2.5.15

Dica (47)





«Est-ce un tournant dans le différend germano-grec sur la question très sensible des réparations liées aux crimes nazis pendant la seconde guerre mondiale ? Dans un entretien au quotidien Süddeutsche Zeitung du samedi 2 mai, le président de la République, Joachim Gauck, s’est pour la première fois prononcé en faveur d’une solution pour la résolution de ce litige qui empoisonne les relations entre les deux pays depuis plusieurs décennies et est revenu sur le devant de l’actualité avec l’arrivée au pouvoir d’Alexis Tsipras.» 
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A vitória da Grécia



O título não é provocatório, reflecte apenas o que me ocorreu imediatamente quando li o relato que James K. Galbraith fez da sua última visita à Grécia, há pouco mais de um mês: «Há um espírito de dignidade em Atenas, que vale muito mais do que dinheiro. Sente-se algo de muito profundo, que talvez só me tenha sido possível observar duas ou três vezes na vida. E trata-se de um espírito que é contagioso, que pode em breve ser sentido em Espanha, em Portugal, na Irlanda e em outros locais.» (No que nos diz respeito parecemos estar muito longe disso, mas adiante: lá chegaremos, mais cedo ou mais tarde.)

Um povo que reagiu ao jugo austeritário e devastador de troikas elegendo um partido como o Syriza e um governo que tem demonstrado uma persistência e uma firmeza notáveis durante os últimos três meses merecem o nosso aplauso, o nosso respeito – e a nossa gratidão também. Venceram, até agora, qualquer que venha a ser o futuro próximo. Com uma grande dignidade.

Somos massacrados todos os dias com noticias agoirentas, e de regozijo mal disfarçado, sobre a inevitabilidade de uma derrota na guerra implacável que está a ser movida contra a Grécia pelos seus pares europeus e pelas chamadas «instituições». De inevitabilidades estão os nossos olhos e os nossos ouvidos cheios e continuemos por isso a esperar que acabe por vencer a razão daqueles que recusam pisar linhas vermelhas que jogam com a vida de pessoas e não com regras ditadas por folhas de Excel. Atenas não pode, nem deve, continuar a aceitar, como no passado que a levou ao estado em que se encontra, reformas cruéis no mercado de trabalho, privatizações insensatas ou atentados ao sistema de reformas. E, sim, como disse Alexis Tsipras em entrevista concedida há alguns dias a uma estação de televisão do seu país, «a prioridade do governo grego é pagar os salários e as pensões».

Honrar a dignidade é isso mesmo: não tratar as pessoas apenas como meios, esquecendo que são, antes de mais, um fim em si mesmas. Não há dívida, défice ou burocracia que justifiquem que este princípio seja esquecido. A humanidade não pode regredir e a dignidade deve sair vencedora.

Não se sabe, neste preciso momento, qual será o desfecho, a curto ou médio prazo, do braço de ferro de que nos tornaram espectadores. Mas ninguém tirará ao povo e ao governo grego a vitória na terrível batalha travada nestes três últimos longos meses. Se a Grécia vier a perder a guerra, é sobretudo a Europa que sairá vencida.

[Publicado originalmente no Observatório da Grécia]
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É o meu caso


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Os estragos na cabeça



Excertos do texto de José Pacheco Pereira, no Público de hoje:

«Estes últimos anos de “ajustamento” moeram o corpo de muitos milhões de europeus, mas fizeram ainda mais estragos à cabeça de muitos, não tantos, mas muitos.

Está a interiorizar-se um conjunto de falácias muito perigosas, a tornar-se habitual pensar fora da democracia, de uma forma mais ou menos soft mas, de facto, fora do quadro democrático, estão-se a aceitar como normal ou habitual procedimentos e práticas que subordinam toda a política “possível” a uma versão ideológica da política, que é o que é o “economês”. Aceita-se como normal uma espécie de marxismo dos imbecis que é a determinação da política (superestrutura) pela infraestrutura (economia) em termos tão grosseiros que deixariam Marx coberto de vergonha e Adam Smith furioso com tanta ignorância. Vamos pagar caro por estes estragos na cabeça. Estamos já a pagar caro. (...)

