2.9.23

Teatros

 


New Amsterdam Theater, Manhattan, Nova Iorque, 1902 - 1903.
Arquitectos: Hert & Tallant (Henry Beaumont Herts e Hugh Tallant).

Daqui.
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«Desocidentalização» do mundo acelera

 


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02.09.1939 - Neruda e a chegada de exilados da Guerra Civil Espanhola ao Chile

 


Na noite de 2 de Setembro de 1939, o Winnipeg chegou a Valparaíso, no Chile, com 2.365 espanhóis, exilados da Guerra Civil Espanhola e que se encontravam refugiados em campos, em França.

Quando desembarcaram, no dia seguinte, nem queriam acreditar no que viam, nem percebiam bem onde estavam: o Chile era uma terra longínqua e estavam a ser recebidos como heróis...

Se Pablo Neruda não foi o único promotor desta iniciativa, foi certamente o principal. No dia 4 de Agosto, quando o barco saíra do porto francês de Trompeloup, tinha escrito o que viria a relatar mais tarde nas suas Memórias: «Que la crítica borre toda mi poesía, si le parece. Pero este poema, que hoy recuerdo, no podrá borrarlo nadie.» Em Memorial de Isla Negra, incluiu o seguinte poema:

Yo los puse en mi barco.
Era de día y Francia
 su vestido de lujo
de cada día tuvo aquella vez,
fue
la misma claridad de vino y aire
su ropaje de diosa forestal.
Mi navío esperaba
con su remoto nombre “Winnipeg”
Pero mis españoles no venían
de Versalles,
del baile plateado,
de las viejas alfombras de amaranto,
de las copas que trinan
con el vino,
no, de allí no venían,
no, de allí no venían.
De más lejos,
de campos de prisiones,
de las arenas negras
del Sahara,
de ásperos escondrijos
donde yacieron
hambrientos y desnudos,
allí a mi barco claro,
al navío en el mar, a la esperanza
acudieron llamados uno a uno
por mí, desde sus cárceles,
desde las fortalezas
de Francia tambaleante
por mi boca llamados
acudieron,
Saavedra, dije, y vino el albañil,
Zúñiga, dije, y allí estaba,
Roces, llamé, y llegó con severa sonrisa,
grité, Alberti! y con manos de cuarzo
acudió la poesía.

Labriegos, carpinteros,
pescadores,
torneros, maquinistas,
alfareros, curtidores:
se iba poblando el barco
que partía a mi patria. Yo sentía en los dedos
las semillas
de España
que rescaté yo mismo y esparcí
sobre el mar, dirigidas
a la paz
de las praderas.
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(Mais descrições aqui e aqui.) .
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O cãozinho do tanque

 


«Eu, o Presidente e ministro dos Estrangeiros vimos um pequeno cão vestido de bailarina em cima dos restos de um tanque russo. O pobre cão tremia de medo e isso era a única coisa confrangedora da cena, imediatamente fotografada por tudo o que era jornalista que estava perto. Compreende-se bem, a foto era engraçada e toda a gente que estava perto, nós e muitos ucranianos, sorriam da cena insólita. Mas como é habitual na máquina de má-língua e má-fé que são as “redes sociais”, a foto foi transformada numa afronta à Ucrânia, por parte dos radicais de direita que pululam nesse espaço e numa caracterização da guerra como ridícula por parte dos amigos dos russos que também frequentam em massa esses bas-fonds. Nada que não fosse esperado. Também eles tremem como o cãozinho.

Mas o cão-bailarina que serviu de pretexto estava lá muito bem, os nossos sorrisos os de muitos ucranianos mais do que adequados e na cidade, capital de um país em guerra, aquilo que mais do que tudo afecta os que querem a Federação Russa a marchar em Kiev, e provavelmente a matar o cãozinho, é que as pessoas comuns que nos rodeavam mostravam a sua resiliência, tentando viver na normalidade. Estava muito bom tempo, havia milhares de pessoas nas ruas, muitos jovens, particularmente raparigas, porque os rapazes estão na guerra, famílias que passeavam no que verdadeiramente incomoda muitos — o tanque.

