14.7.18

Com o Mundial quase a acabar



Não, Milu, foi só o 3º, mas já não é nada mau!
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Dica (782)



Are We Still Good Europeans? (Jürgen Habermas) 

«National identities were, rather, purposefully created by leading elites by adapting the shared consciousness of the populations to the already existing and wider ranging functional contexts of modern territorial states and national economies. Today, national populations are overwhelmed by the politically uncontrollable functional imperatives of a global capitalism that is being driven by unregulated financial markets. The frightened retreat behind national borders cannot be the correct response to that challenge.»
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100 anos para Ingmar Bergman



Ingmar Bergman há um século, num 14 de Julho. Foi durante alguns anos o meu cineasta de eleição e criou-me um fascínio tal pelos seus filmes, e pelo ambiente em que se passavam, que me fez gastar os primeiros tostões que consegui poupar: fui a um balcão da TAP, comprei um bilhete e pus-me a caminho de Estocolmo, sem nada  planeado. E não me arrependi.

Pretexto para recordar duas obras «eternas», dos anos 50, entre muitas outras magníficas!






E Saraband, o filme tardio de 2003 – de cortar a respiração.


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14.07.1989 - Jessye Norman no segundo centenário



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Os gnomos de Trump e o Senhor das Moscas



José Pacheco Pereira no Público de hoje:

«Não costumo muito ficar envergonhado com a atitude de outros, em particular quando não tenho muitas expectativas sobre o seu comportamento. Mas envergonha-me a cena de submissão que os dirigentes europeus da UE e da NATO têm feito diante de um Trump que os insulta, ataca, ameaça, mente descaradamente, gaba-se, batendo no peito como os gorilas, faz afirmações inaceitáveis, chantageia-os com tomadas de posição de enorme gravidade para a paz e segurança dos seus países, mostra desprezo pelos seus acordos e alianças, interfere na política interna das democracias (nas autocracias e ditaduras nem uma palavra), ou seja, faz tudo o que não deve fazer por nenhuma regra diplomática, de bom senso, de educação, e eles sorriem, baixam a cabeça, apressam-se a correr para o lugar na fotografia, como gnomos que são.

Ao lado do que aconteceu nesta visita europeia de Trump, as declarações do G7 parecem um acto de heroicidade, pelos vistos já esquecido. Ver Theresa May ao lado de Trump a comportar-se como uma ovelhinha, a permitir que ele minta descaradamente sobre o que disse no dia anterior, a acusar os jornalistas do Sun de manipular as suas palavras, quando estes tem a entrevista gravada e passaram as partes controversas logo a seguir para mostrar quem mente, a aceitar os elogios do mesmo homem que lhe provocou no dia anterior consideráveis estragos num poder já de si muito frágil, diz muito da covardia e da hipocrisia da senhora.

Mas o que é mais grave é que, nessa entrevista a dois, Trump recusou-se a responder a uma pergunta da CNN por ser “fake news”, para responder a Fox News “real news”. May estava ao lado, nem piou, nem sequer tomou a iniciativa de dar ela a palavra ao jornalista da CNN, para mostrar a diferença. Nada. Mas a verdade é que os jornalistas presentes continuaram como se nada se passasse. Havia um ambiente de boa disposição, sorrisinhos, anedotas, tudo bons amigos, babados por estar diante do homem mais poderoso do mundo. Uma vergonha esta complacência com Trump e os seus abusos, que mostra como se pode ser o bruto que ele é e passar impune.

O que faz falta é que alguém diante de Trump e em directo lhe responda de forma clara e inequívoca, que se levante e lhe diga algumas verdades, já que não conseguirá dizer muitas, porque será calado e escoltado para fora da sala. Que faça aquilo que os anarquistas chamavam “a propaganda pelo exemplo”, uma das coisas mais poderosas quando se pode fazer diante de milhões de pessoas que estão a ver ou vão ver, como seja dizer esta simples frase: “O senhor Presidente, sua Excelência, Sir, sua Majestade, sua Eminência, Grande Negociador, etc., por que razão o senhor mente tão sistematicamente, por que razão é um mentiroso?” Não lhe perguntem sobre políticas, que ele aí vai dizer o que quer, dependendo de quem está ao lado e, no dia seguinte, muda tudo na solidão do Twitter ou vice-versa. Mas duvido que hoje abundem as pessoas que possam ter estatuto para estar diante dele, sejam governantes, sejam jornalistas, e que tenham essa pequena coragem, nem muito especial, nem muito coragem, de não ter transigência, nem complacência com Trump e o confrontar.

