1.8.20

Templos, Mesquitas e outros que tais (11)



Mosteiro de Geghard, Kotayk, Arménia, 2012.

É um dos locais mais visitados da Arménia por causa deste extraordinário mosteiro incrustado na montanha e rodeado por rochedos. Foi fundado no século IV numa caverna, mas só no século XIII é que foi construída a capela principal. Algumas das igrejas que pertencem ao conjunto foram totalmente cavadas na rocha – umas muito simples, outras com várias divisões e por vezes extremamente elaboradas, com frescos escondidos na escuridão, que só se tornam visíveis com o flash das máquinas fotográficas (duas últimas imagens).



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Não há desgraça que não atinja o Brasil




«Registados mais de 1.600 focos de incêndios só no mês de julho. O Pantanal brasileiro, um dos principais santuários de biodiversidade do mundo, registou em julho o maior número de incêndios desde 1998.»
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Debates quinzenais?


Em defesa dos debates parlamentares com o primeiro-ministro.

«Tudo somado, os subscritores do presente apelo consideram que a passagem dos atuais debates quinzenais com o primeiro-ministro a uma vez em cada dois meses, recentemente aprovada no Parlamento (24-7-2020), representa um recuo indesejável e incompreensível (para quem defende o parlamentarismo e a qualidade da democracia) na capacidade de controlo político da Assembleia da República sobre o Governo, e apelam à necessidade de se ponderar, urgentemente, a correção desta tendência negativa.»

ASSINAM: André Freire / Francisco Louçã / Francisco Teixeira / Álvaro Beleza / Daniel Adrião / José Ribeiro e Castro / Manuel Meirinho Martins / Pedro Bacelar de Vasconcelos
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Sacrificar tudo para combater um vírus



«Entrego à quinta a crónica de sábado. Esta semana, não foi exceção e, de acordo com o que se sabe hoje (quinta-feira), amanhã (sexta) o INE divulgará as suas estimativas sobre a evolução do PIB no segundo trimestre do ano. É provável que o leitor saiba mais do que eu. De todo o modo, a não ser que haja uma boa surpresa, o PIB deu um tombo de todo o tamanho. Provavelmente entre os 12 e os 15%.

Já no trimestre anterior, de acordo com as estimativas do INE, o PIB tinha caído 2,3% relativamente ao primeiro trimestre de 2019. O que assusta é que toda a quebra se deveu a março. Não temos dados mensais para o PIB, mas temos outros e muitos mostram que, nos primeiros dois meses do ano, a economia funcionava bem. Por exemplo, as exportações de bens, em janeiro, tinham aumentado 4% face a janeiro do ano anterior. Em fevereiro, tinham aumentado ligeiramente. Março foi o primeiro mês de queda. Caiu 13%. Olhando para o índice de horas trabalhadas na indústria, observamos um aumento de 10% em janeiro, em fevereiro uma estagnação e, no mês seguinte, uma quebra de 4%.

O mau mês de março foi suficiente para levar a uma quebra no PIB trimestral superior a 2%. No segundo trimestre, teremos, não um mau mês, mas sim três meses péssimos. Para se ficar com uma ideia, as exportações de bens, que em março tinham caído 13%, caíram 40% em abril e maio. Fala-se muito na quebra do turismo, mas nem procurei esses dados para não me deprimir mais. Os números do PIB para o segundo trimestre, que, repito, não conheço, deverão alertar-nos para a necessidade de a economia recuperar. Caso contrário, será uma catástrofe. Mas, dada a forma como discutimos o combate à covid, parece-me que não temos essa noção.

Desde março, o nosso conhecimento evoluiu em diversos sentidos: sabemos que a doença é menos grave do que se temia, somos mais eficazes no seu tratamento e as consequências económicas do confinamento são muito mais devastadoras do que as antecipadas. Bem sei que agora todos pensam que desde o início sabiam que ia ser uma catástrofe, mas não é verdade. Quando, em meados de março, num programa de TV, eu disse que, na melhor das hipóteses, o PIB de 2020 cairia 5%, a maioria das reações que recebi era a de que estava a ser catastrofista. Quando, a 21 de março, o Expresso fez uma sondagem a 10 economistas, daqueles muito famosos, um deles previu um crescimento de 1% para este ano.

Face a nova informação, é razoável rever as nossas políticas. Se o vírus, afinal, é mais manso, se a terapêutica melhorou e se o confinamento é desastroso, a atitude racional é não reagir de forma igualmente draconiana caso haja uma nova vaga.