Se alargássemos a cena para além do ucraniano cão, encontrávamos uma longa fila de material russo ou destruído ou abandonado, tanques, artilharia pesada, veículos blindados, com muitas dezenas de artefactos de guerra, carbonizados, perfurados, com as lagartas fora das rodas, com as torres decepadas e com os canos dos canhões fora do sítio a morder o chão da rua, cada um mostrando a morte horrível de quem lá estava dentro. Noutros casos estavam intactos a fazer de par das centenas de botas dos soldados russos, que ou fugiram ou morreram ou foram capturados. É assim a guerra.

Voltando ao contexto, se alargássemos o campo de visão para além do cão-bailarino, estavam milhares de pequenas bandeirolas azuis, ucranianas, amarelas do Batalhão de Azov, canadianas, americanas, georgianas, enchendo um gigantesco canteiro. Cada bandeira tem um nome, o de um militar ou civil morto na guerra que os russos e Putin levaram à Ucrânia. Numa cidade que nesse dia, entre sirenes de alarme que levavam toda a gente para os abrigos, podia parecer uma grande capital europeia — a praça era a célebre Praça Maidan, — o desejo de normalidade era apenas contrariado pelas bandeiras e pelos retratos nas paredes dos mortos.

Em Londres, nos momentos mais duros do ataque aéreo alemão, a população fazia o mesmo. Mordia a sua raiva, procurava os mortos nos escombros dos bombardeamentos, entrava e saía dos abrigos, mas fazia o enorme esforço de normalidade que é um dos factores mais relevantes para o moral num combate contra um inimigo reconhecido, identificado e naturalmente odiado. Sim, odiado. Numa guerra como a da Ucrânia, onde um país que pode e tinha todos os defeitos foi invadido por um dos mais poderosos exércitos do mundo, arrogante na sua incompetência, virada para esmagar tudo à sua frente, a começar pelos civis, destruindo as suas casas, tentando privá-los de electricidade e de gás em pleno Inverno, massacrando-os como em Bucha, e matando os seu homens e mulheres com farda, o que é que se espera: ódio, muito ódio.

Aliás, quando se visita uma frente, a maioria das casas que se vê destruídas são casas de gente pobre, assim como os espaços de recreio e escolas, muitas vezes nos bairros dos arredores ou em aldeias, não são opulentas mansões. Mesmo que se aceite as mil e uma explicações dos russos — que, aliás, nem sequer se dão ao trabalho de justificar o que fazem com pretextos militares —, é muito difícil imaginar que naquelas casas estivesse artilharia ou snipers, naquelas aldeias por detrás de cada casa destruída um pelotão de infantaria, ou um posto de observação das secretas militares. Talvez num ou outro caso isso seja verdade, mas só que as casas destruídas são muitas centenas, ou seja, foram alvos por si próprias para correr com as populações, mostrar que não vale a pena resistir ao Exército que varreu os alemães da Europa. Só que nem é esse Exército que lá está, até porque muitos combatentes neste pseudo-argumento estão também do lado de cá, dos muito milhões de ucranianos que morreram na Grande Guerra Patriótica.

O cãozinho podia estar a tremer ao ver tanta gente à sua volta, mas saberia certamente distinguir entre os seus amigos e os seus inimigos. Se estivessem russos à sua frente, ele olharia para as bandeiras dos mortos, segurar-se-ia nas lagartas do tanque destruído e atirar-se-ia para morder o invasor. O cão é ucraniano, é um patriota.»

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1.9.23

Lareiras

 


Tampa de lareira em latão no antigo Hotel Cohn-Donnay, hoje Café Restaurante Ultième Hallucinatiedo, Bruxelas, 1904. 
Lucien Rion. 

