22.6.13

Este PS não tem cura



Para além do doloroso exercício de se tentar ouvir António José Seguro no encerramento da Convenção Nacional Autárquica do PS, ainda se levou com o prometedor porta-voz do dito partido em dislates como este:


Sai uma união das esquerdas para a mesa do canto?


P.S. - Ler: Não acertes muito ao lado, pá
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Com o Brasil no horizonte



Soneto da separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Vinícius de Moraes

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Independentemente de todas as ambiguidades




Maracanã, 20 de Junho
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Poiares Maduro – telenovela com episódios diários



Quando Miguel Poiares Maduro foi nomeado para este governo tive um sobressalto e estive quase a gritar: «Papá, conheço um ministro!» Por estranho que pareça, e apesar de já por cá andar há bastantes anos, não me foi dado falar alguma vez com qualquer outro membro do actual executivo, nem mesmo a nível de secretários de Estado ou, se não me engano, do batalhão de adjuntos e assessores – mundos paralelos ao meu, portanto.

Mas, antes de este blogue existir, MPM e eu escrevemos num outro de um amigo comum, o que deu origem a uma magnífica almoçarada que durou uma tarde, num belo dia de Sol, algures na costa alentejana. Já passaram uns anos, não me lembro do que falámos, mas fiquei com uma excelente impressão de uma pessoa simples, inteligente e culta. Daí o meu espanto ao vê-lo aceitar a pertença a uma governo como o actual e já em fase de acelerada decadência, apesar de o saber da mesma orientação política. Ao que veio não sei, daquilo a que está a ir parece-me resultar um falhanço já concretizado.

É certo que não há aspirinas nem pensos rápidos que salvem este governo (felizmente...), mas o que MPM ontem anunciou parece consubstanciar um disparate puro e duro: a partir da próxima semana, terá encontros diários (?!...) com a comunicação social para falar da governação. Levará pela mão outros ministros, se assim o entender, mas velará para que o governo fale a uma só voz.

Centralismo mais centralista é difícil de conceber, obediência ministerial generalizada é o objectivo em vista (mas paguemos para ver Paulo Portas, manso como um cordeiro, como segunda figura atrás de MPM...). Por outras palavras, já que o governo não consegue coesão interna, limitem-se os estragos calando divergências e inventando uma falsa unidade para português ver. E o português verá.

Tudo se resumirá a um maná precioso para jornalistas que tirarão pelo menos um sound bite de cada episódio diário da telenovela. 

E a caravana continuará a passar. 
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21.6.13

Não há Verão...



.... nos céus, mas há caracóis cá por baixo. Vamos a eles, enquanto não são taxados como sinais exteriores de riqueza.


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O tal sonho de Sá Carneiro



«Presidente da República já promulgou reposição do subsídio de férias - Uma maioria, um governo, um mordomo.»

(João Quadros no Jornal de Negócios)


[Em estereofonia]
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A raiva funda vai-se acumulando



(Rio de Janeiro, ontem) 

«A separação social, entre ricos e pobres, tornou-se chocante e indigna. As instituições deixaram de merecer o respeito dos cidadãos. A polícia, sempre bruta, é odiada. A própria democracia é cada vez mais vista como um mero ritual inconsequente. No passado, situações similares deram lugar a revoluções.

Das revoltas sociais dos últimos anos a do Brasil é certamente a mais inesperada. Ao contrário dos países árabes e da própria Europa, em que a miséria e a decadência são os motores da agitação, o Brasil tem assistido a um forte crescimento retirando milhões de pessoas da miséria. O Brasil está numa curva de enriquecimento. Então porque protestar? De onde vem esta imensa raiva contra o sistema político e económico? (...)

Comece-se por uma coisa que ninguém tem em conta porque acha que tudo se reduz à razão económica. Para que serve afinal a vida? Será que é para trabalhar arduamente, comprar uns gadgets, ver uns jogos de futebol e depois morrer? É certo que a maioria parece adaptar-se bem a esta existência minimal, mas a raiva funda, o desencanto absoluto, vão-se acumulando e, quando menos se espera, temos a violência estúpida do quotidiano, os espasmos egoístas e, por vezes, a descida às ruas com vontade de partir tudo. Nunca é preciso muito para desencadear estes vulcões adormecidos. Uma subida no preço do bilhete do autocarro chega perfeitamente.