Infelizmente, racionalidade e histeria são incompatíveis. E, neste momento, observamos essa histeria em vários domínios. No terceiro período, que agora acabou, dez das escolas reabertas fecharam por causa de alguns casos de covid. O que é extraordinário é que bastava haver um caso que viesse de fora da escola para a encerrar. Uma que fechou sem haver nenhum caso. Simplesmente, a histeria era tanta que um surto num lar de idosos levou ao fecho da escola e das creches dessa região. E, tendo o líder do principal sindicato de professores a gritar nas ruas que os professores não serão “carne para covid”, não é de esperar que haja mais razoabilidade no próximo ano.

Na Madeira, obrigam as pessoas a andar de máscara mesmo na rua. Em Leiria, criou-se a polícia anti-covid para patrulhar o concelho, dizendo a toda a gente para usar máscara na rua. Isto em pleno Verão. Como diz o meu irmão, chegaremos ao Outono com cara de cu.

Por todo o país, os parques infantis continuam fechados. As discotecas vão fechar às 8h da noite — eu nem sabia que abriam antes disso, para ser sincero. Hospitais públicos e privados funcionam a meio gás, alguns nem isso, por causa da covid. Para garantir que os hospitais não deixam de funcionar por causa do coronavírus, impede-se que os hospitais funcionem. É um curto-circuito na lógica.

Tudo isto é desproporcional. Era bom que nos convencêssemos de que a covid não desaparecerá. Vai haver novos casos e não podemos entrar em histeria de cada vez que forem reportados. O medo do desconhecido é real, mas compreendam que a reação das democracias a uma crise económica e social como a que estamos a provocar também é desconhecida. Falar em quebras do PIB a rondar os 15% é falar do risco de, em breve, haver milhares de portugueses a passar fome. Tenham noção.

Fico com a ideia de que os fundos da União Europeia têm tido um efeito péssimo na discussão pública. Parece que a recuperação económica dependerá desses fundos. Lamento, mas não. A recuperação económica dependerá de voltarmos a trabalhar e a produzir. Tudo o resto é paliativo.»

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31.7.20

Templos, Mesquitas e outros que tais (10)



Ta Prohm, Siem Reap, Camboja, 2009.

Ta Prohm faz parte do complexo de templos construídos na zona de Angkor, a antiga capital do Império khmer entre os séculos IX e XV e pesquisas recentes concluíram que poderá ter ocupado 3.000 km² e tido uma população de 500.000 habitantes («a maior cidade pré-industrial do mundo»). Nela foram encontradas ruínas de mais de 1.000 templos.
Ao contrário da maioria dos templos de Angkor, Ta Prohm foi deixado sem ser reconstruído, ficando envolvido nas árvores que, ao longo do tempo, se foram entrelaçando com a pedra, o que o tornou uma das grandes atracções do conjunto. (Terá havido alguma reconstrução recentemente, mas foi assim que o vi.)


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O PIB a cair, a cair…



Creio que ainda nem conseguimos realizar as consequências que aí vêm.


«Dos Estados-membros para os quais existem dados disponíveis para o segundo trimestre de 2020, Espanha (-22,1%) foi o país europeu com maior declínio na variação homóloga, seguindo-se França (-19%) e Itália (-17,3%).»
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E quanto a abertura de discotecas



… o prémio vai para este anúncio que o LUX-FRÁGIL publicou no Facebook.
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A corte na lama


@Pedro Vieira

«Dois anos depois, o PSD volta a abrir os braços a André Ventura (AV). Não deixa de ser curioso que dois líderes sociais-democratas, consecutivamente, sejam os maiores responsáveis pela normalização irresponsável de um projecto político pessoal absolutamente demagógico, maniqueísta, mentiroso e populista, tantas vezes racista, odioso e xenófobo. É perturbador que a única coisa que parece aproximar Passos Coelho de Rui Rio seja esta tendência conjunta para normalizar protofascistas num ápice.

No momento em que AV procura branquear o assassinato de Bruno Candé, recorrendo a mais um rol de declarações inadmissíveis, insinuações abjectas e divulgação de posts falsos, Rui Rio apela a uma eventual-fofura-futura do Chega (CH). "Se o CH evoluir para uma posição mais moderada, eu penso que as coisas se podem entender", afirma Rio à RTP3. Ficamos a saber que é possível ver Rui Rio a conversar com um rebento do PSD de Passos, o delfim que o ex-líder do PSD abraçava na campanha autárquica de Loures em 2017, desvalorizando as declarações xenófobas e racistas que proferira contra a comunidade cigana e que levaram o CDS a retirar o apoio à candidatura, abandonando a coligação.