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01.09.1939 - A invasão da Polónia

 


Na manhã de 1 de Setembro de 1939, a Alemanha invadiu a Polónia e, dois dias depois, a Grã-Bretanha e a França declararam guerra à Alemanha.

Três vídeos muito úteis para aprender ou relembrar:






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Chegou

 

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Jenni Hermoso pôs-se a jeito

 


«Lembro-me como se fosse hoje: Portugal tinha acabado de ganhar o Campeonato Europeu de Futebol, em 2016, e os jogadores estavam na tribuna a receber as medalhas. Foi então que Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, abraçou Cristiano Ronaldo e, para choque de todos, não o beijou nos lábios. O escândalo correu mundo. O país sagrara-se campeão da Europa pela primeira vez na história e o presidente da Federação não estava feliz a ponto de beijar a boca de um jogador. Em vez de sucumbir à emoção, mantinha a capacidade de perceber que talvez não tivesse o direito de beijar a boca do jogador, ou que era possível que o jogador não quisesse ser beijado na boca por ele. Foi uma vergonha.

Felizmente, Luis Rubiales, presidente da Federação Espanhola de Futebol, leva o seu cargo mais a sério. Depois da vitória da selecção feminina no Campeonato do Mundo, agarrou na cabeça da jogadora Jenni Hermoso e beijou-a na boca, cumprindo o seu dever. O beijo, como Rubiales disse, foi consensual, embora a permissão não tenha sido verbal. Como é evidente, se não quisesse ser beijada na boca, Jenni Hermoso não teria vencido o Campeonato do Mundo. Vencendo, sabia três coisas: que iria dar uma alegria grande a Rubiales; que, tomado por essa alegria, ele teria vontade de a beijar na boca; e que o mundo existe para satisfazer as vontades de Rubiales. É simplesmente impossível que Jenni fosse passear-se à frente do presidente da Federação, ali, toda campeã do mundo, e esperasse que o seu superior hierárquico pudesse conter a vontade de a beijar na boca. A responsabilidade é toda dela, pelo que não se compreenderam os acontecimentos seguintes. Na sequência do beijo houve duas ou três críticas descabeladas a Rubiales, e a Federação espanhola tomou quatro atitudes: primeiro, emitiu um comunicado criticando a jogadora; pouco depois, emitiu outro comunicado ameaçando processá-la; a seguir, ameaçou abandonar a FIFA; e, por fim, exigiu a demissão imediata de Rubiales. Tudo no espaço de dois dias. É assim que o futebol de um país deve ser gerido: a Federação muda de posição quatro vezes em 48 horas, dando o exemplo aos jogadores, que no futebol moderno também devem mudar de posição várias vezes, com rapidez e dinamismo.

Espero que o exemplo de Rubiales perdure. As meninas que agora se iniciam no futebol devem sentir-se motivadas. Sabem que terão menos condições que os homens mas também têm a certeza de que, se se esforçarem muito, podem sonhar em chegar ao topo e serem beijadas na boca por um careca de meia-idade. O novo presidente da Federação espanhola deve ser escolhido tendo em conta três critérios fundamentais: que projecto tem para o futebol espanhol? Que medidas vai tomar para trazer mais público aos estádios? Quão fresco é o seu hálito?

Agora que a grande festa do Campeonato do Mundo de Futebol feminino acabou, podemos celebrar o facto de o mundo ter voltado depressa ao normal: depois de uma equipa de mulheres ter conseguido um feito inédito, um homem é o verdadeiro protagonista das notícias, e sem sequer tocar na bola.»

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31.8.23

Piscinas

 


Piscina coberta no Spa Gellért, ligado ao Hotel Danubius Gellért, Budapeste, 1912-1918.

Daqui.
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Centenas de quilómetros para...?

 


«Para a classe docente, o ano escolar começa já nesta sexta-feira, 1 de Setembro. Determina a legislação que rege os concursos de professores que os docentes de carreira ainda sem colocação ou serviço atribuído terão de se apresentar, no primeiro dia útil de Setembro, “no último agrupamento de escolas onde exerceram funções para aguardar nova colocação”.

