23.1.21

Em profunda reflexão


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2030

 


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Os que vão morrer te saúdam

 


«As simulações feitas na aplicação “ESTAMOSON” (felizmente o Governo não está off, o que se traduziria numa situação de anomia ou de anarquia) levam a que um jovem de 25 anos saudável seja previsivelmente vacinado daqui a vários meses, não significativamente mais tarde do que a sua avó de 80 anos saudável, apesar de o risco sanitário inerente à contaminação por covid-19 ser completamente diferente para ambos. 

Como a letalidade da doença aumenta com a idade, se a decisão política for a de vacinar um jovem e saudável membro das forças de segurança em vez de um cidadão de 75 anos, as consequências prováveis serão as de o primeiro não contrair a covid-19 e o segundo falecer por não estar imunizado. São opções politico-jurídicas fundamentais que determinam a escolha o tipo de comunidade que queremos ser. 

O principal critério adotado nos planos de vacinação covid-19 nos EUA, Reino Unido, Alemanha e França, é baseado na idade. Portugal optou por uma solução diferente da destes países. 

A ministra da Saúde afirmou à RTP1 que seriam “critérios técnicos” a justificar as opções tomadas. Em que teoria de justiça distributiva se fundamentam esses critérios? Ou não se fundamentam em nenhuma teoria e referem-se apenas às características técnicas dos veículos que asseguram o transporte de mercadorias a baixa temperatura? 

Face ao ritmo diário elevado e constante a que estão a falecer as pessoas de mais de 70 anos em Portugal, podemos indagar sobre quais serão os objetivos visados com a definição feita dos critérios de vacinação nesta primeira fase: Serão eugénicos, facilitando a morte dos menos jovens e saudáveis? Serão economicistas, salvaguardando a saúde de parte da população ativa essencial ao bom funcionamento da Economia? Traduzirão a vontade de que o Estado português se converta num Estado de polícia, com o apoio inequívoco de quem detém o monopólio legítimo do uso da força, sempre útil em tempos de instabilidade, como são os de uma pandemia? Serão demagógicos, selecionando apenas uma parte do universo de pessoas que sofrem de determinadas patologias graves? A resposta a estas questões será necessariamente negativa num Estado de direito livre, igual e solidário. 

Ao ritmo a que a pandemia tem ocorrido em Portugal nesta “terceira vaga”, muitas pessoas com mais de 70 anos falecerão diariamente com covid-19 nos próximos meses. Muitas dessas mortes seriam evitadas se lhes fosse dada prioridade máxima no Plano Nacional de Vacinação. No final de 2021 estaremos a discutir por que morreram tantos idosos e se as suas mortes poderiam ter sido oportunamente evitadas. Teria sido possível interditar a ponte de Entre-os-Rios ou organizar o cadastro da propriedade rústica em Portugal de forma a evitar a queda da ponte ou a morte de muitas pessoas em incêndios rurais. Quer os decisores políticos que não tomaram essas decisões quer a população que os elegeu terão de viver com a tragédia existencial irreparável do que sucedeu. 

Seria possível salvar muitas vidas que se encontram em risco acrescido de terminar, no curto prazo, com covid-19. Cidadãos e cidadãs comuns que, à semelhança dos gladiadores no Coliseu romano, apenas podem dizer em cada dia que passa aos nossos governantes: “Ave Caesar, morituri te salutant!”» 

Teresa Pizarro Beleza e Helena Pereira de Melo
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22.1.21

Voto

 

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Para além do surrealismo

 

Numa FNAC a comprar jornais e revistas. Zona dos livros vedada. 
Uma cliente pergunta se têm um livro. 
Empregado diz que sim mas que não podem vender. E esclarece: “pode comprar online para levantar aqui na loja. Isso pode fazer”. 
E assim foi. Comprou online com o telemóvel e pouco depois saiu com o seu livro. 

Paulo Ferreira no Facebook
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Humor negro ou talvez não

 


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Assim, não!

 

Ouvi numa TV, e li depois num jornal, que a PSP impediu um exame na St. Dominic's International School, onde alunos deviam fazer hoje um exame que se realiza na mesma data em vários países e que ficarão assim numa situação que será complicado resolver. 

É assim que se pretende combater a pandemia? Com um autoritarismo absolutamente bacoco que impõe um calendário de férias universal quando ele nem sequer existe actualmente? Muitas ou todas as escolas que já funcionam por semestres acabam hoje o primeiro, já tinham férias previstas para a próxima semana e distribuídos esses cinco dias úteis por períodos de aulas noutras férias que seriam encurtadas. 

