1.1.11

Um ícone


Ligado para sempre à data de hoje.


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Vemos, ouvimos e lemos


Poucos saberão, ou recordarão, que a Cantata da Paz, tão divulgada por Francisco Fanhais depois do 25 de Abril, foi por ele «estreada» numa Vigília contra a guerra colonial, na passagem do ano de 1968 para 1969, com letra propositadamente escrita para o efeito por Sophia de Mello Breyner. Republico por isso um texto que escrevi há dois anos.



1968 foi de facto um ano alucinante e 2008 não poderia terminar sem que se assinalasse um último 40º aniversário. Em 31 de Dezembro de 1968, cerca de cento e cinquenta católicos entraram na igreja de S. Domingos, em Lisboa, e nela permaneceram toda a noite, naquela que terá sido a primeira afirmação colectiva de católicos contra a guerra colonial, numa actividade formalmente «disciplinada». Com efeito, o papa Paulo VI decretara, em 8 de Dezembro, que o primeiro dia de cada ano civil passasse a ser comemorado pela Igreja como dia mundial pela paz e, alguns dias depois, os bispos portugueses tinham seguido o apelo do papa em nota pastoral colectiva.

Assim sendo, nada melhor do que tirar partido de uma oportunidade única: depois da missa presidida pelo cardeal Cerejeira, quatro delegados do numeroso grupo de participantes comunicaram-lhe que ficariam na igreja, explicando-lhe, resumidamente, o que pretendiam com a vigília:

«1º – Tomar consciência de que a comunidade cristã portuguesa não pode celebrar um “dia da paz” desconhecendo, camuflando ou silenciando a guerra em que estamos envolvidos nos territórios de África.
2º – Exprimir a nossa angústia e preocupação de cristãos frente a um tabu que se criou na sociedade portuguesa, que inibe as pessoas de se pronunciarem livremente sobre a guerra nos territórios de África.
3º – Assumir publicamente, como cristãos, um compromisso de procura efectiva da Paz frente à guerra de África.»

Entregaram-lhe também um longo comunicado [agora online] que tinha sido distribuído aos participantes, no qual, entre muitos outros aspectos, era sublinhado o facto de a nota pastoral dos bispos portugueses, acima referida, tomar expressamente partido pelas posições do governo que estavam na origem da própria guerra, ao falar de «povos ultramarinos que integram a Nação Portuguesa».

Discursos de Ano Novo


Enquanto esperamos pela alocução de Sua Excelência, Professor Doutor Presidente e Candidato, recordem-se outros tempos em que o inefável Américo Tomás filosofava para nosso deleite – era espectáculo que não perdíamos…

«Decorreu célere, como os que o precederam, o ano que acabou de sumir-se na voragem do tempo. Outro o substituiu, para uma vida igualmente efémera. Nesta mutação constante, afigura-se haver agora um fenómeno de visível incongruência, pois, quando tudo se processa a ritmo que se acelera constantemente, pareceria lógico que de tal circunstância resultasse um aparente alongamento no tempo e não precisamente o inverso. Se sempre o presente, mal o é, se torna logo em passado, nunca, como nos nossos dias, tão evidente verdade pareceu mais evidente.»

1 de Janeiro de 1966
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Ameaças para 2011 (1)


Uma visita.
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31.12.10

Oxalás


A todos os que por aqui passam, regularmente ou não, agradeço a companhia e desejo um excelente 2011 - «la historia continúa, más allá de nosotros, y cuando ella dice adiós, está diciendo: hasta luego».

Ojalases, del Río de la Plata con amor y con esperanza

Ojalá seamos dignos de la desesperada esperanza.

Ojalá podamos tener el coraje de estar solos y la valentía de arriesgarnos a estar juntos, porque de nada sirve un diente fuera de la boca, ni un dedo fuera de la mano.

Ojalá podamos ser desobedientes, cada vez que recibimos órdenes que humillan nuestra conciencia o violan nuestro sentido común.

Ojalá podamos merecer que nos llamen locos, como han sido llamadas locas las Madres de Plaza de Mayo, por cometer la locura de negarnos a olvidar en los tiempos de la amnesia obligatoria.

Ojalá podamos ser tan porfiados para seguir creyendo, contra toda evidencia, que la condición humana vale la pena, porque hemos sido mal hechos, pero no estamos terminados.

Ojalá podamos ser capaces de seguir caminando los caminos del viento, a pesar de las caídas y las traiciones y las derrotas, porque la historia continúa, más allá de nosotros, y cuando ella dice adiós, está diciendo: hasta luego.