A “Europa” é hoje o argumento definitivo e ad terrorem que se usa hoje para bloquear qualquer debate sobre políticas. A “Europa não deixa”, isso “coloca-nos fora do euro”, os custos dessa atitude são “enormes”. É sempre o tudo ou o nada, o que é o retrato, esse sim, de um radicalismo real em que se tornou o debate europeu. O medo tornou-se o principal argumento, como se vê na Grécia: “portem-se mal e vão ver o que vos cai em cima”.

Este tipo de argumentos é usado por todos os que se querem no “arco da governação”, que na verdade significa, estarem dentro desta “Europa” e deste euro. Fora não há governação possível como se “viu na Grécia”. Isso significa que socialistas, social-democratas, democratas cristãos ou não cristãos, direitistas liberais, partidos do centro-direita e do centro-esquerda, partidos de esquerda “europeísta”, todos dizem isto. O mesmo.

Mas acaso a “Europa” é uma entidade supra-política? Não é de “direita” ou de “esquerda”? Não é o resultado de uma hegemonia política de alguns partidos e alguns países e alguns governantes, em particular alemães? Não tem cor política? É neutra? Claro que não é: é até bastante à direita. O que torna particularmente irónico se não fosse trágico, ouvir um socialista dizer que quer estar com a “Europa”, ou seja com as políticas de direita da actual maioria europeia. O Tratado Orçamental selou esta aliança dando à “Europa” um modelo político de direita, a que todos devem obediência. (...)

Estamos reduzidos a isto. E se aceitamos este quadro de partida chegamos sempre à chegada que convém a quem acha que isto é que é a “realidade” do “possível” em política. Foi nesta armadilha em que o PS se meteu ao aceitar o quadro do pensamento dominante (em nome seja lá do que for, da “Europa”, por exemplo) e assim colocar-se inteiramente no terreno de uma discussão pública cujos termos são os do governo e da maioria e que ela domina sempre melhor. Ao começarem a apresentação de um projecto político por aquilo que deve ser um complemento ancilar e não um ponto de partida, aceitaram o “economês” e todas as ideias simplistas sobre a sociedade, a política e a economia que lhes estão associadas. (...)

Pobre país o nosso, entregue a estas cabeças e a este desastre ambulante que é hoje a Europa. Esta é das previsões mais fáceis de fazer: vai haver surpresas e todas elas fora do “consenso europeu”. É que a história não é feita de modelos, mais ou menos neo-malthusianos, que não incluem a complexidade da realidade, agora sem aspas. E essa realidade é o ruído de que falava Max Weber: a regra desses programas é falhar. A regra, não a excepção.» (Os realces são meus.)
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Lisboa, 1911




Operários da panificação, em greve, pelo descanso semanal.

(Foto de Joshua Benoliel)
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1.5.15

No dia em que o futuro não tinha impossíveis



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1 de Maio de 1886 – Os Mártires de Chicago



A história da origem do 1º de Maio como Dia do Trabalhador é conhecida, o vídeo recorda as manifestações pela redução do horário de trabalho para oito horas, nas ruas de Chicago, em 1 e 4 de Maio de 1886, a repressão e a condenação à morte e execução, em 11 de Novembro de 1887, de quatro dos sete «Mártires de Chicago» (dois viram a pena comutada para prisão perpétua e um outro suicidou-se na véspera da execução).

Um deles, August Spies, pouco antes de morrer, deixou um aviso: «Virá um tempo em que o nosso silêncio será mais forte do que as vozes que hoje estrangulais».


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Ainda não, mas quase


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O último 1º de Maio em ditadura



(Republicação)

Às 2:50 minutos do 1º de Maio de 1973, as Brigadas Revolucionárias executaram uma das suas acções mais espectaculares, da qual resultou a destruição de dois andares do Ministério das Corporações (actual Ministério do Trabalho e da Segurança Social), na Praça de Londres em Lisboa. 

