O autor cumpre aqui a promessa de fazer render a prosa e oferece o seu contributo à telescola. Como TPC (Trabalho Para Confinamento), os telealunos devem traduzir o texto que se segue do português coloquial para o formal, de preferência no formato de banda desenhada.
«O Zé dos Anzóis deitou-se com as galinhas, falou com os seus botões, consultou o travesseiro e ferrou o galho com um olho aberto e outro fechado. Habitualmente despertava com o rabo virado para a Lua, mas naquele dia acordou com os pés de fora porque na véspera lhe tinham dito que ia estar feito ao bife. A informação fê-lo ficar com o bicho carpinteiro e a sensação de ter as orelhas a arder. Sentiu a pulga atrás de uma orelha e a impressão de lhe estarem a fazer o ninho atrás da outra. Sem saber para onde se virar, por causa dos maus lençóis em que se encontrava, deixou-se ficar de molho, a passar pelas brasas e a pensar na morte da bezerra. Há alguém a querer fazer-me a cama, concluiu.
Levantou-se de pé atrás e com a telha. Sentiu uma pedra no sapato, disse para si próprio meti a pata na poça e tenho de descalçar esta bota. A barriga deu horas, apeteceu-lhe matar o bicho e dar ao dente. Estava com água na boca, mas tinha a sensação de que o caldo se tinha entornado e que cheirava a esturro. Não estava disposto a engolir sapos vivos naquela caldeirada, mas a coisa não ia ser canja. Que berbicacho!
Na véspera tinha levado com um balde de água fria. Tinha a cabeça em água e água pela barba. Pôs as barbas de molho e decidiu que não podia lavar as mãos, nem sacudir a água do capote, pois já era tempo de deixar de andar entre os pingos da chuva. Se querem lavar a roupa suja, ele iria levar a água ao seu moinho, nem que tivesse de remar contra a maré, sem abandonar o barco, nem meter água. Tudo aquilo trazia água no bico, mas não podia borrifar-se para o assunto. As coisas não podiam ficar em águas de bacalhau.
Estava com cara de pau e olhos de carneiro mal morto, quase a amarinhar pelas paredes acima e a bater com a cabeça nas paredes, mas sabia que não podia enterrar a cabeça na areia. Sentia-se na corda bamba e no fio da navalha, parecia uma barata tonta à nora sem saber a quantas anda. Duvidava ser capaz de dar conta do recado porque a coisa estava mal parada!
Pôs a mão na consciência. Tinha-se posto a jeito e dado barraca. Saiu da casca e dos eixos, pisou o risco, e, por isso, arranjou lenha para se queimar e sarna para se coçar. E também borrou a pintura quando meteu o pé na argola com aquele passo em falso, tendo sido apanhado com a boca na botija. Um bilhardeiro que queria mexer os cordelinhos cortou-lhe na casaca, meteu a foice em seara alheia, o bico onde não é chamado e deu com a língua nos dentes, o que fez com que lhe descobrissem a careca. Mas o tiro ia sair-lhes pela culatra.
Deixa-os pousar! Queriam entregá-lo aos bichos, mas ele não iria fazer figura de urso nem estava disposto a ser o bode expiatório de uma história do arco-da-velha. Atiraram-lhe uma casca de banana e andam com macaquinhos no sótão, mas o melhor é tirarem o cavalinho da chuva. Não ia ficar de braços cruzados, dar o braço a torcer e a mão à palmatória, meter o rabo entre as pernas, fugir com o rabo à seringa, enfiar a viola no saco ou baixar a bola, decidiu.
Deu voltas ao miolo e depois resolveu, num golpe de asa, enfrentar o boi pelos cornos. Agora é que a porca vai torcer o rabo. Como não ia dar de frosques, nem pôr-se na alheta, dirigiu-se a toque de caixa pela calada da noite até à reunião. Bateu com o nariz na porta, mas entrou pela porta do cavalo. Sem dar nas vistas, pôs-se à coca.
A reunião começou em cascos de rolha, na casa do diabo mais velho atrás do sol posto, onde o Judas perdeu as botas. Esteve marcada para as calendas, mas foi antecipada para a semana dos nove dias, lá para as quinhentas do dia de São Nunca à Tarde, o dia em que as galinhas tiveram dentes. Em vez de estar à cunha, a sala estava às moscas e só apareceu meia dúzia de gatos-pingados a dizer que ia cair o Carmo e a Trindade, todos eles fisgados em dar cabo do canastro ao Zé dos Anzóis.»
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