Ojalá podamos mantener viva la certeza de que es posible ser compatriota y contemporáneo de todo aquel que viva animado por la voluntad de justicia y la voluntad de belleza, nazca donde nazca y viva cuando viva, porque no tienen fronteras los mapas del alma ni del tiempo.


(Via Joana Manuel no Facebook)
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As Boas Festas de Mr. Sarkozy

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O Pratido Comunista Francês lançou estas falsas BF de Sarkozy, que estão a dar que falar: pede desculpa aos ciganos, promete reforma aos 60 anos, etc., etc. O vídeo ainda está no Youtube, mas já terá sido retirado do Dailymotion.

Maiis eficaz do que 100 críticas ajuizadas, na minha modesta opinião.


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O melhor de 2010

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Três viagens, seis países. E muitos projectos para 2011.
Cultivo de chá, Himalaias Orientais (Índia)

Ninho do Tigre, Paro (Butão)

Dubrovnik (Croácia)

Liubliana (Eslovénia)

Bariloche (Argentina)

Deserto de Atacama (Chile)
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30.12.10

E por vezes


E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos. E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos.

David Mourão-Ferreira, 1973

Dito pelo próprio aqui.
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Ter um PR católico dá nisto


«Há 2010 anos, na manhã de Páscoa, espantadas por verem o túmulo vazio, as mulheres piedosas foram informadas por um anjo da ressurreição de Cristo. Mais de 20 séculos volvidos, fez-se mais alguma luz sobre este episódio bíblico num fórum tão improvável como o debate televisivo entre Cavaco Silva e Defensor Moura.

"Para serem mais honestos do que eu, têm de nascer duas vezes", declarou o algarvio, esperando pôr termo, com esta frase definitiva, ao massacre a que estava a ser submetido pelo adversário minhoto, a propósito do seu envolvimento e ligações a escândalos à fraude BPN, que nos vai custar pelo menos o equivalente ao TGV Lisboa-Porto-Vigo, que tanta falta nos faz.

Através desta epifania, ficamos a saber que a honestidade de Cristo e a Cavaco estão niveladas, apesar do filho de Deus nunca ter sentido a necessidade de apregoar aos quatro ventos as suas boas acções, ao invés de Aníbal, que no debate com o camarada Chico Lopes (o que ia descalço para escola) se deixou levar pela gabarolice de recitar uma lista de benfeitorias cuja autoria reivindicou, da qual constam a compra da Autoeuropa para Palmela e a atribuição do 14.º mês ao pensionistas (ambas as proezas cometidas com o nosso dinheiro).»

Jorge Fiel, no DN.
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Blogues d’Ouro


Agradeço muito sinceramente à Ana Paula Fitas que incluiu o «Brumas» na lista de blogues que «valeu mesmo a pena ler», em 2010.

Não sei se a ideia era que isto funcionasse como as queridas cadeias blogosféricas, o que me levaria a eleger aqui a minha lista, mas peço escusas: com o que para aí vai em termos de «lutas» entre blogues, já basta assim...
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Esquerda ou direita?


Ora cá está uma descoberta que poderá fazer poupar horas, dias, séculos de discussões! «Eu sou mais de esquerda do que tu?». Isso é que era bom! Mede-se a espessura da amígdala e do cingulado anterior e acaba a conversa. Quem é de direita tem a amígdala cerebelosa mais pronunciada enquanto, à esquerda, se mostra um cérebro mais proeminente na zona do cingulado anterior.

Resta saber se «há algo na nossa atitude política que se codifica na estrutura cerebral, através da nossa experiência», ou se «há algo nesta estrutura que determina ou resulta na atitude política que preferimos».

Nem dá para imaginar o leque de aplicações de uma tal descoberta, desde utilização pela ERC para garantir pluralismos a uma análise urgente do caso Fernando Nobre. E qual seria a amplitude do espectro a obter se o PS impusesse um rastreio geral aos seus militantes?

Fiquei sem perceber se é possível a coexistência de uma amígdala pronunciada com um cingulado proeminente. Espero que sim porque daria jeito para explicar um sem número de casos que por aí circulam…

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29.12.10

Para que a memória perdure


Foi aqui muito perto, paredes meias com o Alentejo e o Algarve, que a Andaluzia andou a contar as fossas das vítimas do franquismo e anunciou ontem a localização de 614 (40% das quais desconhecidas até agora), em 359 povoações. Nelas estarão enterradas 47.399 pessoas.