Ao admitir uma aliança com AV, Rui Rio comete o seu maior pecado político desde que assumiu a liderança do PSD, admitindo algo que só o marialva-CDS de Francisco Rodrigues dos Santos foi capaz de afirmar como possível. PSD e CDS, juntos na insensatez. Rui Rio encheu-se de lama. São agora mais eloquentes e translúcidos à "firmeza política" de Rui Rio, proferidos por AV há um par de meses. Projectando uma aproximação no caso do CH se conseguir moderar, Rio não deixou de ouvir a resposta certa de um porco na luta: o CH só aceitará conversar com um PSD que não seja a dama de honor do PS. Foi para esta corte na lama que o PSD de Rui Rio se deixou arrastar. Se há coisa que Rui Rio devia ter aprendido com a sua liderança-minada no PSD é que só pode contar consigo. Ao contrário do que diz, uma eventual aliança não depende do CH, depende sempre do PSD. E quem se dispõe a passar um pano sobre o passado recente e sobre o presente evidente só pode estar a querer limpar a realidade com um pano encharcado nas mãos. Quando alguns continuam a criticar a Esquerda por tornar o CH visível através da denúncia permanente da sua ideologia de extrema-direita de pacotilha, o verdadeiro palco que é dado a AV continua a vir desta Direita que não entende que só uma cerca sanitária pode impedir, e já vai tarde, o crescimento de um populismo tão abjecto.»

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30.7.20

Templos, Mesquitas e outros que tais (9)



Grande Templo de Kasuga, Nara, Japão, 2006. 

Trata-se de um templo xintoísta, fundado em 769 e várias vezes reconstruído. É famoso pelas suas lanternas de bronze e mais de 300, de pedra, colocadas ao longo do caminho que leva ao templo. Esse caminho passa pelo Parque dos Cervos, considerados mensageiros sagrados dos deuses xintoístas. Andam à solta e recebem os visitantes.

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Arejamento não faltaria



… se os transportes públicos ainda fossem assim em tempos de pandemia.
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Um desconfinamento em forma de assim




«A ministra de Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva, disse também que passa a haver "a possibilidade dos estabelecimentos que são bares na sua origem puderem funcionar como pastelarias e cafés".
A ministra salientou no entanto que "bares e discotecas continuam encerrados". Podem é, se quiserem, mudar a sua atividade, passando a funcionar como cafés e pastelarias sem terem de o registar.
Depois explicou que, se esses bares e discotecas forem na Área Metropolitana de Lisboa, terão de fechar até às 20h00, caso passem a funcionar como café ou pastelaria. No resto do país, porém, poderão ter os horários dos restaurantes (encerramento até à 1h00 da manhã).
Já os bares e discotecas que escolherem manter-se fechados poderão continuar a ter acesso a medidas de lay off simplificado.»
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De que se alimenta um monstro?



«É um exercício vazio escrever homenagens a alguém de quem nunca tinha ouvido falar. Não o farei. Sei apenas que um homem de 39 anos, precisamente a idade que tenho agora, morreu em circunstâncias trágicas. A alguém que tenha um princípio de alma, a notícia, tal como surgiu nos jornais, não poderá ter deixado de causar o mais profundo dos horrores. Sei que a empatia não é um dom universal – a própria ficção treina-nos, desde meninos, a tolerar a dor do outro, e este é, afinal, o mesmo mecanismo que nos permite sobreviver à nossa terrível condição mortal. Mas é difícil não nos imaginar a nós próprios naquele café de Lisboa, com três tiros no peito, olhando incrédulos para os olhos de um louco, sentindo a vida escapar-se por três estúpidos buracos. Pode até ter sido uma morte imediata, mas o último minuto de Bruno Candé deve ter tido toda a violência da eternidade. E como se a notícia não fosse suficientemente horrenda, algo me alarmou ainda mais, se possível fosse. É triste que me veja forçado a reconhecê-lo, e isto diz bem dos tempos em que vivemos. Mal vi a fotografia da vítima, intuí a polémica que inevitavelmente daqui viria, e que me impressiona tanto. Saber se houve racismo ou não. Se o assassinato foi feito por motivos raciais ou por qualquer outra razão. Se vivemos numa sociedade racista, de racismo assim-assim ou de nenhum racismo. Não me enganei.

