29.11.25

Presidenciais: Debates

 


𝐓𝐞𝐧𝐡𝐚𝐦 𝐜𝐚𝐥𝐦𝐚, “𝐬ó” 𝐟𝐚𝐥𝐭𝐚𝐦 𝟐𝟎 𝐃𝐞𝐛𝐚𝐭𝐞𝐬!

Entre perceções e evidências

 


«Problemas e desafios a encarar no trabalho, na economia, nas áreas do social, ou na política no seu geral, são tratadas hoje, amiúde, sem recurso a evidências científicas e empíricas de que a sociedade dispõe, ou escondendo-as propositadamente. A partir da exploração mediática de interesses e situações casuísticas, criam-se perceções erradas e cometem-se erros no desenho de políticas, gerando injustiças, desigualdades e sofrimento.

Na passada quarta-feira, na Gulbenkian, em Lisboa, o Laboratório Colaborativo para o Trabalho, o Emprego e a Proteção Social (CoLABOR)* realizou as suas jornadas anuais sob o lema "Dinâmicas socioeconómicas, trabalho e poder local", e apresentou a publicação "O trabalho, o emprego e a proteção social em 2025. Os impactos desiguais da transição climática no emprego". Trataram este e outros temas conexos, investigadores, quadros de instituições e de empresas privadas e autarcas experientes.

No combate à pobreza, na caraterização da população imigrante e dos problemas com que esta se depara, observa-se que as políticas que vêm sendo implementadas transportam graves perdas nas condições de cidadania. Ficou também claro que os imigrantes não são uma população homogénea e que há experiências exemplares, como é o caso do Fundão (referido internacionalmente), que deviam ser divulgadas e generalizadas.

Manuel Carvalho da Silva

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Bloco de Esquerda: nova fase

 


«O BE terá a figura de coordenador - que deverá ser José Manuel Pureza, uma vez que a moção A elegeu 80% dos delegados à Convenção -, um deputado no parlamento - que deverá ser Fabian Figueiredo, segundo nome na lista por Lisboa -, e esta terceira figura de secretária da organização do partido, que à partida será uma mulher.»


A necessidade de falsear a história para se ter uma “história” legitimadora do poder

 


«“Historicamente, os eventos passados em 25 de Novembro de 1975 (…) serão os mais importantes e decisivos em Portugal desde 28 de Maio de 1926.”
Do livro colectivo 50 Vezes 25 de Novembro

A frase que cito faz parte de um dos textos do livro 50 Vezes 25 de Novembro, com prefácio de Pedro Passos Coelho e a participação de 31 autores, na sua maioria de extrema-direita, muitos do Chega, candidatos autárquicos, membros do “governo-sombra”, do ADN, da ala passista do PSD e da multidão de “repetidores”, nas redes sociais, em podcasts e na academia, das posições do Chega. Se há extrema-direita e direita radical em Portugal ela está representada neste livro, cujo lançamento ocorreu no dia 25 de Novembro e que, penso, ainda não está disponível. À data em que escrevo este texto ainda não o pude comprar nas livrarias, o que obviamente farei. No entanto, há já na rede abundante informação, entrevistas e vários textos do livro publicados no Observador para se poder ter uma ideia do seu conteúdo. Todos são muito significativos dos esforços para usar o falseamento da história para legitimar a direita radical e tornar o 25 de Novembro, na sua interpretação, como “o farol ideológico do sistema político que sucederia ao Estado Novo”.

Há dois aspectos preliminares que são relevantes: um é a desvalorização e, nalguns casos, a diabolização do 25 de Abril — como se vê na citação, que passa de 1926, a data do golpe militar que abriu caminho a 48 anos de ditadura, ao 25 de Novembro —, e outro a dança das palavras simpáticas e moles para caracterizar entre o positivo e o neutro essa mesma ditadura. O resto é uma tentativa de legitimar a força da direita radical no presente dando-lhe uma “história” falsa e uma memória manipulada para, olhando para o passado, terem alguma coisa de aceitável para lembrar.

De facto, um dos problemas da direita radical em Portugal é que toda a sua história no século XX é maldita e, com excepção de alguma extrema-direita, impossível de valorizar. Ora, qualquer movimento político precisa de ter datas legitimadoras para não aparecer sem história, o que é sempre uma fragilidade. Na história portuguesa, o que é que vão lembrar? Os 48 anos de ditadura — palavra de que fogem como o Diabo da cruz —, Salazar, Caetano, a PIDE, a guerra colonial com o seu cortejo de violência, as prisões políticas, a repressão de trabalhadores e camponeses, a expulsão de professores das universidades, a cumplicidade com o regime do apartheid, o país que colocou a bandeira a meia haste quando morreu Hitler, o país pobre, o país do pé descalço, de onde se emigrava para escapar à miséria, analfabeto, com taxas de mortalidade infantil “africanas”, o país em que as mulheres eram gente de segunda, o país da censura que durou sem um dia de liberdade até à manhã do 25 de Abril, o país que assassinou Delgado para Salazar mentir — sabendo do que se tinha passado —, insinuando que tinham sido os seus “amigos” que o tinham matado, o país da corrupção — sim, o Chega mente quando sugere que não havia corrupção antes da democracia, simplesmente os “desfalques” da elite eram cortados pela censura —, o país da tortura, por aí adiante. Muito adiante, e é significativo dos dias de hoje que seja preciso lembrar estas evidências.

Claro que há uma escola revisionista desta história, que molda o Portugal dos 48 anos ao dito fascista em que se afirma que “Mussolini era um ditador, mas fez com que os comboios chegassem a horas”, como se a liberdade não fosse o valor primeiro que, no 25 de Abril, mudou tudo com a sua força. Vejam-se as fotografias dos primeiros momentos, a cara das pessoas, entre a alegria dos mais novos e a gravitas e alívio dos mais velhos. E é por isso que encontrar alguma coisa legitimadora, alguma data “boa”, é muito difícil para a direita radical.