Houve entretanto uma nacionalização ou uma requisição civil das escolas privadas e ninguém o anunciou? 
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Red lips challenge



 

«Mal começou o confinamento, tivemos direito a um red lips challenge nas redes sociais. O porquê desta súbita paixão pelo batom? A resposta ao novo número de circo de André Ventura que, sozinho no palco, decidiu animar a plateia debitando uma litania de caricaturas dos seus adversários políticos. Quando chegou a vez de Marisa Matias, lamentou em tom jocoso a fraca imagem da pobre coitada por, com aqueles lábios muito vermelhos, mais parecer uma coisa de brincar. 

Dada a literacia digital do Bloco de Esquerda e o mimetismo típico destes fenómenos, estavam criadas as condições ideais para uma enchente de bocas vermelhas, com profusão de hashtags e declarações de solidariedade. Politicamente, é fácil desvalorizar o momento como uma mera espuma dos dias, de duração inferior a 24 horas e sem qualquer influência sobre o sentido de voto. 

Mesmo assim, algum ponto sensível o insulto conseguiu tocar. Foram avistadas mulheres para quem a associação a uma candidata proveniente da esquerda está perto da heresia darem-se ao trabalho de desencantar um batom e encarniçar a boca. A questão deixou de ser política e tornou-se pessoal. Para muitas, lembrou-lhes o dia em que ouviram algo de parecido por causa de uma cara com excesso de pintura, uma saia demasiado curta ou um decote mais pronunciado. O mesmo julgamento que está só um passo atrás do “estava a pedi-las” no contexto da violência sexual. O comentário mostra também o quão difícil é encontrar a imagem certa num terreno tradicionalmente masculino como a política. A exigência de uma opção entre ser feminina ou ter poder não só persiste como continua a envenenar a relação das mulheres com a sua própria imagem. 

Depois de um ano a entrevistar dezenas de raparigas entre os 11 e os 16 anos na Europa e nos Estados Unidos, a revista “The Economist” publicou em dezembro um artigo de fundo onde tenta fazer o ponto da situação sobre a adolescência no feminino. A boa notícia é estarmos provavelmente perante um momento privilegiado para se ser uma futura mulher no mundo ocidental. Nunca as adolescentes foram tão livres nas suas escolhas e identidades; nunca tiveram interesses tão diversos e tantas aspirações. É o retrato de uma geração confiante no seu potencial e disposta a mudar o mundo. 

Neste quadro otimista, aparece uma exceção: a relação com a aparência física. Quando o tema passa a ser o seu corpo, a grande maioria das entrevistadas declara-se insegura, sofre com a pressão social e já se sentiu julgada enquanto objeto sexual. Mas nenhuma pretende um sistema onde seja obrigada a escolher entre a forma e a substância. O que desejam é a liberdade de se exprimir através do seu corpo sem estarem sujeitas aos chavões “sê bonita e cala-te” ou “o que tu queres sei eu”. 

No gesto de pintar os lábios em solidariedade com Marisa Matias, é possível ver a exigência da mesma liberdade. Para quem anda sempre a apontar o dedo à vitimização das feministas, devia ser uma boa notícia. Não houve queixas de virgens ofendidas, mas um desafio coletivo. No meu corpo decido eu e ninguém pode retirar daí uma conclusão quanto ao que sou ou quero fazer. Quem não gosta, temos pena. 

Puro simbolismo? Talvez. Mas é bom sinal se revela a forma como as mulheres do futuro estão determinadas a reagir perante julgamentos deste calibre.» 

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21.1.21

Precaução determinada

 


«Temíamos que viesse a ser assim. E não era um temor catastrofista. Era apenas a leitura atenta dos dados que iam chegando e o conhecimento sério das forças e fraquezas do nosso sistema de resposta. O princípio da precaução – em contextos de risco de intensidade incerta, antecipa o pior cenário e age como se ele fosse o único realista – tinha aconselhado a munirmo-nos de uma bazuca nacional sem ficar à espera da bazuca europeia. Precisamente agora que até os mais ortodoxos de Bruxelas puseram parênteses (temporário, é certo) nas regras estúpidas do défice, tinha sido avisado reforçar em pessoal e em meios o Serviço Nacional de Saúde. Tinha sido avisado alterar leis e procedimentos para proteger o emprego para proteger os desempegados. Avisado, só isso. 

Era assim que se devia ter preparado a resposta ao tsunami que lá vinha. Um tsunami feito de mortos e infetados, de falências e de pobreza. Era assim, mas não foi. 

Prevaleceu uma mistura de otimismo irritante e de medo de afrontar quem tem poder: o patronato, os grupos privados da saúde e o sistema financeiro. É isso mesmo que fica patente no facto de, nesta semana, o Governo ir resgatar medidas de apoio económico e social que rejeitou no Orçamento de Estado com a justificação de que eram desajustadas ou excessivas. 

