29.6.13

Pobrezas



Pobres,
lo que se dice pobres,
son los que no tienen tiempo para perder el tiempo.

Pobres,
lo que se dice pobres,
son los que no tienen silencio ni pueden comprarlo.

Pobres,
lo que se dice pobres,
son los que tienen piernas que se han olvidado de caminar,
como las alas de las gallinas se han olvidado de volar.

Pobres,
lo que se dice pobres,
son los que comen basura y pagan por ella como si fuese comida.

Pobres,
lo que se dice pobres,
son los que tienen el derecho de respirar mierda, como si fuera aire, sin pagar nada por ella.

Pobres,
lo que se dice pobres
son los que no tienen más libertad de elegir entre uno y otro canal de televisión.

Pobres,
lo que se dice pobres,
son los que viven dramas pasionales con las máquinas.

Pobres,
lo que se dice pobres,
son los que son siempre muchos y están siempre solos.

Pobres,
lo que se dice pobres, son los que no saben que son pobres.

Eduado Galeano
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Pois, isso é que era!



Greves eram só das seis e meia às sete

«Na conferência de imprensa do Conselho de Ministros, Marques Guedes afirmou que o governo “respeita integralmente o exercício de fazer protesto relativamente ao governo como respeita mais ainda os portugueses que estão a trabalhar. E registamos que o país não está parado”. A sentença foi repetida para que ninguém passasse ao lado. Ora a declaração, via porta-voz do Conselho de Ministros, de que o governo “respeita mais ainda os portugueses que estão a trabalhar” é todo um programa. Um programa com um ligeiro perfume a relíquia do Estado Novo. O governo não pode respeitar mais e menos os portugueses consoante façam ou não greve. O desespero, o caos, e a atávica falta de cultura democrática produziram isto – dias de lixo, como brilhantemente escreveu José Pacheco Pereira.»
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Um retrato não muito bonito



«Há dez anos já íamos todos morrer. Há dez anos já tínhamos pântano político e tanga no Estado. Há dez anos as reformas já eram todas para já e acabavam sendo nunca. Há dez anos as mesmas pessoas de hoje enchiam a boca de feitos e esvaziavam a mão de defeitos. Há dez anos já havia todas as mentiras, todos os mentirosos e todos a quem mentiam. Há dez anos já havia interesses, lóbis, corrupção, desigualdades, pobreza, proteccionismo, impunidade, compadrio, desesperança, défice, dívida, partidos políticos e políticos partidos. (...)

Em cinco Governos, apenas um cumpriu a legislatura. Houve maioria absolutas, relativas, coligações, dissoluções, escolhas sem eleições. As retomas nunca chegaram, o défice foi sempre manipulado, a dívida foi sempre escondida, a competitividade foi fraca, a economia foi fraca, a carne foi fraca. (...)

A Europa afunda-se em resgates, o euro claudica. Durão mudou de nome para Barroso. Aparece Obama. Esmaece Mandela. O mundo sacode-se, com a revolta de uma larga região do hemisfério sul pobre mas emergente contra outra larga região do hemisfério norte rico mas decadente. O mundo ocidental atolado em dívidas. O mundo oriental a tornar-se potência. Uma demografia explosiva e desequilibrada. Centenas de milhões de seres humanos a sair da pobreza. A exigirem mais do seu sistema político. A circularem livremente em redes sociais. Primavera Árabe. África em crescimento astral. »

(Daqui)
O link pode não funcionar.
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28.6.13

Ainda não bateram o recorde nacional, mas lá chegarão



Em 1962 levaram 1 500 estudantes, ontem só um pouco mais de 200 cidadãos – mais exactamente 226, dos 14 aos 80 anos, com as mais variadas orientações políticas, que se apresentarão em Tribunal no próximo dia 12 de Julho, depois de os advogados terem exigico o prazo legal a que têm direito para elaborar a defesa.

Os tempos são outros e as circunstâncias também? Certamente. Mas talvez seja um bom exercício procurar diferenças e reflectir em semelhanças. 
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I Ain't Scared of Your Jail

Era tão bom se ainda fosse assim, não era?



Parece que sim, pelo menos para muitos para quem o respeitinho continua a ser o bem mais precioso.

«O professor primário era um "soldado que ministrava o pão do espírito". Para os médicos, era uma honra trabalhar em certos serviços. "E os hospitais lucravam com esta mão-de-obra gratuita e, de mais a mais, agradecida". Anos 60, 70, 80: quando os funcionários públicos eram encarados como verdadeiros missionários.

