(Via Virgílio Vargas no Facebook)
22.5.10
Velhos são os trapos
Com dedicatória ao bloco central (2)
Estava um homem numa feira a vender uma vaca branca e uma vaca preta e chega outro e pergunta-lhe:
- As suas vacas são boas?
- A branca é!
- Sim? Então e a preta?
- Hum... a preta também...
- E dão muito leite?
- A branca dá!
- Ah sim? Então e a preta?
- Hum... a preta também...
- E são boas parideiras?
- A branca é!
- A sério? Então e a preta?
- Hum... a preta também...
- Ó meu amigo, porque é que o senhor só diz bem da branca, se depois a preta acaba por ser tão boa como ela?
- Porque a branca é minha!
- Ahhh! Agora já entendo! Então e a preta?
- Hum... a preta também...
(Deixado na Caixa de Comentários a este post)
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A esquerda agradece
«A direcção do PS vai apoiar oficialmente Alegre, mas apenas em dose mínima garantida. Ninguém espera um envolvimento directo do aparelho central do partido na candidatura alegrista, nomeadamente em aspectos logísticos e/ou organizativos. Sócrates, pelo seu lado, deverá invocar a necessidade de o apoio do PS ao candidato-poeta não afectar a cooperação institucional entre o Governo e o PR.» (DN)
Haveria uma decisão alternativa:
«A direcção do PS vai apoiar oficialmente Cavaco, mas apenas em dose mínima garantida. Ninguém espera um envolvimento directo do aparelho central do partido na candidatura cavaquista, nomeadamente em aspectos logísticos e/ou organizativos. Sócrates, pelo seu lado, deverá invocar a necessidade de o apoio do PS ao candidato-economista não afectar a oposição institucional entre o Governo e a Esquerda.»
(Publicado também aqui)
P.S. - Ricardo Alves, no Esquerda Republicana:
«Pairando a suspeita de que Sócrates até prefere que Cavaco continue em Belém, estão criadas as condições para que um voto em Alegre seja simultaneamente um voto num candidato do PS e um voto contra Sócrates. E se Alegre ganhar mesmo em Janeiro de 2011 nestas condições, será o Presidente mais independente de apoios partidários desde o primeiro mandato de Eanes.»
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21.5.10
Será que isto é um mundo normal?
Hanoi, Vietname
Calcutá, Índia
Utrecht, Holanda
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Natal é quando um homem quiser
Teresa Venda e Rosário Carneiro, duas inefáveis deputadas independentes da bancada do PS, que devem estar tão próximas do ideário socialista como eu das convicções do camarada Kim Jong-Il, apresentaram uma complicada proposta de redução e movimentação de alguns feriados nacionais. Unicamente para permitir o aumento do salário mínimo nacional, dizem elas, sem que se perceba minimamente como e porquê.
Não entro em detalhes porque já foram noticiados, por mim podem tirar o 1º de Dezembro porque deixámos há muito de ser independentes de Espanha e já se pode comprar caramelos Solano em «El Corte Inglés». Já quanto ao 5 de Outubro, fia mais fino: quem quiser que acredite na inocência desta proposta que aparece, precisamente, no ano em que se comemora o centenário da República.
Além disso: num grande número de países europeus, 26 de Dezembro é feriado única e simplesmente para que aqueles que se deslocam para celebrar o Natal longe de casa tenham tempo de comer as últimas rabanadas no jantar de 25, sem serem obrigados a viajar, a correr, para trabalhar adormecidamente no dia seguinte. Mas elas propõem que se lhe chame «Dia da Família», talvez para que camaradas e companheiros não se esqueçam de ir manifestar pela defesa da dita cuja, à porta da Clínica dos Arcos.
Quanto a tornar móveis alguns feriados, registo o que Manuel António Pina diz, hoje, no JN: «Comemorar o 25 de Abril a 24 de Abril (e porque não o 1.º de Maio em 28 de Maio?) é, além do mais, uma ideia capaz decerto de render muitos votos.»
P.S. – A ler: este post da Palmira.
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20.5.10
Enquanto a Europa dormiu a sesta
Exactamente há um ano, em Maio de 2009, eu estava no Cambodja e foi lá que li um post que Rui Bebiano então publicou em «A Terceira Noite», sobre o direito à sesta, em vias de reconhecimento no reino da Dinamarca. Falava-se também de um dia de baixa por morte de um animal doméstico. Em jeito de adenda, o Rui publicou a minha reacção que lhe enviei por mail: «Será possível, viável, um mundo em que se possa dormir a sesta sem que outros (aqui) trabalhem 364 dias por ano, nem se sabe quantas horas por dia? E em que os primeiros ainda se queixam se as empresas são deslocalizadas para dar de comer aos segundos?». Lembrei-me disto ao ler hoje este outro texto, também do Rui.