A “história” falsa do 25 de Novembro assenta em omissões deliberadas, do 11 de Março, da contra-revolução a norte de Rio Maior, dos atentados, incêndios e assassínios que mataram mais gente do que o dia 25 de Novembro, do papel de partidos como o PCP, do contexto internacional da Conferência de Helsínquia. É esse o papel da “história” falsa do 25 de Novembro, o tal “farol” que só se acende com a manipulação, o esquecimento deliberado e o apagar daqueles que justificariam comemorar o verdadeiro 25 de Novembro.

Como fazia Staline, apagou-se o papel de Costa Gomes, que nem sequer o PS, como todos os outros, trouxe à sessão no Parlamento. Apagou-se ou secundarizou-se Mário Soares no plano civil e muitos outros dirigentes do PS que deram o corpo às balas como a direita da época nunca deu, ou o Grupo dos Nove, Melo Antunes, Vasco Lourenço, Sousa e Castro e Ramalho Eanes, cujo papel tem sido menorizado para valorizar um seu comandado, Jaime Neves, que também deve estar nesta lista.

No entanto, tenho uma sugestão construtiva aos autores deste livro: no dia 25 de Abril, centenas de milhares de pessoas saem à rua para o comemorar. Por que razão se fez uma parada militar e não uma manifestação, apelando aos portugueses para apoiarem a vossa visão do “farol” do 25 de Novembro? Não é por falta de meios, órgãos de comunicação social, autocarros, influencers e bots do Chega nas redes sociais para colocarem centenas de milhares de pessoas na rua. A não ser que só faltem os portugueses.»


28.11.25

Exactamente

 


Mas o Chega sobe e sobe

 


«Em causa estão acusações feitas aos funcionários parlamentares por alegada “falta de neutralidade política”. “Têm sido acusados de alterar os Diários da Assembleia da República com intuito único de serem ocultados os apartes destinados ao Chega”, escreve o sindicato, que aponta como exemplo a acusação feita pelo deputado Pedro Frazão, “por falta de fidedignidade da transcrição da sessão plenária do dia 17 de setembro”. O deputado tinha pedido um inquérito que visava o líder da bancada do PSD, Hugo Soares, e que foi chumbado pela Comissão de Ética. Pedro Frazão recorreu, alegando que a ata da sessão “omitia o teor dos protestos e contraprotestos do social-democrata, que classificou como ‘intimidatórios e desabridos’, configurando, alegadamente, ‘amea¬ças de agressão física’”.»


Catarina Martins (entrevista)





 Ver ou ler na íntegra AQUI.

O risco da extinção da esquerda e da implosão do sistema

 


«Caro leitor, cara leitora:

A concretizar-se, a sondagem do Instituto de Ciências Sociais (ICS) para a SIC/Expresso sobre as presidenciais, revelada nesta quinta-feira, significaria a implosão do sistema em Portugal, tal como até agora o conhecíamos. Há ainda 22% de indecisos, é certo. É uma sondagem realizada antes de os debates começarem. É, enfim, só uma sondagem, como se costuma dizer.

Mas os indicadores desta sondagem reflectem, mais do que nenhuma antes dela, a decadência da esquerda em Portugal. No topo da sondagem está André Ventura (que veio para implodir o sistema e está a conseguir), Gouveia e Melo (que vem de fora do sistema partidário e é muito crítico dos presidentes filiados em partidos) e Marques Mendes, o único que tem uma longa carreira política tradicional, como todos os seus antecessores, Marcelo, Cavaco, Sampaio e Soares.

E, no entanto, a percentagem de Marques Mendes está muito longe do que a AD obteve nas recentes legislativas: apenas 16% sem distribuição de indecisos, 23% com distribuição.

António José Seguro tem apenas 10%, percentagem que sobe para 14% com indecisos. Este número, que fica igualmente muito além do que o PS conseguiu nas legislativas, é um choque para os apoiantes de Seguro. A confirmar-se a sondagem, Seguro fica mesmo de fora de uma segunda volta.

E aqui reside a mudança decisiva que esta sondagem convoca: o risco da extinção da esquerda. O estudo não incluiu ainda Jorge Pinto, do Livre. Mas os outros candidatos da esquerda esfrangalhada e mínima são António Filipe (que tem 2%) e Catarina Martins (com 1%). Sem distribuição de indecisos, a esquerda vale hoje 13% (ainda falta Jorge Pinto, mas é duvidoso que a percentagem que venha a atingir seja suficiente para alegrar a esquerda no seu todo).

Seria talvez o corte epistemológico mais grave na democracia portuguesa dos últimos anos. É verdade que foram oito anos de governos PS. É sabido que o Bloco de Esquerda e o PCP estiveram comprometidos com os primeiros cinco anos e, apesar dos ganhos obtidos nesse tempo, houve muitas coisas em que a geringonça falhou, como assinalou no PÚBLICO Pedro Nuno Santos esta semana.

Segundo esta sondagem, António José Seguro claramente não terá conseguido atingir os seus objectivos dentro do eleitorado base do PS. Os dez anos de afastamento não serviram para reconciliar o antigo líder do PS com o seu eleitorado. Nas últimas eleições a que Seguro concorreu, as europeias de 2014, o PS foi o partido mais votado, com 31%.

Eram tempos em que, como aconteceu nessas eleições para o Parlamento Europeu, a CDU conseguia mais de 12% dos votos. Todos esses votos, nesta sondagem, ou estão com Gouveia e Melo ou com André Ventura, duas personagens políticas que não existiam em 2014. Na melhor das hipóteses, estão no grupo dos "indecisos".

Estou a incluir o Gouveia e Melo na "direita" porque é o próprio que rejeita ser rotulado como sendo de "esquerda", embora já tenha uma vez afirmado ser partidário da social-democracia.

A maioria das vezes, Gouveia e Melo diz que é do "centro pragmático". Esta semana afirmou que já não faz sentido "a divisão esquerda/direita". Mas raramente esta frase é pronunciada por alguém de esquerda. E se alguém nos diz que é ou não é alguma coisa, tendencialmente devemos acreditar.

