22.9.12

A grande conspiração



Recomendo a leitura da crónica semanal de Miguel Sousa Tavares (sem link), com o título deste post, no primeiro caderno do Expresso de hoje. Sei que me repito, mas não me importo: já não são apenas os perigosos esquerdistas que alertam para o projecto ideológico subjacente aos «ajustamentos» de que estamos a ser objecto e vítimas e que o caracterizam mais ou menos explicitamente. 

Alguns excertos do texto, que me parecem «cristalinos»: 

«Há quase um ano que o venho escrevendo aqui: o programa económico deste Governo não se limita a tentar endireitar as contas públicas à custa de sacrifícios cuja insensibilidade e ineficácia são de bradar aos céus. Há também uma agenda escondida, que envolve uma vingança sobre a história, uma desforra de classe, quase uma alteração dos valores cívicos em que a Europa se funda. (...) 

O objectivo de Passos Coelho e do seu quinteto de terroristas económicos (Gaspar, Moedas, António Borges, Braga de Macedo e Ferraz da Costa) é outro bem diferente: eles querem mudar o paradigma económico, mesmo que para tal tenham de destruir o país, como, aliás, estão a fazer. Fiel aos ensinamentos dos seus profetas americanos, esta extrema-direita económica que nos caiu em cima acredita que o Estado deve deixar de gastar recursos com quem não garante retorno e concentrar-se apenas em apoiar, ajudar, estimular e dar livre freio aos poucos negócios escolhidos — que, assim, não poderão deixar de prosperar. (...) 

Isto tornou-se claro com a história da TSU. Acreditar que uma medida tão irracional, fundada em estudos que nem se atrevem a mostrar e desacreditada por todos, capaz de pôr o país na rua e ameaçar o tão louvado consenso social e político, terá sido tomada por mera incompetência e precipitação é tomá-los por estúpidos. O que se pretendia não era aliviar a tesouraria das empresas ou potenciar as exportações. O que se pretendia, como ficou evidente na entrevista do PM à RTP, era garantir uma “vantagem” permanente: a baixa de salários. Porque esse é um dos objectivos centrais desta cruzada: desvalorizar por todas as formas, incluindo por via fiscal, o valor do trabalho. O princípio é simples e, se atentarem bem, tudo segue uma ordem pré-estabelecida: primeiro, rever a legislação laboral, para tornar os despedimentos fáceis e baratos; por essa via, criar um batalhão de desempregados que pressionem o mercado de trabalho, fazendo baixar os custos salariais; assim, potenciar os lucros de algumas empresas de mão-de-obra intensiva; e, assim, garantir o sucesso do “ajustamento” da nossa economia, “so help them God”.

Lembrem-se do Hamlet: "a loucura dos poderosos não pode passar sem vigilância".» 
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Maria Benedita, 91 anos



Esteve ontem em Belém. 

Conheço-a há muitos anos, nem sei dizer quantos. Pertenceu, tal como eu, a várias gerações de católicos que não se conformaram com a ditadura e que participaram, à sua maneira, nas lutas que a fariam cair. Em condições especiais: mãe de nove filhos, a MB pertencia a «boas famílias», do mais salazarista que imaginar se possa, tanto no plano estritamente político como religioso. Tinha dois cunhados que recordo como figuras absolutamente sinistras do clero português, um marido de que já falarei.

Esteve sempre «presente», sobretudo a partir da década de 60 e até ao 25 de Abril. Participou, por exemplo, na vigília da capela do Rato e, muito antes, vivi com ela um episódio que aqui recordo. 