As profissões eram prezadas. Os seus servidores, vinculados ao Estado, eram encarados como merecedores de apreço. Como sendo movidos pelo serviço público, independentemente da remuneração. Antes do 25 de Abril, as elites políticas reconheciam-lhes valia. "O professor primário é um soldado que ministra pão do espírito e fortalece a própria raiz da vida nacional. O professor primário é símbolo de idealismo, de coragem, de fé e de sacrifício", referia, em 1972, o então ministro da Educação Nacional, José Veiga Simão, citado na "Escola Portuguesa". Os grandes mestres da medicina, como Miller Guerra, em "O Relatório das Carreiras Médicas", de 1961, diziam: "Era proveito e honra trabalhar em certos serviços sob a direcção de profissionais reputados. (…) Os médicos procuravam nos hospitais os conhecimentos científicos e, alguns, a qualificação profissional. (...) Os hospitais lucravam com esta mão-de-obra gratuita e, de mais a mais, agradecida".

A enfermagem, sob a égide do Estado, acabara vertida em "verdadeiro sacerdócio" na década de 40 (e mais tarde), como nota Hélder Henriques, professor na Escola Superior de Educação de Portalegre, no artigo "O Ensino da Enfermagem no Estado Novo". Recorda ele que o casamento das enfermeiras era proibido e o recrutamento deveria fazer-se "entre jovens solteiras ou viúvas que não tinham filhos ou maridos para cuidar".

Feitas as apresentações, foquemo-nos no presente. O fogo atirado agora sobre os funcionários públicos vem de muitos lados e é cerrado. Acusados de improdutividade, de serem protegidos com regalias em relação aos privados, existe uma espécie de guerra civil sublimada entre os sectores público e privado. O Governo, liderado por Passos Coelho, aponta como prioridade política a redução do Estado: cortar nas gorduras, não se sabendo ainda se as ossadas ficarão à vista. As medidas estão em marcha: mobilidade especial, expressão para designar uma espécie de antecâmara do desemprego, redução do pessoal contratado, aumento do horário de trabalho e despedimento de professores são algumas das metas do Governo, em nome da eficiência do Estado.»

(Daqui)

O link pode só funcionar mais tarde.
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27.6.13

Comunicado de Imprensa dos Manifestantes Detidos no Bairro da Bela Flor



Voltarei certamente a este tema que acompanho há várias horas, até por ter vários amigos que estiveram / ainda estão a ser identificados pela polícia e com quem tenho estado em contacto.

Nós, os manifestantes detidos hoje, 27 de Junho de 2013, no bairro da Bela Flor, saímos em manifestação espontânea a partir de S. Bento, com a polícia constantemente a acompanhar-nos sem nos nos dar qualquer tipo de indicações. Durante todo o percurso, os manifestantes foram pacíficos e não causaram qualquer tipo de danos. Após a passagem pelo Centro Comercial das Amoreiras, quando nos aproximámos do acesso para a Ponte 25 de Abril, pela primeira vez, as autoridades comunicaram connosco para nos indicar que enveredássemos para o acesso à Ponte 25 de Abril. Fomos encurralados por dezenas de membros e carrinhas do corpo de intervenção que esperavam fora de vista, e então dirigidos para o bairro da Bela Flor, sempre rodeados pelo corpo de intervenção. Ficámos detidos na rua desde as 19 horas (passa já das 23 horas e só agora estamos aos poucos a ser libertados), sem acesso a água ou sanitários. Após identificação e revista um a um dos cerca de 200 manifestantes, foram-nos apresentados, documentos para assinar ao mesmo tempo que se dificultava o acesso a advogados. Acabámos por saber que teremos que comparecer todos amanhã, 28 de Junho, às 10 da manha no Campus da Justiça do Parque das Nações. Pedimos a presença e solidariedade de todos para os procedimentos.
Já na anterior Greve Geral aconteceram inúmeras irregularidades nas detenções que foram efectuadas e, mais uma vez, o governo procura formar um escândalo para tentar abafar o impacto da Greve Geral.
Aqui não há criminosos mas há arguidos; no governo não há arguídos, há criminosos.

Os Manifestantes Detidos no Bairro da Bela Flor.
Bairro da Bela Flor, 27 de Junho de 2013.

manifestantes.da.bela.flor@gmail.com 
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Ainda a saga dos subsídios



Ricardo Araújo Pereira, na Visão de hoje, esquece quase o seu papel de humorista e assume o de crítico, puro e duro. 