Convenhamos. A vida prometida pelos governantes e pelos publicitários, é deprimente. Passar os dias numa caixa de supermercado, em gestos repetitivos e sorrisos mecânicos, para se chegar a casa cansado e ver uma estúpida novela em que tudo é falso, medíocre e irrelevante, pode realmente satisfazer alguém? É isto uma vida? (...)

Os governos são hoje claramente identificados como inimigos do povo. A separação social, entre ricos e pobres, tornou-se chocante e indigna. As instituições deixaram de merecer o respeito dos cidadãos. A polícia, sempre bruta, é odiada. A própria democracia é cada vez mais vista como um mero ritual inconsequente. No passado, situações similares deram lugar a revoluções.» (O realce é meu.)

Leonel Moura

(O link pode só funcionar mais tarde.)
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Brasil 2079


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20.6.13

Empreendorismo


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Agruras de pai



Ricardo Araújo Pereira, hoje em pausa de crises políticas.

«Antes de as minhas filhas nascerem, abordava fruteiras com uma empáfia que já não tenho. (...) Agora procuro a fruta que tiver pior aspecto, corto a parte que é mesmo inaceitável, como a restante e deixo a boa para as miúdas.»

Na íntegra AQUI.
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Há sempre um bombo da festa: chegou a vez do FMI



 Só falta vê-los gritar: «FMI fora daqui!».

«Os políticos portugueses tornaram-se, por momentos, adeptos da unicidade sindical. Todos querem erradicar o FMI, como se ele fosse uma mistura de sarampo, tosse convulsa e dengue.

Nos seus melhores momentos o FMI é só a mistura de duas dessas doenças. Nos piores é o cordato coveiro que paga o funeral de muitas sociedades. O certo é que o FMI não nasce e surge por obra e graça divina. Aparece como um zombie porque o chamam. No caso português a sua cavalaria só veio conquistar esta última fronteira porque os políticos portugueses e europeus mostraram, mais uma vez, uma incompetência total para resolver os problemas reais que tinham entre mãos. (...)

Agora, para os políticos portugueses, o FMI é o bombo da festa. Como se eles fossem vitimas inocentes desta austeridade sem senso que está a destruir a economia, a criar um desemprego intolerável e uma emigração devastadora. O FMI ajudou a estilhaçar a sociedade portuguesa. Mas a sua culpa não morre solteira.»


(O link pode só funcionar mais tarde.) 
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A terra a quem a trabalha



Cavaco para Boliqueime, já!

 
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19.6.13

Férias 2013



Novembro de 2013. Família de funcionários públicos sai para ir levantar o subsídio de férias. Estão todos muito felizes.

(Azeredo Lopes no Facebook)
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Chico Buarque? Para mim, é 1966



Chico Buarque da Holanda faz hoje anos e eu sorri quando, no Facebook, se discutia esta manhã quem o tinha visto pela primeira vez, e se nos anos 80 ou só nos 90. «Jardim infantil!», comentei. Porque «revi», inevitável e imediatamente, a velha representação de «Morte e Vida Severina», com poema de João Cabral de Melo Neto e música de CBH, a que assisti, no Teatro Avenida em Lisboa, em 2 de Junho de 1966. (*)

Foi interpretada por um grupo de teatro universitário brasileiro e acompanhada por três músicos, um dos quais era precisamente o que foi apresentado como o compositor: CBH (que por cá terá ficado algumas semanas a arrasar muitos corações...).

Em 1966? Há 47 anos? Sim. E Chico tinha apenas 22, o que parece tão incrível como ter agora 69.