Em respostas ao PÚBLICO, o Ministério da Educação destaca que “esta regra, que está fixada há muitos anos em todos os diplomas de concursos de docentes, salvaguarda o processamento de vencimento no mês de Setembro”. (…)

“É um desperdício de tempo e dinheiro. Até pode acontecer que esteja a ir para Lisboa já sabendo que fui colocada noutra escola, perto de casa. É um absurdo”, comenta Anaísa Mateus, que no ano lectivo passado deu aulas no Agrupamento de Escolas Queluz-Belas, mas que, entretanto, ficou vinculada ao QZP 1 (Norte litoral).

É o que se passa com todos os docentes da vinculação dinâmica: mesmo os que ainda não têm lugar numa escola, estão já vinculados a um dos dez Quadros de Zona Pedagógica existentes.»

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Sérgio Godinho, 78

 


Sérgio Godinho nasceu em 31 de Agosto de 1945. Compagnon de route de muitos de nós, mesmo a distância já que viveu grande parte da sua vida no estrangeiro até 1974, faz parte de um grupo precioso que nos ajudou a usar a cantiga como arma antes do 25 de Abril e como grito de vitória e de esperança depois.

Difícil é a escolha, mas ficam aqui algumas das suas canções – em jeito de homenagem ao Sérgio e à nossa memória.







Com José Mário Branco, numa das canções desse extraordinário cd, de 2003, «O irmão do meio»:


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Quando se confunde nação com raça

 


«1. Em 2012, Renaud Camus publicou “A grande substituição”, livro que, desde então, é uma referência da extrema-direita europeia. Aí defendeu que, nos países da Europa, a imigração, conjugada com a baixa natalidade, substituirá a população branca por africanos e árabes, assim se destruindo as culturas nacionais ocidentais e europeia. Ou seja, argumenta que só os brancos são verdadeiros europeus e só deles depende a sobrevivência das culturas europeias. A confusão entre cultura, nação e raça já tinha estado presente na ideia, de má memória, segundo a qual só os arianos eram verdadeiros alemães. Pouco de novo, portanto, nesta reedição da ideologia da racialização da identidade europeia.

Em 2023, em Portugal, há quem defenda (e não é o Chega) que existe o risco de uma “grande dissolução”, isto é, que em resultado da imigração “o povo português se transforme numa heterogénea multidão de um qualquer império global”. A heterogeneidade que fez grandes nações de imigração como os EUA, que não precisam de lições de patriotismo de ninguém, é, neste argumentário, convenientemente colocada debaixo do tapete.

2. A política de imigração do Governo não se tem deixado influenciar por estas vozes. Pelo contrário, se há área de intervenção política em que o país tem evoluído positivamente é esta. Com uma orientação humanista, cosmopolita e uma visão de futuro.

Portugal não é, de muitos pontos de vista, atrativo, tendo dificuldades em fixar imigrantes e portugueses. Porém, temos uma inegável vontade política de promover uma integração digna. Muitas vezes ficamos aquém, no plano da concretização, falhamos e somos confrontados com notícias de racismo ou xenofobia, exploração de trabalhadores imigrantes, condições de habitação inaceitáveis, que nos envergonham. Porém, há também exemplos notáveis: refiro, por exemplo, o trabalho do presidente da Câmara do Fundão e, com esta referência, reconheço o esforço de promoção de uma integração digna desenvolvido por governantes, autarcas, técnicos dos centros locais de apoio a migrantes, professores, profissionais de saúde e muitos outros. Os problemas da integração são difíceis, exigem recursos humanos qualificados, recursos financeiros e elevados níveis de motivação profissional. Há muitos portugueses que defendem e querem um país plural, que reconhecem a importância de acolher os que nos procuram e o quanto estes enriquecem o nosso país, cultura e identidade.