Dei por mim, nos últimos tempos, a pensar num episódio que se passou comigo, numa daquelas situações de trânsito em que a humanidade se revela, para o bem e para o mal. Era ainda muito jovem e tinha poucos meses de carta. Alguém me impediu de fazer uma mudança de faixa, acelerando de propósito para não me deixar entrar na sua via. Barafustei com um gesto de que hoje me arrependo. No semáforo seguinte, o homem saiu disparado do seu carro na minha direcção. Fechei imediatamente a janela e tranquei a porta. Ele guinchava e raivava, batia com toda a força no vidro quase o partindo com a sua aliança, gritando os impropérios mais nojentos. Estava nitidamente descompensado. Protegido, pude observá-lo em silêncio, sem esboçar nenhuma reacção: restava-me apenas esperar que o semáforo ficasse verde, e escapulir-me dali o mais depressa que pudesse. Senti-me como um cientista que, na segurança do laboratório, examina impunemente um vírus ao microscópio. Compreendi, então, de forma definitiva, que o ódio procura de forma ávida as suas próprias causas, alimenta-se a si próprio, e quando explode tem um único escape: a violência. Se aquele homem tivesse uma arma, talvez me tivesse dado um tiro. Naquele dia, eu seria o seu gatilho.

Se houve racismo na morte de Bruno Candé? Parece-me óbvio que se possa tirar essa conclusão, se se vier a provar que o homicídio foi precedido por continuados insultos racistas e ameaças de morte, como tudo parece indicar que sim. Mas não julgo, neste momento, que responder a esta questão seja o principal. É mais importante perguntarmo-nos por que raio precisamos de fazer uma pergunta como esta, em pleno século XXI, no nosso país. Uma das razões principais é precisamente porque há quem cada vez mais esteja disposto, nestes momentos, a dizer que Portugal não é um país racista, menorizando a linguagem do ódio, reduzindo-o a um mero e inconsequente jogo de palavras.

Coloquemo-nos uma simples questão: aqueles – e são muitos – que puseram na agenda mediática, inadvertidamente ou não, a tese de que não há racismo em Portugal, ou de que este não é um país racista (nem vejo bem porque há-de ser produtiva uma tal distinção), são responsáveis pela morte deste homem? Não. Mas estes mesmos cidadãos, que votam e até formam partidos políticos com representação parlamentar, esses mesmos cidadãos que mandam calar negros e sugerem que vão para a sua terra, que propõem leis específicas para os ciganos, que fazem e não fazem, ao mesmo tempo, saudações nazis, contribuem para o discurso do ódio? A resposta, para mim, é evidente: sim, é claro que sim. E esse ódio pode vir a manifestar-se em formas de violência extrema como aquela que vimos? Sim, é óbvio que sim. Estes cidadãos tentam combater o racismo, a xenofobia, e todas as mil variações do ódio nos seus discursos, nas suas acções, nos seus silêncios? Não, não tentam. E porque não o fazem? Não será porque se alimentam desta linguagem odienta, porque precisamente a sua visibilidade cresce com ela? Pois eu receio que um dia estes meus compatriotas fiquem reféns do monstro que alimentaram, e se vejam um dia, tal como eu, protegidos apenas por um vidro.

Podem-me dizer que homens como o deputado que agora anda nas bocas do nosso pequeníssimo mundo (talvez a sua única preocupação sincera) não criou a besta, apenas lhe dá voz e visibilidade. Mas isso não o iliba; pelo contrário, responsabiliza-o. É até um fraco consolo que esta indistinta vozearia esteja agora representada no Parlamento, pois neste momento posso dirigir-me ao seu único deputado eleito, e não a uma abstracção idealizada. Falo, pois, ao seu coração, reconhecendo nele toda a humanidade que igualmente se revelava naquele homem que me ia matando, ou que talvez eu próprio tivesse matado, caso tivesse, naquele dia, aberto a porta do carro, e cedido ao voluptuoso chamamento da ira. Ouça-me dizer isto, da forma mais simples que sei: o ódio mata. Não desvalorize a força do sentimento, seja qual for o nome que dê ao monstro. Chame-lhe o que quiser: ele continuará à espera de uma pequena centelha para fazer em cinzas o mundo que queremos legar aos nossos filhos, que infelizmente já é o mundo em que os três filhos de Bruno Candé serão forçados a viver.»