E fica patente também na falta de meios suficientes do SNS para responder à vaga de internamentos. A dedicação dos profissionais do SNS é heroica, mas a verdade é que temos hoje menos cerca de mil médicos no SNS que em janeiro. Que não tenha havido a determinação para inverter essa sangria, neste tempo em que ela é absolutamente inconcebível, mostra como se admitiu que ia ser possível enfrentar a tempestade perfeita com galochas, gabardine e guarda chuva. 

Num momento em que os hospitais do SNS estão em dramático sobre-esforço, e em que o combate à pandemia é uma ingente causa nacional, o temor em operar a requisição civil dos equipamentos privados e sociais – única forma de os incluir neste combate coletivo fora de uma lógica lucrativa – é a expressão maior de um preconceito ideológico que tolhe o que não podia tolher. 

Em nome da responsabilidade, tínhamos de ter sido muito mais ousados na preparação das políticas de resposta ao que aí vinha. Em nome da responsabilidade, temos de ser teimosamente exigentes nas políticas para a hecatombe que aí está.» 

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Baptista Leite – da desonestidade

 



Baptista Leite "nunca tinha visto tantas pessoas morrerem num turno" em que afinal morreu uma


«Ricardo Baptista Leite usou as redes sociais para descrever um cenário que o impressionou, depois de ter trabalhado como médico voluntário no Hospital de Cascais, no sábado. "Nunca vi tantas pessoas morrerem num só turno de 12 horas. Nunca vi tantas mortes, na minha vida profissional, num tão curto espaço de tempo", disse, num apelo a medidas de confinamento mais duras que ganhou eco na comunicação social. Mas quantas pessoas morreram com covid-19, afinal, nessas horas nesse hospital? Segundo fonte oficial da instituição apenas uma. 

"O Hospital de Cascais esclarece que no passado sábado, dia 16 de janeiro, foram registados seis óbitos nesta unidade, três dos quais na urgência dedicada a doentes suspeitos ou positivos covid-19, tendo um desses óbitos ocorrido no turno entre as 8h00 e as 20h00".»
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O germe do fascismo

 


«Em nenhuma democracia civilizada os políticos procuram o protagonismo à custa da humilhação dos seus adversários, da ofensa e da provocação gratuita, das agressões verbais. Mas André Ventura tem trazido lama para a vida política portuguesa, tem dividido a sociedade e legitimado o racismo, a xenofobia e os ataques à democracia, tem atacado a imprensa e os seus apoiantes têm ameaçado e coagido os seus opositores nas redes sociais. 

A sua campanha para as presidenciais tem sido um teatro grosseiro de ofensas, intolerância e de falta de respeito. Uma anomalia de caráter que tem vindo a normalizar-se, a exemplo do que aconteceu com Donald Trump, que acabou da forma que todos sabem com a invasão do Capitólio. Se foi possível na democracia dos Estados Unidos, poderá também acontecer em qualquer outra parte do mundo. 

Salvaguardadas as devidas proporções, o nível de egocentrismo e de culto da personalidade é idêntico ao de outros líderes políticos que no passado fizeram história pelas piores razões, fruto de um tempo e de uma ideologia, muitas vezes com consequências trágicas do ponto de vista humano e para a democracia. Nesta vaga de populismos nacionalistas, basta pensar nos resultados infelizes da governação de Trump, Bolsonaro ou Matteo Salvini, em que a desumanidade se torna normalidade. 

Tal como aconteceu com as profundas crises pandémica e financeira após a I Guerra Mundial, com a gripe espanhola em 1918-20, e com a crise financeira decorrente do crash da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, que foram o viveiro para o aparecimento de figuras sinistras e autoritárias, também agora o mundo está a ser atingido por uma violenta pandemia, dez anos depois de uma grave crise económica e financeira, que veio na sequência da guerra global ao terrorismo após os ataques às Torres Gémeas em Nova Iorque. E essas figuras sinistras também têm aparecido agora, explorando sem escrúpulos o contexto de crise e insegurança para tentarem a conquista do poder. 

Os populistas são parasitas da democracia que aproveitam os momentos de dificuldades para semear a desordem, a confusão e a desinformação, em absoluto desprezo pelo esforço coletivo para superar as crises. Os seus alvos estão bem definidos: a imigração e as minorias, a rejeição do multiculturalismo, o sistema e a corrupção das elites, como se não houvesse instituições para a combater. E depois é tudo apenas uma questão de retórica, psicologia e bom uso das redes sociais. É a tempestade perfeita para atacar a democracia e os seus valores, ao arrepio de todos os esforços que os governos possam fazer para aprofundar a justiça social, a solidariedade e a igualdade de oportunidades para todos. 

Não admira que a extrema-direita tenha chegado mais tarde a Portugal, porque nunca o país teve problemas com a imigração, com o multiculturalismo ou com a religião. Pelo contrário, sempre fomos vistos como exemplares nestes domínios. Por isso, a única onda que a extrema-direita portuguesa podia cavalgar era a da estigmatização da etnia cigana, que foi o que o Chega fez, a par da hipervalorização das forças de segurança, a partir de onde se desenvolveu toda a retórica populista e securitária, mesmo que Portugal seja o terceiro país mais seguro do mundo. 