Eu admito que eles possam ter medo de Trump e, pensando bem, não é uma atitude desprovida de sentido, porque o homem é muito perigoso. Mas o que estes gnomos fazem está muito acima do medo, é um exercício que mistura reverência ao poder, subserviência, e pura e simplesmente vaidade por estarem ali ao lado do Presidente dos EUA, a bater nas costas uns dos outros, e pensando: “Que importantes que nós somos.” Eles não gostam de Trump, riem-se dele em privado, denunciam-lhe as grosserias entre amigos, contam as anedotas malévolas sobre as Stormy Daniels da vida dele, sugerem que ele está nas mãos de Putin, mas lá, diante dele, perdem a bazófia toda.

Desde o primeiro dia que penso e escrevo que com Trump só resulta a intransigência total. Nem salamaleques, nem sorrisos, nem sequer vontade de estar perto. As pessoas dignas do Reino Unido estão na rua a protestar, sob a imagem cruel do balão representando um bebé Trump birrento, mau como só uma criança pode ser.

No fundo, estamos na pátria de William Golding, o autor de O Senhor das Moscas, que retrata como um grupo de crianças regressa à selvajaria quando deixados sós numa ilha. Levantem bem alto o balão e passeiem-no bem visível diante de Theresa May e dos seus confrades europeus, crescidos no corpo e na idade e pequeninos em tudo, servos do Senhor das Moscas.»
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13.7.18

Santana Lopes




Avance, avance! A esquerda agradece.
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Welcome to London, Mr. Trump






Daqui.
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Catarina Martins




Uma grande intervenção, hoje, no Debate da Nação.

A ler: Quem teve a responsabilidade de devolver a esperança tem também a de não vender ilusões.
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13.07.1958 - A carta de um bispo a Salazar



Há 60 anos, cerca de um mês depois das eleições presidenciais de 1958, às quais Humberto Delgado tinha concorrido, António Ferreira Gomes, bispo do Porto, escreveu uma longa e corajosa carta a Salazar, que lhe valeu dez anos de exílio em Espanha, França e Alemanha, entre 1959 e 1969.

Para muitos, sobretudo católicos, a conjugação destes dois acontecimentos – eleições com Delgado e carta do bispo do Porto – foi o verdadeiro pontapé de saída para a resistência e luta contra a ditadura, durante as décadas que se seguiram.

Vale a pena ler ou reler o texto para se perceber a importância que teve na época.

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Recordo um poema de Sophia de Mello Breyner:

D. António Ferreira Gomes

Na cidade do Porto há muito granito
Entre névoas sombras e cintilações
A cidade parece firme e inexpugnável
E sólida – mas habitada
Por súbitos clarões de profecia
Junto ao rio em cujo verde se espelham as visões
Assim quando eu entrava no Paço do Bispo
E passava a mão sobre a pedra rugosa
O paço me parecia fortaleza
Porém a fortaleza não era
Os grossos muros de pedra caiada
Nem os limites de pedra nem a escada
De largos degraus rugosos de granito
Nem o peso frio que das coisas inertes emanava
Fortaleza era o homem – o Bispo –
Alto e direito firme como torre
Ao fundo da grande sala clara: fortaleza
De sabedoria e sapiência
De compaixão e justiça
De inteligência a tudo atenta
E na face austera por vezes ao de leve o sorriso
Inconsútil da antiga infância.
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12.7.18

Dica (781)




«With a right-wing extremist party in government again, a major experiment is currently taking place in Austria -- one that may test the endurance of democracy in Western Europe. A visit to a country that appears unable to come to terms with its own history as it lurches to the right.»
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12.07.1973 – O dia em que a polícia invadiu a TAP



Ia agitado a ambiente entre os activistas da TAP, quando a polícia carregou em todos os que se dirigiam para uma assembleia na Voz do Operário, em 11.07.1973, na qual devia continuar a ser discutido um novo acordo colectivo na empresa. Os trabalhadores decidiram então concentrar-se no aeroporto, onde, no dia seguinte, as oficinas pararam e uma concentração ainda maior, calculada em 5.000 trabalhadores, exigiu explicações à administração da empresa pelos factos da véspera.

A polícia de choque entrou então nas instalações, abriu fogo e fez vários feridos. No entanto, a resistência dos trabalhadores, em terreno conhecido, rapidamente se tornou insustentável para a própria polícia. Esta tentou ainda entrar num dos hangares, mas renunciou à ideia ao notar que podia ser alvo do dispositivo anti-incêndios. Alvejada por fisgas e com esferas de rolamentos, decidiu retirar-se. Mas teve de o fazer sob uma chuva de projécteis, que a atingiam a partir dos edifícios de escritórios.