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29.7.20

Templos, Mesquitas e outros que tais (8)



Mesquita Hassan II, Casablanca, Marrocos, 2017.

A sua construção teve início em 1986, devia durar três anos a tempo de comemorar o 60º aniversário do rei Hassan II, mas acabou por ser inaugurada apenas em 1993. É a maior mesquita em funcionamento no país e o minarete tem 210 metros de altura. Chegou a ocupar 1.400 trabalhadores durante o dia e 1.100 no turno da noite, para além de 10.000 artesãos que trabalharam com mármore, granito, madeira, mosaicos, estuque e outros materiais para elaborar tectos, pavimentos, colunas, etc.

Trata-se de uma obra grandiosa e altamente sofisticada, com resistência sísmica, tecto que se abre automaticamente, soalho aquecido e portas eléctricas – Hassan II pretendeu que fosse o que de mais grandioso alguma vez tivesse sido construído em Marrocos e não olhou a custos (cerca de 585 milhões de euros), pelo que foi altamente criticado.


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Van Gogh morreu num 29 de Julho



Tudo se sabe sobre este extraordinário pintor nascido na cinzenta Holanda, mas prefiro recordar a sua estadia em Arles por onde voltei a passar há poucos anos.

Foi em Arles que o pintor se exaltou com a luz do Sul e pintou muitos dos quadros que tão bem conhecemos, desde os famosos girassóis aos ciprestes, à casa amarela onde viveu, ao célebre quarto, ao autoretrato com a ligadura depois de ter cortado a orelha após uma forte zanga com Gauguin – 185 quadros entre Fevereiro de 1888 e Maio de 1889.

Depois do corte da orelha, a população considerou-o cada vez mais louco e exigiu o seu internamento definitivo no Hotel de Deus da cidade, misto de asilo e hospital. O claustro está hoje intacto (foto no topo deste post), tal como ele o pintou. Pediu depois para ser transferido para um hospital psiquiátrico perto de Saint-Rémy-de-Provence e regressou mais tarde aos arredores de Paris.

Se não o tratou bem em vida, Arles tira hoje todo o partido possível da estadia de Van Gogh nas suas terras.



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Nas Galápagos, um verdadeiro crime!




«Uma frota de cerca de 260 navios de pesca, a maioria de bandeira chinesa, foi avistada ao largo do arquipélago das Galápagos e está a ser vigiada pelas autoridades do Equador, a quem pertence a jurisdição das ilhas. A pesca ilegal de espécies protegidas preocupa os responsáveis equatorianos e a memória de um episódio ocorrido em 2017, também com navios chineses, continua bem viva.

“O tamanho e a agressividade desta frota contra as espécies marinhas são uma grande ameaça ao equilíbrio de espécies nas Galápagos”, comenta Yolanda Kakabadse, conservacionista e antiga ministra do Ambiente equatoriana.»
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Feliz ano novo, dr. Costa



«A palavra do ano é “pandemia” e a frase mais usada é “a situação que estamos a viver”. Bom, a situação que estamos a viver está a correr mal e vai piorar antes de melhorar, pelo que o primeiro-ministro vai cavando trincheiras lá à frente para a sua sobrevivência política.

Pedir apoio à esquerda, como o António Costa pediu ontem [na passada 6ªf.] no Parlamento que PS e PSD querem ver encher-se de teias de aranha, é uma forma de abrir espaço político para o ano terrível que se segue. Se a esquerda não aceitar, o PS acusará a deserção e atribuir-lhe-á o ónus para se virar para o PSD.

Nem a Madame Min seria capaz de engendrar tamanha poção maléfica. Portugal está em recessão profunda e possivelmente longa, o desemprego está preso por arames do Estado, as contas públicas abriram uma cratera e será preciso desenhar um Orçamento do Estado que não poderá evitar choques com a função pública e deixar de encomendar uma gestão perfurante da dívida.

É fácil antever uma crise económica e portanto social e portanto política em 2021. E em 2021 há duas eleições e uma presidência portuguesa da UE.

As sondagens que dão agora liderança destacada ao PS são o canto do cisne negro que desabou invisível no nosso mundo. Depois da valorização da segurança do Estado lançada pelo Governo, que tinha prazo de validade para três meses, virá o tempo do deserto.