Filme de Zelito Viana (1977)


(*) Há sempre controvérsias sobre o local – Teatro Avenida ou cinema Império – mas já concluí, há uns anos, que houve duas representações em Lisboa. Para além de uma outra no Porto e julgo que também em Coimbra. 
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Mr. Barroso, I presume



Nem o jornal Le Monde é um pasquim de vão de escada, nem a França é um dos preguiçosos países do Sul, equiparados pelos senhores do mundo ao Burkina Faso. Daí a violenta reacção em Editorial de ontem, daquele diário, às afirmações de Durão Barroso que classificou como «reaccionária» a posição francesa de defesa da excepção cultural nas negociações em curso, entre Estados Unidos e Europa. Os factos são conhecidos, as notícias estão nos jornais, mas não resisto a citar o que Le Monde diz de Durão Barroso. E em português, já que a francofonia anda pelas ruas da amargura, aqui nesta ponta ocidental da Europa.

«Desde há oito anos que o presidente da Comissão se distingue pela sua maleabilidade. Defensor dos pequenos Estados quando era primeiro-ministro de Portugal, liberal quando foi nomeado para Bruxelas antes da crise de 2008, sarkosista sob a presidência de Nicolas Srakosy, incapaz, desde então, da menor iniciativa para relançar a União, acompanhou o declínio das instituições europeias.
Hoje, com 57 anos, este camaleão prepara o futuro. À procura de um belo lugar, na NATO ou nas Nações Unidas – quem sabe? –, escolheu bajular os seus parceiros anglo-saxões, o primeiro-ministro britânico e o presidente americano. À cabeça da Comissão, Barroso terá sido um bom reflexo da Europa: uma década de regressão.» 

Se nada disto resultar, talvez consiga ser presidente da República Portuguesa! Improvável? Registe-se para hipótese de memória futura. 
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E continua a chover



Não sei se temos chuvas em Junho por causa do buraco do ozono, por mau olhado dos céus ou por preces de Vítor Gaspar que assim continua a ter o seu penúltimo alibi.

«Vítor Gaspar é o maior mestre da retórica em Portugal. Transformou a chuva em política e as gotas de água em desculpas. Segundo o nosso loquaz ministro das Finanças, a chuva foi a culpada por não haver investimento nos primeiros meses do ano. (...)

Foi a chuva, e não Gaspar e o Governo, que destruíram riqueza e empregos sem benefício fiscal para o Estado. Mas, afinal, o emprego nunca foi o problema do Governo ou da troika. Tudo é devedor da dívida e do défice, como explica Gaspar na sua voz de disco de 45 rotações por minuto que é reproduzido a 33 rpm. É por isso que enquanto organiza mais austeridade, fala de crescimento. (...)

Vítor Gaspar é o manda-chuva da troika entre nós. Por sua vontade Portugal era um país sem sol e sem turismo. As suas preces têm sido atendidas, este ano, por São Pedro. Mas com a conjunção destas medidas politicamente tolas e economicamente parolas o Governo vai destruindo o que ainda resta da economia nacional.»


(O link pode só funcionar mais tarde.) 
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Como é diferente o amor em Portugal...



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18.6.13

Renegociação?



Pode querer ler e assinar a petição «Pobreza não paga a dívida!»

Maria Bethânia – 18 de Junho de 1946



67 anos de idade e 48 de carreira tem esta grande senhora da música de um país neste momento em plena ebulição.

O seu irmão Caetano Veloso homenageou-a hoje, divulgando esta foto de ambos quando eram jovens e a seguinte mensagem: «Bethânia, grande orgulho da minha vida, grande divindade da nossa música e dos palcos, faz aniversário hoje. Tudo megabom, gigabom, terabom para minha irmãzinha.»






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Ubiquidades blogosféricas



A partir de hoje, para além de estar no «Brumas» que continua o seu caminho, morarei também no 5 Dias, hoje amplamente alargado com a entrada de 20 novos bloggers

Alex Matos Gomes, Alexandre de Sousa Carvalho, André Pestana, António Mariano, Felipe Abranches Demier, Frederico Aleixo, Gui, Joana Lopes, João Vilela, Lucia Gomes, Luhuna Carvalho, Luis Miguel Rainha, Paula Gil, Mário Machaqueiro, Nuno Bio, Paula Cristina Marques, Paula Godinho, Otávio Raposo, Rita Veloso.
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Nem Grexit nem Grecovery



Lê-se sobre a Grécia e pensa-se em...? 