Nos dias seguintes, o conflito intensificou-se com a extensão da greve das oficinas à pista e aos escritórios. Só em 17 de julho se registou o regresso ao trabalho, após conclusão de um acordo em sede de comissão arbitral em que o advogado sindical (Jorge Sampaio) votou vencido, por não ver nele satisfeita a reivindicação de se realizar a assembleia impedida em 11 de julho.

No entanto, o acordo representava para os trabalhadores uma meia vitória ou mais: garantia que não houvesse prisões ou outras represálias; que seriam libertados os presos na noite de 11 de julho; e que haveria informação sobre o estado dos feridos e tratamento dos mesmos por conta da TAP.

Texto resumido a partir daqui.
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Mais uma do polícia mau do PS




Santos Silva disse isto e eu fico cheia de esperança de que os PS mude de agulha em relação à EU e à NATO… #AlwaysLookontheBrightSideofLife

« - Parece-me difícil um maior compromisso de política externa com dois partidos que são anti-UE e anti-NATO...
- Veremos. Seria um pouco estranho que esta solução política, correndo bem até ao final da legislatura, não significasse também aprendizagem para os quatro partidos. O PS aprendeu bastante, e os outros partidos, espero que também.»

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P.S. - Se isto não fosse grave, já começava a ser mesmo cómico: "Costa contraria Santos Silva e diz que mantém “grau de compromisso” com BE, PCP e PEV.

«António Costa afasta qualquer alteração às regras dos entendimentos que fez com o BE, o PCP e PEV em 2015 e garante: “Nem um optimista irritante como eu acredita que seja possível superar divergências que são identitárias. Mas também não considero que seja necessário. Como provámos nesta legislatura, podemos entender-nos sobre o que queremos fazer em conjunto, respeitando a identidade de cada um.”»
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«Não somos genericamente racistas, temos é casos demais...»



«Recentemente, numa entrevista, disse o senhor alto-comissário das Migrações: “Os portugueses não são genericamente racistas.” “Acho, ainda assim, que os casos que temos em Portugal são pontuais.”

Este excerto é paradigmático da ideologia vigente, principalmente quando falamos do também presidente da Comissão para a Igualdade e contra a Discriminação Racial (CICDR), defensor de uma alteração à lei que (des)criminaliza o racismo em Portugal por esta se ter mostrado ineficiente.

Não só a questão do racismo que não tem que ver com sermos ou não “genericamente racistas”, como os casos não são assim tão “pontuais”.

Portugal é um país historicamente racista, que começou por uma organização social, política e económica de orientação racista, sendo seus exemplos: o antissemitismo do tempo da Inquisição, a escravatura do período colonial, o estatuto do indigenato que perdurou no Estado Novo, até ao clássico e sempre atual anticiganismo, isto só para citar alguns.

Em atos de discriminação, no historial recente, houve um aumento das queixas feitas chegar à CICDR.

Só em casos mediatizados tivemos: o caso das agressões a Nicol Quinayas, no Porto, mencionado na entrevista; o das agressões na esquadra de Alfragide já em julgamento (com novo processo ainda por julgar); bem como o caso de Santo Aleixo da Restauração.

Outros menos mediatizados, como: as constantes violações ao direito à habitação condigna com as demolições de habitações próprias sem alternativa, passando pela colonial (e sempre atual) segregação habitacional das populações ciganas, negras e migrantes, o disparo à queima-roupa sobre um cigano (na cara), quando este foi pedir trabalho numa terra explorada por agentes da PSP que vieram a tentar encobrir o crime do colega e ocultar o seguimento do caso para o IGAI, o caso de Portimão em que crianças ciganas eram forçadas a comer em último lugar, partilhando o almoço entre si, de pé junto ao lixo; ou ainda o caso das agressões a alunas ciganas por um professor numa escola do Seixal.

Até aos que nunca chegaram a ser mediatizados, como o caso numa escola básica em que uma criança cigana de 6 anos é posta a comer no chão, enquanto os colegas comem sentados à mesa, as incursões intimidatórias num bairro camarário de Lisboa, em que agentes da PSP ameaçam mulheres ciganas do interior das carrinhas, as agressões a jovens negros nas discotecas e até o caso “mais soft” da Câmara Municipal de Estremoz ou de uma marisqueira que recusa explicitamente clientes ciganos, o que, contudo, não é caso único (só na altura deste caso houve outros dois a ser disseminado nas redes sociais).