Ventura não critica nem condena os abusos das forças de segurança nem as vítimas de racismo. Pelo contrário, protege sempre as forças de segurança, mesmo quando existe flagrante violação dos direitos fundamentais, o que constitui um precedente perigoso para admissão de todo o tipo de arbitrariedades. 

Aquilo que a extrema-direita faz em Portugal é uma desconstrução dos valores humanistas e universalistas e um esvaziamento da história, fazendo tábua rasa da nossa convivência histórica com outros povos e da pedagogia da aceitação. E isto representa um retrocesso civilizacional. 

A civilização não é apenas evolução técnica. É, acima de tudo, o progresso das mentalidades e a compreensão de que nada distingue os seres humanos se a todos forem dadas as mesmas oportunidades, independentemente da sua condição. E o mesmo se aplica à vida política. O que sustenta as sociedades democráticas é o respeito por todas as opções políticas e ideológicas, é a tolerância e a convivência na diversidade, sem estigmatizações. Não aceitar estes valores é o princípio onde germina a semente de todas as “limpezas” de que Ventura fala, é onde mora o germe do fascismo.» 

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20.1.21

Ciganos?


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That’s all Folks!

 


Saber com quem contar

 


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Pandemia: não é pessoal, é coletivo

 


«Sobre o aumento de infetados e de óbitos já se escreveu bastante na semana passada. É o que devemos ter em mente o tempo todo, mas não nos dá informação sobre o que se passa agora, desde que entrámos num novo período de confinamento. O debate em que nos concentramos agora é o das medidas de confinamento, cujos efeitos só conheceremos daqui a duas ou três semanas. E a certeza de que não estão a correr como em março e abril do ano passado. 

Tinha o confinamento começado há poucas horas e já a imprensa fazia reportagens impressionistas sobre o incumprimento das regras. Na realidade, ainda o confinamento não tinha começado e já se dizia que não ia ser respeitado. Isto funciona como uma profecia autorrealizada. Julgam que ao dizê-lo estão a sensibilizar todos para o cumprimento das normas. Mas se as pessoas acham que ninguém cumpre, não cumprem. 

O problema é que as pessoas estão a cumprir menos, banalizando as exceções que usavam com moderação em março, quando havia muitíssimos menos casos. Nem é por haver mais ou menos exceções – a única verdadeiramente relevante é a das escolas, e não foi por causa dela que as pessoas estiveram na rua, no fim de semana. Do meu ponto de vista (e sei que tenho uma posição minoritária), o encerramento para alunos acima dos 12 anos, que é defendido por vários epidemiologistas (como Manuel Carmo Gomes) e recusado por outros (Henrique Barros), só deve acontecer depois de tudo o que não é essencial para a nossa subsistência fechar. Ou se a nova variante o tornar inevitável. Porque os efeitos deste encerramento são de longo prazo e incrivelmente desiguais. Quanto às outras novas exceções, os tribunais abertos terão um efeito marginal na pandemia e ninguém quer voltar a proibir as visitas a reclusos e a lares. 

O problema não são as exceções. É o facto de as pessoas não estarem a cumprir as regras como em março. E não as estão a cumprir porque, como os especialistas sabem, depois do susto inicial, tende-se a interiorizar o perigo e a ser mais negligente. Sabe-se que as medidas de confinamento são, com o tempo, cada vez mais difíceis de implementar. É por isso que, quando se ouve os especialistas, não se pode ficar por quem conhece os efeitos do confinamento na epidemia. Tem de se falar com quem conhece, já nem digo os efeitos económicos, sociais e psicológicos, mas as condições para que esse confinamento realmente aconteça. 

Da primeira vez estava tudo fresco. Tínhamos mais dinheiro, mais medo e mais espanto. Isso tornou possível confinar um país inteiro quando os números eram muitíssimo inferiores aos atuais. Não gosto de ser apostador de segunda-feira. Até porque, como todos e ainda mais os leigos, já falhei muitas vezes. Mas é possível que tenhamos desperdiçado demasiada energia na altura. Compreende-se. Sabíamos pouco sobre o vírus. Mas recordo que não foram poucos os que defenderam que o confinamento deveria ter sido mais apertado, começado mais cedo e terminado mais tarde. Não preciso de explicar como tudo seria ainda mais difícil neste momento. E que lidaríamos com o mesmíssimo problema. 

