27.10.07

Deriva feminista

Para uma tarde de Sábado...

26.10.07

Putin e os padroeiros


Putin disse ontem que uma das coisas que «nos» aproxima é o facto de termos o mesmo santo padroeiro. Adiante quanto a ópio do povo transformado em elo entre nações.

Mas quem é que tem o mesmo patrono? Um jornalista zeloso (e ignorante) apressou-se a escrever que se tratava de Moscovo e Lisboa. Mas qual é o santo – Nicolau ou António?

Descobri depois que Putin deveria estar a pensar a nível nacional, onde aí, sim, a Rússia e Portugal se abrigam sob o manto da mesma «santa» – Nossa Senhora.
Próxima cimeira em Fátima, sff.

A Europa e o pessimismo de George Steiner

Numa sessão de perguntas e respostas que se seguiu a uma conferência proferida ontem na Fundação Gulbenkian, George Steiner mostrou-se especialmente pessimista quanto ao futuro da Europa.

Declarou que esta «está muito, muito cansada», que «tivemos uns óptimos dois mil anos, agora devemos dar a vez a outro».

Esse outro é o Oriente, nomeadamente a Índia – de lá virão, segundo Steiner, os novos «Platões, Mozarts ou Bachs».

Não posso estar mais de acordo. Sempre que me acontece sair da Europa e pensá-la de «fora», tenho a sensação de que ainda se considera o centro do mundo, que já não é.

Há três anos, «vi», literalmente esta realidade. Depois de alguns dias em Pequim (que nunca dorme e onde circulam sempre milhões de pessoas), aterrei em Frankurt e passeei-me pela cidade, num Sábado à tarde de Novembro. Não havia rigorosamente ninguém nas ruas – uma cidade fantasma, impecavelmente engalanada para o Natal, mas rigorosamente morta. O futuro não passava por ali.

25.10.07

«Memórias em Voo Rasante» de Jacinto Veloso


Lançamento na FNAC/Chiado, 14 de Novembro, 18h30

Apresentação por:
Nuno Teotónio Pereira e António de Almeida Santos

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Textos do anúncio do lançamento, publicados pela editora PAPA-LETRAS:


O AUTOR

Jacinto Veloso
nasceu e cresceu em Lourenço Marques, hoje Maputo.

Nos anos 50 foi para Lisboa prosseguir os seus estudos. Frequentou a Academia Militar, onde terminou o curso de piloto-aviador.

No início de 1963, juntamente com João Ferreira, o autor abandonou Moçambique com destino a Dar-es-Salaam, na Tanzânia, pilotando um avião da Força Aérea Portuguesa e tornando-se membro da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO).

Participou activamente na luta de libertação nacional, tendo cumprido diversas e arriscadas missões no exterior.

Após a independência de Moçambique, ocupou vários cargos governativos do país. (…)

Como ele próprio afirma, a sua vida tem sido dedicada a servir o Estado, sempre na defesa do interesse nacional.

Importa também referir que dirigiu a comissão intergovernamental que negociou a assinatura do Acordo de Nkomati com o regime de Pretória.

No âmbito do processo da procura da paz para a África Austral, juntamente com o ministro angolano Kito Rodrigues, Jacinto Veloso trabalhou no início de 1983 com Chester Crocker e Frank Wisner, do State Department, acabando por se encontrar com George Shultz, secretário de Estado, e com o então vice-presidente George Bush, no seu escritório da Casa Branca, em Washington.

Dois anos depois fez parte da delegação chefiada pelo Presidente Samora Machel que, na capital norte-americana, realizou importantes negociações com o Presidente Ronald Reagan para o estabelecimento da paz em todo o sul de África.


PAPA-LETRAS®

MEMÓRIAS EM VOO RASANTE - CONTRIBUTOS PARA A HISTÓRIA POLÍTICA RECENTE DA ÁFRICA AUSTRAL, Jacinto Veloso


Um livro com revelações inéditas para quem quer conhecer os últimos quarenta anos da História da África Austral, escrito por um dos seus principais protagonistas e tendo como pano de fundo o conflito Leste-Oeste.

O autor participou na luta de libertação de Moçambique e desempenhou um papel importante em todo o processo de negociações que conduziu ao Acordo de Não Agressão e Boa Vizinhança com a África do Sul, mais conhecido por Acordo de Nkomati.

Também participou na série de negociações que contribuíram para a independência da Namíbia, a retirada das tropas sul-africanas e cubanas de Angola e para o desmantelamento do apartheid na África do Sul.