Explicaram mais tarde em comunicado (que pode ser lido AQUI, na íntegra): «O Ministério das Corporações é, por um lado, o instrumento mais directo dos patrões portugueses e estrangeiros, que através dele fixam as condições de trabalho do proletariado – salários, horários – enfim, exploração e repressão (…); e, por outro, um instrumento de exploração directa dos trabalhadores, através da Previdência (…) que fornece serviços de Saúde e Previdência miseráveis.» 

Facto demasiado grave e espectacular para que a censura o silenciasse, foi noticiado nos meios de comunicação social e objecto de todas as conversas, num dia quem que se preparavam manifestações proibidíssimas e precedidas por largas dezenas de detenções nas semanas precedentes (Leia-se a circular da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos, de 9/5/1973.) 

Durante a tarde, foram recebidos telefonemas com falsos alertas de bomba em várias grandes empresas de Lisboa. Veio a saber-se depois que se tratara também de uma iniciativa ligada às Brigadas Revolucionárias, cujo objectivo era «libertar» mais cedo os trabalhadores para que pudessem participar na manifestação. 

Ao fim do dia, foi o cenário habitual, mas especialmente repressivo nesse ano, que o Avante! relatará mais tarde: «Em Lisboa, numerosos trabalhadores se concentraram na Baixa a partir das 19:30, sendo brutalmente carregados pela PSP à bastonada, soco, pontapé, do que resultaram dezenas de feridos que tiveram de receber tratamento no hospital, sendo feitas várias prisões.» (O resto pode ser lido AQUI.) 

Um ano mais tarde… foi a maior festa que imaginar se possa! 
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Também vale para o Nepal


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30.4.15

As presidenciais como escape




Daniel Oliveira, no Expresso diário de 30.04.2015.

Um discurso do presidente



Ricardo Araújo Pereira, na Visão de hoje, imagina um possível discurso de Cavaco Silva se existisse, em Portugal, como é o caso nos Estados Unidos, a tradição de o presidente organizar um jantar humorístico com jornalistas:

«Quero finalizar apelando uma vez mais aos compromissos. A estabilidade governativa é fundamental para o crescimento, como pode ser comprovado pelos últimos anos. Com uma maioria absoluta estável cresceu o desemprego, cresceu a dívida e cresceu o risco de pobreza.»

Na íntegra AQUI.
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O fim da Guerra do Vietname – há 40 anos



No dia 30 de Abril de 1975, a rendição de Saigão (actual Ho Chi Minh) pôs fim à Guerra do Vietname que durou quase duas décadas e se saldou, como se sabe, por uma estrondosa derrota dos norte-americanos.

Foi motivo para grandes contestações enquanto durou, despertou para a política toda uma geração, nos Estados Unidos e não só, esteve na origem de protestos um pouco por toda a parte. Até em Portugal, em tempos de fascismo e apesar de proibidas, tiveram lugar pelo menos duas manifestações em Lisboa, em 1968 e em 1970. Quem lá esteve lembra-se certamente da polícia a pé e a cavalo, na Duque de Loulé (era lá que se situava então a Embaixada dos EUA), a dispersar tudo e todos à bastonada. Mas confesso que só interiorizei verdadeiramente a dimensão do que foi o conflito em questão quando estive no Vietname.

Nunca esquecerei o War Remnants Museum, um dos mais terríveis que percorri, onde se encontram muitas imagens, instrumentos de tortura e outros pavorosos testemunhos da ferocidade de que o homem foi e é capaz. Foi muito difícil percorrê-lo depois de ter visitado Cu Chi, «Terra de ferro, cidadela de bronze», como se autodenomina, localidade a 60 quilómetros a Noroeste de Ho Chi Minh, que se orgulha de ter contribuído de um modo muito especial para a vitória da «Guerra anti-Yankees». É lá que se encontram 200 quilómetros de túneis que serviram de vias de comunicação, de esconderijo, de hospitais, e até de salas de parto, para os resistentes vietnamitas. Se tinha lido varias descrições, o que vi toca os limites do inacreditável.

E, para além de tudo isto, é quase impossível perceber como é que os americanos alguma vez acreditaram que podiam ganhar aquela guerra, apesar dos dois milhões de mortos que ficaram para trás.