Entre Abril e Novembro de 1967, desenvolveu-se todo um processo relacionado com a perseguição ao padre Felicidade Alves, uma das figuras centrais da história da luta dos católicos contra o fascismo, que era prior de Belém (paróquia a que MB pertencia) e que acabou por ser destituído do cargo. Houve inúmeras reacções ao facto e, a páginas tantas, um grande grupo de pessoas solidárias com o padre Felicidade dirigiu-se de Belém para o Patriarcado, onde se acantonou no átrio e numa pequena área do passeio, protegida por um gradeamento e por isso a salvo da intervenção da polícia que se perfilava frente ao palácio. Foi pedida uma audiência a Cerejeira que não apareceu mas enviou um secretário com a missão de dispersar os presentes. Ficará na memória de todos «Esta casa é nossa!», um grito repetidamente lançado nessa tarde, no seu jeito bem peculiar, por Francisco de Sousa Tavares. O Cardeal não nos recebeu, mas estava reunido, a essa mesma hora, com alguns paroquianos de Belém muito activos contra o padre Felicidade. Quando essa reunião terminou e os participantes desceram a escada, deu-se uma cena patética: uma dessas pessoas, salazarista ferrenho, viu, no meio da multidão que se encontrava no átrio, a mulher (a MB) acompanhada por uma das filhas. Gritou mandando-as para casa, elas não arredaram pé e choraram abraçadas, silenciosamente. Inesquecível, por muito tempo que eu viva.... 

Estive anos sem ver a MB. Em 2004, encontrei-a, já com 83 anos, lindíssima e muito calma como sempre, numa manifestação, frente ao palácio de Belém, contra a possível nomeação de Santana Lopes como primeiro-ministro. Disse-me então: «Sabe? Eu estou cansada mas era importante vir, não consegui ficar em casa.»

Ontem, no mesmo local, não a encontrei. Mas soube que lá esteve por uma imagem num vídeo e por esta fotografia que a Myriam Zaluar hoje me «ofereceu». Quando meteu conversa com ela, sem a conhecer, obteve como resposta: «Nós temos de lutar!»

Exacto. Continuemos.
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Na noite em que o Conselho ignorou o povo



O presidente da República esteve reunido, durante oito horas, com cerca de duas dezenas de senadores do País. No fim e como previsto, um não-senador leu um comunicado. Inócuo, incolor e inodoro. 

Era de esperar outra coisa? Não, de modo algum. Já se sabia que se ia dizer que a coligação voltou a estar bem muito obrigada e que a TSU vai ser substituída por outras medidas aparentemente menos canhestras. E, também, que não faltariam uns parágrafos bem-pensantes sobre necessidade de desenvolvimento, de consensos, diálogos e generalidades do mesmo tipo.

Durante muitas horas, milhares de pessoas em Lisboa, e muitas outras espalhadas pelo país, deram ao conclave e aos seus membros a importância suficiente para esperarem, de pé, e lançarem gritos de protesto, de apelo, de raiva. Continuaram o que várias centenas de milhares de portugueses tinham começado alguns dias antes.

Mas não mereceram uma simples referência no longo texto do comunicado, por mais ligeira e não «comprometida» que fosse. Foram ignorados. Os senadores limitaram-se a vê-los, através dos vidros dos carros topo de gama em que saíram a correr do palácio.

Quando os mais altos responsáveis de um Estado ignoram, oficialmente, que o povo está na rua, com a dimensão e o civismo mais do que demonstrados, entram em guerra contra ele. São agressivos – violência é isto. 
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21.9.12

Um momento alto



(Via Joana Manuel no Facebook)
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À espera dos conselheiros...



Estiveram muitos, ainda estão muitos em Belém. Muitas palavras de ordem não são meigas, muitos cartazes também não. Mas cantou-se «Acordai!» e «Grândola, vila morena» também. O país está vivo.




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Portas ao poder



As crónicas de Ricardo Araújo Pereira regressaram à Visão e eu com elas. Esta é a de ontem. 

«Portas é um dos poucos políticos do mundo com habilidade suficiente para criar uma crise enquanto se gaba de a ter evitado. 

Por isso, o principal aliado de Passos Coelho acaba por ser António José Seguro. (...) A minha proposta é que entre em palco ao som do apito da mira técnica. Aquele silvo contínuo que a televisão transmite quando a programação ainda não começou. Mesmo assim, receio que seja demasiado excitante.» 