Com Seguro praticamente arredado da segunda volta (é só uma sondagem, sim), falta saber se também Marques Mendes fica de fora. Se isso acontecer, viveremos neste país uma espécie de momento francês: é preciso escolher entre um líder de extrema-direita e um cidadão que apresenta como currículo principal estar acima dos partidos. Macron, pelo menos, conseguiu montar lá o partido dele. Para lá de uma evidente crise da esquerda, estaríamos perante a mais completa crise do regime nascido depois do 25 de Abril.

E o que se faz?

Ninguém tem uma bola de cristal capaz de descobrir soluções fáceis para a emergência dos populismos e a crise da social-democracia que atravessam toda a Europa e os Estados Unidos. Até na Dinamarca, país onde a social-democracia sobrevivia com uma política de imigração hiper-restritiva, os socialistas estão a recuar: nas autárquicas desta semana o partido de Mette Frederiksen teve apenas 23%, menos 5% do que nas legislativas.

Ao fim de 100 anos, os socialistas perderam a câmara de Copenhaga, obtendo apenas 12,7% dos votos. É verdade que após 100 anos é natural haver rotatividade no poder, mas se a Dinamarca era um dos raros exemplos que os socialistas europeus tinham para apresentar, também já está em queda.

No meio disto, o PS acabou de viabilizar o Orçamento do Estado, deixando o Chega satisfeito no seu lugar de líder da oposição. Era possível fazer outra coisa? De início, José Luís Carneiro disse logo que não. Depois, disse que se houvesse coisas muito importantes no Orçamento – como as leis laborais – não viabilizaria. O Governo vai aprovar o que é de importante com o Chega (as leis laborais, como já fez com a lei da nacionalidade) e o PS sujeita-se ao papel de "jarra" de notário dos orçamentos do Governo. Resta saber quais serão as consequências desta estratégia. A repetir-se, aumentará o risco da extinção da esquerda.

E depois de todos estes tormentos, no fim, o PS ainda é insultado pelo primeiro-ministro, por – ó horror! – ter apresentado propostas que foram aprovadas pela maioria parlamentar. Não é que não haja dinheiro para elas, como acentuou Montenegro, o problema é que o PS não respeitou o mandamento "o Governo é que manda".

O sonho do primeiro-ministro é que o Orçamento seja um mero decreto do Governo, mas tem azar: a Constituição diz o contrário. Mas pode-se sempre mudar a Constituição e a direita já tem os dois terços necessários.

Até para a semana.»

Ana Sá Lopes
Newsletter do Público, 27.11.2025

“Mãe, é porque se dão conta de que a mulher é uma pessoa!”

 

«Insisti com o meu filho, que, aos vinte anos, é um dos homens mais feministas que conheço (…). Perguntei-lhe o que faria se fosse “ministro da Luta Contra a Violência de Género”. Primeiro fez uma piada, depois disse, com um ar muito des-construído, que não poderia assumir o cargo porque deveria dar o lugar às mulheres, uma vez que são elas as principais afetadas, o centro do problema.

Provocadora, perguntei-lhe: mas isto não é, sobretudo, um problema dos homens? Seguiu-se então uma das conversas mais interessantes que já tive sobre o assunto, e que daria toda uma outra ou várias crónicas, nomeadamente quando lhe perguntei a partir de que momento começou a “ser um rapaz”, e sobre como e porque é que a distinção rapaz/rapariga na infância é pensada, desde logo, não apenas como diferença, mas como hierarquia. Mas houve uma reflexão que me marcou, para além de me ter dito que a cordialidade entre Trump e Mamdani na Sala Oval se explica também pelo fenómeno do boys club, porque podem ter as suas desavenças, mas, no fim, reconhecem-se como pares masculinos (…). Ora, essa reflexão foi: os homens enervam-se e agridem quando se dão conta de que, afinal, a mulher não é um objeto que possuem, que está ao seu serviço, ou uma criança a quem se dá ordens sem contestação, mas que tem as suas próprias vontades, limites, autonomia. Eles dão-se conta de que a mulher é uma pessoa.»


27.11.25

Como serão os apartamentos?

 


“Cases Torres Germans”, belo edifício residencial de estilo modernista, 1905.
Arquitecto: Jaume Torres i Grau.

Daqui.

Mortágua e o OE2026

 


O código postal ajuda a determinar a hora da morte

 




Ucrânia, Gaza e Venezuela: é sempre a lei do mais forte

 


«À hora que escrevo ainda não se conhecem os termos da nova proposta de acordo, já com os contributos da Ucrânia, mas a Rússia apressou-se a dizer que são inaceitáveis, o que nos faz adivinhar uma paz injusta, mas distante. Antes disso, o plano de Trump era, linha a linha, a tradução política do que Putin desejou nestes anos. Congelava o conflito com ganhos territoriais para a Rússia (mesmo em zonas hoje controladas por Kiev), normalizava a anexação de facto, condicionava a soberania ucraniana e reduzia substancialmente as forças armadas do país invadido. Uma “capitulação”, como respondeu Zelensky, que tornaria o país num satélite russo.

Ter sido redigido a meias com Moscovo, como já está mais do que detalhado na imprensa internacional, não apanhou ninguém de surpresa. Também não surpreende a ausência da Europa das negociações sobre o maior conflito militar no continente em oito décadas. A redução do maior bloco económico do mundo ao papel de comentador político revela não apenas a sua fraqueza militar, mas a irrelevância política de uma união que passou as últimas duas décadas concentrada em salvar uma moeda disfuncional, negligenciado tudo o que interessava.

Trump nunca escondeu ao que vinha. Ainda assim, a Europa não acreditou. Ou nunca se preparou, o que vai dar ao mesmo. Um acordo agora é muito pior para a Ucrânia do que teria sido há dois anos ou há um ano e meio, porque as forças ucranianas perdem terreno todos os meses e Zelensky tem o seu núcleo político envolvido num gigantesco caso de corrupção que tem desviado o dinheiro reservado para a construção de abrigos contra os mísseis e drones. E porque, agora, é Putin quem tem um aliado na Casa Branca.