O oásis está nos financiamentos comunitários, que somos péssimos a executar. O Governo vai cair na tentação de desimpedir a burocracia e os filtros de controlo, para que o dinheiro chegue depressa à economia real. O problema não será a pressa, mas a estratégia, se a houver. Essa é a única jangada visível a que nos podemos agarrar, pelo que a máquina do Estado terá de estar apta a pôr em marcha os projetos para fazer arrancar um país com capital a menos e dívida a mais. É perante esta tormenta que António Costa e Rui Rio vão jogando o seu caminho de alianças precárias, mesmo se já começámos a ouvir falar de necessidades de acordos de regime ou “soluções políticas alargadas”, como lhe chama o Presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa até anda recolhido e diz agora que não comenta o fim dos debates quinzenais porque seria meter-se na vida de outros órgãos de soberania — logo ele, que se mete em tudo.

Depois das eleições, o Presidente da República pode até ser o mesmo, mas será outro. E a esquerda?

É difícil imaginar uma nova ‘geringonça’, mas é possível antever um PS a pendular entre orçamentos e acordos para fundos comunitários com o PSD, e salvações de empresas com PCP e BE. Como dizia com graça o jornalista António Costa, o primeiro-ministro pede namoro ao PCP e ao BE enquanto mantém um caso extraconjugal com o PSD.

Todos os anos, o primeiro-ministro dá uma longa entrevista ao Expresso em agosto, em que desenha o mapa político do ano que se segue. Este verão, provavelmente assim o leremos, renovando votos à esquerda e mantendo pontes com a direita que diz que não é direita. É ele que está no meio da ponte, entre “a situação que estamos a viver” e a maior crise económica das nossas vidas. Ninguém quereria estar na pele do primeiro-ministro. Exceto ele.»

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28.7.20

Templos, Mesquitas e outros que tais (7)



Pagode Shwedagon. Yangon (Rangum) , Birmânia, 2009.

O Pagode Shwedagon, com 98 metros de altura, está situado no principal centro religioso da Birmânia, numa plataforma em mármore de 5,6 mil hectares. É muito difícil dar uma ideia do que trata, entre o kitsh (quando lé entrei, chamei-lhe Disneylândia do budismo…) e o muito belo e único. O templo principal está rodeado por 72 edifícios dos mais variados tipos, incluindo quatro grandes templos que apontam para os pontos cardeais. A base do pagode principal é feita de tijolos cobertos com milhares de placas de ouro.


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Novo Banco



Sei que o artigo é reservado a assinantes, mas título e subtítulo já justificam a partilha. E nós? Com a cabeça entre as orelhas...


«Foi o maior negócio imobiliário em Portugal nos últimos anos. Foi uma “pechincha”. O Fundo de Resolução cobriu as perdas de centenas de milhões. O Novo Banco vendeu e emprestou o dinheiro a quem comprou. Quem? Não se sabe. Ninguém escrutinou os compradores.»
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Lisboa no seu melhor



Fernando Medina é tão moderno, tão visionário, que até já conseguiu acabar com passeios para peões e pôr toda a gente em cima de bicicletas!
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Quanto vale a vida de um homem negro?



«Um homem morreu, abatido à queima- -roupa com três tiros disparados por outro homem. O crime aconteceu num início de tarde de verão, num sábado, numa rua deste país de brandos costumes. Dizem testemunhas, ouvidas pelos órgãos de Comunicação Social, que o agressor antes de disparar, com a sua arma ilegal, terá dito à vítima para ir para a terra dele. As autoridades, no entanto, afirmam que as testemunhas quando inquiridas não referiram motivações racistas.

A vítima, de 39 anos, negra, não poderia ir para a terra dele. Bruno Candé vivia na sua terra, embora muita gente neste país dos brandos costumes ainda não tenha absorvido que um negro também pode ter Portugal como pátria. Não sabemos se Bruno Candé foi morto por ser negro, sabemos, sim, disso não resta qualquer dúvida, que perdeu a vida por um motivo fútil. Dos relatos conhecidos, sabe-se ter havido um desentendimento entre vítima e agressor por causa da cadela de Bruno. Por causa de uma cadela, um homem atira à queima-roupa, com uma arma ilegal, repito, sobre outro homem.