Na íntegra AQUI.
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Passa por mim em Belém



... num Conselho de Estado perto de ti.
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Too much



«Nos 15 minutos que o Sr. Passos Coelho levou para anunciar o seu esquema, na televisão, no início deste mês, realizou a notável proeza de unir não só os partidos de oposição contra o seu plano "intolerável", como também sindicalistas, grandes empresas e economistas. (...) 

As políticas de Passos Coelho podem ter conseguido sublinhar as diferenças entre Portugal e a Grécia. Mas ele está também a descobrir que a austeridade não pode levada para além de um limite que é determinado pelos eleitores, quer estes protestem violentamente em Atenas ou marchem pacificamente em Lisboa.» 

Na íntegra, o texto de The Economist: The tipping point - How much austerity is too much?

20.9.12

João Gil presidente de Cascais?



Nem os dados de que disponho, nem mesmo a Wikipedia, me ajudam a perceber que parte do currículo de João Gil é que o habilita minimamente a ser candidato do PS à presidência da Câmara de Cascais.

Julgava eu que gerir um dos municípios mais complicados da grande Lisboa, por muitas razões, com uma população superior a 200.000 habitantes, exigia algo para além de uma carreira de músico e da convicção de «que é hora de mudar Portugal». 

Erro meu, certamente. Sempre a aprender. 
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Belém, 21 de Setembro: «Acordai!»



«Acordai» vai ser cantado em frente ao palácio de Belém na sexta-feira
 



Acordai
acordai
homens que dormis
a embalar a dor
dos silêncios vis
vinde no clamor
das almas viris
arrancar a flor
que dorme na raíz

Acordai

acordai
raios e tufões
que dormis no ar
e nas multidões
vinde incendiar
de astros e canções
as pedras do mar
o mundo e os corações

Acordai

acendei
de almas e de sóis
este mar sem cais
nem luz de faróis
e acordai depois
das lutas finais
os nossos heróis
que dormem nos covais
Acordai!

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Rui Ramos e o reabrir da polémica sobre a “História de divulgação” do Estado Novo


Continuo a publicação, deliberadamente selectiva, de textos que se inserem na polémica em causa. Hoje, este, de Luís Reis Trogal, editado no Público. 

Em Janeiro de 2011 apresentei uma comunicação sobre a historiografia do Estado Novo num colóquio organizado na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Entre outras considerações, abordei criticamente os textos de dois historiadores: Rui Ramos e Filipe Ribeiro de Meneses. Assistimos agora a uma polémica entre Manuel Loff e Rui Ramos, nas páginas do PÚBLICO, que se alargou a um artigo, que não tive ocasião de ler, de António Araújo, a uma pequena, violenta e inconveniente nota de Maria Filomena Mónica, e, depois, a vários outros textos de valor e significado diferentes, entre eles um artigo de um dos melhores especialistas do Estado Novo, Fernando Rosas. 

Não querendo entrar nas questões mais pessoais que se levantaram, achei que não devia ficar de fora, dado que me refiro constantemente nos meus textos à falta de um debate público sobre a historiografia e sobre outros temas de ciência e de cultura. Limito-me, porém, por agora, a isolar e a adaptar o texto que escrevi então sobre Rui Ramos, que faz parte, portanto, de um artigo mais lato e complexo que continua à espera de ser publicado nas actas do referido colóquio. Como se verá, não é, pois, a primeira vez que a obra de Rui Ramos suscita, saudavelmente, alguma polémica. A reedição da História de Portugal em pequenos volumes pelo Expresso, coordenada por este historiador, veio, afinal, reabrir velhas questões. 

A obra, no seu conjunto, mereceu, obviamente, elogios desde a sua apresentação, na Sociedade de Geografia, pelo sociólogo António Barreto, que, sobretudo, louvou o seu sentido narrativo e de fácil compreensão, onde estava ausente um exercício teorizador. No entanto, a parte relativa ao regime Salazar-Caetano, assinada por Rui Ramos, provocou logo alguma discussão, proporcionada pelo trabalho da jornalista São José Almeida, que entrevistou e transcreveu pequenos passos das opiniões emitidas por alguns historiadores do Estado Novo, como António Costa Pinto, Manuel de Lucena, Manuel Loff, Irene Flunser Pimentel, Fernando Rosas, para além de afirmações do próprio Rui Ramos. O artigo teve o sintomático título “A História de Rui Ramos desculpabiliza o Estado Novo” (PÚBLICO, 31 de Maio de 2010). 