Depois de tantos anos de guerra, todo esse esforço possibilitou o alcançar da paz em Moçambique.

Este livro manifesta a opinião do autor sobre diversos acontecimentos e factos históricos, contendo algumas revelações de interesse.

No dia 12 de Março de 1963, o autor abandonou Moçambique pilotando um avião militar, rumo a Dar es-Salaam, manifestando dessa forma a sua oposição à guerra colonial que se preparava e a sua adesão à luta de libertação de Moçambique.

Estas memórias lêem-se com facilidade e despertam, capítulo a capítulo, uma incontida curiosidade que se mantém até à última linha.

O conceito de interesse nacional é uma constante ao longo do livro, ilustrado e documentado, que inclui o texto integral do Acordo de Cessar-Fogo entre a FRELIMO e o Estado Português, assinado em Lusaka, a 7 de Setembro de 1974.

24.10.07

O Tratado, Scolari e Portugal na blogosfera

O PubADdict revela hoje, num texto intitulado Análise da Blogosfera: Portugal e o Tratado Europeu, os resultados de um estudo em que se procurou quantificar, através de pesquisas na blogosfera em seis línguas europeias, o contributo do acordo assinado em Lisboa para a visibilidade de Portugal.

Aconselho a leitura e deixo uma das conclusões:

«Apesar de haver um aumento no número de referências ao nosso país devido ao Tratado, a verdade é que esse aumento é claramente inferior aquele ocorrido a 13 de Setembro. E o que se passou a 13 de Setembro que justifique todo o buzz gerado? Scolari deu um soco a um sérvio!»

A africanófila

«A aficanófila é uma portuguesa branca que lida mal com o facto de não ter nascido negra. Aloirada desde criança, passa a vida a pintar o cabelo de preto e a fazer penteados que imitam com condescendência absurda o “efeito carapinha”. Só lê Mia Couto e José Eduardo Agualusa; todas as férias são, para enfado do marido, passadas em África. O homem deita as praias de Cabo Verde e de Moçambique pelos olhos. No entanto, a africanófila diz agora que a África lusófona “já cansa” e acalenta um grande sonho: no Verão que vem, vai meter-se sozinha no meio do Congo. O marido, dentista rico, entretanto comprou bilhetes para o Festival de Salzburgo, nome que produz na africanófila vontade de chorar: “nem que fosse uma ópera de Mozart com libreto do Manuel Rui!”. Mas vai correr tudo bem: a africanófila irá para o Congo; e o marido levará para Salzburgo a nova amante, uma angolana deslumbrante que estica todos os dias os seus encaracolados cabelos, cuidadosamente pintados de loiro.» (*)


(*) Frederico Lourenço, Caracteres, Cotovia, Lisboa, 2007, p. 64. Ilustrações de Richard de Luchi.

A Acção Católica em Portugal (2)

Conforme anunciado neste post, continuo hoje a pulicação do texto se Sidónio Paes aqui, em Entre os textos da memória.

23.10.07

Tratado que altera o Tratado da União Europeia e o Tratado que institui a Comunidade Europeia


Já tanto foi escrito sobre gostar ou não gostar, festejar ou não festejar, referendar ou não referendar, entender ou não entender que nem vale a pena pôr links.

Ainda não vi, preto no branco, o seguinte:

Não, o Tratado não vai entrar em vigor no início de 2009 porque, entretanto, PELO MENOS UM PAÍS SE VAI OPOR.

Qual? Não sei e, para o caso, pouco interessa. Mas vinte e sete é um número suficientemente elevado para que seja grande a probabilidade de os cidadãos de um – basta um – conseguirem discordar eficazmente. Ou não?

Para a presidência portuguesa, tudo continuará «porreiro» – porque o seu papel era fazer aprovar o Tratado e porque, entretanto, o seu mandato chega ao fim. Who cares? Talvez a Eslovénia.

Parece que se esperava que o projecto de Constituição, que a França e a Holanda chumbaram, fosse aprovado por unanimidade (!...). E não foi.

Entretanto, deixo aqui um parágrafo, escolhido mais ou menos ao acaso, para aguçar o apetite. Leiam o texto completo numa noite de insónias.