Estamos muito pior agora e não se sente o mesmo medo. Nem mesmo sabendo que ultrapassámos o resto da Europa. As pessoas, mesmo perante os números assombrosos e imagens que já não vêm de Itália, parecem não reagir. A tentação é fazer o discurso da responsabilidade individual. Ele está moralmente certo, mas é inútil. A vontade de grupo não é uma mera soma de responsabilidades pessoais. Os comportamentos coletivos não são uma mera soma das vontades dos indivíduos. E a psicologia social não se limita a lidar com o comportamento individual. Contam processos de imitação e dinâmicas coletivas. E as condições em que elas se desenvolvem. Talvez faltem, entre os especialistas que os políticos ouvem, cientistas sociais. Sem estes espécimes tão desprezados neste século é impossível liderar um fenómeno desta natureza. Resta o desespero do médico que não compreende como é que a evidência dos números e das imagens não tem efeitos nos comportamentos coletivos. 

Ontem, o Governo anunciou algumas novas medidas. Proibição de circulação entre concelhos aos fins de semana, proibição de permanência em jardins e várias mudanças nas regras do comércio. Mas, no essencial, defendeu o endurecimento da coação e maior policialmento (que quase não vejo na rua). Não vai, como é evidente, fechar tudo, como propôs alguém da Ordem dos Médicos, que não pode ter ideia do que isso significaria para o país, para a saúde pública e até para o combate à pandemia. Não ajuda, aliás, os discursos que alguns médicos fizeram em março do ano passado, com um décimo dos infetados. A ponderação no momento certo dá força à dramatização quando ela é realmente necessária – agora. 

Não é porque as pessoas sejam irresponsáveis que este endurecimento é necessário e até pode piorar. É porque a responsabilidade coletiva depende de fenómenos coletivos. E a exaustão coletiva é muitíssimo mais difícil de resolver do que a exaustão de cada um de nós.» 

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19.1.21

19.01.1942 - Nara Leão



 

Nara Leão faria hoje 79 anos e morreu com apenas 47. Estreou-se em 1963, mas a sua verdadeira consagração deu-se depois do golpe militar de 1964, em «Opinião», um espectáculo de crítica à repressão policial. 

Canções? Muitas – Ver alguns vídeos neste post do ano passado.
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Um cheirinho a alecrim

 

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Três razões



 

«Começou a eleição do próximo presidente da República. Para quem, à esquerda, ainda não decidiu ou pensa votar Marcelo Rebelo de Sousa no dia 24, deixo três notas: 

1. A "geringonça", criada para travar o programa de empobrecimento de PSD/CDS, foi um exemplo da capacidade de convergência entre o PS e os partidos à sua esquerda. A marca que deixou foi a de um acordo fundado em medidas concretas e não em vazias geometrias de poder. Em 2016, a candidatura da Marisa Matias puxou por essa convergência, deu-lhe voz. Em 2021, sabemos que contamos com a sua determinação para construir as pontes que valham para proteger o país, sem sectarismos mas com exigência. 

2. Para haver convergências é necessário um projeto político. E o projeto político de Marcelo é a continuidade. A sua capacidade de diálogo esgota-se quando insiste em defender os lucros do setor privado da saúde, quando desvaloriza a crise ambiental, quando se conforma com o privilégio da banca ou quando defende as leis laborais da troika. Marcelo será sempre a convergência em torno do que existe, e por isso o presidente foi tão importante na relação de forças que impediu novos entendimentos à esquerda sobre a saúde, o trabalho ou a banca. Em 2021, o SNS precisará, como nunca, de um entendimento, um pacto à esquerda, que lhe permita recuperar a capacidade e chegar a todas as pessoas que dele precisam. Esse é o Contrato para a Saúde, proposto pela Marisa desde o primeiro dia da sua campanha. 

3. Chamemos os bois pelos nomes. Ventura é um oportunista, mas um oportunista que integra um movimento internacional de extrema-direita, onde está acompanhado por Trump (que procura imitar em palavras e gestos) e Bolsonaro, mas também por Le Pen, por Salvini, entre outros movimentos políticos protofascistas, como o de Viktor Orbán, na Hungria. O seu programa não é só de ataque aos direitos e liberdades civis, começando pelos imigrantes e pelas mulheres. O autoritarismo de Ventura serve uma ambição pessoal, mas também um projeto económico violento de privatização dos serviços públicos e desmantelamento do contrato social. Não se combate a extrema-direita banalizando-a, como fez o PSD ao celebrar um acordo de poder com o Chega, rapidamente ratificado por Marcelo. A luta pela democracia contra o medo exige um horizonte de esperança que só a força das lutas emancipadoras pode trazer, como vimos pela mobilização das mulheres contra o ódio de Ventura na última semana. 

A luta pela democracia exige a possibilidade de nos juntarmos em torno da ideia de serviços públicos fortes, de justiça na economia e de proteção no trabalho. 

Depois das eleições, o país continuará a precisar das convergências para proteger a saúde e o emprego e da força para combater a extrema-direita oportunista. Esse é o compromisso da Marisa, antes e depois das eleições.» 

