Em Espanha, a Izquierda Unida e a Iniciativa per Catalunya pedem ao Congresso dos Deputados que considere as recentes afirmações de Bento XVI sobre o uso do preservativo como «um atentado inquestionável contra a saúde pública». Sublinham, nomeadamente, que elas interferem com a aplicação do programa de cooperação internacional com países africanos, nos quais a Espanha se envolve muito activamente.
Está lançada uma nova polémica de desfecho imprevisível, com os apoiantes da proposta a defenderem que não está em causa qualquer hipótese de conflito diplomático porque não se trata nem de protestar contra as afirmações de um chefe de Estado (mas sim «de um cidadão que defende posições contrárias à vida»), nem de condenar a Igreja porque o Congresso representa os cidadãos espanhóis e não as suas religiões.
Definições e distinções subtis e de aplicação complexa, sem dúvida, mas que se impõem. O cidadão Ratzinger não fala apenas para os católicos mas também para o mundo – e é legítimo que o faça porque pretende influenciá-lo com a força da sua posição e das suas crenças. O «mundo» e os seus representantes devem reagir quando se sentem atingidos e ameaçados nos seus princípios e nos seus avanços civilizacionais.
(Fonte)
10 comments:
"O «mundo» e os seus representantes devem reagir quando se sentem atingidos e ameaçados nos seus princípios e nos seus avanços civilizacionais"
Pois devem. Um desses avanços parece-me ser o poder cada um dizer o que lhe vai na real gana sem ser molestado por isso. Curiosamente vem da esquerda "perseguida" a ameaça a tal princípio. Aguardamos o próximo avanço.
Caro Nuno Gaspar,
Importa-se de ser mais explícito? Não entendo onde quer chegar.
Simplificando: defendendo a vida humana ao não usarem preservativo, segundo os santos mandamentos da sua Igreja, aqueles que morrerem de sida vão para o Paraíso. Bem, com a maior das felicidades, não é a vida terrena um momento fugaz? De facto, podem ter morrido – e quem não morre!– mas espera-os toda uma eternidade de bem-aventurança.
E todos os outros vão para o Inferno.
Não entende? Um grupo político pretende censurar a opinião de um cidadão com um atestado de "atentado contra a saúde pública" e você diz que não entende? Será que o Papa só está autorizado a falar para emitir opiniões que coincidam com as de Joana Lopes e da Izquierda Unida?
Esta iniciativa revela o que há de pior na arrogância ateísta de certas pessoas que olham os crentes como indigentes que nem a expressar o que pensam sobre temas que afectam o seu quotidiano têm direito. Vão por bom caminho...
Nuno Gaspar,
Não leu certamente o que eu escrevi. Disse expressamente que o papa tem toda a legitimidade de dizer o que pensa e até de pretender influenciar o «mundo». Ele «condena» o uso do preservativo. Quem pensa o contrário tem todo o direito - e, na minha opinião, o dever pela gravidade do que está em causa - de o «condenar» a ele.
Joana,
"Ele «condena» o uso do preservativo."
Importa-se de transcrever uma frase dele onde diga claramente isso?
O que acho francamente condenável é tentar "condenar" pessoas ou instituições em vez de contestar ideias. Pensava eu que você e tantos da sua geração tinham passado um mau bocado por essa (in)distinção.
Este gesto é mais uma acção de uma campanha vazia e mesquinha de perseguição ao Papa e à Igreja Católica que um grupúsculo de iluminados descobriram ser a quem se devem atribuir todos os males da humanidade.
Estão muito enganados.
Através do post de Sérgio Vitorino no blogue "5dias", cito o Público, ou melhor, as declarações da responsável das irmãs oblatas ao Público que “se jesus fosse vivo andaria a distribuir preservativos às prostitutas”. (Isto a propósito da sua participação na manifestação do 1º de Maio!). Bento XVI fez mais que condenar o uso do perservativo: foi ao coração de África e da disseminação da SIDA dizer que o uso do perservativo abria as portas a uma maior expansão da doença!!! Por muito crentes que as pessoas sejam, não podem misturar tudo e fazer de conta que tais declarações do Papa são justas. Muitos Católicos já criticaram tais atitudes, entre os quais muitos padres e bispos. Enfim: o que é que o facto do Papa ter dito o que disse tem a ver com a fé das pessoas? Aliás, mais amplamente: o que os últimos papas disseram sobre contracepção e sobre o perservativo, não passam de orientações baseadas em conceitos subjectivos, de que muitos cristãos não se sentem obrigados em partilhar.
Veja-se o caso das oblatas, que estão "no terreno"...
Não sei quem é o Nuno Gaspar. E impressiona-me, no que escreve, não tanto o conteúdo do que diz, mas a agressividade com o afirma .
Peço-lhe desculpa por fazer algumas transcrições suas que me despertam alguma admiração. Esqueço o quanto me incomodam pela sua falta de serenidade:
“avanços civilizacionais"... “Um desses avanços parece-me ser o poder cada um dizer o que lhe vai na real gana sem ser molestado por isso...”. Não me parece que haja esse avanço. Ninguém é tido por irresponsável, como se fosse um seu direito,... e francamente não sei onde iríamos com tal “avanço”.
