11.8.07
10.8.07
Dissidências e Utopias
Para os leitores deste blogue que não são visitantes habituais do Dotecome, aconselho a leitura deste texto do Fernando Redondo (FR).
Uma resumida mas muito útil cronologia de factos e dissidências ajuda a situar, a recordar e, portanto, a compreender muita coisa.
Tenho tido sempre muitos ex-PCP à minha volta – em casa, no emprego, nalguns grupos de amigos e, recentemente, até na blogosfera. Assisti, de fora mas muito atentamente, a dissidências e a saídas mais ou menos discretas. Leio todos os livros de memórias que vão saindo e partilho com o FR a sensação de que, muitas vezes, se ficam por descrições exaustivas de divergências processuais, sem aprofundarem suficientemente clivagens ideológicas. Diz o Fernando:
«Denunciaram os erros e os crimes que, em sua opinião, tinham sido cometidos.
Não quiseram, ou não souberam, no entanto, enunciar alternativas viáveis, anti-capitalistas, às relações de produção e às opções económicas e sociais que caracterizavam a sociedade soviética.»
Eu penso que passou ainda muito pouco tempo desde a implosão da URSS e que não se anunciam para breve amanhãs que cantem em qualquer outra parte do mundo. Haverá hoje outra coisa a propor, praticamente, para além do «capitalismo civilizado» e da «salvação do Estado Social»? Talvez não, mas a História não acaba aqui.
Gorbatchev e a fotografia que roubo ao Dotecome são um símbolo. Já sabia que ele fez ou vai fazer um anúncio para o Louis Vuitton (indo a receita para uma qualquer obra de beneficência). Mas se, há vinte anos (não mais), nos tivessem mostrado esta imagem do responsável máximo da URSS propagandeando malas de topo de gama do mais puro capitalismo, com restos do muro de Berlim grafitados como pano de fundo, qual seria a nossa reacção? It’s a goog joke! Eu pensaria o mesmo se me dessem hoje uma fotografia de Bento XVI a distribuir preservativos nos Jogos Olímpicos de Pequim – A good joke.
Curiosamente, este tipo de acontecimentos anima-me e torna-me optimista. Se acontecem coisas que pareceriam tão impensáveis, não há razão para que a humanidade não tenha imaginação suficiente para ir construindo novas teorias que tragam novas estradas de esperança.
«Utopia hoje, carne e osso amanhã», dizia Victor Hugo.
Uma resumida mas muito útil cronologia de factos e dissidências ajuda a situar, a recordar e, portanto, a compreender muita coisa.
Tenho tido sempre muitos ex-PCP à minha volta – em casa, no emprego, nalguns grupos de amigos e, recentemente, até na blogosfera. Assisti, de fora mas muito atentamente, a dissidências e a saídas mais ou menos discretas. Leio todos os livros de memórias que vão saindo e partilho com o FR a sensação de que, muitas vezes, se ficam por descrições exaustivas de divergências processuais, sem aprofundarem suficientemente clivagens ideológicas. Diz o Fernando:
«Denunciaram os erros e os crimes que, em sua opinião, tinham sido cometidos.
Não quiseram, ou não souberam, no entanto, enunciar alternativas viáveis, anti-capitalistas, às relações de produção e às opções económicas e sociais que caracterizavam a sociedade soviética.»
Eu penso que passou ainda muito pouco tempo desde a implosão da URSS e que não se anunciam para breve amanhãs que cantem em qualquer outra parte do mundo. Haverá hoje outra coisa a propor, praticamente, para além do «capitalismo civilizado» e da «salvação do Estado Social»? Talvez não, mas a História não acaba aqui.
Gorbatchev e a fotografia que roubo ao Dotecome são um símbolo. Já sabia que ele fez ou vai fazer um anúncio para o Louis Vuitton (indo a receita para uma qualquer obra de beneficência). Mas se, há vinte anos (não mais), nos tivessem mostrado esta imagem do responsável máximo da URSS propagandeando malas de topo de gama do mais puro capitalismo, com restos do muro de Berlim grafitados como pano de fundo, qual seria a nossa reacção? It’s a goog joke! Eu pensaria o mesmo se me dessem hoje uma fotografia de Bento XVI a distribuir preservativos nos Jogos Olímpicos de Pequim – A good joke.
Curiosamente, este tipo de acontecimentos anima-me e torna-me optimista. Se acontecem coisas que pareceriam tão impensáveis, não há razão para que a humanidade não tenha imaginação suficiente para ir construindo novas teorias que tragam novas estradas de esperança.
