12.3.11

Civilizámos, nós?


Podia falar da cidadela de Sigiriya, construída no século V, duzentos metros acima do solo e da selva, mas visitei melhor e fiquei mais impressionada com Polonnaruwa, a segunda capital que este país teve e que nasceu do nada nos séculos XI e XII.

Quando os nossos Afonsos e os nossos Sanchos iam apenas começar a espalhar por aí modestíssimos castelos para se defenderem dos mouros, as gentes desta terra concebiam e punham de pé uma grande cidade de 122 hectares, numa região próspera por causa de um complexo sistema de irrigação entretanto criado, com uma série de edifícios, ruas e jardins perfeitamente desenhados, mosteiros, piscinas e anfiteatros – tudo em torno de um Palácio Real (na foto, o que dele resta), com sete andares e 1.000 divisões!!!

Num pequeno museu, simples mas bem organizado, é possível ver hoje maquetas e desenhos que «reconstituem» os edifícios primitivos. Absolutamente impressionante!

Alguns séculos (poucos…) mais tarde, chegaram os europeus para «civilizarem» esta ilha – com os portugueses à cabeça, como é sabido.


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Onde eu estaria, sei eu


... se não estivesse do outro lado do mundo.

Rua, que se faz tarde! Boa manifestação por aí.
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11.3.11

Cuidado com eles


… os crocodilos! Muitos avisos para abrandar a marcha, que já não é rápida, em estradas ladeadas por alguns dos 35.000 lagos artificiais que se espalham por todo o Sri Lanka. Crocodilos ainda não vi, mas não faltam macacos, em amena convivência com cães, vitelos e lindíssimos pássaros.

Quanto ao caminho das pedras, no célebre Triângulo Cultural deste país, ainda hoje começou e logo com uma pequena peripécia em Anuradhapura. Nem sonho quantos graus estariam ao princípio da tarde, mas houve que descalçar os sapatos à entrada de uma longa alameda, que dava acesso a uma stupa monumental, e o calor era tanto que os primeiros cem metros deram para perceber que as pedras do chão estavam a cumprir a função de frigideiras e que a pele dos pés por lá ficaria muito rapidamente. Com respeito pelo budismo ma no troppo, alguém acabou por convencer um polícia (bem calçado, pois com certeza, já que buda deve permitir tudo às autoridades…) que as nossas extremidades não estavam habituadas àquilo e que daríamos nem mais um passo, nem para trás nem para diante, sem sapatos.

Amanhã? Pode ser que em Sigiriya esteja mais fresco…

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10.3.11

Elephant’s day


Neste país totalmente verde, hoje foi dia de viagem por longas e atribuladas estradas, com paragem mais do que obrigatória no Pinnawela Elephant Orphanage. Fundado em 1975, com sete elefantes órfãos, atrai actualmente ao Sri Lanka estudiosos do mundo inteiro, é objecto de inúmeros filmes e livros, cresceu e multiplicou-se.

Os ditos elefantes são agora muitos, de todas as idades e tamanhos, os primeiros sete já são avós, vêm todos refrescar-se ao rio, duas vezes por dia, e os turistas agradecem.

Quanto às estradas, estão longe de ser famosas e têm muito trânsito, um pouco perturbado por umas tantas vacas solitárias e um ou outro macaco tresmalhado que se atravessam. Alguém já viu um porco-espinho levado à trela? Vi eu: não um, mas dois…

O que se vê, durante quilómetros e quilómetros, para além de muitas povoações à beira da estrada (o Sri Lanka tem o dobro da população de Portugal e, mais ou menos, metade da superfície) é uma selva tropical fabulosa e tórrida. Agradece-se o ar condicionado do carro…

Amanhã, começa o circuito por ruínas de cidades antigas e templos budistas. Com várias garrafas de água na bagagem.


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9.3.11

Muito a Sul, o mundo visto de um tuc tuc


Três voos e vinte e quatro horas bem contadas, de casa, em Lisboa, até ao hotel, em Colombo. Sem problemas de maior porque fui dormindo mais do que o suficiente para já ter dado umas voltas por esta cidade – de tuc tuc, que é como tudo se vê melhor, embora seja sempre um pouco assustador, porque o trânsito é mais ou menos caótico como em todas as grandes cidades asiáticas. De repente… o Verão! Com o calor húmido, típico de paragens tão próximas do Equador, e um sol absolutamente magnífico!

Sobram por cá uns Silvas e uns Pereiras, dos tempos em que Lourenço de Almeida nos instalou nestas paragens, há mais de cinco séculos – verei algumas pegadas nossas, mais a Sul.

Num dos aviões, li esta frase de Annie Girardot: «Mourir c’est mal élevé, c’est comme partir au milieu d’une phrase.» Parece-me mais uma excelente razão para viajar enquanto é tempo.
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7.3.11

Próxima paragem


Latitude 6° 55' 54" N / Longitude 79° 50' 52" E
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Por favor, não venham dizer que com coisas sérias não se brinca…



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Para as agendas


(Para ler, clique na imagem)
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Memória


Há cerca de um ano, foi lançada na internet uma Petição para obter a classificação do Posto de Comando do MFA como Monumento Nacional.