Nesse dia eu tinha andado por Tonlé Sap, o maior lago de água doce do Sudoeste Asiático, onde vivem milhares de pessoas numa situação quase inimaginável. Em barracas, sobre estacas ou flutuantes, acumulavam-se famílias cheias de filhos e até de animais, sem quaisquer condições de higiene, com esperança de vida abaixo dos cinquenta anos. Como então escrevi, «vi pessoas beberem a água do lago (e é com ela que se cozinha e que se toma banho), (…) e um pequeno curral flutuante com quatro porcos, amarrado a um dos lados de uma casa. Saltavam crianças, mais ou menos esfarrapadas, de tudo o que era buraco. Devo dizer que estas imagens ficarão entre as piores que guardo das muitas viagens que já fiz. (…) Do Cambodja, vim com a sensação de que a revolta nascerá naquele lago.»
Naquele lago e não só. O Cambodja é um país terrível, paupérrimo e quase sem velhos, já que 20 a 25% da população desapareceu em consequência da acção dos Khmers Vermelhos, em apenas quatro anos – enquanto nós por cá vivíamos o PREC e os anos que se seguiram, ou seja há relativamente pouco tempo.
Se falo deste caso, é porque ele é quase um extremo. Mas a Birmânia, o Laos e até o Vietname, mesmo a Índia que não é dos ricos, não ficam muito atrás: multidões e multidões, com taxas de crescimento de população elevadíssimas, milhões e milhões de crianças e jovens que, até há pouco, olhavam para Oeste com um El Dorado a ser imitado, ou que um dia viriam a alcançar - mesmo se, nalguns casos, através do enviesado modelo do grande vizinho chinês.
Mas, nos últimos doze meses, tudo se alterou no mundo, muito mais do que alguma vez poderíamos ter imaginado. Há um ano, claro que já havia «a crise», mas ainda nos entretínhamos a discutir o cumprimento da lei do fumo e as características dos galheteiros, regulamentados pelo camarada Barroso and friends. Hoje, já nem da ASAE se ouve falar – só da dita crise e dos seus protagonistas.
Mudou tudo, mas infelizmente no pior sentido. Não porque pense que vamos todos acabar em enormes lagos Tonlé Sap deste lado do planeta, nem porque já ninguém ouse, sequer, reivindicar sestas ou feriados adicionais pela morte de um gato. Mas porque a pobreza aí está, nua e crua, onde e quando menos se esperava. Não acreditámos que o capitalismo selvagem nos venceria com o seu falhanço, mas foi o que aconteceu. Vivamos então em estado de alerta porque o mundo não acaba aqui. Mas precisa, mais do que nunca, daqueles que procuram outros modelos e razões para novas esperanças.
(Publicado também aqui)
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Para memória futura (1)
«Por mais activismo político que muitos tenham, e por mais desejos que outros tenham, nas televisões, de ver uma situação incendiária no país, isto não acontecerá.»
José Sócrates, em entrevista à RTP, 18/5/2010
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Entretanto, em Timor
Enquanto nós por cá ainda vamos comendo brioches, chega-me este pedido. Os panos brancos foram há muito recolhidos, as necessidades básicas continuam.
«Estou em Timor a dar aulas na UNTL (Universidade Nacional de Timor Leste) no âmbito de uma colaboração com a ESE do Porto.
Aquilo que vos venho pedir é o seguinte: livros. Não vou dar a grande conversa que é para montar uma biblioteca ou seja o que for, porque não é. O que se passa é o seguinte... não sei muito bem como funcionam as instituições, nem fui mandatada para angariar seja o que for, mas o que é certo é que sou (somos!) muitas vezes abordados na rua por pessoas que desejariam aprender português mas não possuem um livro sequer e vão pedindo, o que é muito bom.
O que é certo é que a minha biblioteca pessoal não suportaria tanta pressão e nem eu, nos míseros 50 quilos a que tive direito na viagem, pude trazer grande coisa para além dos livros de trabalho de que necessito.
19.5.10
Para quem ficou ontem animado com o optimismo sempre reinante do nosso PM
18.5.10
Um enorme TGV
Estava eu em longuíssimas horas de espera num aeroporto, vítima das cinzas do tal vulcão de nome impronunciável e só pensando em aviões, quando o último número da Newsweek me atirou para o mundo dos comboios, mais concretamente para um megalómano projecto chinês: a construção da Nova Rota da Seda. Se é verdade que já tinha visto referências ao assunto, nunca me tinha dado ao trabalho de o conhecer em detalhe.