Não valerá a pena analisar cada opinião, pois não se chegaria a grandes conclusões, dado até, precisamente, o carácter de curtas passagens que foram extraídas pela jornalista às palavras de cada um dos interlocutores. Apenas poderei resumir esse debate (se é que de debate se tratou) com a própria síntese da jornalista do PÚBLICO: “Rui Ramos lamenta que em Portugal a História seja vista ‘a preto e branco, ou esquerda ou direita’. E que se conviva mal com diferentes interpretações do passado. Mas outros historiadores vêem na mais recente História de Portugal, coordenada por este autor, um discurso que desculpabiliza o Estado Novo e diaboliza a I República. Há mesmo quem fale de ‘legitimação’ do discurso de Salazar. E quem acuse esta História de ignorar a violência daqueles anos”. 

Não entro nessa discussão para que, de resto, não fui convidado, mas posso sim discutir a metodologia de análise de Rui Ramos. 


Sondagem, troikistas e anti-troikistas



Segundo uma sondagem da Universidade Católica para o DN, JN, Antena 1 e RTP, ontem divulgada, as percentagens de votos a obter pelos diferentes partidos com assento na AR , se se realizassem agora eleições legislativas, seriam as indicadas na figura. 

Algumas comparações:

Partidos pró-troika (PSD + PS + CDS)
  • Legislativas 2011 – 79% 
  • Sondagem actual –  62% 
Partidos anti-troika (CDU + BE)
  • Legislativas 2011 – 18% 
  • Sondagem actual –  24% 


LEITURA OPTIMISTA (Se PS romper com troika antes das próximas eleições):

Partidos pró-troika (PSD + CDS) 
  • Legislativas 2011 – 51% 
  • Sondagem actual  – 31% 
Partidos anti-troika (PS + CDU + BE)
  • Legislativas 2011 – 46% 
  • Sondagem actual  – 55% 


Duas interrogações:

Deste possível conjunto anti-troika, o PS é o partido que menos sobe, tendo em conta os resultados das legislativas e a sondagem: de 28 para 31%. Subiria mais se já tivesse largado o MoU? 

A subida de 4 para 11% de votos Brancos e Nulos é muito preocupante. Desceria se o PS já tivesse largado o MoU? 
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19.9.12

O Gaspar vai lá estar, o filho de Baltasar (*) também, nós seremos o Belchior



(*) Marcelo, filho de Baltasar Rebelo de Sousa. 

No dia 15 de Setembro o país tomou as ruas para dizer BASTA!, naquelas que foram as maiores manifestações populares desde o 1º de Maio de 1974. Exigimos o rasgar do memorando da Troika e a demissão deste governo troikista.

Se o governo não escuta, que escute o Presidente da República e o seu Conselho de Estado.

Não é não! 

Não queremos apenas mudanças de nomes, queremos mudanças de facto. A 21 de Setembro iremos concentrarmo-nos junto ao Palácio de Belém para demonstrar que 15 de Setembro não foi uma mera catarse colectiva, mas um desejo extraordinário de MUDANÇA DE RUMO! 

Que se Lixe a Troika! Que se Lixem os Troikistas! Queremos as Nossas Vidas! 
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Não é o único


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Num outro 19 de Setembro



Exactamente há 37 anos, em 19 de Setembro de 1975, Pinheiro de Azevedo tomou posse como primeiro-ministro do VI Governo Provisório que sucedeu ao último presidido por Vasco Gonçalves, num ambiente de grande agitação política e social. 