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18.1.21

Marcelices



 

«"É evidente que a nível nacional, havendo dúvidas sobre o comportamento, aí faz sentido haver acordos escritos se essa situação vier a acontecer”. A frase é de Marcelo Rebelo de Sousa e foi a notícia do debate [na rádio], o último com todos os candidatos presidenciais.» 

Expresso, 18.01.2021
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Marcelo pré-PR

 


Acham que o homem mudou? Esqueçam e pensem em quem vão votar.
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Ary dos Santos

 



Morreu num 18 de Janeiro, já lá vão 37 anos.
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Pobreza e desigualdade

 


«Nas festas foi um tempo de se falar dos pobres. Epidemia, mais pobres, mais desigualdade. Vão aumentar. Ora, se há pobres é porque há desigualdade. Nenhum país é só de pobres ou só de ricos. É o “sistema”, dizem. Se há pobres há insegurança alimentar, más condições de habitação. Estas situações são causa de vida sem saúde e de mais anos com doença. E se há pobres e desigualdades é porque há muito ricos, para chamar as coisas pelos nomes. Estes não encontram formas de repartir, no mínimo aumentando os salários. É o “sistema” da concorrência, dizem. Pois então é contra este “sistema” que temos que lutar. Porque a pobreza e a desigualdade não podem ser eternas. 

Em todos os países estudados há desigualdade, mas é diferente de uns para outros. Com uma constante: quanto mais desigualdade, mais pobreza. Mesmo nos países menos desiguais, os escandinavos, social-democracia real, os 10% mais ricos detêm 25% do rendimento do trabalho e do capital, enquanto 50%, os mais pobres, detêm 30%. Desigual, mas menos mal, se tivermos em conta que a saúde, a educação e outros bens públicos são universais e gratuitos. Mas se formos para o farol do capitalismo, os Estados Unidos da América (EUA), a nação de Reagan e de Trump, sempre grande, polícia do mundo, autoritária, a vender armas e a fazer guerras, os 10% mais ricos detêm 60% do rendimento do capital e do trabalho e 50%, que são os mais pobres, detêm 15%. Estreitando a divisão em percentis, nos EUA, um país com 260 milhões de adultos, 1% detém o principal da riqueza e os outros têm 99%, slogan do movimento Occupy Wall Sreet. Mas 1% são 2,6 milhões de pessoas! É muita gente com muito poder – financeiro, político, cultural, comunicacional, militar. E chamam a isto o apogeu da democracia! 

É a esta gente que o Reino Unido e o resto da Europa, nós próprios, temos buscado inspiração. Das suas agências ou afins ouvimos notícias, as suas redes de comunicação mandam em nós, vemos os seus filmes, a agência de medicamentos inspira as directivas europeias. A cultura da desigualdade tem sido aquela que nos domina. A Europa é menos desigual, mas tem sido o suficiente para ter pobreza bem visível. Os países menos desiguais têm menos pobreza, mais distribuição de rendimento. Mas globalmente, na Europa, 60% do património nacional pertence a 10% da população e 50%, que são os mais pobres, detêm 5 a 10%. Em Portugal melhorou, mas em 2017 estava com um nível de 17,3% da população na pobreza, mesmo depois das transferências sociais serem feitas (INE, 2017). Uma grande parte desta população (10%) são pessoas que trabalham. Se formos ver os Açores, são 32% os que estão abaixo do limiar da pobreza. Serão mais agora que lhes vão tirar as transferências sociais, decisão da nova coligação parlamentar. 

Estes números crescerão muito em 2020, em todos os países, com os novos pobres da pandemia. As desigualdades também. Nos países onde já foram estudadas, os ricos estão mais ricos. O Institute of Policy Studies dos EUA publicou: as fortunas combinadas dos 647 mais ricos do país cresceram quase um milhão de milhões (1 bilião) entre Março e Novembro de 2020. Em Portugal estamos a falar de um limiar de pobreza calculado em 501€. Mas quem recebe o salário mínimo não está rico com certeza. Quanto aos mais velhos, há 1.457.205 pensionistas a receberem uma pensão abaixo do salário mínimo. A pensão mínima da Segurança Social é de 275,28€ e a da Caixa Geral de Aposentações é de 257,28€. O aumento de 10€ para as pensões abaixo de 658,20€ aprovado pelo Orçamento Geral do Estado de 2021 talvez desse para comprar alguns iogurtes e fruta, poucos, durante um mês, mas serão talvez para acrescentar aos pagamentos da água, da electricidade e do telefone. 