3. Felizmente, a tese da “grande dissolução” não tem hoje acolhimento por quem tem responsabilidades políticas na área da imigração nem está sentado no Tribunal Constitucional.»

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30.8.23

Portas

 


Porta em versão húngara de Arte Nova, Subotica, Sérvia, 1904.
Arquitecto: Ferenc Raichle.

Daqui.
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30.08.1999. Referendo em Timor Leste

 


Foi há 24 anos que se realizou o Referendo em que 78,5% dos eleitores se pronunciaram a favor da independência de Timor Leste. Quase três anos mais tarde, em 20 de Maio de 2002, viria a nascer a primeira nova Nação deste milénio: Timor Lorosa’e.

A história recente é conhecida, mas vale a pena recordar tempos passados e revisitá-los no Arquivo e Museu da Resistência Timorense - que tem uma bela página na net.
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Taiwan e a guerra dos chips

 


Este texto é importante.

«A guerra comercial entre os EUA e a China em torno da produção de microchips tem escalado nos últimos meses e Taiwan assume um papel central nessa disputa. Para além de ser o principal produtor de microchips internacionalmente é um foco de tensão política entre Pequim e Washington.»
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Ronaldo, os sauditas matam inocentes

 


«1 - Muhammad al-Ghamdi tem 54 anos, foi professor. Tinha duas contas no Twitter (agora X) em que criticava o regime saudita. É irmão de um dissidente, exilado em Londres. Foi preso, passou vários meses numa solitária, sem direito a visitas da família nem acesso a um advogado. Em julho, foi condenado à morte. Aguarda a execução da sentença.

2 - Salma al-Shehab tem 34 anos, estava a fazer um doutoramento em Medicina em Londres. Tem duas filhas, de seis e quatro anos. Tinha conta no Twitter e usava-a para criticar o regime saudita. Em dezembro de 2020, de férias no país, foi detida e acusada de terrorismo. No ano passado, os tribunais ampliaram a pena para 34 anos de cadeia (entretanto reduzidos para 27).

3 - São sete rapazes, todos detidos antes de fazerem 18 anos (um deles tinha 12 anos). Foram condenados à morte. Seis deles foram considerados terroristas por participarem em protestos contra o Governo saudita, ou comparecerem em funerais de vítimas da violência do regime. Foram torturados e assinaram as confissões. Sete crianças aguardam o dia da execução.

4 - São migrantes etíopes e fazem a travessia do mar Vermelho até ao Iémen, em direção à Arábia Saudita. Assim que atravessam a fronteira, são abatidos, ora com morteiros, ora com tiros à queima-roupa pelo sauditas. Tornou-se um padrão. São centenas de mortos. Há testemunhos, vídeos, fotografias e imagens de satélite que o comprovam. Corpos de homens, mulheres e crianças com os corpos desmembrados e espalhados pela terra de ninguém.

5 - Os sauditas gastaram sete mil milhões de euros, desde 2021, com o desporto e, sobretudo, com o futebol. Os futebolistas e treinadores portugueses alinham, como outros, nesta operação pornográfica para desviar a atenção sobre as atrocidades do regime, de sorriso rasgado pela chuva de dólares: Jesus, Rúben Neves, Otávio e, antes de todos, Ronaldo são os promotores de um regime atroz. Bastariam uns minutos de navegação pelos sites da Amnistia Internacional ou da Human Rights Watch para perceberem que Muhammad, Salma, as sete crianças, as centenas de etíopes vivem e morrem num Inferno. Coisas desagradáveis que não interessam quando a bola rola e há milhões para faturar. Mas é verdade que não estão sozinhos na hipocrisia.»

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29.8.23

Portas

 


Porta de entrada do restaurante «A Velha Sinagoga», Praga, 1907.
Arquitectos: Franti šek Weyr e Richard Klenka.

Daqui.
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Dúvidas existenciais

 


Assaltam-me de quando em vez:

1 – Que será feito do Frederico e da Eugénia, esses dedicadíssimos funcionários do Ministério das Infraestruturas que ouvimos durante tantas horas? Já se sabe quem mentiu e quando? E o que estava, afinal, no computador de Frederico?