«Utopia hoje, carne e osso amanhã», dizia Victor Hugo.
9.8.07
Hiroshima e Nagasaki
Hiroshima foi no dia 6 de Agosto de 1945, Nagasaki no dia 9 - faz hoje 62 anos.
Já foi tudo recordado e não serei eu a ter algo de novo a dizer. Excepto que estive lá, há dois anos, e que nunca mais pensei da mesma maneira nesses acontecimentos que, apesar de tudo, são para nós longínquos - no tempo e no espaço. Ao passear pelos parques, hoje lindíssimos e tranquilos, ao ver algumas ruínas, as fotografias, ao ouvir as descrições, sente-se dolorosamente no estômago o murro que os homens deram na História.
Deixo duas fotografias que tirei no museu de Hiroshima. Numa delas, um relógio parado à hora em que a bomba explodiu.
Já foi tudo recordado e não serei eu a ter algo de novo a dizer. Excepto que estive lá, há dois anos, e que nunca mais pensei da mesma maneira nesses acontecimentos que, apesar de tudo, são para nós longínquos - no tempo e no espaço. Ao passear pelos parques, hoje lindíssimos e tranquilos, ao ver algumas ruínas, as fotografias, ao ouvir as descrições, sente-se dolorosamente no estômago o murro que os homens deram na História.
Deixo duas fotografias que tirei no museu de Hiroshima. Numa delas, um relógio parado à hora em que a bomba explodiu.
8.8.07
Canções na memória (XI)
Woodstock, em 1969, foi considerado o primeiro dos grandes festivais de Verão. Mas na Ilha de Wight, em Inglaterra, houve um outro que ficou célebre (Agosto de 1970).
Passei esse Verão em Londres e só não fui a Wight porque não consegui alterar um voo de regresso a Lisboa...
Suzanne (Leonard Cohen, 1967)
Aqui, ao vivo, no Festival da Ilha de Wight, em 1970
Yes Jesus was a sailor
When he walked upon the water
And he spent a long time watching
From his lonely wooden tower
And when he knew for certain
Only drowning men could see him
He said "All men will be sailors then
Until the sea shall free them"
But he himself was broken
Long before the sky would open
Forsaken, almost human
He sank beneath your wisdom like a stone
Now Suzanne takes your hand
And she leads you to the river
She is wearing rags and feathers
From Salvation Army counters
And the sun pours down like honey
On our lady of the harbour
And she shows you where to look
Among the garbage and the flowers
There are heroes in the seaweed
There are children in the morning
They are leaning out for love
And they will lean that way forever
While Suzanne holds the mirror
And you want to travel with her
And you want to travel blind
And you know she will find you
For she's touched your perfect body with her mind.
Passei esse Verão em Londres e só não fui a Wight porque não consegui alterar um voo de regresso a Lisboa...
Suzanne (Leonard Cohen, 1967)
Aqui, ao vivo, no Festival da Ilha de Wight, em 1970
Yes Jesus was a sailor
When he walked upon the water
And he spent a long time watching
From his lonely wooden tower
And when he knew for certain
Only drowning men could see him
He said "All men will be sailors then
Until the sea shall free them"
But he himself was broken
Long before the sky would open
Forsaken, almost human
He sank beneath your wisdom like a stone
Now Suzanne takes your hand
And she leads you to the river
She is wearing rags and feathers
From Salvation Army counters
And the sun pours down like honey
On our lady of the harbour
And she shows you where to look
Among the garbage and the flowers
There are heroes in the seaweed
There are children in the morning
They are leaning out for love
And they will lean that way forever
While Suzanne holds the mirror
And you want to travel with her
And you want to travel blind
And you know she will find you
For she's touched your perfect body with her mind.
7.8.07
Então como é que foi?
Irmão Lúcia, via «Cinco Dias»
No livro Foi Assim, Zita Seabra refere que, durante a última fase de permanência no PCP, a sua casa foi invadida por um grupo de funcionários do referido partido, que tudo vasculharam à procura de microfones escondidos algures. Cita alguns nomes, entre os quais o de Raimundo Narciso.
Em A Grande Dissidência, Raimundo esclareceu, em 13/7/2007:
«Ora eu não participei em tal operação. Nunca estive em sua casa. Não tive qualquer relação directa ou indirecta com aquela "invasão" da sua residência nem dela tive, obviamente, conhecimento prévio. (...)
Tenho experiência de livros de memórias e sei que a memória por vezes dá-nos certezas que a realidade desmente. Por isso cotejá-la com documentos ou, na sua falta, com a memória de outras pessoas é muito importante.