“Curiosamente vem da esquerda "perseguida" a ameaça a tal princípio”. Com certeza que conhece os tempos anteriores e posteriores ao 25 de Abril. Nem toda a esquerda “perseguida” protegia o principio a que se refere. Lembre-se do PCP e de toda a esquerda marxista leninista ou ml antes do 25 de Abril, e do PREC depois do 25 de Abril. Repito, nem toda a esquerda. E não me alongo mais.
“Um grupo político pretende censurar a opinião de um cidadão com um atestado de "atentado contra a saúde pública". Cidadão? Donde é cidadão o Papa Banto XVI? Um grupo político com assento parlamentar pretende levar um órgão de soberania a aprovar determinada resolução. Se não envolvesse o Papa, nada de mais natural. Mesmo envolvendo-o, se ele for apenas um “cidadão”, embora na situação complicada de apátrida, talvez que a coisa não chegue a ser muito anómala.
“olham os crentes como indigentes que nem a expressar o que pensam sobre temas que afectam o seu quotidiano têm direito” Os católicos olhados como indigentes, sem direitos... o Papa falando como simples crente. Desculpe, talvez por não ser crente, não percebo. Eu vejo o contrário.
“Esta iniciativa revela o que há de pior na arrogância ateísta de certas pessoas... Vão por bom caminho...” Não sei se há por aí muito arrogância ateísta. Eu, aqui, neste post e nos comentários da Joana Lopes, não a vi. Naquele comentário que eu próprio escrevi, há arrogância e reconheço-o, assinando por baixo, mas lastimando que a minha ignorância possa ter exagerado o tom.
E os caminhos que se seguem... talvez que, em vez de previsões, conviesse lembrar os caminhos que a Igreja tem seguido, no seu tão longo passado e, sobretudo, nos seus perturbadores tempos presentes.
“O que acho francamente condenável é tentar "condenar" pessoas ou instituições em vez de contestar ideias”. A contestação das ideias tem sido farta e demorada. Não me parece que haja razões de queixa. Julgo até que, de parte a parte, a condenação das pessoas veio por um certo esgotamento dessa contestação.
“um grupúsculo de iluminados descobriram ser a quem se devem atribuir todos os males da humanidade. Estão muito enganados.” Não sei se há um grupúsculo de iluminados, mas, como diz, se assim pensam, estão muito enganados. De facto, o Papa não teria capacidade para tal. Não sei se é o caso, mas há sempre pessoas propensas ao exagero.
Finalmente, alegro-me por estar de acordo consigo num ponto.
Tolerantes e fraternas saudações
Sousa
Enquanto escrevia este comentário, Jorge Conceição escrevia e colocava o seu. Estou de completamente de acordo e parece-me que indica bem a posição do Papa em relação ao preservativo.
Sr. José de Sousa,
Apesar de discordar com quase tudo o que diz, noto nas suas palavras uma certa bondade, certamente devida à serenidade a que o ter visto muitas coisas acontecerem na vida conduz, que merece respeito e resposta.
Eu até nem acho que este seja um tema com grande interesse doutrinal para a Igreja (e o Vaticano também não deve achar muito pois vejo-o mais vezes tratado em blogues ateístas do que em documentos ou intervenções institucionais do Papa). O que me causa forte impressão é este foguetório cínico, de quem está à espera ou até mesmo provoca uma frase politicamente incorrecta ou ambígua, que denuncia uma clara perseguição e má fé de quem o pratica. E se essas pessoas reivindicam (e muito bem) o direito de dizer o que pensam onde e quando querem como, por exemplo, escrevendo frases anedóticas em autocarros, não podem estranhar que outros reajam a tentativas que elas façam para coagir e silenciar opiniões diferentes das suas.
Acha mesmo que aqueles partidos catalães estão preocupados com a questão da SIDA em África? Se estão, quais as suas outras iniciativas?
Diz que utilizo um tom agressivo. Classificar opiniões de outrem como atentado à saúde pública é o quê? Uma expressão de delicadeza?.
Agradeço-lhe, Nuno Gaspar, ter-me respondido. Fê-lo porque pressentiu em mim uma certa bondade e como que uma magoada experiência de vida. Obrigado por me ter escrito e mais ainda pelas razões que o moveram.
Mostra-se sensível nestas questões de religião. Em sentido inverso, também há muita gente que mostra alguma sensibilidade. Entre vidas que desaparecem, pela falta do preservativo, e outras que não aparecem, por essa mesma falta, há quem se incline mais para um lado, outros mais para o outro. Lugar pois para todos. Uns, exagerados, passeando camionetas, outros, comedidos, procissões e algo mais.
Alegra-me que este caso do preservativo não tenha “grande interesse doutrinal para a Igreja (e o Vaticano também não deve achar muito...” , pois assim ainda veremos, na prevenção da Sida, o uso irrestrito do preservativo, sem convicções religiosas que o perturbem, se entretanto não aparecer qualquer improvável vacina. E isso glorificando o princípio da vida. Da vida que existe e, projectando-se nas suas consequências, até naquela que se pode criar, no aprazível acto da fecundação. O princípio da vida é mesmo sagrado.
No seu texto há muito a que se devia a atenção duma resposta, mas acabo aqui. O espaço dum comentário é curto. E lastimo-o
Não é paternalmente que o saúda, e digo isso pela minha “bondade” e “experiência”, mas sim é fraternalmente que o saúda o entre iguais
Sousa
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