Não são meros “casos pontuais”, ocorrem recorrentemente, de norte a sul do país, em qualquer altura do ano, e constantemente. E, acima de tudo, não são corrigidos nem recebem resposta rápida e eficiente dos órgãos responsáveis.

O racismo em Portugal é estrutural e institucional, não se reduzindo a uma questão de “calharmos a ter pessoas racistas ou xenófobas aqui ou ali”. Em Portugal as próprias instituições têm um funcionamento racista: autarquias, forças de segurança, institutos da segurança social, media, levando a um desfavorecimento sistemático de populações racializadas não brancas.

Há toda uma impunidade sistemática ante violações e abusos de poder, chegando a haver mesmo orientações explicitamente racistas. Olhemos para a Justiça e vejamos qual a taxa de condenação para uns e de absolvição para outros. Olhemos para a habitação e vejamos qual a realidade da maioria das diferentes populações.

PUB Em Portugal ainda hoje glorificam-se atos e pessoas racistas e colonialistas, em detrimento de atos e de pessoas que mereciam muito mais a distinção e admiração do país.

O racismo é político, além de “social”.

Negar o Racismo, é ser seu cúmplice. Enquanto Portugal continuar com esta atitude negacionista e a recusa imatura em reconhecer os aspetos brancos e real dimensão do Racismo na sua história e no Presente, não poderá ultrapassar o seu legado histórico. E com isso perde toda a gente.»

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11.7.18

Ultimatos e diplomacia prussiana



Francisco Louçã no Expresso diário de 10.07.2018:

«Dois jogadores de xadrez calculam o seu próximo movimento. Pensam no efeito da deslocação da peça escolhida, o que significa que procuram antecipar o que fará o adversário depois da sua jogada. E imaginam como responderão então e o que fará o outro. E qual deve ser a nova resposta e assim por diante. Não parece simples, mas é mesmo muito complexo: as jogadas possíveis no xadrez são mais do que o número de segundos desde o Big Bang.

Agora imagine que não são só dois jogadores à frente do tabuleiro. Há um terceiro e talvez mesmo um quarto. Ou muitos mais. Falam, sugerem, atrevem-se mesmo a mexer nas peças. O jogo torna-se uma cacofonia. Mas é assim mesmo que são as sociedades, a sua complexidade resulta da interação de muitos interesses, grupos, classes, pessoas e estratégias. Difícil, não é? Ainda assim, jogamos xadrez e vivemos em sociedade, porque inventamos regras que permitem coordenar-nos nesta complexidade ou nesta cacofonia.

A preparação do Orçamento é parecida com este jogo de xadrez. Os jogadores pensam no que vão fazer e como responderá quem está sentado à sua frente. Vão alinhando as suas propostas: o investimento para salvar o Serviço Nacional de Saúde, o aumento extraordinário das pensões, o sistema fiscal, os salários da Função Pública, a carreira dos professores. Calculam o seu efeito e o que responderá o ministro dos ministros. Há outros jogadores a pairar à volta: Assunção Cristas garante que vota contra, Rui Rio diz para exasperação de Hugo Soares que quer ler a lei antes de a votar, o Presidente avisa que há eleições se a coisa falha, Carlos César mostra o bastão. E eu pergunto: além do barulho, estão a fazer as continhas, a preparar as simulações dos efeitos das medidas, a escolher as soluções para os problemas? Há conversa ou só cavaco?

Ora, só há duas formas de preparar o Orçamento. Uma é com trabalho, estudando as medidas e verificando as contas. Outra é com negociações de última hora para encaixar reivindicações. A primeira exige tempo e já vai sendo tarde. A segunda é mais fácil porque é um fingimento de entendimento. O governo e porventura algum dos seus parceiros têm hesitado entre uma e outra forma de preparar a lei. Em todo o caso, este ano parece que nos calhou em sorte a segunda. Nada está a ser preparado em comum entre a maioria, fora alguma conversa de circunstância enquanto prosseguem os insondáveis desígnios do Terreiro do Paço. De facto, parece ser assim que o governo entende o seu magistério neste Orçamento, antes só que mal acompanhado.