Disse a páginas tantas:
«Como o senhor Presidente da República, também eu rejeito a social-democracia como objectivo final da revolução. Pretendo incluir-me num esforço conjunto, consciente e responsável, centrado na edificação da República socialista portuguesa. (...) 
Admitimos partidos que defendam a social-democracia, com os quais consideramos ser necessário e útil colaborar, sem, no entanto, lhes permitir tomar a direcção política do processo revolucionário. 
Permitimos outros partidos capitalistas, definindo-os, desde já, como oposição ao socialismo que pretendemos e não transigindo com acções contra-revolucionárias.» 

Ler hoje este excerto do discurso fará sorrir muitos e outros achá-lo-ão absolutamente surrealista – compreensivelmente. A mim, dá-me esperança: quando se viveu tudo isto, quando se viu um povo sobreviver a cambalhotas destas em menos de quatro décadas, tem-se a certeza de que não sucumbirá por causa das patetices que vivemos nestes dias, por mais gravosas que estas sejam. Estamos a ser governados por incompetentes, agora mais ou menos assustados e que em breve passarão à (pequena) história. Não é o fim dos tempos.

Olhar para o passado ajudar a relativizar o presente e, certamente, a perspectivar o futuro. 
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A ouvir atentamente


Ontem, às 13:00.

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Teresa Horta, o director da Biblioteca Nacional – e a procissão ainda agora começou




 «Na realidade eu não poderia, com coerência, ficar bem comigo mesma, receber um prémio literário que me honra tanto, cujo júri é formado por poetas, os meus pares mais próximos - pois sou sobretudo uma poetisa, e que me honra imenso -, ir receber esse prémio das mãos de uma pessoa que está empenhada em destruir o nosso país.» 



Em carta de demissão, enviada no dia 11 de Setembro: «É assim absolutamente inaceitável ser cúmplice destas acções, enquanto Director-Geral, participando na delapidação de Portugal e dos seus recursos, em benefícios de grupos económicos, com o esmagamento das classes trabalhadoras e do domínio, no campo político, da Maçonaria, entidade que sempre combati. Já me desvinculei do PSD, de que já não sou militante, e não desejo voltar a ter qualquer colaboração com esta instituição, que nada tem a ver com a que, a partir de Maio de 1974, ajudei a desenvolver e a afirmar-se.» (*) 

(*) Texto da carta de Pedro Dias aqui.
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18.9.12

As Cidades e as Praças (45)





Praça José Fontana (Lisboa, 15/9/2012)

(Para ver toda a série «As Cidades e as Praças», clicar na etiqueta «PRAÇAS».)
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Do não-cidadão António José Seguro




«Sei que há espaço para os partidos políticos, que devem fazer o seu trabalho, e espaço para a cidadania.» Enquanto o chamado «maior partido da oposição» tiver um líder que faz separações destas, não irá longe. 

Se, por uma estranhíssima hipótese, o PS convocasse amanhã uma manifestação, os «cidadãos» deviam abster-se de comparecer? As ruas são dos partidos às segundas, quartas e sextas e dos cidadãos à terças, quintas e sábados (e descansam ao domingo, como deus criador do universo)? 

Mas António José Seguro teve outra razão, essa, sim, perfeitamente válida para não ter ido à manifestação de Sábado: é que esta foi convocada CONTRA A TROIKA. Fugiu à questão quando o entrevistador lha recordou expressamente, como não podia deixar de o fazer: que se saiba, afastar-se da troika é um projecto que não lhe assiste... 
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Tudo se arranja



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Sem velas nem cartas de marear



«O Conselho de Estado irá discutir o enigma de como navegar num barco sem velas e sem cartas de marear. A tentação será a de entrar num tipo de governo em "modo Relvas". Um governo sem credibilidade que, para se manter, recua em todas as frentes e remodela os seus ministros mais inócuos. Mas poderá o País dar-se ao luxo de confundir o adiar de um naufrágio com a resposta que o poderá manter vivo na luta pela sobrevivência?» 

Viriato Soromenho-Marques

17.9.12

Não para tomar o Palácio de Inverno



... até porque está muito calor, mas lá iremos, na próxima sexta-feira, às 18:00. 
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E os bispos falaram sobre a crise...