«Ao contrário do que se diz, o governo é implacável com os credores. É duro a renegociar montantes de dívidas e prazos de pagamento. Aos pensionistas e funcionários públicos, começou por propor um violento hair-cut de 100%, relativamente ao dinheiro que lhes devia. E depois alargou o prazo de pagamento em vários meses. Tudo indica, portanto, que temos o governo certo. Nós é que somos os credores errados.»

Ler na íntegra AQUI.
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De onde vem a palavra «greve»?



A origem da utilização actual do termo está ligada a uma praça parisiense – Place de Grève –, nas margens do rio Sena, que ficou a dever o seu nome ao significado original da palavra (um terreno plano composto de cascalho ou areia à margem do mar ou do rio, segundo várias fontes) e que, no caso vertente, foi local de desembarque de mercadorias (madeira, trigo, vinho, feno, etc.) que chegavam a Paris através do rio, transformando-se no verdadeiro centro de Paris.
Era lá que se reuniam desempregados e trabalhadores insatisfeitos com condições de trabalho incerto e desregulado. Estavam ali, «em greve» – razão pela qual o termo passou a ser usado com o seu sentido actual a partir do final do século XVIII.

Durante a Revolução francesa, a Place de Grève foi também palco para estreia do uso da guilhotina, mas «a multidão, acostumada desde a Idade Média com suplícios mais «refinados», mostrou-se decepcionada com a rapidez do processo».

 Em Março de 1803, o nome foi mudado para Place de l’Hôtel-de-Ville. 

Hoje já não há cascalho nem em guilhotinas nas margens do Sena, mas as greves continuam. 
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E pur si muove


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Greves do antigamente – Bretanha 1924



Das operárias em conserveiras de sardinhas.

«En l'espace de quelques jours, l'ensemble des usines de conserverie débrayent et se joignent au mouvement soutenu par le nouveau maire communiste fraîchement élu, Daniel Le Flanchec. (...)
42 jours après le début des hostilités, le conflit prend un tournant décisif le 1er janvier 1925 à 18h00 avec un attentat par armes à feu sur la personne du maire et de son neveu. Nuit de saccage, nuit de colère face à cet acte odieux, le scandale qui en découlera mettra un terme définitif à la grève le 6 janvier 1925 suite à un accord conclu avec les conserveurs et donnant satisfaction en grande partie aux grévistes douarnénistes.
Faisant suite à cette grève retentissante, un ultime fait fera néanmoins son apparition en cette année 1925 avec l'élection de Joséphine Pencalet (1886-1972) en qualité de conseillère municipale sur la liste de Daniel Le Flanchec. Les femmes n'étant pas encore pouvues de droit de vote en cette époque et encore moins celui d'être élue, le scrutin sera tout bonnement invalidée.»


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Sem alternativa


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26.6.13

1922


Clicar para ler.
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Salvador Allende nasceu há 105 anos



... em Valparaíso, no Chile. Afirmou, bem antes de 11 de Setembro de 1973, que estava a cumprir um mandato dado pelo povo e que só sairia do palácio depois de o cumprir. Ou que o faria «com os pés para diante, num pijama de madeira». Assim aconteceu. Sabe-se agora que se suicidou durante o ataque ao Palácio de la Moneda, em Santiago do Chile.

O seu último discurso:




Seguramente ésta será la última oportunidad en que pueda dirigirme a ustedes. La Fuerza Aérea ha bombardeado las torres de Radio Postales y Radio Corporación.

Mis palabras no tienen amargura sino decepción. Que sean ellas un castigo moral para quienes han traicionado su juramento: soldados de Chile, comandantes en jefe titulares, el almirante Merino, que se ha autodesignado comandante de la Armada, más el señor Mendoza, general rastrero que sólo ayer manifestara su fidelidad y lealtad al gobierno, y que también se ha autodenominado director general de Carabineros.

Ante estos hechos sólo me cabe decir a los trabajadores:

¡Yo no voy a renunciar!

Colocado en un tránsito histórico, pagaré con mi vida la lealtad del pueblo. Y les digo que tengo la certeza de que la semilla que hemos entregado a la conciencia digna de miles y miles de chilenos, no podrá ser segada definitivamente.

Tienen la fuerza, podrán avasallarnos, pero no se detienen los procesos sociales ni con el crimen ni con la fuerza. La historia es nuestra y la hacen los pueblos.