A intervenção inopinada de Augusto Santos Silva deve ser lida nesse sentido. Silencioso como um bom diplomata, Santos Silva não apareceu em Portugal durante os dois primeiros anos do governo. Instalou-se como um ministro seguro de um governo europeísta no tempo da crise europeia. Mas ao terceiro ano chegou-se ao congresso do PS para anunciar a ressurreição da Terceira Via, aquela fusão entre social-democracia e neoliberalismo à moda de Blair e Hollande. Em política, isso quer dizer Bloco Central e rejeitar o acordo com o Bloco de Esquerda e o PCP. Verdade seja dita, Santos Silva nunca ocultou nem essa preferência nem o seu menosprezo pelos aliados do governo. É dele aquele inolvidável “eu cá gosto é de malhar na direita e gosto de malhar com especial prazer nesses sujeitos e sujeitas que se situam de facto à direita do PS e são das forças mais conservadoras e reacionárias que eu conheço e que gostam de se dizer de esquerda plebeia ou chique, estou-me a referir ao PCP e ao Bloco de Esquerda”, uma formosura de quando era o número dois do Governo Sócrates. Só que agora as circunstâncias são diferentes e, se bem leem os augúrios, os partidos de esquerda devem perceber que Santos Silva está a tentar atiçar um conflito para confirmar a sua estratégia pessoal e que a melhor forma de responder à diplomacia prussiana é mesmo trabalhar para um orçamento consistente.»
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Costa e o João Ratão




Carochinha à procura de um João Ratão? Isso era dantes, dr. António Costa! E se for o João Ratão a precisar de ir à procura de uma Carochinha (ou Carochinho, claro)?
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Tailândia? E porque não salvar o mundo?



Estou farta, fartíssima, de ler textos em que se aplaude o sucesso da operação na Tailândia, e a atenção com que o mundo o seguiu, para se perguntar logo a seguir por que motivo não há o mesmo empenho para salvar os milhares de crianças que se afogam no Mediterrâneo, para libertar os meninos palestinianos ou os que morrem na Síria.

A sério? E como? Para Chiang Rai, convergiram meios técnicos e humanos numa situação excepcional que não abalava nenhuns poderes instalados, não dependia das decisões dos mesmos, nem de mil burocracias paralisantes. Propõe-se exactamente o quê? Que um batalhão de voluntários desembarque no Norte de África, embarque milhares de menores numa nave espacial e os envie para Marte? Uma invasão de Israel por «homens bons»? Um abaixo-assinado que declare o fim da guerra na Síria?
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O mundo numa gruta



Daniel Oliveira no Expresso diário de 10.07.2018:

«Houve um tempo em que um telejornal fazia um país. Um telejornal e uma novela. Víamos todos as mesmas coisas e no dia seguinte falávamos todos das mesmas coisas. E isso dava-nos a consciência viva de fazermos parte de uma mesma comunidade. O que no tempo dos meus avós acontecia na aldeia ou no bairro, com os seus pequenos dramas, alegrias e inconfidências contadas no barbeiro, no cabeleireiro ou na igreja, passou para o país, na televisão e na rádio. Depois vieram as televisões privadas e as coisas mudaram. Já não víamos exatamente o mesmo. Até que veio a internet e esse mundo morreu. Morreu mesmo? Não. Ficou apenas ainda mais pequeno.

É verdade que parte da população passou a viver em comunidades eletivas. Comunidades que pensam e agem da mesma forma, mesmo que vivam no outro lado do planeta. Têm as mesmas opiniões políticas, partilham taras sexuais e gostos musicais. Mas não sejamos ingénuos, eu vibrei com a eleição de uma congressista socialista em Nova Iorque, os norte-americanos, mesmo os mais informados, nem sabem se elegemos os nossos deputados. Nem sequer se os temos. As autoestradas de informação continuam, como sempre, a ter um sentido único. A não ser para quem procure lugares inexplorados, como antes procuraria através de assinaturas de jornais estrangeiros.

Há um país, em todos os países, que ganhou acesso a um mundo distante. É uma minoria. A maioria continua fechada nos limites da proximidade, informando-se pela televisão ou apenas acompanhando na internet as polémicas nacionais. Os telejornais nunca foram, aliás, tão domésticos como são hoje. E quem faz programas de debates sabe que um assunto internacional faz cair as audiências para metade num só minuto. A ideia de que vivemos ligados ao mundo é uma ilusão das elites. Para a maioria, vivemos ainda mais fechados na nossa pequenez. O que quer dizer que há uma elite cada vez mais globalizada e uma maioria cada vez mais nacionalizada. Isto é assim na informação, na cultura e, é bom recordar, na política, com as consequências que temos visto. O que quer dizer que elite e povo, se quisermos fazer uma separação tão simples das pessoas, deixaram de viver na mesma comunidade. Uns vivem no mundo – até porque viajar deixou de ser um luxo de ricos e é acessível à classe média –, outros vivem no país ou, como se passa nos EUA, no estado ou na comunidade.