O «Mapa de fosas de las víctimas de la Guerra Civil y la posguerra en Andalucía» resulta do trabalho conjunto de associações memorialistas e de universidades, através do Comissariado para a Memória Histórica da Andaluzia, e nele se detalham, para cada uma das fossas localizadas, o seu contexto histórico, assassinatos, violações, escravatura e muitas outras formas de repressão.

Em resumo, «El objetivo del trabajo es claro, evitar que el miedo, la represión o la autocensura dejen ocultos episodios clave para conocer un conflicto que, según el estudio que acompaña el mapa, "se convirtió en un deliberado y metódico exterminio del enemigo político (...) que se sirvió de la guerra como contexto y pretexto (...) y dejó un legado de miles de víctimas". En Andalucía, los represaliados por el franquismo suman 130.199.»

De uma Guerra que acabou há 71 anos.

(Fonte)
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Fixemos o nome e a cara


Xi Jinping, mais do que garantido presidente e secretário-geral do partido Comunista da China a partir de 2012, é tido como «extraordinariamente ambicioso», «autêntico elitista», pragmático e sem «motivações ideológicas», não corrupto, conhecedor do Ocidente e praticante de artes marciais budistas.

Síntese complicada neste homem de 57 anos, filho da primeira geração de revolucionários e, por esse motivo, um dos «príncipes do regime» que merecem governar a China.

Os pais foram presos como contrarevolucionários na era de Mao, e só reabilitados por Deng Xiaoping em 1978, mas o jovem Xi Jinping, «mais vermelho do que os vermelhos», aderiu ao PC chinês em 1974.

Destinado a tornar-se em breve o homem mais poderoso do seu país e do mundo, veremos em que estado os encontrará daqui a um ano. A China terá crescido 10%, é mais do que provável que Liu Xiaobo continue preso e cada chinês poderá ter milhões de amigos no Facebook se Mark Zuckerberg e os dirigentes de Pequim se entenderem quanto aos mínimos de censura que estão dispostos a admitir. Quanto estado do mundo, esse é mais dificilmente previsível.

Esperemos que o presidente Mao, no seu imponente e feiíssimo mausoléu da Praça Tiananmen, não dê uma volta para lhe recordar que «o poder político nasce do cano da espingarda».

(Fonte)
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Quando a China desceu ao inferno


Mais um excelente texto de Francisca Gorjão Henriques, no P2 do Público de ontem.

«O regime chinês chama-lhe ainda um desastre natural. O historiador britânico Frank Dikottër assegura que foi um dos maiores assassínios em massa da história da humanidade. O Grande Salto em Frente fez em quatro anos pelo menos 45 milhões de mortos, diz. E só teve um protagonista: Mao Tsetung.

É preciso ir buscar os episódios mais negros da história do século XX para haver possíveis comparações com o que aconteceu na China entre 1958 e 1962: o gulag de Estaline, o holocausto de Hitler, o genocídio de Pol Pot.

O balanço das vítimas de toda a Segunda Guerra Mundial é de 60 milhões. O regime de Mao Tsetung foi rápido e em menos tempo matou à fome, por tortura ou homicídio, 45 milhões; foi como o genocídio do Khmer Vermelho multiplicado por 20, defende Dikottër.

Mas ao contrário dos outros episódios, as verdadeiras dimensões do Grande Salto em Frente continuam a ser muito pouco conhecidas, escreve o historiador. O livro Mao"s Great Famine - The history of China"s most devastating catastrophe 1958-1962 (A Grande Fome de Mao - história da catástrofe mais devastadora da China), publicado em Setembro pela Walker & Company, é ilucidativo. Durante aqueles anos, "a China desceu ao inferno".

A abrir, a frase do "Grande Timoneiro": "A revolução não é um jantar de convívio."«

Na íntegra aqui.

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O drama de um homem bom


Deus parece ter abandonado a Bélgica, onde não está a ficar pedra sobre pedra. Sem conseguir formar governo há mais de seis meses, não sabendo sequer se sobreviverá muito tempo como país, é também um dos cantos da Europa com mais casos de pedofilia dentro da Igreja. Desta vez com estrondo: um dos seus mais prestigiados membros, o cónego François Houtard, confirmou ter abusado de um menor, há 40 anos, depois de uma prima o ter agora denunciado.