«Um ano após subir ao poder, o Governo de Antonis Samaras tenta convencer as instâncias internacionais de que a saída da crise está para breve. Mas a realidade nas ruas de Atenas, mergulhadas em apatia, desmente o optimismo do primeiro-ministro grego. (...)

“Já ninguém fala de Grexit mas sim de Grecovery”, declarou o primeiro-ministro Antonis Samaras na quinta-feira passada, em Helsínquia, depois de uma reunião com o seu homólogo finlandês (...): o risco da Grécia sair da zona euro já passou e chegou a hora da recuperação. (...)

A praça vazia não é sintoma de otimismo. Seis anos depois do início da grande crise, se as manifestações já não são tão grandes é porque o cansaço de três anos de austeridade sem tréguas também tem destruído o toque a reunir. Os protestos de vários grupos afectados pelos cortes têm sido quase diários, mas com menor intensidade. (...) “Há menos pessoas nas manifestações pela simples razão de que se protesta quando se tem esperança, quando se acredita que as coisas podem mudar”. (...) “Sim, a comunicação está a dar resultado. Porque, apesar da situação estar pior do que há dois anos, o que existe agora é uma derrota social, a resignação perante o que está a acontecer.” (...)

As sondagens voltam a dar o primeiro lugar ao seu partido [de Samaras], à frente do esquerdista Syriza. “A Nova Democracia está a ganhar novamente porque as pessoas querem acreditar na ideia de que estamos a melhorar. Sabem que não é assim, mas precisam de acreditar que é. A outra parte da história é a imaturidade da esquerda.” (...)

Numa das paredes de Atenas, muitas das quais, nos últimos três anos, têm servido para verter a raiva de uma juventude que, de repente, se viu sem futuro, alguém escreveu: “Onde está o meu resgate?” Palavras incómodas, que não fazem parte do novo guião.» 

17.6.13

Abrirá?

Tudo vem daqui!



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Renegociar já, mas não como os credores querem



No Público de hoje, um importante texto de José Maria Castro Caldas, que ajuda a perceber a especificidade da Petição que a IAC (Iniciativa para uma Auditoria Cidadã à Dívida) lançou recentemente e que pode ser lida e assinada AQUI.

Com as intervenções da troika, uma parte importante da dívida grega e portuguesa passou de mãos dos credores privados, internos e externos, para a de credores oficiais – o FMI, o BCE e os fundos da União Europeia. Para isso serviram os resgates: para transferir dívida pública tóxica do sector privado para o sector público. Quem agora o reconhece, com a mais desavergonhada candura, é o FMI no relatório sobre a Grécia que recentemente veio a público: “Uma reestruturação à partida teria sido melhor para a Grécia, apesar disto não ser aceitável pelos parceiros do euro. Uma reestruturação atrasada também criou a janela para os credores privados reduzirem a sua exposição e mudarem a dívida para as mãos de credores oficiais (FMI, BCE e instrumentos europeus). Esta mudança ocorreu numa escala significativa e limitou um bail in (resgate envolvendo os detentores de títulos de dívida)… deixando os contribuintes e os Estados com a responsabilidade de pagar”.

Compreende-se assim que, “à partida”, os banqueiros não quisessem nada com a reestruturação da dívida. “Temos de evitar a reestruturação da dívida o mais possível porque se fizermos perder dinheiro àqueles que nos emprestaram dinheiro, esses não vão voltar a emprestar outra vez”, disse José Maria Ricciardi, segundo o jornal Sol, no dia 27 de Dezembro de 2011.

E compreende-se também que a opinião agora comece a mudar. “Se até 2014 a economia não crescer, vai ser necessário reestruturar a dívida”, disse o mesmo Ricciardi em entrevista ao Jornal de Negócios na semana passada.