O Conselho Permanente do episcopado português acaba de divulgar um comunicado sobre a situação portuguesa, que considero lamentável, também mas não só, pelo seu carácter «redondo» e inócuo, sem vestígios de ousadia, frontalidade ou carisma de qualquer tipo. 

Se é verdade que se recorda que deve haver « equilíbrio entre finanças e economia» e que os mercados estão «sujeitos a uma dimensão ética de serviço à humanidade», e se revela preocupação com o desemprego e a falta de equidade social, todo o tom de grande parte do documento é o de um apelo a que se garanta a «estabilidade política» pela «busca permanente do maior consenso social e político» já que, em democracia, «as “crises políticas” deverão ser sempre excepção» porque, «em momentos críticos, podem comprometer soluções e atrasar dinamismos na sua busca». 

Mais explicitamente: é necessário superar «as legítimas divergências, num alargado consenso nacional» entre «governo e oposição, partidos políticos, associações de trabalhadores e de empresários, etc.» E mais ainda: «a coragem para aceitar que momentos difíceis podem ser a semente de novas etapas de convivência e de sentido colectivo da vida». Mas o que é isto?!!! 

Nem uma frase de sobressalto explícito, claro, sem peias, em relação às medidas drásticas que a sociedade portuguesa, praticamente em bloco, está a recusar. Dois dias depois de as ruas do país terem sido inundadas por multidões de portugueses activos e em desespero pela situação em que o país se encontra, e querendo recuperar o futuro que lhes querem sonegar, os bispos deste país conseguem ignorar totalmente este acontecimento não lhe consagrando sequer uma palavra, uma vírgula, um dos quase 5.000 caracteres do texto! Enclausurados entre paredes. 

Só a diminuta influência que a instituição que governam tem na vida concreta da esmagadora maioria dos portugueses fará com que este texto seja acolhido com um indiferente encolher de ombros. Mais um.

P.S. – Só agora li estas declarações feitas à margem do Documento.
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Para além dos ecrãs


O Filipe Caetano (sim, o mesmo que nos entra pela casa dentro, através da TVI) criou um blogue e escreveu um belo primeiro texto. 

«São duas da manhã e tu dormes ao meu lado. Crio este blog a pensar em ti, para que um dia possas ler e perceber o país e o mundo que existia quando nasceste.(...) 

Escrevo-te poucas horas depois de Portugal ter assistido a uma das maiores manifestações de sempre desde a revolução de 25 de Abril de 1974. Muitos milhares de pessoas saíram à rua, em várias cidades, mostrando a sua insatisfação com a situação do país. Protestam contra um Governo, contra os credores de um empréstimo que permite o pagamento de uma máquina estatal insuportável. Protestam porque não vêem saída. (...) 

Mas desta vez não fui para a rua. Estava contigo ao colo e só pensava no futuro que vais ter. Sinto uma revolta imensa não pelas ultimas medidas do Governo. Só quem não estava atento ficou surpreendido. E muitos estavam desatentos. Sinto revolta pelo estado a que o pais chegou e pela enorme cegueira de quem pretende construir uma sociedade diferente à força quando não receberam um mandato para o fazer.» 

 Na íntegra aqui.
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O povo saiu à rua num dia assim



Um belo texto de Maria de Deus Botelho

Sabes, Avô, hoje fui até à Avenida dos Aliados, no Porto. Fui juntar-me a tantos que, como eu, não quiseram ficar em casa desta vez e preferiram ser parte activa nesta luta por um país mais justo, um país mais solidário. Éramos tantos, Avô… Um mar de gente, de todas as idades. Vi crianças da idade do teu bisneto que não chegaste a conhecer, vi velhos da idade que terias hoje se a vida não te tivesse levado antes do tempo. Cruzei-me com homens e mulheres que podiam ser meus pais, que seguramente sacrificaram tanto para darem aos filhos a educação que muitos deles não tiveram e que, agora, os vêem sair do país em busca de um futuro que, aqui, já não têm.

Estavam lá gerações inteiras, Avô. Pais que levavam os filhos e filhos que levavam os pais. Avós que se apoiavam nos netos e netos que estavam ali também pelos seus Avós. Todos em luta serena e pacífica.

