
A
Cristina pediu a dezenas de pessoas, num
post com 50
links, que descrevessem o seu 25 de Abril de 74. Porque não?
O meu foi semelhante ao de muitos milhares de portugueses que não estavam na tropa nem andavam na escola primária.
Acordada por volta das cinco da manhã por um telefonema, liguei o rádio, fiz uns telefonemas, percebi que era pedido que ninguém saísse de casa e saí – o primeiro acto de desobediência às novas autoridades que ainda não o eram.
Fui ter com amigos, reunimos máquinas fotográficas e respectivos rolos, deambulámos de carro pela cidade. A meio da manhã estávamos já na Baixa, às 11:00 tirámos a primeira foto (a que está ali em cima), no Largo do Corpo Santo, não sem termos perguntado a alguns soldados o que se passava – que não sabiam, que estavam com Salgueiro Maia e que desta vez é que era.
Tudo se foi encaminhando para o Carmo e nós também. Ao longo do dia, a espera, as dúvidas, os boatos, o megafone de Francisco Sousa Tavares – e já os cravos, o que viria a ser o hino do MFA, Grândola.
Pelo meio algumas corridas, evacuação do Largo quando se pensou que o quartel não se renderia a bem, últimos feijões do fundo de uma panela numa tasca do Largo da Misericórdia, pelo mais total dos acasos na companhia de José Cardoso Pires – o carro estacionado mesmo em frente, com as quatro portas abertas para o que desse e viesse.
Regresso ao Carmo, o desenrolar de tudo o que se sabe, o poder que Marcelo Caetano não quis deixar cair na rua antes de sair de chaimite, os gritos sem fim de vitória e liberdade que se cravaram na memória e ainda hoje fazem arrepiar.
O longo serão à espera do comunicado da Junta de Salvação Nacional, o contraste entre o seu sinistro cinzentismo e a força da rua que tinha ficado colada à pele.
A ansiedade e a festa em frente da sede da PIDE e à porta da prisão de Caxias – mas isso ficou para o dia 26.
Falta a fatídica pergunta: «Foi o dia mais importante da tua vida?» E a reposta que se esperaria: «Sim, excepto o dia x e o dia y, por razões de ordem pessoal».
Excepto coisíssima nenhuma.