Há momentos especiais que, por serem extraordinários ou traumáticos, recordam um destino comum das nações ou das pequenas comunidades. E o mesmo acontece no mundo. É o caso da história das crianças tailandesas. Nem preciso de escrever mais, toda a gente sabe de que crianças estou a falar. O mundo todo, em todo o lado, acompanhou em direto este drama. Especialistas de espeleologia, psicólogos e mergulhadores foram a todas as televisões do planeta para partilharem, em centenas de línguas, tudo o que sabem. Todos conhecemos os rostos daquelas crianças. Estivemos ligados pelo seu destino.

Antes de começarmos a imaginar uma solidariedade global, é bom recordar as milhares de crianças que morrem com fome ou afogadas a tentar chegar à Europa, perante a nossa total indiferença. O que nos prendeu a esta história foi a narrativa insólita e de final incerto. Uma história suficientemente longa e emocionante para nos agarrar àqueles miúdos. Eles conseguiram, pelo espetáculo que nos oferecem, prender a nossa atenção e com isso conquistaram o lugar de pessoas e não apenas de notícias. Somos empáticos com o que conhecemos e isso exige atenção. Eles tiveram a nossa atenção.

Estivemos todos agarrados a esta tragédia, assim como nos prendemos ao drama dos 33 chilenos que, em 2010, ficaram presos numa mina e até acabaram protagonistas de um filme. Já estamos, aliás, a realizar nas nossas cabeças o filme sobre os meninos da gruta tailandesa. A parte boa é que estas tragédias nos permitem reconquistar uma sensação de pertença a uma comunidade humana. Estamos todos, em quase todo o mundo, a ver o mesmo, a sentir o mesmo, a esperar o mesmo. É coisa rara e tem, como para as comunidades locais ou para as nações, uma função importantíssima. Ao contrário das comunidades eletivas que formamos nas redes sociais, em que a empatia com o outro depende da sua semelhança quase absoluta connosco, há nestes momentos um reencontro com a natureza humana que transcende todas as nossas outras condições. Todos temos medo, todos queremos sobreviver. E isso é bom. Sobretudo se acabar bem.»
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10.7.18

Grandes lições que nos chegam da Tailândia



Da mãe de um dos rapazes tailandeses resgatados:
«Agora temos que nos preocupar em curar o coração do treinador».

Mais: «A história mais notável sobre o resgate em Tham Luang foram os pais dos meninos. Nem por uma vez eles culparam o treinador AEK pelo que aconteceu. Pelo contrário, agradeceram-lhe por cuidar dos seus filhos. Em algumas partes do mundo, ele teria sido linchado. Mas não na Tailândia!» (Richard Barrow que vive na Tailândia)
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E perdeu o Tintim...


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Marcelo na Tailândia?



Já não chegará a tempo. A não ser que vá buscar a Judite...
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Sem tempo para nervosismos






Mariana Mortágua
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Crónica de um relógio que deixou de dar horas



«Há mais de dois anos, precisamente em 1 de Julho de 2016, que foi publicada a Lei 18/2016, entrando imediatamente em vigor, tendo ficado estabelecido “as 35 horas como período normal de trabalho dos trabalhadores em funções públicas, procedendo à segunda alteração à Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas, aprovada em anexo à Lei n.º 35/2014, de 20 de Junho”. A qual indica que “o empregador público deve planear para cada exercício orçamental as atividades de natureza permanente ou temporária, tendo em consideração a missão, as atribuições, a estratégia, os objetivos fixados, as competências das unidades orgânicas e os recursos financeiros disponíveis”. Tendo aquele regime de horário de trabalho começado a ser aplicado à totalidade dos profissionais de saúde em 1 de Julho de 2018, houve tempo suficiente, mais precisamente dois anos, para analisar os efeitos da passagem das 40 para as 35 horas e para se proceder ao planeamento do que havia para planear, no caso a contratação do equivalente à diferença entre aqueles dois regimes horários. O dinheiro não dá para tudo? Faça-se o exercício da hierarquização das prioridades. Mesmo assim, a saúde ficou a meio da tabela, numa escala, vá lá, de 0-10? Tirem-se as consequências políticas porque há responsáveis políticos.

Ficar-se à espera dois anos para responder aos défices anunciados e suficientemente conhecidos, mau grado as proclamações quase diárias de contratações, é um acto inqualificável. As primeiras páginas dos jornais e a comunicação social em geral passaram a ser o espelho da constante degradação em que os serviços públicos de saúde se encontram. As ordens profissionais e os sindicatos do sector não param de criticar e de se opor ao que se está a passar no SNS. Os partidos de esquerda exigem constantemente a presença da tutela na Assembleia da República para lhes darem explicações sobre o que se está a passar no sector. A direita exulta e esfrega as mãos na expectativa de retirar dividendos eleitorais. A síntese desta situação é uma jóia feita em estilhaços.