Não é de estranhar que 10% da população tivesse em 2015 insegurança alimentar, dificuldade de acesso a alimentos seguros e nutritivos, que permitam uma vida saudável, e que cerca de 50% não comam vegetais e fruta suficientes (Carla Lopes e col., Inquérito Nacional de Alimentação e Actividade Física). Quanto à habitação, em Portugal há 4,1% de pessoas com privação severa das condições de habitação (Eurostat, Observatório das Desigualdades, 2017). Os critérios para considerar “severa” são muito apertados e não se sabe até que ponto estão incluídos os bairros ilegais. Com estas condições de rendimento, de alimentação e de habitação, os pobres têm mais doenças, mais obesidade, mais diabetes, mais doenças cardiovasculares, mais pneumonias, maior mortalidade. 

Claro que o aspecto exterior das famílias foi mudando. Uma casa de família pobre e sem comida na mesa, mas com sofá, televisão e as pessoas vestidas e calçadas, pareceria rica, aos olhos de observadores do Barreiro onde nasci e vivi. Os bens e o consumo evoluem, mas a pobreza e a desigualdade também. A crise vai agravar tudo. Na anterior crise financeira, 2008 a 2015, as consequências foram graves: o SNS gastou menos 540 milhões de euros em medicamentos e 15,1% dos utentes diziam não os ter adquirido por falta de dinheiro, cerca de 9% não foram à urgência por dificuldades económicas, 5% por falta de dinheiro para os transportes; fizeram-se menos cinco milhões de consultas nos Centros de Saúde entre 2008 e 2015, as camas hospitalares decresceram entre 2010 e 2014 (Observatório Português dos Sistemas de Saúde, Relatório da Primavera 2015). Quanto ao que se passava nos lares, o presidente da União das Misericórdias Portuguesas, Manuel Lemos, era uma voz a pregar no deserto. Durante a crise aumentaram as doenças mentais, as anemias por falta de ferro, as doenças respiratórias. Não foram estudadas as carências nutricionais no sangue, mas deviam ter sido. Perante este quadro dramático levantou-se o movimento “Que se lixe a Troika”, mas não houve tumultos, revoltas desordenadas, pedras, barricadas… Mansamente caminhámos através das cidades, em multidão. Mas não houve mudança, pelo menos imediata. Quanto às vozes que agora se levantam diariamente, nessa altura estiveram caladas. 

E se há desigualdade é porque há ricos. As 25 famílias mais ricas de Portugal detinham em 2018 19 mil milhões de euros, o que equivalia a 10% do PIB. São elas, concentradas para abreviar, a Corticeira Amorim, a Jerónimo Martins e sociedades ligadas, o Grupo José de Mello, a Sonae, o Grupo Simoldes, a Alves Ribeiro Construção, a Visabeira, a Portucel, o Grupo Pestana, o Violas SGPS, a RAR, a Mota Engil, Mário Ferreira, a Farfecht, a Salvador Caetano, a Nutrinveste, a Lusiaves, a Out Systems, a Ascendum. Sabe-se que algumas destas sociedades põem o seu dinheiro em projectos não rentáveis, com benefício público. Calcula-se também que algumas terão gestos de solidariedade importantes. Também não se trata de “diabolizar” os ricos, de forma primária. Trata-se de, mais uma vez, pensar no “sistema”. 

Os possuidores de tanto património, para além de o colocarem em offshores, portanto numa nuvem sem impostos, que lhes deve dar uma sensação de poder, não têm onde gastar tanto dinheiro. Acumulam. A acumulação agrava a desigualdade. Rousseau dizia que a igualdade é uma aspiração inata da alma ou do coração dos humanos. Será? O ímpeto da igualdade fez parte dos movimentos cristãos iniciais, mas bloqueou quando se tornou religião do Estado e quando o proselitismo se transformou em massacres. Passou a religião e liturgia dos ricos e foi necessário que passassem séculos para novos profetas tentarem recuperá-la como religião dos pobres. O ímpeto da igualdade foi também motor das revoluções que triunfaram numa parte do mundo e foram a esperança dos deserdados e humilhados. Mais uma vez, como catecismo do Estado, a esperança foi morta e massacrada, sem respeito pelos seres humanos. 

E nós? Será que o ímpeto inato da igualdade morreu em nós? Não bastam esmolas nem remendos. A cada um a responsabilidade de lutar pela igualdade. Porque há desigualdade, há pobreza, há crise e há um mundo natural a ser destruído em nome do lucro.» 

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17.1.21

17.01.1944 – Françoise Hardy



 

Françoise Hardy faz hoje 77 anos. Em 2015, em luta contra um cancro, anunciou que tinha posto fim à carreira. Mas venceu o dito cancro e lançou, em 2018, o seu 28º álbum: «Personne d’autre». Actualmente tem graves problemas de saúde e já não quer cantar.

Seja como for, quando desaparecer, nós, «les garçons et les filles de son âge», ficaremos para sempre a dever-lhe memórias de ternura e de inocência. Voltar a ouvi-la, nos seus primeiros tempos, devolve-nos uma ingenuidade que parece hoje irreal, quase impossível que alguma vez tenha existido.