Fomos pacíficos mas não fomos silenciosos. Ouviram-se cânticos, gritaram-se palavras de ordem; bateram-se palmas e lançaram-se assobios; cantou-se o Hino, Avô, A Portuguesa, que sempre te encheu o peito. Empunharam-se cartazes com dizeres mais ou menos criativos. Tudo feito por gente que se recusa a desistir, que renega a resignação, que insiste em lutar.

Hoje, Avô, eu fiz aquilo que me ensinaste toda a vida: ergui bem alto a cabeça e exigi os direitos por que tanto lutaste. Hoje, a minha voz também se fez ouvir, contra o exagero, contra o sacrifício desmesurado, contra o retrocesso. Hoje, fui verdadeiramente tua neta: um soldado na luta incessante por um futuro melhor, mais digno, mais verdadeiro.

Foi o começo, Avô. Será preciso muito mais, será necessário ser muito melhor. Mas hoje, Avô, eu fiz aquilo com que sonhei tantas vezes: eu comecei mesmo a mudar o mundo.

Se cá estivesses, provavelmente ter-me-ias pedido cautela; assim, vieste comigo e a tua voz foi a minha voz, a tua força foi a minha força. Foi quando te senti em mim que me lembrei do cântico que tantas vezes cantámos no jardim da casa da aldeia: “…o povo é quem mais ordena…”. Também se cantou, Avô. Bem alto, como deve ser. O povo saiu à rua. E fez-se ouvir.

(Daqui.)
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16.9.12

Manifestação – Reunião do Conselho de Estado



No dia 15 de Setembro o país tomou as ruas para dizer BASTA!, naquelas que foram as maiores manifestações populares desde o 1º de Maio de 1974. Exigimos o rasgar do memorando da Troika e a demissão deste governo troikista.

Se o governo não escuta, que escute o Presidente da República e o seu Conselho de Estado.

Não é não!

Não queremos apenas mudanças de nomes, queremos mudanças de facto. A 21 de Setembro iremos concentrarmo-nos junto ao Palácio de Belém para demonstrar que 15 de Setembro não foi uma mera catarse colectiva, mas um desejo extraordinário de MUDANÇA DE RUMO!

A Luta Continua!

Que se Lixe a Troika! Que se Lixem os Troikistas! Queremos as Nossas Vidas!

(Daqui)

O humor não faltou



(Foto roubada no Absurdo) 


A força foi esta




Coelho, Gaspar & companhia: ontem foi o primeiro dia do resto das vossas vidas


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Manifestação: o melhor debate



... dos que vi ontem, na minha opinião: Adelino Maltez, Viriato Soromenho-Marques e Carlos Amaral Dias, na RTP1. 

Ver e ouvir AQUI.
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Remodelação ministerial?



Se, ao contrário do que espero, Passos Coelho continuar a ser PM e vier a fazer umas mudanças cosméticas nos ministérios, deixo-lhe aqui, humildemente, a sugestão de que não se esqueça desta fiel (e eficiente) seguidora
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A nave dos loucos



Pausa nas imagens sobre a Manifestação para chamar a atenção para este texto que vem bem a propósito, depois do se viveu ontem nas ruas. 

«Quanto a Sua Excelência, que outrora, por um décimo disto, apelava à revolta popular contra o governo eleito que ele próprio empossara, suponho que o melhor agora seja seguir o conselho do professor Marcelo: tudo fazer discretamente. Todavia, mesmo na discrição é necessária prudência: admitindo que o SIS ainda existe e que os seus relatórios não seguem apenas para a maçonaria, Sua excelência deve estar informada de que o ambiente está de cortar à faca. Os nossos insubstituíveis constitucionalistas saberão melhor do que eu que existe alguma escapatória constitucional que autorize a demissão de um governo por manifesta loucura superveniente de alguns dos seus membros determinantes.» 

Miguel Sousa Tavares, Expresso, 15/9/2012
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1º de Maio de 1974 – 15 de Setembro de 2012



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