E no entanto isto não tinha de acontecer. Bastava que este governo tivesse vestido a camisola do Serviço Nacional de Saúde. A diferença equivale a alguns mil milhões de euros pagos pelo orçamento do SNS às empresas privadas de prestação de cuidados de saúde pela transferência de utentes para as suas unidades. Os quais deviam ser utilizados no serviço público se fosse essa a camisola que o governo tivesse decidido vestir desde que tomou posse. Porém, foi deixando que a falta de vontade política tomasse conta do sector, sempre com o argumento dos compromissos, do défice e da dívida para satisfação da teoria dos dois hemisférios, tipo pataca a mim pataca a ti, até ao dia em que as patacas fiquem todas do mesmo lado. Já não se trata de irresponsabilidade, trata-se da intencionalidade à solta, favorecendo as peças do outro lado do tabuleiro.

Aqui fica registado, por isso, o desafio ao primeiro-ministro, o mesmo que rubricou os acordos com o BE, o PCP e o PEV, e que nas suas palavras deseja ver repetida, se não o conteúdo, mas pelo menos a fórmula que na altura se conseguiu alcançar, para colocar o dossier da saúde pelo menos entre as três prioridades para as quais é necessário encontrar uma solução, e desde já uma linha de orientação.» 

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9.7.18

Na Dinamarca, o terceiro país mais feliz do mundo




«Forcing immigrants to put their children into daycare for 25 hours a week from the age of one; automatically doubling the sentences for crimes committed in ghetto areas; threatening long fines or even prison sentences for anyone who fails to report parents suspected of hitting their children; setting quotas on kindergartens so that they can have no more than 30% of their children from immigrant backgrounds. All these measures are to be introduced by the Danish government in the latest spasm of xenophobia to afflict European politics. It’s likely the Danish government has gone further than any other in Europe in its attempts to assimilate refugees by force.»

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O último fôlego do passado colonial português




Uma entrevista, que merece mesmo ser lida, a dois investigadores do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Miguel Cardina e Bruno Sena Martins, que organizaram o livro As Voltas do Passado, que reúne um conjunto de textos sobre o último fôlego do passado colonial português.
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Entretanto na Turquia




É a este homem que a UE confia refugiados, juntamente com milhões de euros. Em nome dos «direitos humanos» que sempre defendeu, é claro.
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09.07.1935 - Mercedes Sosa



Mercedes Sosa faria hoje 83 anos, morreu quase há nove. Nasceu no Noroeste dessa extraordinária terra que é a Argentina, em San Miguel de Tucumán, cidade onde também num 9 de Julho foi declarada a independência do país (em 1816).

Quando a Junta Militar de Jorge Videla subiu ao poder e se foi tornando cada vez mais agressiva, Mercedes, considerada peronista de esquerda, foi detida durante um concerto em La Plata, em 1979, refugiou-se depois em Paris e em Madrid e só regressou a Buenos Aires, e ao magnífico Teatro Colón, em 1982.










8.7.18

Augusto Santos Silva



… nunca desilude no seu papel de polícia mau.

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Dinheiro para o BPN? Sempre!



Cumpra-se a lei, não é? E, neste caso, nem é preciso ir buscar 500.000 euros para as obras no IP3.


«A Parvalorem atribuiu, em 2017, “bónus” aos trabalhadores com mais de 15 anos de serviço, num total de cerca de meio milhão de euros, e que oscilaram entre um mínimo de mil euros e um máximo de quase 52 mil euros. Entre os funcionários do veículo estatal que receberam os prémios mais altos estão vários directores, alguns visados em processos judiciais enquanto dirigentes do Banco Português de Negócios (BPN), onde eram próximos do ex-presidente José Oliveira Costa, cujas decisões levaram a um rombo nas contas públicas em torno dos cinco mil milhões de euros.