Dois vídeos, um sobre o Museu, outro sobre os túneis de Cu Chi:





A ler, notícias de hoje:

Um futuro opaco?



«Com a sua imensa sabedoria, o Cavaleiro de Oliveira dizia a quem o queria escutar: "Portugal é um relógio sempre em atraso, onde tudo chega quando nos países de origem já não tem uso".

Terminado o período de romantismo do 25 de Abril e a euforia consumista que nos hipnotizou a seguir à entrada na então Comunidade Económica Europeia e a adesão ao euro, Portugal teve de se confrontar com a dura realidade: é um país pobre que, quase sempre, esteve refém de uma elite que pilhou os seus parcos recursos em proveito próprio. (...)

Neste período pré-eleitoral assiste-se à cristalização de ideias. O que é catastrófico para um país que precisava de novos desafios para o futuro, para tornar a missão impossível em que se transformou o futuro de Portugal durante a troika numa missão possível. (...) Olhando para os primeiros sinais dos partidos do arco do poder parece evidente que os políticos colocaram o pensamento nas mãos de técnicos e sábios económicos. Como se tudo hoje tivesse como base a economia. Isto está a transformá-los em gestores sem pensamento próprio. A substituição da política pela ideologia da administração das coisas públicas tornou-se o novo paradigma. Por isso, as alternativas afunilaram-se à volta de seguidores mais ou menos ortodoxos do Tratado Orçamental da UE e onde as variantes são a aposta numa economia exportadora ou no aumento do consumo interno. (...)

Se juntarmos a tudo isso uma desertificação das ideias a nível político, onde o pensamento foi substituído pelas políticas de comunicação, com mensagens e promessas destinadas a não serem cumpridas, e o ideal eterno que o futuro do país continuará a ser forjado por uma elite que vive no reino das maravilhas da cumplicidade e da corrupção de interesses pessoais, torna-se o futuro nacional muito opaco.»  

Fernando Sobral
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29.4.15

Keep Calm


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Dica (46)




«Num momento de polarização politica na Europa entre a esquerda radical e a direita radical, em que partidos no espectro político mais distante têm ganho em apoio e simpatia, muito pela recusa da austeridade enquanto política económica e social, dar nem que seja um passo atrás na narrativa de que a “austeridade é a única solução” poderá certamente abrir espaço político a esta polarização. Com o exemplo do SYRIZA à cabeça, isto significa abrir espaço político à esquerda por essa Europa fora.» 
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Foi em França, há 70 anos



No dia 29 de Abril de 1945, as mulheres exerceram pela primeira vez o direito de voto, em eleições municipais – 87 anos depois dos homens.

Em Outubro do mesmo ano, foram 33 as eleitas para a Assembleia Constituinte, num total de 586 deputados. Actualmente, sete décadas depois, representam apenas 27% dos membros da Assembleia, 25% do Senado e só 16% presidem a câmaras municipais.

Tudo isto no país que, em 1789, gritou: «Liberé, égalité, fraternité». É longo o caminho do progresso da humanidade...

(Note-se que só em 1965 é que as mulheres puderam abrir uma conta bancária, ou aceitar um emprego, sem autorização do marido. E não havia por lá um Salazar gaulês...)






Fonte, entre outras.
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É isto



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Esta União Europeia que nos envergonha



«“Demasiado pouco, demasiado tarde.” É cada vez mais frequente termos de dizer isto da acção de um Estado, da acção dos governantes.

Pelo menos sempre que se trata de promover a paz e o desenvolvimento; de promover a cooperação internacional; de combater a fome, a pobreza e a desigualdade; de investir na educação, na cultura e na ciência; de proteger o ambiente; de garantir a defesa da liberdade, da democracia e dos direitos humanos. E é cada vez mais frequente, tristemente frequente, sermos obrigados a dizer isto da acção da União Europeia, dessa União Europeia que nos seduziu com sonhos de solidariedade e que gosta de se proclamar campeã dos direitos humanos mas que nos envergonha todos os dias com a sua demissão dos mais elementares deveres perante os mais fracos, com a sua cupidez em favor dos mais ricos, com a sua pusilanimidade perante os mais fortes.