Trabajadores de mi patria: Quiero agradecerles la lealtad que siempre tuvieron, la confianza que depositaron en un hombre que sólo fue intérprete de grandes anhelos de justicia, que empeñó su palabra en que respetaría la Constitución y la ley, y así lo hizo.

En este momento definitivo, el último en que yo pueda dirigirme a ustedes, quiero que aprovechen la lección: el capital foráneo, el imperialismo, unidos a la reacción, crearon el clima para que las Fuerzas Armadas rompieran su tradición, la que les enseñara el general Schneider y reafirmara el comandante Araya, víctimas del mismo sector social que hoy estará esperando con mano ajena reconquistar el poder para seguir defendiendo sus granjerías y sus privilegios.

Me dirijo a ustedes, sobre todo a la modesta mujer de nuestra tierra, a la campesina que creyó en nosotros, a la madre que supo de nuestra preocupación por los niños. Me dirijo a los profesionales de la patria, a los profesionales patriotas que siguieron trabajando contra la sedición auspiciada por los colegios profesionales, colegios clasistas que defendieron también las ventajas de una sociedad capitalista.

Me dirijo a la juventud, a aquellos que cantaron y entregaron su alegría y su espíritu de lucha. Me dirijo al hombre de Chile, al obrero que trabajó más, al campesino, al intelectual, a aquellos que serán perseguidos, porque en nuestro país el fascismo ya estuvo hace muchas horas presente en los atentados terroristas, volando los puentes, cortando las vías férreas, destruyendo los oleoductos y los gasoductos, frente al silencio de quienes tenían la obligación de proceder.

Estaban comprometidos. La historia los juzgará.

Seguramente Radio Magallanes será acallada y el metal tranquilo de mi voz ya no llegará a ustedes. No importa. La seguirán oyendo. Siempre estaré junto a ustedes. Por lo menos mi recuerdo será el de un hombre digno que fue leal con la patria.

El pueblo debe defenderse, pero no sacrificarse. El pueblo no debe dejarse arrasar ni acribillar, pero tampoco puede humillarse.

Trabajadores de mi patria, tengo fe en Chile y su destino. Superarán otros hombres este momento gris y amargo en el que la traición pretende imponerse. Sigan ustedes sabiendo que, mucho más temprano que tarde, de nuevo se abrirán las grandes alamedas por donde pase el hombre libre, para construir una sociedad mejor.

¡Viva Chile! ¡Viva el pueblo! ¡Vivan los trabajadores!

Estas son mis últimas palabras y tengo la certeza de que mi sacrificio no será en vano. Tengo la certeza de que, por lo menos, será una lección moral que castigará la felonía, la cobardía y la traición.
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O verdadeiro cromo



Ontem, na AR, «eram 17 horas em Lisboa mas o relógio do ministro marcava 18 horas». Para estar sintonizado com Bruxelas e Frankfurt, claro...

Devia comprar um destes para pôr também a hora de Chicago.
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Faquires nos fizeram



«A troika, em conjunto com o Governo, quis fazer dos portugueses os faquires do século XXI. Colocaram-nos sobre uma cama de pregos e têm-se entretido a saltar-lhes em cima. Para ver se são trespassados por eles ou se se tornarão exemplares de circo para mostrar a todo o mundo. Para isso inventaram uma tortura nova: a desvalorização interna. Essa cama de pregos fez-se de aumentos de todo o tipo de impostos.(...)

O rumo seguro de Passos Coelho é o de um navio que quer acertar num iceberg. Custe o que custar. Destrua o que destruir. (...) Nem os melhores faquires aguentam a teimosia do Governo e da troika.»

(Daqui)
(O link pode só funcionar mais tarde.)
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Countdown



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25.6.13

Um novo partido de esquerda? («Ressuscita, PRD»...)



Este post vem na linha de um outro publicado esta tarde pelo Luís Bernardo, a propósito da discussão sobre o possível aparecimento de um novo partido à esquerda, suscitada por uma entrevista que Rui Tavares deu ao «i» e de um artigo de José Vítor Malheiros no Público de hoje (sem link, mas que reproduzi aqui.)

Estando genericamente de acordo com o que o Luís escreveu, é-me impossível não estabelecer um paralelismo entre esta discussão recorrente sobre um hipotético espaço eleitoral entre o PS e os dois partidos com assento parlamentar, que se situam à sua esquerda, e aquela que deu origem, em 1985, à criação do Partido Renovador Democrático (PRD).