Do álbum de 2018:




Do álbum de 2012:




E, inevitavelmente, o início de tudo (1962), a canção ícone que ficou para sempre, com letra e música de sua autoria: 


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Pastéis de Belém



 

Um bem essencial de que os portugueses não prescindem e que os faz furar o confinamento. Sem emenda, mesmo que estejam à beira do abismo. 

(A fotografia foi tirada ontem.)
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#VermelhoemBelém



 

«Os símbolos não são coisa pouca para a humanidade: é a capacidade de criá-los, de representar o real através deles, que nos distingue dos outros animais. Num símbolo condensa-se, em determinados momentos, toda uma história, neles se sintetiza um processo, um conflito, com eles se mobiliza uma causa. São usados como arma para ofender, para oprimir, para marcar, para estigmatizar. São reivindicados como expressões de luta, de libertação, de resistência. São disputados nos seus significados. 

Não é de agora que o batom vermelho está nessa liça. No século XVIII, havia ainda quem considerasse que pintar a cara era “obra do diabo” e sinal de “feitiçaria” e, no parlamento britânico, um deputado chegou mesmo a propor uma lei contra as mulheres que usavam batom. O medo masculino de uma feminilidade não tutelada fez com que, nas narrativas conservadoras desses tempos, os lábios coloridos de vermelho fossem codificados (e publicamente censurados) como a manifestação de uma moral duvidosa ou de uma heresia face aos bons costumes. Na realidade, o que assustava os machos da época (e porventura os de hoje) era que ele pudesse ser um sinal de independência e de autonomia das mulheres sobre o seu corpo. 

Não será por isso muito surpreendente que, na passagem do século XIX para o século XX, as sufragistas tenham adotado o batom vermelho como símbolo de rebelião. Elas, que se atreviam a lutar por essa ideia escandalosa de que as mulheres – e não só os homens – deveriam ter o direito ao voto, carregavam também nos lábios o batom vermelho que chocava os homens do poder e desafiavam o monopólio masculino da política. Depois disso, em outras épocas, o mesmo símbolo se fez arma de resistência. Contra o ódio público que Hitler lhe tinha, usar batom vermelho (cuja produção nos países Aliados, ao contrário de outros produtos, não foi interrompida durante a II Guerra Mundial) era também uma afirmação contra o fascismo. 

E aqui chegados, em 2021, de novo o vermelho assusta e perturba os que têm medo das mulheres sem medo. Das que desafiam, pelas causas que defendem, o sistema patriarcal e a sua estrutura de desigualdade. Das que ocupam os lugares da política ao arrepio da lógica dominante da competição, das que não se adaptam nem conformam à substituição do debate por uma espécie de concurso de varonia ou de campeonato de boçalidade, das que são avaliadas (de uma forma que os homens não são) a partir de julgamentos sobre a sua aparência ou frivolidade que dizem sempre muito mais dos avaliadores do que das avaliadas. 

Marisa Matias sabe bem o que é lidar com a cultura do autoritarismo marialva – e fazer-lhe frente. Ela é a criança de Alcouce que, contra todas as probabilidades sociológicas e por conta de um Estado Social de que se orgulha e pelo qual luta, chegou onde muitos gostariam que, ainda hoje, pessoas da sua origem e condição não chegassem. Marisa, a “campeã do clima” no Parlamento Europeu, a deputada reconhecida pelo seu trabalho em defesa da saúde pública ou contra os paraísos fiscais, a pessoa que, há mais de dez anos, se tem empenhado em dar visibilidade ao trabalho invisível das cuidadoras informais, está habituada a lutar contra a indiferença e a enfrentar podres poderes, em Portugal e noutros países. 

A onda de solidariedade com Marisa Matias que se tem levantado desde ontem é, pois, mais do que merecida. Através dela vemos o que temos de melhor em nós próprios. Os lábios pintados, de mulheres e homens solidários de tantas opiniões, são muito mais que lábios pintados. São uma afirmação democrática e uma arma contra o ódio. Que dessa vaga faça parte, entre tantas, Ana Gomes, mulher cuja fibra de combate e a integridade de princípios são indiscutíveis, só admira quem não conheça ambas. Nenhuma delas hesitaria em mostrar que é na cooperação e na solidariedade que se faz a diferença contra todos os autoritarismos. Nessa atitude, há uma lição maior nesta campanha, com um alcance que vai além de aritméticas eleitorais. 

Para mim, a Marisa é também esta lição. É essa força maior que faz diferença na política, agora e depois. Contra a boçalidade, o orgulho no que somos. Contra o extremismo, a radicalidade dos direitos humanos. Contra o marialvismo, a capacidade de atear a força da solidariedade feminista. Contra as desigualdades, o bem comum, a justiça social e a justiça climática. É isso tudo que representam os lábios vermelhos de Marisa. E eu quero #VermelhoemBelém. 

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