do PS, lembrou que Jorge Sampaio também o pressionava a ele e António Guterres, no fim dos anos 1990, para chegarem a um entendimento. “Tinha muita paciência”, disse Marcelo.

Um dos problemas de Marcelo é não ter a paciência de Jorge Sampaio. Em 2021, Marcelo anunciou – mal o PCP decidiu não aprovar o Orçamento do Governo de Costa – que dissolvia a Assembleia da República. Foi uma ameaça que não teve efeitos junto do PCP e do Bloco de Esquerda e que acabou por dar a maioria absoluta ao PS. Depois de o PS conquistar a maioria, desatou a ameaçar com uma hipotética dissolução, que se consumou com a demissão de António Costa em Novembro. O grande defensor da estabilidade política “conseguiu” uma solução de extrema instabilidade. Marcelo, o dissolvente, ainda poderá dissolver mais uma vez. Não é nada claro que o PSD não deseje eleições a curto prazo, como diz Francisco Assis nesta entrevista, e o Governo demonstra todos os dias com a vitimização constante por causa da aprovação das medidas do PS.

Marcelo já tem pouco tempo para não acabar o mandato como Cavaco Silva. É impressionante que o mais brilhante analista político da nação não se consiga analisar a ser próprio. Parafraseando o verso de Camões, “cansou-se o amador da cousa amada”.»

Ana Sá Lopes

Para além dos violinos de Chopin