Três crianças, com idades entre os três e os seis anos, perderam o pai - abatido a tiro quando estava pacificamente sentado com a sua cadela numa esplanada de Moscavide, no início de uma tarde de verão. Era sábado. Um homem morreu por um motivo fútil, vítima de outro homem que trazia consigo uma arma de fogo ilegal. Isso devia fazer pensar e dar motivos para nos indignarmos. Mas nada acontece. Não ouvimos a ira popular a pedir inquéritos, a exigir a ida do ministro ao Parlamento, ninguém parece questionar a venda de armas a civis. Coisa estranha, no dos brandos costumes. E mais estranho se torna quando ainda não país esquecemos a indignação pela morte, há poucos dias, de dezenas de animais. Quanto vale afinal a vida de um homem?»

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27.7.20

Templos, Mesquitas e outros que tais (6)



Mesquita Turkmenbashi Ruhy, Kipchak, Turquemenistão, 2016.

Situada a 7 km da capital do país, Asgabate, esta mesquita é considerada a maior da Ásia Central, foi mandada construir por Saparmurat Atayevich Niyazov, o primeiro presidente do país desde a independência em 1991, para ser sepultado no mausoléu erguido à direita, o que veio acontecer em 2006, dois anos apenas depois da inauguração do conjunto.

P.S. – Sabemos pouco destes países da Ásia Central, alguns deles cheios de dinheiro... Quem tiver paciência pode ler uma nota que escrevi em Asgabate AQUI.




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Ópera em tempo de pandemia



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A morte saiu à rua


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O velho foi à viola



Salazar morreu há meio século e eu não encontro melhor maneira de assinalar a data do que repescar um texto que Diana Andringa escreveu há uns anos, no qual descreve como este dia foi vivido por ela na prisão de Caxias.

«Segunda-feira, 27 de Julho de 1970. Um inusitado toque de clarim interrompe a rotina matinal na prisão de Caxias.
Um toque diferente, desconhecido, num tom lamentoso que não lhe conhecíamos.
Numa cadeia, ganham-se mil ouvidos: habituamo-nos aos sons ciciados da chegada de um novo preso, ao esforço de distinguir qual a cela onde o colocam (da parte da frente, com o rio ao longe? Da de trás, tendo como única visão o muro e as pernas do guarda republicano andando nele?), à frase «Prepare-se para ir à António Maria Cardoso», que pode significar, para aquele a quem é dita, uma sessão de tortura, seja a pancada, o sono ou a estátua, o seu regresso («Quantas horas passou em interrogatórios? Quantas noites?»), à tosse que anuncia esse regresso, ao assobio longínquo de um camarada, identificando-se com uma canção comum (no nosso caso, uma coladera), até às crises de asma de alguém que necessita socorro, numa cela próxima. Então, um toque de clarim, a uma hora inabitual, desperta de imediato a atenção e a ansiedade.

Lá em baixo, na guarita, o jovem guarda republicano olha, também ele, o lado de onde o som surgiu. «Que toque é este?», perguntamos-lhe, gritando. Olha-nos e encolhe os ombros. Não como quem não quer responder à pergunta gritada por aqueles que tem o dever de guardar, mas como quem não sabe. E ouvimo-lo repetir a pergunta para a guarita seguinte: «“Que toque é este?» Do outro lado chega uma resposta, para nós inaudível. Mas o jovem ouve-a e repete-a para nós: «“É o toque dos mortos!» Para que, numa cadeia, toque o clarim por alguém que morreu, é que esse alguém é pessoa de importância. E a ansiedade e a curiosidade crescem. Gritamos, de novo, para o guarda: «E quem é que morreu?»
Tal como da primeira vez, ele repete, para a guarita seguinte, a nossa pergunta. E tal como da primeira vez, a resposta escapa-nos. Mas – tal como da primeira vez – o jovem que nos guarda logo no-la repete: «Foi o velho! O velho foi à viola!»

Não houve necessidade de perguntar mais nada. O «velho» com direito a clarim só podia ser um: Salazar. E logo nos abraçámos a rir, enquanto ouvíamos, vindos de outras celas, gritos de regozijo. Que a morte, tantas vezes desejada, do ditador, nos fosse anunciada pelo jovem que devia guardar-nos aumentava a ironia da notícia.
A cadeia explodiu em gritos, risos, murros nas paredes, comunicando de cela em cela, na velha caligrafia prisional – «Um toque é “a”, dois são “b”, três “c” e por aí adiante…» – a morte do antigo Presidente do Conselho.
Os mais lúcidos lembraram que já havia outro, Marcelo Caetano. Mas, nesse dia, a alegria prevaleceu. Mesmo quando a visita foi cancelada, mesmo quando nos cortaram os minutos de música diária, porque «o país está de luto». «De luto?», respondemos nós. «O vosso talvez esteja, o nosso país está em festa!»