Há muito que é claro que a Ucrânia não tem meios para reconquistar todo o território, contrariando o que vinha sendo a base negocial de Zelensky com o apoio da União Europeia. Negar o que é uma evidência só serviu para reduzir a capacidade negocial da Ucrânia. A irresponsabilidade europeia, sem capacidade militar para suportar o seu irrealismo político e sem união política para o financiar, deixou a Ucrânia nas mãos do líder norte-americano mais próximo de Moscovo de que há memória.

A defesa da Ucrânia ergueu-se à volta de um argumento moral: estão em causa o direito internacional e a resistência à lei do mais forte. Neste caso, tratava-se de proteger a integridade territorial de um país que abdicou do arsenal nuclear em troca de garantias de segurança e de recusa de guerras de expansão territorial que a Europa jurou ter enterrado em 1945.

Esse chão ruiu com Gaza. O apoio explícito ou a conivência silenciosa perante bombardeamentos indiscriminados, fome organizada e punições coletivas esvaziou o discurso europeu e matou grande parte do apoio dentro e fora da Europa. Quem antes via na Ucrânia “a primeira linha da ordem internacional” passou a ver um conflito regional com tratamento preferencial. Os países em vias de desenvolvimento, ou do sul global, não têm qualquer dificuldade moral em furar as sanções à Rússia.

A Venezuela, com milhares de marines norte-americanos junto às suas águas territoriais, parece ser a moeda de troca. Já nem são precisas provas forjadas para uma mudança de regime, como aconteceu na Guerra do Iraque, agora basta dizer que o presidente da Venezuela é terrorista enquanto se faz as contas ao petróleo do país. Mesmo que, como já veio no The New York Times, o “Cartel de los Soles” não exista. Não é uma organização real, mas um termo usado no país há várias décadas para designar redes de militares corruptos. Um termo pejorativo transformado em entidade fantasma para legitimar a narrativa da próxima intervenção norte-americana.

Trump é coerente na brutalidade. Vê a política internacional como um mercado sem árbitro, onde os fortes impõem e os fracos acomodam. A sua visão é muito mais próxima da de Putin, algo que ficou bem claro quando insultou Zelensky na Casa Branca, acusando-o de ser o responsável pela guerra ao insistir em defender o país quando “não tem cartas” para se opor à Rússia. E volta a ficar claro quando aceita o retorno às esferas de influência: a Ucrânia é quintal de Moscovo, a América Latina de Washington.

O desfecho da guerra da Ucrânia revela uma derrota de uma Europa frágil que continua a apostar numa aliança atlântica que a torna refém. Tudo resulta de erros anteriores. A eles, junta-se um fracasso moral, que acontece aos olhos do mundo. Enquanto diz que Putin é um perigo para as leis do mundo, a Europa é complacente ou aliada de Netanyahu e de Trump, fechando os olhos ao que se passou em Gaza e está prestes a acontecer na Venezuela. O único incómodo que sente é estar, no caso da Ucrânia, do lado mais fraco. Infelizmente, a moral e o direito internacional não são para aqui chamados.»


A canção de intervenção de Carolina Deslandes

 


“Não é sobre mim, mas também é sobre mim. É sobre as loucas, as feias, as que não se confirmam e não se intimidam”: leia a letra da nova canção, ‘Feia’, de Carolina Deslandes, ‘berço’ de versos como “A extrema direita que eu assumo/ é ter na mão direita um punho/ que carrega uma caneta” e “Querem voltar atrás no tempo/ plantar o medo cá dentro/ gritam “Deus, Pátria е Família”



26.11.25

Preço das casas

 


«O valor mediano de avaliação bancária da habitação em Portugal atingiu 2.025 euros por metro quadrado em outubro, refletindo uma subida homóloga de 17,7%, com os apartamentos a liderarem as valorizações, especialmente na Grande Lisboa, Algarve e Península de Setúbal, segundo dados do INE,»


Ana Drago

 


A nova lei laboral é tão desequilibrada como parece?

 



26.11.1967 – As cheias de Lisboa

 


Na madrugada do dia 26 de Novembro de 1967, a região de Lisboa foi palco da ocorrência de fortes chuvadas que terão originado entre 500 e 700  mortos, milhares de desalojados e a destruição de inúmeras habitações. 

A imprensa da época noticia a tragédia, mas com as limitações impostas pela censura. Transcrevo alguns excertos.

«Lisboa mais abastada seguia para o cinema ou refastelava-se na poltrona caseira, assistindo ao famigerado folhetim 'Gente Nova' da RTP, à espera de mais uma aventura do 'Santo'. A Lisboa menos favorecida estava no café para a bica, ou ficara no bairro suburbano, julgando que o seu fim-de-semana iria ser igual aos outros. Quando o Roger Moore chegou aos receptores, já os tectos humildes começavam a meter água, as ruas pareciam rios, as praças, lagos; e os cinéfilos, bloqueados nos engarrafamentos de trânsito haviam esquecido o Éden ou o S. Jorge e pensavam na melhor maneira de voltar a casa.

Há doze horas que chovia. Os colectores não davam vazão à enxurrada e, logo que a maré do estuário onde eles despejam as águas que vão correndo pela cidade atingiu a sua altura máxima, já não se sabia onde acabava o Tejo e começava Lisboa.» (Flama, n.º 1030, Edição Extra, 1 de Dezembro de 1967, pág. 4)

«Como aconteceu? Como aconteceu? Repete-se a questão. Foi na madrugada de 25 para 26 de Novembro, de sábado para domingo. Chovia. É normal, no Inverno. Poderia ter sido uma chuva benéfica, capaz de abrir em frutos novos muitos campos. Mas não foi. Para muita gente (demasiada gente) ela foi a desgraça ou a morte. Ninguém sabe exactamente a que horas aconteceu a tragédia. Os ponteiros de muitos relógios agora parados indicam vários instantes precisos para diversas localidades. Duas e cinco aqui, uma e cinquenta e três acolá, três e treze noutro lugar. Poderá ter sido bastante mais cedo: pouco antes de terminar a festa que para milhões de espectadores ainda é a TV.» (Flama, n.º 1031, 18 de Dezembro de 1967, pág. 40-41)»