«A política externa e de segurança comum está sujeita a regras e procedimentos específicos. É definida e executada pelo Conselho Europeu e pelo Conselho, que deliberam por unanimidade, salvo disposição em contrário dos Tratados. Fica excluída a adopção de actos legislativos. Esta política é executada pelo Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança e pelos Estados-Membros, nos termos dos Tratados. Os papéis específicos que cabem ao Parlamento Europeu e à Comissão neste domínio são definidos pelos Tratados. O Tribunal de Justiça da União Europeia não dispõe de competência no que diz respeito a estas disposições, com excepção da competência para verificar a observância do artigo 25.º do presente Tratado e fiscalizar a legalidade de determinadas decisões a que se refere o segundo parágrafo do artigo 240.º-A do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia.»

22.10.07

A carta de Guy Moquet

Post actualizado (*)


Guy Moquet foi um jovem comunista francês, de 17 anos, executado em 22 de Outubro de 1941, num campo de reféns em Châteaubriand, juntamente com mais de duas dezenas de resistentes. Tratou-se de uma represália dos alemães depois do assassinato de um dos seus militares (Karl Hotz).

Para comemorar o 66º aniversário deste acontecimento, Nicolas Sarkozy determinou que uma carta que Guy Moquet escreveu à família na véspera da sua execução fosse hoje lida em todos os liceus, como «testemunho dos valores de sacrifício e de coragem, fundamentais para os jovens franceses». Em muitos casos, personalidades públicas, incluindo alguns ministros, deslocaram-se para o efeito aos estabelecimentos de ensino que tinham frequentado. (O mesmo deveria ter acontecido com Sarkozy que cancelou a sua visita à última hora.)

Política-espectáculo que soma e segue, lá como cá.

As reacções não se fizeram esperar por parte do PCF, de sindicatos e de muitos professores que recusaram seguir a determinação, acusando-a de oportunismo e de instrumentalização de um documento - descontextualizado e de cariz tipicamente pessoal.

Durante o dia, foram vários os comentadores que recomendaram a Sarkozy que não falasse de valores morais, quando ele próprio mostra uma total insensibilidade perante os mesmos, ao perseguir imigrantes clandestinos e pretender impor-lhes testes de ADN.


Deixo aqui o texto da carta em questão. Parece-me totalmente descabido mandar lê-la, sem mais, só para marcar uma efeméride - mesmo que se trate da morte de um jovem de 17 anos.

"Ma petite maman chérie, mon tout petit frère adoré, mon petit papa aimé,

Je vais mourir ! Ce que je vous demande, toi, en particulier ma petite maman, c'est d'être courageuse. Je le suis et je veux l'être autant que ceux qui sont passés avant moi. Certes, j'aurais voulu vivre. Mais ce que je souhaite de tout mon cœur, c'est que ma mort serve à quelque chose. Je n'ai pas eu le temps d'embrasser Jean. J'ai embrassé mes deux frères Roger et Rino. Quant au véritable je ne peux le faire hélas !

J'espère que toutes mes affaires te seront renvoyées elles pourront servir à Serge, qui, je l'escompte, sera fier de les porter un jour. A toi petit papa, si je t'ai fait ainsi qu'à ma petite maman, bien des peines, je te salue une dernière fois. Sache que j'ai fait de mon mieux pour suivre la voie que tu m'as tracée.

Un dernier adieu à tous mes amis, à mon frère que j'aime beaucoup. Qu'il étudie bien pour être plus tard un homme.

17 ans et demi, ma vie a été courte, je n'ai aucun regret, si ce n'est de vous quitter tous. Je vais mourir avec Tintin, Michels. Maman, ce que je te demande, ce que je veux que tu me promettes, c'est d'être courageuse et de surmonter ta peine.

Je ne peux pas en mettre davantage. Je vous quitte tous, toutes, toi maman, Serge, papa, je vous embrasse de tout mon cœur d'enfant. Courage!

Votre Guy qui vous aime"


Informação deixada por dois leitores na caixa de comentários: esta carta também foi utilizada pelo selecionador da equipa de rugby francesa para (?...) dar força aos jogadores(?). Haja Deus!
Podem ver
aqui as imagens.

21.10.07

Cooperação Lisboa – Pequim?


António Costa teve umas reuniões em Macau e aproveitou a ocasião para corresponder a um convite do seu homólogo em Pequim para visitar aquela cidade. Segundo a Lusa, «os autarcas de Lisboa e de Pequim vão "explorar" a possibilidade de constituir um acordo de cooperação entre as duas cidades durante a visita do presidente da autarquia lisboeta, António Costa, à capital chinesa, domingo e segunda-feira.»

Acho muito bem que António Costa vá a Pequim (sobretudo se nunca lá foi), que visite a Cidade Proibida e o resto, que medite no futuro de Lisboa do alto da muralha da China.