As compensações atribuídas em 2017 pelo veículo do Estado que gere cerca de três mil milhões de euros de activos tóxicos do antigo BPN abrangeram metade do seu quadro de pessoal e foram atribuídas a título de prémios (a maior fatia) e de reposição de diuturnidades (40 euros por mês por trabalhador). A decisão resulta do descongelamento dos direitos adquiridos e beneficiou todo o topo da pirâmide hierárquica da Parvalorem.»
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Tailândia


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A mãe de todas as cimeiras asneou



Francisco Louçã no Expresso Economia de 07.07.2018:

«Era para ser a cimeira do euro, nada. Era para ser um impulso político, nada. Era para mostrar ao primeiro-ministro italiano e aos de Visegrado a lei europeia, eles escreveram-na. Era para elevar ao pódio Macron e Merkel, mas dele pouco se viu, dela melhor não se visse, pois só tentou salvar a sua coligação estendendo pontes para a extrema-direita alemã. Não foi uma lástima, foi uma vergonha. Prometiam-se dirigentes de gabarito histórico e foi, nas palavras realistas de António Costa, “das reuniões mais horríveis em que estive”.

O resultado foi então atiçar as fogueiras. Euro, tudo igual, espera-se a próxima crise especulativa. Quanto aos refugiados, diz Costa que “eu não me recordo nestes anos que tenho estado aqui no Conselho de um debate tão difícil e onde tenha sido tão evidente as divisões que hoje efetivamente existem na Europa e que não vale a pena querermos disfarçar”. Nenhuma solução, só promessas que não chegam a ser planos e uma viragem chocante: Merkel promete agora “centros de trânsito” para prender os imigrantes e para os devolver ao país por onde entraram. Como pelo Báltico poucos chegarão a terras alemãs, isto significa agravar o braço de ferro com os países da fronteira sul. Parece arriscado? Vamos colher os frutos já nas próximas eleições europeias.


Eleições em Maio de 2019

As eleições europeias serão o epicentro da intriga e conspiração. A razão é simples, tudo vai mudar. Lembra-se de uma União Europeia com uma Comissão que resultava do acordo entre a direita democrata-cristã e o centro socialista e social-democrata? Pois esqueça. Um vendaval está a destroçar essa coligação e ninguém sabe como vai ficar o mapa europeu, a não ser que será pior.

Primeiro, a direita recompõe-se. O Partido Popular Europeu, chefiado por Merkel e albergando desde Viktor Orbán a Rui Rio e Assunção Cristas, está a sofrer uma cisão. Os partidos dominantes do grupo de Visegrado (República Checa, Eslováquia, Hungria, Polónia) podem formar uma aliança eleitoral, que atrairia a Frente Nacional francesa e a Liga italiana. Esta nova extrema-direita poderá vir a ser o segundo ou terceiro maior grupo europeu. Os seus apoios são vastos: em março, o ministro dos estrangeiros da China descreveu o grupo de Visegrado como a “força mais dinâmica na UE”.

No centro-direita, outra recomposição. Com pompa, Macron assinou um acordo para uma candidatura europeia com o Ciudadanos, que se vai estender a outros partidos. Juntando um novo polo europeísta, Macron pode ainda vir a absorver os liberais, podendo ficar assim com um dos maiores grupos parlamentares europeus. Os socialistas, que tanto o acarinharam, bem podem agora queixar-se do punhal nas costas: depois de ter destroçado o PS francês, Macron seduziu Renzi (cujo Partido Democrata deriva do Partido Comunista Italiano, integrando-se depois na Internacional Socialista) e sabe-se lá quem mais. Disputa com a extrema-direita o segundo lugar.


Ao centro e à esquerda novo mapa

Ainda ao centro, os partidos socialistas podem ter o pior resultado da história. O ‘Brexit’ levou o Labour, que tem boas sondagens, Macron levou a França e a Itália, na Alemanha os últimos resultados são os piores de décadas, na Holanda e noutros países o partido desapareceu. Se forem o quarto partido europeu, os socialistas podem ser afastados da Comissão. Novidade é Varoufakis, que também procura a ressurreição federalista mas parece ter desistido de se candidatar no seu próprio país.

Na esquerda, o grupo unitário do Parlamento Europeu dá origem a novas alianças (o Bloco, o Podemos, a França Insubmissa e partidos nórdicos) e a candidaturas nacionais autónomas (como a do PCP). Esse grupo crescerá nestas eleições e aproximar-se-á do peso dos socialistas.

Se a realidade dos votos confirmar este prognóstico, o mapa político europeu vira para a direita e extrema-direita, mesmo que também cresça o polo da esquerda. Não se engane, estamos mesmo no fim de um caminho. Por isso, escrevi no passado que a União Europeia é um projeto falhado, não acrescento nada ao que disse António Costa desta cimeira. Mas se o terramoto da vitória da direita se confirmar e se o centro se desagregar, a União deixa de ser viável na sua forma atual, neste equilíbrio ardiloso entre gigantismo financeiro e promessas democráticas. Esta montanha pariu a extrema-direita.»
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