«O choque frontal entre a União Europeia e a Grécia está a transformar, em pó, partidos que outrora estiveram no centro do poder.
Sabe-se que o centro decidia o poder, porque as classes médias eram maioritárias e estas, na democracia, encontravam ali a sua guarda pretoriana. A crise e a austeridade implodiram o centro, onde outrora se ganhavam as batalhas eleitorais. As classes médias estão em fuga em busca de um pastor que as guie, agora que elas deixaram de ter destino.
Das cinzas de alguns partidos do centro estão a nascer, nas margens, arautos da desgraça ou da salvação. A estabilidade está a ser corroída pelo ácido e quem está a dissolver-se, com maior velocidade, são os partidos da social-democracia, tal como aconteceu com os comunistas depois do fim do Muro de Berlim. O PASOK grego tornou-se um clube de amigos. O seu antigo líder, Papandreou, uma ilusão.
Na Espanha, o PSOE vive numa guerra civil devastadora, enquanto a radicalidade do Podemos ocupa o seu espaço. Na França, só o músculo securitário de François Hollande vai travando o colapso do PSF, a que até Manuel Valls queria tirar o nome de "socialista". A deslocação para o centro dos sociais-democratas, a estratégia da "terceira via" de Tony Blair, entrou em colapso, porque a classe média (o paradisíaco "centro") está a evaporar-se na Europa da austeridade. Se juntarmos a isso a fobia da segurança que está a fazer renascer o nacionalismo radical, nota-se que à social-democracia falta um discurso alternativo face à hegemonia ideológica neo-liberal que ocupa o poder político, cultural e financeiro na Europa.
Os partidos sociais-democratas deixaram de surgir como o centro de gravidade e alienaram a sua capacidade de ser a alternativa. E, entre a esquerda radical e a direita cheia de certezas, ainda buscam um discurso distinto. Portugal é sempre o último país onde se colocam estas questões fulcrais. Mas o PS está prestes a ter de se confrontar com ele.»
Fernando Sobral
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