Contactei hoje a Zita Seabra, por telefone, para o grupo parlamentar do PSD, na Assembleia da República, certo de que ela estava de boa fé e convencida do que afirmava no seu livro.
Foi com satisfação que recebi a sua resposta, que lhe bastava a minha palavra e que corrigiria publicamente o lapso, na primeira oportunidade.» (O realce é meu.)
Em entrevista a Zita Seabra, publicada no Correio da Manhã de 4/8/2007, pode ler-se o seguinte:
«- Raimundo Narciso, dissidente do Partido Comunista Português (PCP) é apontado no livro como uma das pessoas que, em 1988, invadiram a sua casa. Ele negou ter participado nessa operação e assegurou que o lapso seria alterado.
- Sobre o que está escrito, não tenho nada a adiantar.
- Vai ou não alterar?
- Eu não altero nada.»
Em que ficamos?
Eu acredito na versão de Raimundo Narciso. Porque será?
No livro Foi Assim, Zita Seabra refere que, durante a última fase de permanência no PCP, a sua casa foi invadida por um grupo de funcionários do referido partido, que tudo vasculharam à procura de microfones escondidos algures. Cita alguns nomes, entre os quais o de Raimundo Narciso.
Em A Grande Dissidência, Raimundo esclareceu, em 13/7/2007:
«Ora eu não participei em tal operação. Nunca estive em sua casa. Não tive qualquer relação directa ou indirecta com aquela "invasão" da sua residência nem dela tive, obviamente, conhecimento prévio. (...)
Tenho experiência de livros de memórias e sei que a memória por vezes dá-nos certezas que a realidade desmente. Por isso cotejá-la com documentos ou, na sua falta, com a memória de outras pessoas é muito importante.
Contactei hoje a Zita Seabra, por telefone, para o grupo parlamentar do PSD, na Assembleia da República, certo de que ela estava de boa fé e convencida do que afirmava no seu livro.
Foi com satisfação que recebi a sua resposta, que lhe bastava a minha palavra e que corrigiria publicamente o lapso, na primeira oportunidade.» (O realce é meu.)
Em entrevista a Zita Seabra, publicada no Correio da Manhã de 4/8/2007, pode ler-se o seguinte:
«- Raimundo Narciso, dissidente do Partido Comunista Português (PCP) é apontado no livro como uma das pessoas que, em 1988, invadiram a sua casa. Ele negou ter participado nessa operação e assegurou que o lapso seria alterado.
- Sobre o que está escrito, não tenho nada a adiantar.
- Vai ou não alterar?
- Eu não altero nada.»
Em que ficamos?
Eu acredito na versão de Raimundo Narciso. Porque será?
5.8.07
De «Salazar» a «25 de Abril»
Em 6 de Agosto de 1966, os lisboetas assistiram à inauguração da nova ponte sobre o Tejo.
«Ponte Salazar» foi o seu nome de baptismo. O de crisma viria oito anos mais tarde, pelas mãos do coronel Varela Gomes e de um grupo de populares que substituíram os dizeres iniciais pelos que agora conhecemos.
Numa das suas típicas tiradas irónicas, Salazar previu este acontecimento. Quando, antes do início das cerimónias em 1966, viu o seu nome num dos pilares, perguntou:
«As letras estão fundidas no bronze ou simplesmente aparafusadas? É que, se estão fundidas no bloco de bronze, vão dar muito trabalho a arrancar.»
Não sei se o trabalho foi duro. Mas deve ter sido feito talvez com alguma raiva e, seguramente, com muito prazer.
Para que não nos esqueçamos do cinzentismo inigualável de Américo Tomás, deixo aqui um excerto do discurso que então proferiu:
«Ponte Salazar» foi o seu nome de baptismo. O de crisma viria oito anos mais tarde, pelas mãos do coronel Varela Gomes e de um grupo de populares que substituíram os dizeres iniciais pelos que agora conhecemos.
Numa das suas típicas tiradas irónicas, Salazar previu este acontecimento. Quando, antes do início das cerimónias em 1966, viu o seu nome num dos pilares, perguntou:
«As letras estão fundidas no bronze ou simplesmente aparafusadas? É que, se estão fundidas no bloco de bronze, vão dar muito trabalho a arrancar.»
Não sei se o trabalho foi duro. Mas deve ter sido feito talvez com alguma raiva e, seguramente, com muito prazer.
Para que não nos esqueçamos do cinzentismo inigualável de Américo Tomás, deixo aqui um excerto do discurso que então proferiu:
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