E, desafinadas ou não, ergueram-se as vozes dos presos e ouviram-se pela Cadeia, nesses minutos sem música, canções de resistência.»

Diana Andringa


(Publicado no nº 26 da colecção Os anos de Salazar/ O que se contava e o que se ocultava durante o Estado Novo, coordenada por António Simões do Paço.)
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26.7.20

Templos, Mesquitas e outros que tais (5)



Wat Xieng Thong. Luang Prabang, Laos, 2009.

Wat Xieng Thong (ou Templo da Cidade Dourada) é um dos mais importantes complexos budistas do Laos, com mais de vinte estruturas, para além de jardins com árvores e flores. Construído em 1559-1560, foi sendo aumentado e restaurado, nomeadamente já no século XX com uma ajuda especial da França.


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Pequenas facadas na democracia



10.000 em vez de 4.000 assinaturas nas Petições, debates de vez em quando e não quinzenais. Ainda ninguém se lembrou de proibir a presença de público nas galerias do Parlamento?
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Realismo


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Entre o coma e as ilusões



«A economia portuguesa está, em grande parte, numa situação de sobrevivência por coma induzido. Estão muitas empresas que sobreviverão quando os apoios forem retirados, embora com períodos e condições de convalescença diferenciados, mas estão muitas outras que inexoravelmente vão desaparecer.

A saída da crise em que estamos mergulhados impõe alterações no padrão de especialização que tínhamos antes da pandemia. A reindustrialização é uma necessidade que obriga a seleção de atividades e de empresas em que apostar, e a reconversões. Não podemos continuar a depender tanto do turismo e do imobiliário e é necessário colocar o futuro destes setores associado à melhoria das condições de vida dos portugueses. Não haverá, pois, um retorno à normalidade - entendida como o quadro das atividades, das condições estruturais e organizacionais da economia - que tínhamos nas vésperas do eclodir da pandemia. Essa ilusão pode estar a alimentar oportunismos e a bloquear o futuro que queremos.

Outras ilusões perigosas emergem do foguetório propagandístico lançado a propósito do "extraordinário acordo europeu". Sem dúvida que o volume e as condições gerais das verbas aprovadas para a reconstrução económica e social mais imediata (com realce para os 750 mil milhões) não são o mesmo que os planos de ajustamento impostos pela UE na crise anterior, mas não são, de certeza, um plano Marshall. É indispensável ver os detalhes das condições. Para além disso, é preciso fazer contas rigorosas sobre o volume das transferências da UE para Portugal, previstas para o período 2020/2026, comparando esse total com o de outros Quadros Comunitários de Apoio anteriores e de duração igual. Há já quem diga que o valor agora aprovado não tem precedentes. Será verdade?

Não se inculque na cabeça dos portugueses a ideia de que vamos ter todos os dias à nossa disposição um pote de muitos milhões de euros para gerirmos como quisermos. Isso é errado, desvia-nos da discussão das políticas a adotar para que se gaste bem cada "tostão", e abre campo aos abutres do costume.

Quatro problemas muito delicados se nos colocam: primeiro, o coma induzido já se prolongou muito, os orçamentos tornam-se escassos muito em breve e o financiamento de que vamos dispor é insuficiente face às necessidades de investimento, público e privado; segundo, a distribuição de apoios às empresas sem critérios tem de terminar e o Governo não pode furtar-se a uma planificação bem sustentada e a fazer escolhas certas quanto a setores, atividades e empresas a salvar; terceiro, é imprescindível salvaguardar meios para o reforço da capacidade do Estado com vista a garantir aos portugueses direitos fundamentais, como a saúde e o ensino; quarto, a proteção das pessoas, do emprego e do sistema da Segurança Social tem de ser prioritária.

No presente devia-se estar a apostar bem mais na saúde e segurança no trabalho, assim como a fomentar atividades que podem reduzir a nossa dependência externa, a fiscalizar práticas de quebra propositada de faturação que legitima recurso ao lay-off, a dialogar intensamente com os sindicatos, a pôr em prática planos de formação bem pensados para uma perspetiva de retoma.

Desconstruindo ilusões e melhorando paulatinamente a nossa matriz económica é possível evitar o retrocesso e encarar, com confiança, uma saída positiva desta crise.»

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