Conta, neste momento, com cerca de 1.400 assinaturas, os grupos parlamentares do PCP, BE, PS e PEV já garantiram todo o seu apoio, mas é necessário que 2.000 «peticionem» para que o projecto seja discutido na Comissão Parlamentar de Ética, Sociedade e Cultura. Na referida sessão, se e quando tiver lugar, estarão presentes os três primeiros signatários, entre os quais me incluo.

Perdidas, semi-perdidas, ou eternamente adiadas que foram outras causas de preservação de lugares da memória, insista-se nesta que parece relativamente acessível se houver um mínimo de empenhamento.

Agradeço a divulgação possível.

A Petição pode lida e ser assinada aqui.


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Estado e Igreja


É um novo blogue, não tem propriamente um título, mas o autor é o meu amigo Luís Salgado Matos, que o abre para discussão e informação adicional sobre o seu novo livro:

A Separação do Estado e da Igreja - Concórdia e Conflito entre a Primeira República e o Catolicismo

Promete.
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6.3.11

Countdown


Na 3ª feira, muito, mas mesmo muito cedo, ponho-me a caminho da Taprobana, Ceilão, Ceylan, Ceylon, Sri Lanka. Por lá andarei, por muitas paragens com nomes mais ou menos impossíveis de fixar, tentando conhecer um pouco dessa pequena parcela de uma Ásia que cada vez me fascina mais.

Vou falhar uma série de importantes eventos, previstos para as duas semanas que se seguem, e todos os outros que nem o dr. Marcelo consegue imaginar.

Quando o dr. Cavaco apertar a gravata para ir tomar posse, espero já estar a passear pelas ruas de Colombo, depois de uma viagem um pouco longa, coisa que não me assusta tanto assim. E não, não penso lançar-me ansiosamente sobre um teclado para ler o que terá dito à pátria (não sei exactamente onde), nem para ver as caras dos 50 jovens com quem almoçará na «Sagres».

É pouco provável (mas enfim, há sempre que considerar essa hipótese…) que alguns desses jovens se sintam «à rasca» e decidam ir, três dias depois, à Avenida da Liberdade. E esse, sim, é um evento que tenho pena de falhar, mas não se pode ter tudo na vida. E, nesse dia (noite para mim), hei-de enviar e receber sms, mails, quem sabe se mensagens de pombos-correios, para perceber como foi.

Quando eu regressar, pode ser que já exista o novo PPD de Santana Lopes, que o deficit esteja melhorzinho e que Sócrates tenha convidado os «Homens da Luta» para jantar.
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Comemore-se o que deve ser comemorado


O PCP faz hoje 90 anos. Julgo que sou insuspeita: quem me conhece sabe quanto me afasto das suas posições, como condeno a sua cegueira em relação aos que oprimiram e mataram multidões no passado, os aplausos ou silêncios sobre ditadores ou ditaduras que perduram até hoje, em nome de amanhãs que nunca cantarão.

Nunca pertenci ao partido, nem sequer fui marxista-leninista. Apesar disso – ou talvez por isso -, sou incapaz de «ódios» que me impeçam de reconhecer, e de hoje assinalar, a importância que teve nas últimas nove décadas da nossa história.

Este país seria diferente – e bem pior – sem o PCP. E eu também.
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Pela dignidade


Não sei se estamos a assistir à revolução do século XXI, como se diz num artigo hoje publicado em El País: Esta revolución es por dignidad. Mas uma coisa parece certa: o mundo, e muito especialmente a Europa, não voltarão a ser os mesmos.

«Estamos en el principio. Pero afecta a tal volumen de personas y territorio, entraña tantos posibles cambios políticos y geoestratégicos, tanto impacto potencial en la economía mundial, tanto desconcierto en las diplomacias, que cuesta imaginar que el siglo XXI depare muchos acontecimientos de este calado.(…)

Ahora, en 2011, el 68% de los árabes tienen menos de 30 años. Esta inmensa generación de muchachos y muchachas no conoció acontecimientos como la descolonización o la Guerra de los Seis Días, pero gracias a la televisión por satélite siempre estuvo en contacto con la cultura occidental. Vivieron el desastre de la invasión de Irak pero, además de sentir una intensa solidaridad con el sufrimiento de los iraquíes, quedaron marcados por una imagen de 2003: la de Sadam Husein, dictador todopoderoso, detenido en el sótano donde se ocultaba de forma miserable. Ese impacto visual les enseñó lo frágil que puede ser un tirano.»
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PPD (R)?


Santana Lopes está ainda «em processo de pensamento», mas considera que «deve dizer agora» que talvez venha a formar um novo partido. Como é normalmente rápido, pode ser que tenhamos novas muito em breve.

Caso o projecto se concretize, o engenheiro Sócrates esfregará as mãos de contente (que belo presente uma dispersão, mesmo pequena, de votos à direita!) e quem está à sua esquerda também (ufa: afastado deverá estar o papão da necessidade do voto útil!)

Estivesse o dr. Marcelo ainda em fase de vichyssoises e teria certamente uns bons enredos para fantasiar. Mas os tempos são outros e resta-nos aguardar e, sobretudo, aplaudir: «Não hesite, dr. Santana Lopes: avance, o país agradece!»

Quem é que disse que só há más notícias em Portugal?
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