2 – Estava prometido que todos os custos e ganhos das JMJ seriam conhecidos rapidamente e de forma «transparente». As «contas do retorno» já foram divulgadas? Pode ser que sim e que o facto me tenha escapado.

3 – Aeroportos. Leio, em notícia relativamente recente, que "está em marcha uma campanha orquestrada para descredibilizar a Comissão Técnica Independente", não sei exactamente porquê. Mas o que gostava mesmo de saber é quantas hipóteses, e respectivas combinações, estão actualmente a ser estudadas. Já chegámos a vinte?

Por hoje fico por aqui, mas podia continuar.
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Ingrid Bergman

 


Nasceu e morreu em 29 de Agosto (1915-1982).

E quem não pensar em Casablanca ao ver esta fotografia que levante o braço.

(Biografia AQUI.)
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A Europa de Leste aviltou os migrantes, agora percebeu que precisa deles

 


«As filas de contentores brancos e arrumados estendem-se até às gruas do enorme local de obras. Vêem-se roupas penduradas a secar em algumas das janelas.

A instalação irá servir de casa para cerca de 5200 trabalhadores, a maioria provenientes da Ásia. Os indianos, paquistaneses, filipinos e turcomanos estão a trabalhar na Orlen, a maior empresa da Polónia e uma campeã económica do Governo, para construir instalações de plástico no enorme complexo de refinaria no valor de 6,3 mil milhões de dólares (5,8 mil milhões de euros).

A cerca de 600 quilómetros a sul, na Hungria, trabalhadores de construção chineses juntam-se para fazer um intervalo, enquanto olham para os seus telemóveis. Estão a trabalhar na construção de uma de três fábricas perto da cidade de Debrecen, que integram os planos do primeiro-ministro, Viktor Orbán, para a produção de baterias de veículos eléctricos que vão ser os pilares futuros da economia húngara.

A ideia de que os trabalhadores estrangeiros podem preencher as lacunas do mercado de trabalho é comum, e uma escassez crónica está a obrigar os empregadores em toda a Europa a olhar mais além. Mas na Europa do Leste, essa é uma verdade inconveniente agora desmascarada: a realidade económica deparou-se com um dos discursos anti-imigração mais vitriólicos no continente.

Os políticos em Varsóvia e Budapeste protestam há muito tempo contra os planos da União Europeia sobre quotas para migrantes. Perante centenas de milhares de posições no mercado de trabalho por ocupar, ameaçando travar o crescimento económico, os dirigentes agora enquadram as milhares de chegadas da Ásia como “trabalhadores convidados”, em vez de migrantes que irão ficar mais tempo.

A mudança na narrativa está a fazer destes partidos um alvo para os adversários políticos. O partido da Lei e Justiça, no poder na Polónia, que pretende alcançar um terceiro mandato consecutivo nas eleições de 15 de Outubro, abandonou no mês passado um plano para acelerar a emissão de vistos, na sequência de críticas do maior partido da oposição. Na Hungria, Orbán tem sido criticado por substituir cidadãos do país por trabalhadores asiáticos mais baratos.

“É claro que há uma mudança”, diz o presidente da Câmara Municipal de Debrecen, Laszlo Papp, durante uma entrevista no seu gabinete. “Mas há uma grande diferença entre a migração a que nos opomos e a questão dos trabalhadores estrangeiros, e a diferença é o controlo”, afirmou Papp, que pertence ao Fidesz de Orbán, actualmente no poder. “Isso torna-o aceitável.”

Desde a crise de refugiados de 2015 e da decisão da Alemanha de abrir as suas fronteiras, as lideranças populistas na Polónia e na Hungria apresentaram-se como as protectoras da herança cristã da Europa.