Se o nome dirá pouco à maioria dos portugueses, o mesmo não acontecerá para quem se movimente hoje em meios alteromundialistas, se recorde ainda do seu activíssimo papel durante o Concílio Vaticano II e como fundador da revista Concilium (que acompanhei desde o primeiro minuto) ou, como eu, o tenha conhecido como professor na Universidade onde ambos estudámos: Lovaina, na Bélgica.

Estava em curso neste momento uma campanha no sentido de o seu nome ser proposto como candidato a Prémio Nobel da Paz 2011, mas Houtard já pediu que a mesma cessasse imediatamente. Membro importante do Fórum Social Mundial, sempre atento à problemática da globalização, Houtard recebeu, em 2009, um prémio da UNESCO pela Promoção da Tolerância e da Não-Violência.

Devia eu proclamar escândalo e condenação por ser conhecido mais um horrendo criminoso? Talvez, mas não consigo. Hoje, não me sai da cabeça o drama que este homem bom, de 85 anos, estará certamente a viver. Vítima, antes de mais, de uma absurda lei de celibato, que o obrigou a viver como anjo que não era e o empurrou para algo que certamente não queria.
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28.12.10

Um desenho, dois caminhos


Pode-se olhar para um cartoon, sorrir e passar à frente. Ou não. Este, do Público de hoje, levou-me muito longe porque temo que, mesmo que o Estado organizasse e subsidiasse uma revolta, os portugueses ficassem em casa à espera de dias melhores ou à procura de consensos, sem serem capazes de se revoltar. Mas admito que estou num dia especialmente pessimista…
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Preocupações de candidatos presidenciais


Esclarecer se era de facto indispensável construir uma tenda, alegadamente gigante, para as comemorações do Dia de Portugal, em Viana do Castelo, e quem pagou as cantigas de Kátia Guerreiro.

Leia os detalhes desta transcendente guerra presidencial. E tenha paciência: é o que se pode arranjar!...
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200 países, 200 anos

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Comer e calar


Durão Barroso manda calar os políticos europeus sobre a dívida soberana, diz que «é, realmente, um problema ouvir tantas opiniões durante a crise» e considera, portanto, que o facto de um ministro eslovaco afirmar que Portugal e a Grécia devem sair do euro é um perigo porque «os mercados financeiros estão a ouvir».

Cavaco acha que sim, apanha a boleia, e manda calar os políticos portugueses porque conhece «o comportamento que esperamos dos nossos credores» e sabe que dizer mal deles faz subir o desemprego em Portugal.

Tudo isto é normal? Os fantasmagóricos mercados são assim tão sensíveis que se guiam por  meia dúzia de bocas largadas entre uma garfada de roupa-velha e uma dentada numa fatia de bolo-rei (passe a piada…)? Querem fazer de nós mais parvos do que já somos?

A ler: Algorithms Take Control of Wall Street (link deixado na C. de Comentários pelo drmaybe).
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27.12.10

Teria 80


Jean Ferrat morreu há cerca de nove meses e faria hoje 80 anos.

Nesta entrevista, fala com Bernard Pivot sobre a juventude e a família. Aos 11 anos, soube que o pai era judeu - antes deste desaparecer, vítima do nazismo.


Pretexto para recordar Nuit et Brouillard – para sempre associada ao seu nome.



Ils étaient vingt et cent, ils étaient des milliers,
Nus et maigres, tremblants, dans ces wagons plombés,
Qui déchiraient la nuit de leurs ongles battants,
Ils étaient des milliers, ils étaient vingt et cent.
Ils se croyaient des hommes, n'étaient plus que des nombres:
Depuis longtemps leurs dés avaient été jetés.
Dès que la main retombe il ne reste qu'une ombre,
Ils ne devaient jamais plus revoir un été


La fuite monotone et sans hâte du temps,
Survivre encore un jour, une heure, obstinément
Combien de tours de roues, d'arrêts et de départs
Qui n'en finissent pas de distiller l'espoir.
Ils s'appelaient Jean-Pierre, Natacha ou Samuel,
Certains priaient Jésus, Jéhovah ou Vichnou,
D'autres ne priaient pas, mais qu'importe le ciel,
Ils voulaient simplement ne plus vivre à genoux.

Intifada contra o neoliberalismo?


Através da Attack Espanha, cheguei a um importante artigo de Jónatham F. Moriche, significativamente intitulado 2011, ¿una intifada europea contra la dominación neoliberal?