A reunião de quinta-feira passada do Conselho Europeu, onde em teoria os 28 Estados-membros da União Europeia tomaram medidas para evitar a catástrofe humanitária dos refugiados que atravessam o Mediterrâneo para tentar chegar à Europa, é apenas mais um de uma longa lista de lamentáveis exemplos de demissão. (...)

Onde estão os políticos europeus que defendem algo de que nos possamos orgulhar? Desapareceram. Mesmo quando parecem existir num dado momento, desintegram-se ao chegar ao primeiro Conselho Europeu. A União Europeia dissolve toda a ideia política e apenas deixa negócios com um cheiro de enxofre no ar.

Onde estão os políticos europeus que defendem essa ideia de uma Europa da solidariedade, dos direitos e do progresso e que têm a coragem de a traduzir em medidas políticas? (...) Estarão todos mortos? Estarão todos nos partidos emergentes que ainda não chegaram ao poder? Ou estará a vontade política a concentrar-se apenas nos partidos xenófobos da extrema-direita? Será o condomínio fechado com os pobres a tentar escalar o muro o único sonho possível nesta Europa de banqueiros-piratas e de políticos-mordomos? (...)

A UE, se tivesse um mínimo de decência ou de vergonha, deveria reconhecer a importância de realizar as necessárias operações de salvamento no Mediterrâneo e não apenas ao longo das suas costas. Deveria discutir seriamente (em casa e com os seus vizinhos de África e do Médio Oriente) uma política de imigração que não deveria ser outra coisa senão generosa e pôr em prática as ferramentas necessárias para fornecer os devidos vistos a refugiados políticos e económicos. E deveria construir uma verdadeira política externa que apoiasse os esforços em prol da pacificação dos países em guerra e do desenvolvimento dos países mais pobres. Devia. Seria uma política externa de que nos poderíamos orgulhar, justa, exaltante e mobilizadora. Mas esta é uma UE da qual não se pode sequer esperar decência.»

José Vítor Malheiros

28.4.15

A cobertura noticiosa das campanhas eleitorais



Crónica de Diana Andringa, hoje, na Antena 1:

Uma onda de indignação uniu a classe jornalística e os patrões dos media em irada resposta a um anunciado anteprojecto-lei sobre a cobertura noticiosa das campanhas eleitorais. Perante ela, os autores recuaram e a esboçada regulamentação foi atirada para o caixote do lixo da História.

Demasiado depressa, a meu ver. Porque se três deputados ousaram avançar com um texto que, à partida, era susceptível de caír mal na opinião publicada – sobretudo tendo em conta que se tornou conhecido na véspera daquele simpático dia do ano em que o país é percorrido por uma nostalgia democrática – talvez valesse a pena pensar se não o fizeram por um indefinido mal estar perante a forma como são por vezes tratadas as matérias políticas nos órgãos de comunicação. E, sobre isso, seria bom que reflectissem partidos e movimentos políticos e sociais, Comissão Nacional de Eleições, Entidade Reguladora da Comunicação Social, os órgãos de informação, os jornalistas e, claro, todos nós, cidadãos.

Qualquer estudante de Comunicação sabe que não há regulamentação baseada em igualdade de caracteres ou de segundos, separação de “informação” e “opinião”, proibição de “juízos de valor”, que garanta a equidade de tratamento de candidaturas. Basta recordar que a colocação da câmara de filmar, o ângulo de onde é tirada uma fotografia, podem mostrar o mesmo comício como um êxito ou um fracasso, e que 48 anos de Censura Prévia treinaram os jornalistas portugueses a saber como driblar as limitações impostas para mostrar aquilo que se pretendia que não vissem – ou, pelo menos, não dessem a ver. Fosse o ante-projecto avante e bem cedo se tornaria evidente que o plano prévio de cobertura era, para lá de inexequível, ineficaz.