O Governo de Orbán construiu uma vedação para impedir a entrada de refugiados, recusou ilegalmente abrir processos para os requerentes de asilo e montou cartazes com avisos contra os estrangeiros por estarem a ficar com os empregos na Hungria. O líder do partido no poder na Polónia, Jaroslaw Kaczynski, disse que os muçulmanos são uma ameaça à Europa. Mais recentemente, em Julho, os dois países juntaram-se para bloquear um plano da UE para que os Estados-membros pudessem partilhar a recepção de pessoas que chegam de fora da Europa.

Este nativismo serviu os seus propósitos eleitorais numa das regiões menos multiculturais da Europa. Mas a maioria das economias no Leste da UE têm taxas de desemprego em torno dos 5% ou menos e pelo menos 670 mil postos de trabalho continuam por preencher.

Isso tem levado os governos a tomar medidas, confrontados com uma população envelhecida, procurando milhões de pessoas para assegurar que as suas economias continuam a progredir nos próximos anos. A escassez tornou-se mais profunda depois de a invasão russa da Ucrânia ter perturbado o fluxo de trabalhadores através de uma fronteira com que muitos países vizinhos contavam.»

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post (excerto)
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28.8.23

Janelas

 


Janela e mural da Casa Cauchie, Etterbeek, Bruxelas, 1905.
Paul Cauchie.

Daqui.
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Há 60 anos: Luther King, «I have a dream»

 


Em 28 de Agosto de 1963, quando Martin Luther King pronunciou este seu célebre discurso durante a «March on Washignton for Jobs and Freedom», não podia ter imaginado que o mundo estaria como está hoje. A história dos direitos adquiridos não será destruída, mas não está a ser nada fácil.



(No fim deste post, o texto do discurso na íntegra.)


A propósito:






«I have a dream» – Texto:


28.08.2011 – Marcelo na TVI

 


Passaram 12 anos, mas está igual a si próprio. Sabe muito bem o que quer.
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Presidente de Portugal dos Pequenitos ou Presidente Pequenito de Portugal?

 


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O país envelhece e isto anda tudo ligado

 


«Portugal nunca teve tantos obstetras como em Junho do ano passado. Eram 745, o que configura, de acordo com a Direcção Executiva do SNS, o "valor mais alto desde sempre”.

O recorde é ensombrado por si próprio, quando se percebe, pela desagregação dos números, que 304 destes especialistas têm mais de 55 anos, razão pela qual podem recusar-se a fazer urgências (há ainda outros 40 que, por terem mais de 50 anos, podem não fazer urgências nocturnas).

Daqui que se conclui que nem todos os 745 obstetras contribuem para encher as escalas das urgências de ginecologia e obstetrícia e manter as maternidades a funcionar a 100% — um dos grandes desafios actuais do SNS. Ou seja, embora haja mais obstetras, 40% estão dispensados de fazer urgências.

O caso replica-se, por exemplo, na educação, onde também há escassez de recursos humanos. O Estatuto da Carreira Docente prevê que a partir dos 50 anos (e 15 de serviço) os professores dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico, do ensino secundário e da educação especial tenham redução da componente lectiva semanal, até ao limite de oito horas. Já os docentes da educação pré-escolar e do 1.º ciclo, em regime de monodocência, podem requerer uma redução de cinco horas a partir dos 60 anos.

Não está em causa o direito que tanto médicos como professores (entre outras carreiras) têm a envelhecer com dignidade ou a suavizar a entrada na reforma. A origem do problema não é essa. A origem do problema é o envelhecimento da população, em geral, e o da activa, em particular, a falta de renovação do país, o Inverno demográfico que se prolonga e os baixos salários incapazes de atrair jovens para as carreiras do Estado — soube-se recentemente que Portugal pretende pagar menos de 800 euros líquidos aos seus novos funcionários judiciais.

É preciso dizer que, no mesmo ano em que se bateu o recorde de obstetras, a idade média dos trabalhadores da administração pública era de 48,1 anos e que esse valor tem vindo sempre a subir, ao contrário da natalidade, que em 2022 recuperou ligeiramente, mas com o contributo de mães e pais estrangeiros, cujos filhos representam já 16,7% do total de nascimentos.