Os tempos e as motivações são outros, e alguns dos condicionalismos também, mas nem todos: se é verdade que a arena do PRD se situava entre o PSD e PS, e não à esquerda deste, é bom recordar que aquele partido nasceu em consequência da insatisfação com a política de austeridade posta em prática pelo governo então vigente (do bloco central, PS-PSD, 1983-1985, com Mário Soares como primeiro-ministro e com o FMI por cá...) e que foi precisamente a esse facto que ficou a dever-se o seu sucesso eleitoral nas eleições legislativas que se seguiram à queda desse mesmo governo: 18% nas legislativas de 1985, conseguidos sobretudo à custa do PS que desceu espectacularmente de 36 para 21%. Mas em 1987, quando o governo minoritário de Cavaco Silva foi derrubado por uma moção de censura e ocorreram novas eleições, o PRD passou de 18 para 5% de votos e de 45 para 7 deputados. O resto é conhecido: foi desaparecendo e acabou por vender a sigla para a legalização de um partido da extrema-direita.

Ou seja: não existia «espaço» real entre o PS e o PSD, como não existe hoje, julgo, entre os PS e o que está à sua esquerda. Há um grande descontentamento porque os socialistas não o são de facto, porque o Bloco parece um tanto à deriva, porque o PCP é visto como imobilista? Certamente. Mas não seria a criação de algo ideologicamente incaracterístico, mais ou menos gelatinoso, que se insinuasse nos interstícios pela negativa, que viria dar origem a uma base sólida e consistente. E ainda não vi nenhuma aproximação que não fosse isto mesmo, agora ou no passado recente, sempre que esta questão regressa à boca de cena. Se um partido deste tipo viesse a existir (o que eu não creio que venha a acontecer), até poderia ter, como o PRD teve, um resultado de estreia minimamente interessante e garantir uns tantos lugares ao Sol a muitos que os procuram. Mas não teria uma vida longa, como o PRD não teve, e, sobretudo, não resolveria o problema da esquerda portuguesa. O que resolverá então? Ah, isso é uma questão para um milhão de dólares, o caminho faz-se caminhando e o mundo não acaba amanhã.

(Também aqui).
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Longe vão os tempos em que alguns davam frigoríficos!



(Público de hoje)
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Orwell, George Orwell



George Orwell (mais exactamente, Eric Arthur Blair) faria hoje 110 anos. Nasceu em Motihari, nas Índias Orientais, onde ninguém deixa de reivindicar o facto quando a voz corrente o considera oriundo da Birmânia – reivindicação que ouvi mais de uma vez, quando andei por lá perto, a caminho do Butão. Mas, de facto, foi só em 1922 que Orwell chegou a Mandalay, em Burma, para frequentar a escola que o tornaria membro da Polícia Imperial Indiana.

Em jeito de homenagem e sempre actual:

«Uma sociedade torna-se totalitária quando a respectiva estrutura se torna manifestamente artificial, isto é, quando a respectiva classe dirigente perdeu a sua função mas consegue manter-se agarrada ao poder pela força ou pelo embuste. Uma sociedade assim, por muito tempo que persista, nunca pode dar-se ao luxo de se tornar tolerante ou intelectualmente estável. (…) Porém, para sermos corrompidos pelo totalitarismo, não é obrigatório que vivamos num país totalitário.»
Livros & Cigarros

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Problemas de comunicação?



Há comparações e imagens que valem por mil discursos longamente explicativos.

«Julgava-se que um Governo servia para governar e não para ser um departamento do Chapitô. Num momento crucial sobre o nosso futuro, este Governo poderia optar por uma política junto do país real e fazer uma digressão pelas praias de Portugal. Cada dia um ministro com primeira parte de Tony Carreira. Seria a prometida mudança comunicacional no seu esplendor.»

(Daqui)

(O link pode só funcionar mais tarde.)
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24.6.13

A pouco mais de 48 horas


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Esperança, mas com taxa moderadora

E quanto ao Brasil



... dois conselhos, por hoje:

 *** Ler este texto na «Passa Palavra»: Uma nação em cólera: a revolta dos Coxinhas.

*** Ver este vídeo:


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Cavaco, versão Speedy Gonzalez



«Tão veloz como Speedy Gonzalez, Cavaco Silva promulgou a lei governamental para que os subsídios de férias só sejam pagos em Novembro. Tanta celeridade, em contraste com tanta reflexão no passado sobre tudo e mais alguma coisa, demonstram apenas uma coisa: Cavaco deixou de ser um presidente para passar a ser um pin colocado na lapela do casaco do Governo. (...)