Não era difícil perceber o que devia ser feito em 2010 na Grécia e 2011 em Portugal — Grécia e Portugal deviam ter desencadeado uma renegociação da dívida tendente à sua reestruturação. Mas a reestruturação atempada da dívida teria feito “perder dinheiro àqueles que nos emprestaram dinheiro” e isso era inaceitável para quem condicionava e acabou por determinar as decisões políticas do momento — os bancos e os fundos de investimento.

A situação agora é outra. Agora, perante os resultados da austeridade, interessa aos banqueiros garantir a cobrança de alguma coisa antes que as vítimas da austeridade se tornem incapazes de pagar o que quer que seja. Por isso falam de reestruturação da dívida.

Será que isso significa que a renegociação da dívida e a sua reestruturação já não interessa aos povos da Grécia e de Portugal? É claro que interessa. Só a renegociação, acompanhada de uma moratória, e a reestruturação, com anulação de uma parte do valor da dívida, redução das taxas de juro e alongamento das maturidades, pode reduzir o peso dos juros na despesa pública, evitar o colapso da provisão pública de bens e serviços e libertar recursos para o investimento e a criação de emprego.

Mas a reestruturação de que Portugal e a Grécia precisam não é a dos credores. Aos credores interessa aliviar o fardo para que o “animal” continue a ser capaz de puxar a carroça. Aos povos grego e português interessa alijar a carga para caminhar em frente, sem condições impostas pelos credores.

A renegociação tendente à reestruturação da dívida de que precisamos tem de ser conduzida em nome do interesse nacional, contra o interesse dos grandes credores e salvaguardando os pequenos aforradores. O Estado português tem de tomar a iniciativa e conduzir todo o processo. Mas o Governo português, o Presidente da República e a maioria dos deputados da Assembleia da República fingem não perceber. Estão sentados à espera que os credores mandem. Em contrapartida, cresce na sociedade a compreensão da necessidade de agir.

A Iniciativa para uma Auditoria Cidadã à Dívida (IAC), que desde a sua fundação em Dezembro de 2011 tem vindo a trabalhar para conhecer e dar a conhecer a dívida pública (ver o Relatório “Conhecer a dívida para sair da armadilha”), lançou, em conjunto com outras organizações, a campanha Pobreza não paga a dívida: renegociação já!

Responde esta campanha à necessidade sentida pela IAC de complementar o trabalho de estudo e análise da dívida pública, que prosseguirá, com mais debate público sobre as causas e as consequências da dívida e mobilização pela sua renegociação com a participação dos cidadãos.

A campanha envolve uma petição dirigida à Assembleia da República, instando-a a pronunciar-se pela abertura urgente de um processo de renegociação da dívida pública, pela criação de uma entidade para acompanhar a auditoria à dívida pública e o seu processo de renegociação e pela garantia de que nestes processos existe isenção de procedimentos, rigor e competência técnicas, participação cidadã qualificada e condições de exercício do direito à informação de todos os cidadãos e cidadãs.

Trata-se de fazer ouvir em S. Bento uma opinião e uma vontade que acreditamos ser maioritária na sociedade portuguesa.

É certo que quando tudo está a arder uma petição parece pouco. No entanto, com um número pouco usual de assinaturas, a petição terá força. Confrontando os membros da Assembleia da República com as suas responsabilidades, poderá acordá-los para a necessidade de não fazer o que os credores querem.

A petição pode ser subscrita online

(A partir daqui.)
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Greve: da asneira à grande derrota



É difícil imaginar comportamento mais desastroso de Passos Coelho, Nuno Crato (e até do prometedor Poiares Maduro) em todo este imbróglio.

O governo deu comos garantidos os serviços mínimos, recorreu canhestramente da decisão do Colégio Arbitral, desafiou os professores convocando-os em massa para o dia de hoje, manteve um braço de ferro com os sindicatos exigindo-lhes, até à 25ª hora, um compromisso que eles nunca poderiam aceitar: não marcarem mais nenhuma greve em dias de exames, até ao final da época, embora tivessem assegurado que não o fariam em qualquer data que o ministério escolhesse para substituir a de hoje.