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Ontem não houve festa

 


«O 25 de Novembro não era tema nem cisma. A forma como, cinquenta anos depois, e aproveitando o crescimento da extrema-direita (a própria coincidência é um insulto à data), se força até ao limite a equiparação simbólica com o 25 de Abril, nada tem a ver, como acontece em Espanha, com um problema por resolver com a nossa memória coletiva e com a disputa entre a esquerda e a direita pela história. Tem a ver com um problema interno que a direita precisa de resolver. Porque a unidade em torno da data fundadora da democracia inclui quem eles não queriam e exclui aqueles de quem precisam. Para o conseguir, inventaram um 25 de Novembro que não aconteceu. De tal forma, que o celebram contra boa parte dos seus autores.

O CDS e o Chega, com a anuência de um PSD liderado por gente sem cultura política ou histórica, estão a reinventar o 25 de Novembro como uma data de rutura, quase refundadora. As primeiras eleições livres aconteceram antes, a 25 de abril de 1975. A censura e as liberdades cívicas foram conquistadas ainda em 1974. Sim, houve atropelos, sedes queimadas, ocupações, terrorismo de direita e violência de esquerda e luta intensa pelo poder.

A esquerda comunista e, ainda mais, a extrema-esquerda (num tempo em que ela existia) foram contidas, a 25 de novembro, assim como os saudosistas que sonhavam impedir a liberdade e a descolonização plenas o foram, a 28 de setembro, data que não celebramos. Tudo compreensível, à distância, num processo que foi revolucionário, não de mera transição. Quem queira perceber melhor, pode ler o último artigo de Pacheco Pereira.

Como já explicaram vários autores do 25 de Novembro, houve um reequilíbrio de forças no 25 de Novembro como tinha acontecido a 11 de março ou 28 de setembro. Se dúvidas houvesse, o governo, o Presidente, o Conselho da Revolução, as leis e as instituições mantiveram-se. Houve apenas, e a isso se resume a crise militar de 25 de novembro de 1975, uma mudança na correlação de forças políticas e militares. Até alguns excessos que hoje são relatados , de ambos os lados, aconteceram depois daquela data. Basta recordar que o PPD, que queria colocar-se claramente à esquerda, começou por concordar com a grande vaga de nacionalizações, para perceber que as dicotomias claras que hoje se descrevem eram muitíssimo mais complicadas na altura. Até o papel do PCP no 25 de Novembro não é, ainda hoje, evidente. Nem há qualquer consenso histórico sobre a tentativa ou capacidade de o PCP tomar o poder.

A direita também está a reinventar o 25 de Nnovembro à luz dos desejos de alguns, à época. Os que Chega, IL e CDS têm como heróis do 25 de Novembro foram derrotados por Melo Antunes ou Vasco Lourenço, que impediram que o golpe se transformasse numa revanche de sentido contrário, na caça ao comunista, na ilegalização do PCP e na redução de liberdades, que, aos seus olhos, teriam sido excessivas. Se o 25 de Novembro tivesse sido o que queriam, seria a antítese do 25 de Abril. Não foi. A aliança que se fez para celebrar o 25 de Novembro, que a direita agressiva queria transformar num recuo, foi derrotada há 50 anos.

A história sempre foi lugar de combate. Está sempre a ser reescrita, porque é um olhar do presente, nas suas circunstâncias e com as suas necessidades, sobre o passado. É por ter sido reescrita pela conveniência que Otelo deu lugar a Salgueiro Maia, no lugar de herói de Abril, apesar de o primeiro ter sido muitíssimo mais determinante do que o segundo. Foi o que Otelo fez depois que determinou o seu lugar histórico em acontecimentos anteriores. É também por isso que a direita tenta que Jaime Neves substitua Vasco Lourenço, mas sem sucesso. Estas comemorações à revelia de boa parte dos seus autores conseguiram o feito de não ter a presença e apoio de ninguém do Grupo dos Nove, os militares moderados que foram o motor político do 25 de Novembro.

A tentativa de reescrever aquele momento é tal, que ouvi, na TSF, Paulo Núncio dizer que Vasco Lourenço nunca acreditou na democracia que teríamos conquistado naquele dia. Chegámos ao ponto de ver quem nada teve a ver com o 25 de Novembro tratar a data como uma derrota de quem a preparou, executou e celebrou.

Mas esta reescrita da história do país é, antes de tudo, uma reescrita da história da direita. Não é uma tentativa de excluir o PCP da festa democrática. Como escreveu Henrique Raposo num texto nada centrista, esses momentos estão na revisão constitucional de 1983 ou na adesão à CEE, muitíssimo mais significativas do que mais uma curva no sinuoso processo revolucionário. E essa é uma disputa antiga e resolvida. O que se tenta é integrar na festa democrática quem se sente derrotado por Abril. Porque estes saudosistas são necessários para haver uma maioria de direita.

Os que nunca quiseram usar o cravo ao peito não querem corrigir a nossa história, querem corrigir a sua. E esta celebração serve para tentar relativizar a data que parte desta direita (o Chega e até o CDS, que se autoexcluiu do arco constitucional), nunca suportou. Não se sentem excluídos da festa que realmente une o país (como se viu pela impressionante manifestação do 50º aniversário) por terem sido empurrados para fora dela, mas porque parte nunca lá esteve, nem de facto, nem de coração. Procuram o seu 25 de Abril.

Ontem, como se esperava, não houve festa. Porque a equiparação é impossível. O 25 de Abril é, pela sua natureza única e admirada em todo o mundo, uma festa popular. Não há povo em novembro. Não porque a data não seja importante (já escrevi várias vezes que o 25 de Novembro e o PREC fazem parte, com as suas contradições, do ADN necessário à nossa democracia), mas porque, contra a vontade dos seus autores, querem que ela seja o que não foi. E se querem substituir uma data de todos por uma para cada um dos lados, vão ficar a perder.