Mas não tenho imaginação que chegue para idealizar que tipo de acordo de cooperação se pode estabelecer entre as duas cidades. É que estamos a falar de galáxias diferentes.

Pequim tem 17 milhões de habitantes (12 milhões fixos, 5 flutuantes), circulam nas suas ruas 3 milhões de carros e 8 milhões de bicicletas. Tudo muda a um tal ritmo que se diz, por graça, que quem estiver algum tempo a uma janela pode ver nascer um prédio dos alicerces ao telhado.

Pequim – Lisboa é, no mínimo, como Berlim – Caldas da Rainha ou Buenos Aires – Matosinhos.

De facto, o que pode Pequim querer dos lisboetas? Talvez fado – manda-se a Mariza, alguns outros e o filme de Carlos Saura. Enviar turistas para Lisboa – tudo bem, mas não venham muitos porque não cabem. Rolhas de cortiça – julgo que não se fabricam cá por este concelho.

Em sentido contrário, percebe-se melhor. Eles, que sabem de portos, podem gerir o de Lisboa – com Júdice ou sem ele. Talvez queiram ficar com o Parque Mayer – veremos malabarismos em vez de revistas. E também abrir uma Feira Popular e (quem sabe?) a tal Chinatown... Passeios em riquexó, ao Domingo, no Terreiro do Paço, também não seria mal pensado – e António Costa apreciaria, ele que tem a mania das bicicletas.


«Por que ria a hiena?» (António Barreto)

Excertos de um artigo no Público de hoje, 21/10 (sem link):

«A glória e a euforia são de rigor. O sorriso aberto e satisfeito. A sensação de vitória vê-se na linguagem do corpo. Sócrates venceu. Portugal venceu. A Europa venceu. Todos e cada país venceram. Como previsto, Barroso, Merkel e Sarkozy venceram. Prodi também. E os gémeos polacos igualmente. Percebo por que tanta gente ri de alegria e prazer. Percebo, mas não compreendo. O monstro acabado de criar não dá motivos para rir. Nem sequer sorrir. Mas o Dr. Frankenstein também sorria. (...)

Os europeus de hoje, isto é, os seus dirigentes políticos, com medo dos seus povos e dos seus eleitores, com receio dos americanos, ameaçados pelas multinacionais, apavorados com o terrorismo, aterrorizados pela imigração, impotentes perante o comércio asiático, têm também ao seu serviço uma capacidade intelectual, política e diplomática sem precedentes. Querem uma Europa unida ou os Estados Unidos da Europa. Vejam o que fizeram, uma Nomenclatura. Uma União que é a mais poderosa entidade na Europa actual e é também a menos democrática.

Tal como a euforia foi grande, também a crise agora vencida era enorme. Não havia crise na Europa, nem na maior parte dos seus países. Não havia crises sociais e económicas graves. Não havia democracia ou estabilidade em risco evidente. Não havia diferendos militares. A paz não estava ameaçada. Havia crise, isso sim, entre eles, entre os dirigentes políticos, entre os Estados, entre as Nomenclaturas. Fizeram a crise. Resolveram-na. Entre eles. Sem os europeus. Talvez mesmo contra os europeus.»

Lido e sublinhado (21/10)

Nuno Brederode Santos no DN:
«Menezes hesitara na arrancada para a liderança. Mas, quando se decidiu, o tempo – dele e nosso – transfigurou-se. De pasto viscoso e ruminante, volveu vertigem, frenesim. Foram duas semanas com novos heróis e vilões, envolvidos na praça pública em processualidades sombrias e insídias burocráticas.(...)
Num apanhado de frases do dia, um articulista, que eu devia identificar mas não recordo, sentenciou: "falta-lhe o killer instinct." Não podia estar mais de acordo, mesmo que deteste tal instinto.»



Entrevista a Luís Filipe Menezes ao DN:
«É um admirador de Sarkozy?
Sou. Depois da queda do Muro de Berlim, criou-se a ideia de que bastariam lógicas tecnocráticas para governar. No fundo, já não era preciso mais política e políticos. Com Sarkozy regressa a política. José Sócrates vai na linha de Blair. Na linha em que acredita que a competitividade se constrói destruindo direitos sociais e aproveitando os recursos dessa destruição para investir na economia. O caminho deve ser o oposto: apostar numa economia liberal de mercado, forte e agressiva, para manter os direitos sociais. É esse o caminho de Sarkozy. Quer ter a possibilidade afirmar políticas sociais do centro-esquerda
(os relevos são meus).