Com Cavaco, acabou o semi-presidencialismo bebido nas teses de Maurice Duverger pelos constitucionalistas portugueses de 1975 e 1976. Isto sucede numa altura em que o CDS forja a mais consistente alternativa estratégica e táctica ao Governo de que faz parte (...) em tudo, um programa de oposição ao liberalismo de laboratório de Passos e Gaspar. (...)

O CDS sente que o vento vai mudar. Só Cavaco, perdido no seu labirinto, perdeu a noção das mudanças que têm de haver rapidamente para que o regime não impluda. Mas isso diz muito sobre a elite que nos governa.»

Fernando Sobral

(O link pode só funcionar mais tarde.)
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De camaleão a carburante de extrema direita



... leve o diabo a escolha e a reputação de Durão Barroso já teve melhores dias.

«O senhor Barroso é o carburante da Frente Nacional, eis a verdade! E é o carburante de Beppe Grillo.», afirmou Arnaud Montebourg, ministro da Indústria francês, a propósito do actual sucesso do partido de Marine Le Pen no seu país.

Mas explicou porquê e isso é que é importante: «toda esta classe dirigente europeia não vê que a UE é a única região do mundo que organizou, de certa maneira, a sua própria recessão, enquanto o resto do mundo está a crescer». Alguém nega?

(Fonte)

23.6.13

E ele hoje não falou



Tinha dito que não convocaria conferências de imprensa «diárias» à quinta-feira porque há briefing do Conselho de Ministros. Mas também não trabalha ao fim-de-semana? Semanas de quatro dias, portanto? Acho mal... E será que respeita, amanhã, o feriado de S. João? Como viveremos sem este maná prometido?!... 
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O deserto do meu contentamento



Na actual sessão do Comité do Património Mundial da UNESCO, reunido em Phom Penh, no Camboja, na mesma em que Coimbra foi declarada Património da Humanidade, também o Deserto da Namíbia foi incluído na lista (*). Que Coimbra me desculpe, mas bati mais palmas: este enorme «Mar de Areia» foi das maiores maravilhas que me foi dado ver neste mundo. Por lá andei em 2007 e bem gostaria de um dia voltar. «Regresso» com algumas imagens das suas míticas dunas, as duas últimas tiradas a bordo de um pequeno avião.






(*) Com a seguinte justificação: «O "Mar de Areia da Namíbia" é o único deserto costeiro do mundo, que inclui extensas áreas de dunas influenciadas pelo nevoeiro. Cobrindo uma área de mais de três milhões de hectares e uma zona tampão de 899.500 hectares, o local é composto por dois sistemas de dunas, um antigo semiconsolidado, recoberto por um mais novo activo. As dunas do deserto resultam do transporte de materiais vindos do interior, de locais a milhares de quilómetros, que são levados por rios, correntes oceânicas e vento. Há planícies de cascalho, planos costeiros, montanhas rochosas, ilhas de pedra dentro do mar de areia, uma lagoa e rios efémeros, num conjunto de que resulta uma paisagem de uma beleza excepcional. O nevoeiro é a principal fonte de água no local e é responsável por um ambiente único em que os invertebrados endémicos, répteis e mamíferos se adaptam a uma variedade, em constante mudança, de micro «habitats» e nichos ecológicos.» 
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A Europa que não se cuide...




E isto não vai lá com compromissinhos mancos entre esquerdas e pseudo-esquerdas. O problema é muito mais fundo e mais grave e ou a Europa acorda ou afunda-se – e nós com ela, neste insignificante e centrifugado canteiro. 
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Incompetência pura e dura



«Há uma assinatura que percorre toda a acção governamental: incompetência com muita ignorância à mistura.

Os responsáveis governamentais não queriam acabar com a classe média como estão quase a conseguir; não queriam, obviamente, criar estes níveis de desemprego; não queriam obrigar tanta gente a emigrar; não queriam que a dívida se tornasse impagável; não queriam destruir a economia portuguesa por muitos anos. Sem ponta de ironia, claro que não. Enganaram-se. Foram tão-só incompetentes. E não há nada pior do que um incompetente bem-intencionado. (...)

Não sobrou quase nada. Não há discurso, não há uma linha de rumo, não há um plano. Há apenas uma vontade de sobreviver ao próximo disparate, ao próximo descalabro orçamental, aos próximos números do desemprego, aos próximos boletins meteorológicos, aos próximos humores de Gaspar, aos próximos arrufos de Portas e a muita, muita incompetência e ignorância sobre o país. Dois anos, apenas em dois anos.»

Pedro Marques Lopes