Não é por acaso que a celebração de ontem se fez contra boa parte dos construtores desta ação militar. Porque esta celebração forçada nada tem a ver com o país. É a direita a resolver as suas próprias mágoas e ausências históricas. Só que, mesmo em novembro, tiveram um papel secundário. Também aí, foi a esquerda, nos seus combates internos, que liderou. A direita democrática estava, como disse Marcos Perestello, “enfraquecida, amedrontada e desorientada e com as lideranças ausentes ou paralisadas”. E os saudosistas mais ou menos explícitos do Estado Novo, que o resto da direita agora quer juntar à sua festa, para poder normalizá-los, também foram derrotados.»


25.11.25

Falsificações e absurdos do 25 de novembro

 


«1 Sem o 25 de novembro não teria havido Constituição, diz Marcelo. Quem propôs esta cerimónia evocativa foi o partido que votou contra a Constituição, o CDS.

2 Foi a salvação do país, dizem os novembristas. O facto é que depois do golpe terminado, ficou o mesmo presidente, ficou o mesmo governo (que tinha um ministro do PCP) e continuou a elaboração da Constituição, que enunciou o “caminho para o socialismo”.

3 O PCP queria um golpe militar, dizem os novembristas. É uma inventona: na reunião do Comité Central de 10 de agosto de 1975, Cunhal criticou o novo governo Vasco Gonçalves, formado dois dias antes, exprimindo “muitas reservas” e comunicando que não o apoiava. Acrescentou que a divisão no MFA entre o que se chamou esquerda militar e o Grupo dos 9 “foi talvez o acontecimento mais grave de todo o processo revolucionário”. O ministro do PCP no 6º governo provisório continuou no seu posto depois de 25 de novembro.

4 Sim, a relação de forças mudou e a luta social perdeu a capacidade ofensiva. Contudo, a reforma agrária só começou a ser desmantelada um ano depois e a ofensiva conservadora precisou de Soares, Cavaco Silva e Guterres para avançar com as privatizações.»

Francisco Louçã no Facebook.

Entre rosas e cravos, Parlamento discutiu a "metafísica" das datas

 


«Sessão solene teve uma espécie de "guerra floral" a marcar as diferenças de leitura dos partidos sobre o 25 de Abril e o 25 de Novembro. PS acusou Governo de estar "subordinado à extrema-direita saudosista", Ventura promete tirar nomes da "extrema esquerda" das ruas.»


Uma grande intervenção

 




25 de Novembro: memória e disputa política

 


«No imediato pós-transição, o 25 de Novembro tornou-se a primeira data a ser formalmente evocada pelo Estado democrático em construção. Como argumentámos no artigo de ontem, as cerimónias instituídas por Ramalho Eanes em 1976 (meses antes da estreia das primeiras cerimónias oficiais do 25A na Assembleia da República, que só ocorreria em abril de 1977) procuraram, acima de tudo, preparar o controlo civil sobre os militares, transformando o 25 de Novembro num símbolo de normalização democrática.

Ao nível político-partidário, foi sobretudo o CDS que quis apropriar-se desse enquadramento, apresentando o 25 de Novembro como fronteira moral entre democracia e comunismo. No entanto, no primeiro ano de comemoração da data, também o PS e o PCP competiram pela definição pública do 25 de Novembro: o PCP tentou reinscrevê-la na matriz antifascista da democracia, defendendo que o 25 de Novembro deveria celebrar a unidade nacional em torno da Constituição e não a vitória de um campo político sobre outro, enquanto o PS procurou liderar um consenso simbólico que ancorasse o 25 de Novembro à sua visão de “socialismo democrático”. Porém, a crescente polarização entre o PS e Eanes e o avanço do CDS como "empreendedor mnemónico" acabaram por conduzir os socialistas a uma posição defensiva, recentrando-se no 25A.

Ao longo das décadas seguintes, consolidou-se o consenso em torno do 25A como marco fundador da democracia — um significado que nenhuma força parlamentar contestava –, enquanto o 25 de Novembro ia perdendo centralidade, apesar das tentativas do CDS para o manter vivo. Este equilíbrio frágil alterou-se a partir de 2015, com a solução governativa adotada pelo PS sob a liderança de António Costa. Ao aproximar-se da esquerda, o PS deu o mote para a reabertura da disputa e o 25 de Novembro deixou de ser uma memória marginal para se tornar um ponto estratégico de competição simbólica. Entre 2015 e 2018, PSD e CDS ensaiaram na Assembleia da República várias táticas para fixar uma leitura institucional da data, com o PSD a oferecer um apoio discreto, mas regular, aos votos de saudação e congratulação apresentados pelo CDS na Assembleia da República. Os textos apresentados oscilavam entre versões mais inclusivas ou claramente anticomunistas, levando o PS a variar entre abstenção, oposição e apresentação de propostas próprias que tentavam despolitizar o tema, enquanto à sua esquerda se rejeitava qualquer tentativa de canonização. O resultado foi uma indefinição quanto ao significado da data sem que se tenha conseguido fixar nenhum enquadramento.

A partir de 2019, com a entrada na Assembleia da República, no campo da direita, do Chega e da Iniciativa Liberal, esta disputa passou a representar um novo campo de batalha. Ambos reivindicaram uma narrativa própria da transição. O Chega radicalizou o discurso, tentando substituir a matriz antifascista da democracia por uma matriz anticomunista e apresentando o 25 de Novembro como o verdadeiro “Dia da Libertação”. O apagamento do papel das esquerdas democráticas e da participação cidadã ativa permite ao Chega projetar um novo mito de origem em que a ordem é restaurada por forças salvadoras e a democracia é entendida como antagonismo à esquerda, e não ao autoritarismo. A IL procurou uma versão liberal-institucional que celebrasse a “normalização democrática”, insistindo na dupla celebração. O CDS, regressado ao Parlamento em 2024 depois de um curto interregno, retomou a sua tradição identitária, mas tinha agora de disputar o espaço com os novos atores. O PSD, que historicamente se colocara numa posição de apoio discreto, procurou firmar uma narrativa própria e mais moderada do 25 de Novembro: não polarizante, mas inequivocamente afirmativa da centralidade do 25 de Novembro na consolidação da democracia. Na primeira cerimónia oficial na Assembleia da República, destacou o papel de Mário Soares e da luta contra a unicidade sindical, num gesto de inclusão estratégica que contrastava com o tom mais confrontacional do resto do campo da direita. Esta diversidade discursiva evidenciou o facto de que, mesmo com institucionalização parcial, o 25 de Novembro continua a funcionar como campo de disputa simbólica, em que a memória do passado serve finalidades distintas no presente.