Tentarei resumir, sobretudo através de muitas citações (demasiado longas, eu sei, mas não deu para cortar mais…) Este era o tipo de texto que, desde há algum tempo, eu esperava encontrar.

Depois da crise do mercado hipotecário nos EUA em 2008, e das respectivas consequências que contagiaram o plano económico um pouco por todo o mundo em 2009, chegou finalmente a crise política no ano que agora termina. Mas enquanto até há relativamente pouco tempo apenas foram atingidas minorias pobres e mais ou menos periféricas, as vítimas são agora «los acomodados habitantes del centro, privilegiados beneficiarios del gran pacto social posterior a la II Guerra Mundial, que mediante importantes concesiones de las élites del capital a las fuerzas del trabajo (en materia de libertades civiles, derechos laborales o servicios públicos) consolidó una asentada paz social de treinta años en el corazón del sistema-mundo capitalista.»

Perante esta realidade, Moriche estranha a apatia da população europeia perante a devastação das suas condições de vida e o descrédito das instituições políticas democráticas. E não exclui a esquerda: «La izquierda europea se interroga pasmada ante este mórbido estancamiento de la iniciativa ciudadana ante su propia depauperización económica y sojuzgamiento político.» Esquerda que, em vez de enfrentar esta crise do capitalismo, lhe responde com a sua própria crise «que es no tanto el empuje de sus adversarios como su propia debilidad, fragilidad y dispersión lo que está haciendo posible que de esta crisis esté emergiendo, no una alternativa frente al neoliberalismo, sino una reforzada y endurecida hegemonía neoliberal».

Se a Espanha se destaca na referida apatia, não está sozinha: «La abismal apatía española no sirve, afortunadamente, para retratar al conjunto de la sociedad civil y la clase trabajadora europea, pero tampoco en Grecia, Francia, Italia o el Reino Unido, donde la respuesta en la calle ha alcanzado picos de notable intensidad, la izquierda ha conseguido embridar la deriva de políticas de austeridad y recortes sociales, ni mucho menos imponer un rumbo alternativo hacia un proyecto social y económico propio. ¿Por qué? La mayor parte de las principales organizaciones de la izquierda europea permanecen ancladas en posiciones que, si es que una vez fueron válidas, en tiempos mejores de abundancia material y estabilidad institucional, ya no lo son, y difícilmente volverán a serlo en un futuro cercano».

«El completo fracaso de los líderes del ala más sensata y pactista del neoliberalismo (Barack Obama en EEUU, José Luís Rodríguez Zapatero en España, José Sócrates en Portugal…) pone en evidencia, hasta para sus más sinceros y bienintencionados defensores, la inutilidad de las estrategias de conciliación, y la “traición de la socialdemocracia” ya no es un reproche de la izquierda revolucionaria.»

Os próprios sindicatos, agrupados na sua Confederação Europeia, continuam «sin reconocer esa avanzada agonía democrática, convocando pálidas manifestaciones y disciplinados paros laborales absolutamente inofensivos, para forzar rondas negociadoras absolutamente ineficaces frente a gobiernos que casi nada pueden ya negociar porque casi nada pueden ya decidir».

Assim sendo, «sólo el salto de las grandes mayorías sociales y de sus organizaciones representativas a una dinámica abierta y decididamente insurreccional puede forzar un nuevo reparto de cartas en el titánico conflicto de clases que se pretende encubrir bajo el espeso manto de cifras de esta crisis. (…) La desobediencia y la sedición no son delitos sino obligaciones cívicas ante instituciones y gobiernos que contravienen sus propios principios fundacionales (…). No se trata, pues, de lanzar una insurrección, sino de defenderse con medios proporcionados a una opresión tirânica».

«No será como en la Inglaterra de 1642, ni como en la Francia de 1789, ni como en la Rusia de 1917, porque la Historia nunca se repite de forma idéntica a sí misma por muchas analogías parciales que podamos encontrar entre aquellas y estas circunstancias históricas.»

Não valerá a pena, julgo eu, entrarmos nas habituais querelas, para já dispensáveis porque provisoriamente inúteis, de saber se a rebelião e a revolta levarão a algo que deva mais tarde ser apelidado de «revolução» (assumindo-se que todas as revoluções começam com revoltas sem que estas desemboquem necessariamente naquelas), mas o que parece urgente é não aplaudirmos, mesmo que secretamente, a reprovável brandura dos nossos ordeiros costumes, que nos mantém confortavelmente fora da rua. E, sobretudo, tomarmos desde já partido, como muito bem lembrou o Zé Neves, numas Boas Festas que poderão ter passado despercebidas, entre o brilho das luzes natalícias e as compras do Black Friday no Corte Inglés: «E que conversa é a nossa que quando vemos confrontos políticos nas ruas de Atenas ou de Londres ou de Roma ou de Maputo nos limitamos a falar do desespero de quem se revolta e só depois tomamos (quando tomamos) partido?» Nem mais.