Mas, quando o director-executivo da Plataforma de Media Privados diz “queremos pensar que seria normal que houvesse um desejo comum de que a próxima campanha tivesse uma cobertura completa, sólida, e que os órgãos de comunicação social tivessem todos os meios para que isso se verificasse e para um esclarecimento capaz e completo do eleitorado”, há também que pensar que isso exigiria que as redacções dispusessem dos quadros e das condições necessários a essa cobertura – em vez de se debaterem com a diminuição do número de profissionais, a ênfase nas tiragens e/ou audiências, a exigência de maior – e absurda – velocidade, pondo em causa a necessária reflexão profissional e deontológica.

É também por aí que passam a equidade e a qualidade, não só da cobertura das campanhas eleitorais, mas de toda a actividade dos media.

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A «Primavera» de João Abel Manta



Em 28 de Abril de 1974, vivia-se a euforia dos primeiros dias de imprensa livre, bem patente nesta legenda do Diário de Lisboa dessa data. 
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Dica (45)




«Para si o que seria pior: um acordo em que Atenas cede ou não-acordo, com uma possível saída da Grécia do euro?
Uma saída da Grécia seria uma catástrofe para a zona euro. Seria o princípio do fim para a zona euro. Parece claro que, no dia seguinte, os mercados começariam a perguntar quem será a seguir. E o que aprendemos nos últimos anos é que, mesmo não havendo especulação cambial, os países da zona euro estão sujeitos a especulação nas taxas de juro, que até pode ser mais perigosa. Se deixarmos um país sair, estamos a correr um enorme risco. E os líderes políticos de qualquer país que participasse nesse desastre assumiriam enormes responsabilidades perante a história. Por isso, não acho que isso vá acontecer. As pessoas não são tão loucas que deixem isso acontecer.

O que irá acontecer a seguir?
O que vai acontecer é que as dívidas públicas da Grécia, Portugal e Itália vão ter de ser reestruturadas. É tão simples quanto isso. As pessoas agora dizem que não, mas é sempre assim na história da dívida pública: as pessoas dizem que não a uma reestruturação de dívida, mas depois ela acontece.» 
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Darling, I love you


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Bloqueio político



«Entre o programa económico do PS e a reforçada coligação do PSD e CDS há, também, um traço comum: ambos são filhos do Tratado Orçamental da UE. Mas, até ver, a sociedade portuguesa ainda não transformou a sua crescente pobreza e desintegração social numa recusa do regime e do arco político do poder. Há um consenso falso e uma coesão social semelhante a porcelana que, ao contrário do que pede Cavaco Silva, pode quebrar-se sonoramente a qualquer momento.

Há centenas de milhares de desempregados que nunca voltarão ao mercado de trabalho ou se voltarem, nestes tempos de desvalorização do valor do trabalho, viverão com uma máscara de oxigénio. Porque os partidos que lutam pelo poder não têm alternativas face ao que pede a Europa das decisões burocráticas. O programa do PS torna-o mais liberal. O anúncio da coligação torna-a mais resistente a futuras alianças com estes protagonistas. Mas, no fundo, entre as loas a uma economia de exportação e os vivas a uma de consumo interno, os partidos do arco do poder olham para o país que está a falecer e a um novo que ainda não decidiu nascer, como diria Antonio Gramsci.

O bloqueio político, a corrupção latente, a tutela da UE e do BCE, a sociedade "low cost" implantada, a falta de investimento, são blocos de betão quase impossíveis de remover. Por isso este país está bloqueado. (...) Só se oferece uma pobreza remediada sem futuro em troca do poder. É pouco.» (Os realces são meus.)

27.4.15

Bhaktapur está assim



Repito que nada é comparável à tragédia humana que se abateu sobre o Nepal. Mas dói – e muito – a terrível destruição do seu património cultural.

Situada a 13 quilómetros da capital, Bhaktapur é uma das tês cidades míticas do Nepal, juntamente com Kathmandu e Patam, e aquela cujo centro histórico, património da UNESCO, estava até agora em melhor estado de preservação.

Se muitos dos antigos monumentos tinham sido arrasados depois do terramoto de 1934, grande parte tinha sido pacientemente reconstruída, ao longo de décadas. Hoje, é a desolação.