A aprovação da Resolução do Conselho de Ministros n.º 132-A/2025, que criou as comemorações oficiais do 50.º aniversário do 25 de Novembro, marcou o ponto mais alto deste processo até à data. O diploma fixa uma leitura que desloca o centro simbólico da democracia do 25A para o 25 de Novembro, institucionalizando uma memória que se vinha associando à direita. É aqui que a partilha de poder neste Governo de coligação PSD-CDS parece ganhar expressão. O protagonismo assumido pelo parceiro de coligação CDS, que está agora ameaçado pelos novos atores à direita, denota a verdadeira origem deste projeto. Ao mesmo tempo, a reação do PS — recusando integrar a comissão e propondo um programa alternativo — mostra que a canonização continua longe do consenso. A cerimónia parlamentar de 2024 confirmou essa divisão: PSD, IL e CDS afirmaram explicitamente o 25 de Novembro; o Chega tentou redefinir o pacto fundacional; PCP, Livre e BE, de formas distintas, estão juntos na recusa da canonização da data e, acima de tudo, na sua equiparação ao 25 de Novembro. O PS, dividido entre a sua história e a sua posição atual, tem permanecido num equilíbrio difícil.

Se há cinquenta anos o 25 de Novembro dividiu os vencedores da transição, hoje divide o campo político num cenário mais fragmentado. A disputa da memória não é um resíduo do passado: é um instrumento ativo da competição partidária. O que está em jogo já não é apenas como recordar 1975, mas quem define o enquadramento simbólico da democracia portuguesa.»


Abril em Novembro (4)

 



24.11.25

Abril em Novembro (3)

 



Abril em Novembro (2)

 


Abril em Novembro (1)

 



Gravado durante a pandemia.

Daqui.

24.11.1906 – Rómulo de Carvalho / António Gedeão

 


Rómulo de Carvalho / António Gedeão foi um grande professor de Química, que os seus alunos do Liceu Pedro Nunes e do Liceu Camões nunca esqueceram, estudioso e grande divulgador da História da Ciência, razão pela qual se celebra hoje, data do seu nascimento, o Dia Nacional da Cultura Científica.

Também poeta, autor de numerosos livros e do texto que deu vida à inesquecível canção Pedra Filosofal. Um pretexto como qualquer outro para a ouvir de novo, com a beleza de sempre e oportuna, hoje como em 1969, quando Manuel Freire musicou o poema publicado em Movimento Perpétuo (1956).





Se calhar ainda vamos ter muitas saudades de Marcelo

 


«Todos os candidatos presidenciais se esforçam nesta campanha para mostrar que não são Marcelo.

Obviamente, nem todos chegam aos píncaros de André Ventura, que chamou “cobarde” ao Presidente por ter ouvido sem sair da sala o discurso de João Lourenço que falava da escravatura e colonização (coisas que nunca existiram na cabeça dos velhinhos imperialistas, que Ventura quer cooptar para o Chega).

Mas já sabemos que, para lá de Angola, Ventura também cortava relações com o Brasil (lembrem-se da figura que fez com a visita oficial de Lula a Portugal e o que diz do Presidente do Brasil sempre que pode).

Mas com Ventura ninguém precisa de se preocupar muito. O líder do Chega pode ter a esplendorosa vitória de passar à segunda volta, mas nunca será eleito Presidente da República. Na verdade, pode dizer o que quiser e espalhar todo o ódio que quiser porque nunca terá de responder pelo que diz. Ainda não é Donald Trump — gostava de ser, mas ainda não é.

Quanto aos outros candidatos, esfalfam-se a argumentar que não falariam a toda a hora — como fez Marcelo — nem dissolveriam a Assembleia em caso de chumbo do Orçamento e alguns até aceitariam, como Jorge Sampaio fez com Santana Lopes, que depois da demissão de António Costa outro socialista pudesse formar Governo.

Na verdade, Marcelo "deu" uma maioria absoluta a António Costa — imerecida, como se viu depois — ao dissolver o Parlamento depois do chumbo do Orçamento de 2022, deixando Costa e o PS a vitimizarem-se. Ajudou também à maioria absoluta a indefinição de Rui Rio sobre uma aliança com o Chega, o que fez muito voto útil de quem não queria uma aliança PSD/Chega fosse parar ao PS.

O facto de Marcelo não ter deixado outro socialista formar Governo depois da demissão de Costa é discutível. No momento em que Costa se demite, como se veio depois a provar nas eleições seguintes, os socialistas já tinham desperdiçado a maioria absoluta e já havia uma grande contestação ao Governo. É legítimo dizer-se que naquela altura o Governo já não tinha as graças do povo, como as eleições provaram.

De resto, havia o precedente Jorge Sampaio: embora em 2004 Sampaio tivesse agido de uma forma totalmente correcta e de acordo com a Constituição, foi mal compreendido dentro e fora da sua família política (e até muito incompreendido dentro do Palácio de Belém). O argumento — inconstitucional — de que “Santana Lopes não tinha ido a votos” fez carreira no espaço público, nomeadamente entre socialistas. Ferro Rodrigues, que era o líder do PS na altura, demite-se na sequência desta decisão.