Isto anda tudo ligado. Sem salários dignos, não há condições para procriar. Sem condições para procriar, não há futuros médicos, nem professores, nem contribuintes, e os que há vão ficando mais velhos. Sem bebés também não serão precisos obstetras para preencher escalas impossíveis. A maior reforma de que o país precisa é de sangue novo.»

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27.8.23

Cesária Évora

 


Seriam 82, hoje.


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Isto nada tem a ver com Espanha, beijos e futebol

 

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Disto e daquilo principalmente daquilo

 


O calor aliviou, pelo menos aqui por Lisboa, mas não a silly season que ainda tem uns dias de vida para nos manter um pouco aparvalhados. Nada melhor para a alimentar do que recordar mais uma «Redacção da Guidinha» que Sttau Monteiro escreveu… há meio século.


Disto e daquilo principalmente daquilo

Não não não ele há coisas que não se fazem a uma menina ingénua como eu que ainda nem sequer estudou biologia e organização política e que ainda está na idade de comer gelados e de chupar bombons e de fazer chichi atrás de uma árvore sem os guardas se chatearem sim porque não é só cá na Graça que há velhinhos não senhor também os há noutros sítios e o pior é que um dia fico assim o que peço quando isso acontecer é que não me deixem fazer nada nem abrir o bico porque uma coisa é a gente ser velho porque tem de ser e outra coisa é a gente ser velho e dar vontade de rir como dava o meu Avô que Deus tem se o tiver sim porque não há certeza nenhuma dele estar na tal mão de Deus não senhor porque se havia uma pessoa difícil de apanhar era ele quando se raspava de casa para fazer discursos nas esquinas sobre isto e sobre aquilo principalmente sobre o Benfica que era o clube de que ele gostava muito mas como a gente sabia como ele era dávamos pela falta dele seguíamo-lo porque aqui na Graça o povo ri que é uma coisa doida se calhar não é aqui na Graça se calhar o povo ri em toda a parte porque o povo é muito dado ao riso mas isso é capaz de ser política e eu em política não me meto não senhor para não estragar a vida ao meu Pai lá na repartição de maneira que o melhor é mudar de assunto mas ainda dentro deste assunto quero dizer isso da sardinha deve ser mentira porque a sardinha está cara como burro e o povo já teve de a deixar agora só se ri com o carapau do besugo do peixe-espada e dos jaquinzinhos que estão cada vez mais caros e o preço deles dá cada vez menos vontade de rir ai meu Deus que lá vou eu outra vez a falar de preços assim lá tramo o meu pai na repartição nestas coisas não há como estar calado mas como é que uma pessoa pode estar calada enfim muda de assunto Guidinha que ainda te arrependes ora vamos lá então a mudar de assunto e a falar duma coisa que ninguém mesmo que tenha má vontade possa dizer que é política este ano o Verão está muito bom há muita gente na praia já vi um cão de coleira fazer chichi na areia nas piscinas também há muita gente e nas ruas também e nos parques também cá a Graça está cheia de gente só cá não estão os que foram embora lá porquê não sei só se for por maldade sim porque há muita gente com a maldade entranhada que não sai nem com sabão-macaco outra coisa que se vê muito cá na Graça é o povo a rir de felicidade ri-se que é uma coisa doida principalmente na véspera da partida a Graça é muito estranha não há quem a entenda senão quem a entenda mas o melhor é eu mudar outra vez de assunto porque as pessoas são muito sensíveis e podem pensar que eu estou a falar de coisas de que não estou a falar como por exemplo de elefantes já que falei de elefantes explico que são uns bichos que têm um nariz enorme mas é que mesmo enorme mas no meio daquela cabeçona em que têm o nariz tem muito pouco miolo.

A Mosca, 11 Agosto 1973