Trata-se, nada mais, nada menos, do que o plano de ligar dezassete países por linhas de alta velocidade, com mais de 8.000 quilómetros, destinadas a transporte de passageiros e de mercadorias. Está previsto que duas redes partam da China e cheguem à Europa (passando por tudo o que há pelo caminho e que não é pouco!…), com terminais em Londres e em Berlim, e que uma terceira ligue Vietname, Tailândia, Birmânia, Malásia e Singapura.
O velho Império do Meio quer verdadeiramente sê-lo, justificando de novo o seu nome, ultrapassando, a anos de luz, a rede que os ingleses deixaram na Índia (ainda hoje quase lendária, com os seus 16.000 milhões de ferroviários) e o decrépito domínio da Rússia na Ásia Central. Pretende assim mostrar como vê o mundo num futuro próximo, imprevisível e perigoso, e deste modo assegurar ligações por terra, que o tornem menos exposto a eventuais ameaças de outras vias que não domina, como, por exemplo, as saídas marítimas para os seus produtos pelos estreitos de Ormuz e de Malaca.
Os críticos sublinham os custos gigantescos do projecto e acusam a China de vaidade e de extravagância, mas esta responde com argumentos que considera de peso: trata-se de um projecto «verde» (emissões correspondentes a apenas 25% das provocadas por aviões e automóveis) e criador de muitíssimos postos de trabalho, em tempo de crise (110.000 só para a construção do troço Pequim – Xangai).
Mas será que a comunidade internacional vê isto como um win-win project ou como puro mercantilismo de Pequim para proveito próprio? E que dificuldades poderão ser encontradas pelo longo caminho? Se internamente, e também nos países do Sudoeste Asiático, será relativamente fácil dominar a força laboral (por exemplo deslocando grandes populações, como foi feito para a construção da barragem das Três Gargantas), já o mesmo não é previsível na democrática e poderosa Índia.
Concretize-se ou não, a simples existência de um projecto desta dimensão, e vindo de onde vem, é altamente significativa. Relativiza as nossas «enormes» realizações (alô Poceirão, alô Caia!) e obriga a uma revisão definitiva do planisfério que ainda temos nas nossas cabeças: Europa ao meio, com América à esquerda, África por baixo e Ásia à direita? Já foi…
P.S. – O artigo da Newsweek pode ser lido aqui.
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Tudo tem limites, não?
Era minha intenção juntar-me aos que já gozaram o espanhol técnico do nosso PM. Mas, ao ouvir de novo alguns excertos do que tem dito em Madrid, deixei de achar a mínima graça.
Que dance politicamente o tango com Passos Coelho se isso lhe dá prazer – e vê-se que sim -, que fale portunhol se for comer umas tapas com Zapatero na Puerta del Sol. Mas que haja alguém que lhe diga que, apesar de até ser verdade que temos algum jeito para línguas, esse não é certamente o seu caso. Fale portanto português e use tradutores. Porque a figura que anda a fazer, em representação do país, só tem uma qualificação possível: provincianismo. Apesar de tudo, não merecemos tão pouco.
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17.5.10
Até vem na Wikipedia, dr. Pacheco Pereira
Ontem, em zapping, devo ter visto dois minutos do programa semanal Ponto Contra Ponto (ainda não em linha, até ao momento), precisamente quando JPP se referia, criticando, a uma notícia que tinha classificado o estado do Vaticano como «uma monarquia absoluta».
Acontece que é verdade:
O facto de ser uma monarquia electiva não lhe retira a característica de absoluta, já que o papa concentra os três poderes: legislativo, executivo e judicial. Electiva porque não pode ser hereditária, claro - pelo menos até ver!
P.S: - Já depois de escrever este post, vi que Ricardo Alves se referiu ao mesmo facto no Esquerda Republicana, citando a página oficial do Estado do Vaticano, onde se confirma, expressamente, a característica de «monarquia absoluta» do Vaticano.
(Publicado também aqui)
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16.5.10
Mais um que é de plástico
Mas, pelos vistos, há quem goste.
Além disso: estive uns dias fora do país e verifico agora que, entretanto, foi formalmente criado um governo paralelo do bloco central. Ou houve eleições? Ninguém me disse nada.
P.S. – A ler: Crecimiento o barbarie
«Las dos grandes preguntas a partir de ahora son las siguientes: si los mercados exigen más sangre, como ha pasado en Grecia, ¿habrá nuevas medidas de ajuste sin un estallido social? ¿Hasta dónde se puede llegar en los ajustes sin clausurar por un periodo largo las posibilidades de crecimiento de la vieja Europa?»
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