Mais a mais, tinha sido o próprio Marcelo — quando deu posse ao Costa bafejado pela maioria absoluta — a afirmar que “a maioria era pessoal” e a ameaçar que se Costa abandonasse o Governo convocava eleições. Nesta altura, Marcelo quis assombrar a futura candidatura de Costa ao Conselho Europeu. Por linhas tortas que não desejou, Costa acabaria mesmo no Conselho Europeu e o país a virar inequivocamente à direita.

A questão é que Marcelo também esteve certo em muitos momentos. Boa parte do ódio que a direita lhe guarda é provocado pelo facto de ter “ajudado” a “geringonça” a manter estabilidade política no país durante quatro anos. Sendo de uma família política distinta do PS, é obra. O PS tem ainda a agradecer-lhe a maioria absoluta que tanto quis e desperdiçou.

Marcelo soube ter sentido de Estado múltiplas vezes, num momento em que entrou num sistema um partido de extrema-direita propagandista do ódio entre cidadãos. Soube, talvez primeiro que todos, que isso ia acontecer. Teve sentido de Estado a seguir aos fogos de Pedrógão quando o Governo PS teve um momento de descolamento da realidade. Teve sentido de Estado na relação com as antigas colónias.

Foi capaz, entre muitas selfies e outros exageros, de dessacralizar a instituição Presidente da República, o que era fundamental a seguir ao último mandato de Cavaco. Esteve mais perto do povo do que talvez nenhum dos seus antecessores.

O excesso de demarcação de Marcelo Rebelo de Sousa pode, se calhar, não ser uma ideia assim tão boa. Ah, basta ver o plano de "paz" para a Ucrânia para ver que o Presidente tinha razão quando considerou Donald Trump "um activo russo". Confirma-se.»


Vjolência doméstica

 


23.11.25

Não votassem para ter este Governo e esta ministra (duas vezes…)

 


«Segundo os resultados do barómetro hoje publicados no Correio da Manhã, 28,3% dos inquiridos considera que Ana Paula Martins se deve manter no cargo e 13,3% não sabe ou não responde.»
br> Daqui.

Prepare-se. Vai acontecer!

 


«Uma parafarmácia sem empregados, sem senhas, sem filas, totalmente gerida por inteligência artificial (IA), abriu ontem em Lisboa. É este o presente. Porém, nos últimos dias, enquanto o Governo foi acusado de querer desregular direitos dos trabalhadores e a UGT e a CGTP anunciaram uma greve geral conjunta, quase não se ouviu uma palavra sobre a transformação estrutural que a tecnologia está a impor ao mercado de trabalho.

Afinal, o que pensa o Governo sobre o impacto da IA no emprego? Qual é a estratégia do Estado para as profissões que começam a ser ameaçadas ou reconfiguradas? Que políticas estão a ser desenhadas para a formação ou requalificação dos trabalhadores?»

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Histórias do 25 de Novembro

 



Desigualdade, trabalho e rendimentos

 


«Em setembro de 2024 a Organização Internacional do Trabalho publicou um estudo, Perspetivas Sociais e de Emprego no Mundo: atualização de setembro de 2024, no qual constata que o rendimento total auferido pelos trabalhadores caiu 0,6% entre 2019 e 2022 e, desde então, permaneceu estável, agravando uma tendência descendente de longa data. Ou seja, o fosso entre os rendimentos do trabalho e os rendimentos do capital aumentou nas últimas décadas. A pandemia da covid-19 agravou esta tendência e os avanços tecnológicos são um fator estrutural de desigualdade porque, apesar de aumentarem a produtividade, os ganhos daí decorrentes não são repartidos equitativamente.

Em Portugal, na última década, o ganho médio real dos trabalhadores cresceu abaixo da produtividade, segundo um estudo do CoLABOR de abril de 2024. O salário médio real dos trabalhadores aumentou 10,6%, enquanto a produtividade aumentou 18,7% e os sectores mais produtivos (por exemplo, informação e comunicação) criaram menos empregos do que os sectores menos produtivos (como o alojamento e a restauração). Isto significa que os rendimentos gerados pelo aumento da produtividade não estão a ser equitativamente distribuídos, o que faz cair por terra o argumento tantas vezes repetido de que os salários são baixos porque não geramos riqueza. É verdade que o país precisa de aumentar mais a sua produtividade, mas também é verdade que há uma grande desigualdade na repartição da riqueza que é gerada.

No caso das mulheres, o problema agrava-se, uma vez que, para escolaridade, idade e antiguidade equivalentes, ganhamos cerca de 15% menos do que os homens (os números oscilam, mas significa que as mulheres trabalham cerca de 64 dias por ano de graça, na comparação com os homens).

Estes dados explicam, em parte, porque é que o nosso país é o quarto país mais desigual da União Europeia, com um coeficiente de desigualdade (índice de Gini) de 33,7 de acordo com um estudo do Eurostat de outubro de 2024.

A desigualdade, os baixos salários, o risco de pobreza dos trabalhadores deviam ser as principais preocupações do poder político, em especial do Governo. Porque cria injustiças e perda de coesão social e porque gera um fundado ressentimento por parte daqueles que não conseguem com o seu trabalho pagar uma habitação digna ou aceder aos bens e serviços de que necessitam. Um país onde quem trabalha corre risco de pobreza está claramente a distribuir mal os rendimentos.

Estes dados são muito relevantes quando se discute uma nova e profunda alteração à legislação laboral. O sentido geral da proposta apresentada pelo Governo traduz-se na desproteção dos trabalhadores, na perda de direitos, incluindo de parentalidade, na flexibilização da relação laboral, na simplificação dos despedimentos, no aumento da precariedade ao facilitar a contratação a termo, na eliminação dos limites à externalização (mesmo contra o recente acórdão do TC). Esta é uma reforma que não diminui a desigualdade, não se adapta aos avanços tecnológicos que alteram os equilíbrios no mercado de trabalho, não contribui para aumentar os salários. Pelo contrário, desequilibra ainda mais a relação laboral em detrimento dos trabalhadores. A reação dos sindicatos, incluindo os afetos ao PSD, é inevitável e justificada. Voltarei ao assunto.»