Em 2005, foi assim que vi Bhaktapur: 






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«Portugal não é a Grécia»



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Pedro Santos Guerreiro, no Expresso diário de 27.04.2015.
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Observatório da Grécia – um novo blogue



A partir de agora, farei parte do blogue colectivo «OBSERVATÓRIO DA GRÉCIA», «um site de informação independente que parte da constatação de que a evolução na situação económica e política da Grécia se reveste de enorme interesse para o nosso país, na medida em que partilhamos problemas comuns e o trajecto dos programas de ajustamento que ambos os países percorreram»

Os participantes permanentes serão: Ana Bastos, Andreia Quartau, Catarina Príncipe, Daniel Oliveira, Elísio Estanque, Eugénia Pires, Filipa Vala, Frederico Pinheiro, Isabel Moreira, Joana Lopes, João Madeira, João Ramos de Almeida, José Gusmão, José Luís Albuquerque, Margarida Santos, Mariana Avelãs, Nuno Tito, Paula Gil, Ricardo Noronha, Rui Bebiano e Tiago Mota Saraiva. 
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Talvez os turistas gostem de regressar a tempos e espaços que julgavam já não poder encontrar

Cocó, Ranheta e Facada



«De vez em quando, quando julgam que há democracia a mais, PSD, PS e CDS tentam que o país seja uma granja igual ao bloco central de interesses que tem permitido o sucesso de tantos brilhantes ideólogos do regime.

Separados pela fórmula da TSU, os três partidos (às vezes uma espécie de Cocó, Ranheta e Facada, os três da vida airada, dos novos tempos) aliam-se em busca da alquimia perfeita. A sua ideia (...) para obrigar os media a entregar um plano de tratamento jornalístico antes do início da pré-campanha eleitoral deverá ser retirada. Se os líderes partidários tiverem alguma vergonha na cara. Mas fica a singela proposta. No fundo os três da vida airada queriam criar uma patrulha ideológica dependente de um comité central bolchevique eleito por eles. (...)

Tal como Bruxelas determina como devem ser feitas farinheiras e chouriços, o Parlamento legisla sobre como nascem e morrem as notícias. Tudo feito por mentes que não conhecem o país real. A mentalidade totalitária aqui exibida é digna de um filme de terror. Mas, afinal, este é o país onde a televisão que temos é ocupada, todos os dias, por quilos de políticos que fingem ser comentadores. E que são apenas o megafone dos seus partidos. Espera-se que tudo não tenha passado de um pesadelo. Ou de um filme de terror sórdido feito por realizadores que gostariam de ser primos de Estaline.»

Fernando Sobral
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26.4.15

Dica (44)



Quadratura do círculo. (Carvalho da Silva)

«O Tratado Orçamental e outros condicionalismos das políticas europeias, o peso da nossa dívida pública e os constrangimentos dela resultantes colocam-nos dentro de uma gaiola, e o docPS, no diagnóstico apresentado, faz de conta que estamos em plena liberdade, não questiona as grades que nos aprisionam e, num exercício teórico da quadratura do círculo, diz-nos que vamos conseguir cumprir os saldos orçamentais positivos que o tratado impõe e, simultaneamente, atingir taxas de crescimento muito significativas.» 
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Nepal, para além da tragédia humana



Para além de toda a tragédia que os nepaleses estão a viver, é todo um património, com um significado histórico e uma beleza quase indescritíveis, que pura e simplesmente desapareceu.

Quando estive no Nepal, há cerca de 10 anos, foi a cidade de Patan que mais me «agarrou» e que nunca esqueci. Ficam aqui algumas das fotografias que então tirei e que fazem doer a alma só por voltar a olhar para elas. 


Agora, foi assim:

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Caxias nunca mais



26/27 de Abril de 1974: a libertação dos presos de Caxias.
O primeiro dia do resto das nossas vidas o fim das prisões do fascismo.












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É isto


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Por falar em rinocerontes

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Pedro Santos Guerreiro, no Expresso de 25.04.2015. 
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