
Dez dias de turismo são menos do que pouco para conhecer seja o que for, mas o suficiente para se perceber que, na Birmânia, se está perante um caso especial.
Ao contrário do que acontece em países vizinhos como o Vietname, o Cambodja ou o Laos, a ditadura aqui nem sequer é ditada por uma qualquer ideologia, mas reduz-se pura e simplesmente a um poder férreo de militares sobre 56 milhões de pessoas, tendo como único objectivo o seu próprio enriquecimento e o luxo em que vivem as famílias e os respectivos amigos - à custa de uma corrupção generalizada e sem vergonha, enquanto a esmagadora maioria do povo vive num estado de pobreza extrema, visível em todos os detalhes, sem empregos, em cidades mais do que degradadas e desordenadas, onde nem sequer se vêem os enxames de motoretas já célebres no Sudoeste asiático porque uma simples bicicleta é quase um luxo. Tudo isto num país riquíssimo em recursos naturais (gás, madeiras de várias espécies, pedras preciosas de primeira qualidade, etc., etc.) que são vendidos para todo o mundo porque é evidente que o boicote dos Estados não atinge as algibeiras dos comerciantes.
Em 2005, a capital política passou a ser Nay Pyi Taw, onde está a ser construído um misterioso conjunto de túneis com a ajuda da Coreia do Norte (um dos três grandes amigos do país, juntamente com a China e com a Rússia).
A sua utilização futura dá lugar a um sem número de especulações.
Haverá eleições em 2010, mas ninguém parece ter qualquer tipo de esperança quanto ao desfecho das mesmas. Mesmo que viessem a libertar
Aung San Suu Kyi («a senhora», como é sempre carinhosamente referida), antes da data prevista e a tempo de concorrer, e mesmo na hipótese praticamente absurda de ela as vencer, nunca poderia vir a estar à frente do país, já que a constituição foi alterada e obriga agora a que o chefe supremo da nação seja um militar. Ninguém se atreve a prever quando e como será o fim de um regime terrível que dura desde 1988 e que oprime milhões de pessoas que exibem um misto de resignação, grande dignidade e amabilidade fora do comum.
Tudo isto feito «em nome» do budismo que os políticos dizem professar e protegem de facto, que mais não seja porque a conservação dos pagodes (templos e
estupas) parece ser a única realidade digna de atenção – e de dinheiro. Falarei disso mais tarde.