Crato falhou ontem a última chamada para uma saída airosa: adiar o exame, precisamente em nome do bem maior que são os alunos que tanto diz defender. Estes estariam hoje certamente menos «perturbados», em casa, sem indecisões, do que à porta das escolas não sabendo, sabe-se lá até quando, o que os espera. Mas preferiu a roleta russa e correu-lhe mal.

O custo será grande e não só para um ministro. É todo um governo, já sem chama e que só se mantém à força, que está a ter uma derrota monumental. Ficamos a dever mais esta vitória aos professores que estão a mostrar, valentemente, que não se brinca com eles, com a escola pública e com o futuro dos nossos filhos e dos nossos netos. Porque é isso que está em causa.

Isto vai, isto há-de ir. 
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16.6.13

Go!


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Quem te manda a ti sapateiro



... tocar rabecão ou outra coisa qualquer.

Alguém é obrigado a falar numa língua na qual nem é capaz de ler um texto? Se António José Seguro for amanhã a Pequim, lê um texto em mandarim? Subserviência pura e dura é o que é!



É um futuro primeiro-ministro, com certeza...
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De Istambul, esta madrugada



Um texto de Pedro Feijó, publicado hoje no Facebook. 

«São seis da manhã cá e acabo de chegar a casa. Foi uma das noites mais inacreditáveis da minha vida e tenho um favor a pedir-vos: por favor divulguem tudo o que puderem sobre a resistência na Turquia. Hoje fui expulso de um parque com uma carga policial. Hoje fui empurrado para um hotel com dezenas de feridos. Hoje fui fechado em salas com gás lacrimogéneo por todo o lado, sem conseguir abrir os olhos de tanto arder, sem conseguir respirar. Hoje levei com um canhão de água com químicos só por estar em frente a um hotel sem estar a ameaçar o quer que seja. Hoje estive nas ruas com o povo de Istambul. Hoje construí barricadas com eles, hoje atirei de volta as cápsulas de gás para cima da polícia, hoje fugi lado a lado pelas ruelas com medo da Polis. Hoje passei por Gezi durante a noite e já bulldozers a destruir tudo: o nosso parque, as nossas tendas, as nossas coisas. Hoje vi pessoas quase a asfixiarem, vi feridas abertas nos corpos. Hoje senti um tiro raspar-me as calças. Hoje fui tirado à bruta de dentro de um táxi pela polícia e revistado de cima a baixo, tudo o que estava dentro da mochila, e ofendido por ter um panfleto de Gezi como separador de um dos livros. Hoje volto a casa com uma raiva deste grupo de pessoas, deste grupo de caras, deste grupo de gravatas, destes Tayyips, e desta gente que veste o uniforme enquanto despe a consciência. Hoje chego a casa estoirado, a sentir que não durmo há dias, mas com a energia para correr todas as ruas desta cidade. Hoje chego a casa com mais força para lutar. Principalmente porque sei que não estou sozinho. Mas também sei que se a mensagem não passar aí para fora estamos perdidos. Estou num país onde um homem tem o direito de mandar espancar brutalmente milhares de cidadãs só porque ocuparam um parque. Sei que não podem vir para cá, mas por favor levem-nos para aí.»


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Uma desgraçada miopia política



«O que haverá de comum entre Antonis Samaras, Pedro Passos Coelho e Aníbal Cavaco Silva? Será uma ideologia? Aquela que hoje define as políticas europeias, que se justifica com a globalização económica e satisfaz os interesses da finança internacional? Provavelmente, não. Dessa ideologia sem rosto nem bandeira terão consciência os altos quadros da "Goldman Sachs International" e alguns "intelectuais" por demais notórios. Serão movidos por alguma afinidade eletiva com o Presidente da Comissão Europeia? Não parece... nem mesmo entre os portugueses. Provavelmente, lá no fundo, encontraremos pouco mais do que a partilha de uma resignação oportunista à "soberania" dos mercados, o desprezo pela democracia e uma desgraçada miopia política.»  

Pedro Bacelar de Vasconcelos