P.S. - Sobre Portugal, ler: "Explosão" social poderá suceder à estupefacção, por Boaventura Sousa Santos e António Barreto.
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Comunismo / Capitalismo


  • 1949 – A maioria dos intelectuais acreditava que o comunismo salvaria a China.
  • 1969 – Os mesmos intelectuais acreditavam que a China (com a sua Revolução Cultural) salvaria o comunismo.
  • 1979 – Deng Xiao Ping percebeu que só ao capitalismo salvaria a China.
  • 2010 – O mundo inteiro acredita que só a China pode salvar o capitalismo.
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Talvez com magia


«Tudo indica, a crer na Oposição, que os "animadores sinais de recuperação económica" que o primeiro-ministro garantiu, na sua mensagem de Natal, existirem no país sejam como as armas de destruição maciça que havia no Iraque (e de que o actual presidente da Comissão Europeia, à altura recepcionista nos Açores, assegurou ter visto provas), e que iremos passar os próximos anos inutilmente à sua procura.»

Manuel António Pina, no JN.
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26.12.10

Sem búzios nem cartomantes

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No chamado coração da Europa

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Um bom resumo da história da Bélgica, que ajuda a compreender a situação a que se chegou. Sem que seja possível entrever o que o futuro reserva.


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O preço dos nossos «gadgets»»

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Foxconn, uma fábrica da China de onde sai um grande número de iPhones, foi notícia há alguns meses pelas piores razões: o número de operários que se suicidaram num curto espaço de tempo. Vale a pena ver este vídeo e ler o artigo que se segue (transcrito na íntegra por ser de acesso restrito).


A ler:

Foxconn, l’envers du High-tech

Jordan Pouille - publié le 23/12/2010

Les portables fabriqués par Foxconn seront nombreux au pied du sapin. Mais la notice restera muette sur les conditions de travail…

La journée commence toujours très tôt à Longhua, cette ville à une demi-heure de Shenzhen, une métropole industrielle du sud de la Chine. D’un pas alerte, des dizaines de milliers d’ouvriers quittent leurs dortoirs, simultanément. Il n’est pas 7 heures. Ils affluent en silence, un bol de nouilles au bœuf à la main, vers la porte nord de l’usine, ce gigantesque bunker gris de 3 km 2 tapissé de filets antisuicides, censés dissuader les travailleurs de se défenestrer. Mais, rien n’y fait. Le 4 novembre, un autre ouvrier s’est jeté du haut de son dortoir.

En 2010, 14 ouvriers travaillant chez ce géant chinois de l’électronique se sont suicidés. À tel point qu’un rapport de 83 pages, réalisé par des chercheursde 20 universités de Chine, de Taïwan et de Hongkong, a dénoncé les conditions de travail « inhumaines » de ses 920 000 employés, dont 300 000 à Longhua. Le rapport, faisant état d’insultes et de coups des contremaîtres, d’horaires démentiels (jusqu’à 80 et 100 heures par semaine !) et de dortoirs entassés, osait même une comparaison « avec les camps de concentration ». Mise sous le feu des projecteurs, la direction de l’usine a annoncé toute une série de mesures (fin des brimades, ouverture de centre de consultation, paiement des heures supplémentaires), dont une hausse des salaires de 67 % à partir du 1er octobre. L’occasion de voir si ces promesses ont été tenues sur le terrain. Sur le chemin de ce plus grand atelier du monde, nous faisons la connaissance de Ting Liao. Elle a 17 ans, vit dans une chambre de dix lits, au 12e étage du dortoir A8 et travaille dans l’atelier N2. Elle porte la veste Foxconn rose et gris, les couleursde la ligne d’assemblage d’Apple, où on l’a affectée il y a deux ans. Tout en marchant, la jeune fille nous confirme que sa paie a été fortement aug¬mentée début novembre, confor¬mément aux promesses estivales de Terry Gou, le PDG milliardaire : « En comptant les heures supplémentaires, je gagne 3 200 yuans (352 €), contre 1 400 yuans (154 €) en juin.»