1.2.25

Saladeiras

 


Tigela com amores-perfeitos e talheres para salada. Cerca de 1912.
William Moorcroft para Macintyre.

Daqui.

Buster Keaton, o «Pamplinas»

 


Aos mais novos talvez o nome diga pouco, ou mesmo nada, mas Buster Keaton, o «Pamplinas», rival e amigo de Charlie Chaplin, morreu num 1 de Fevereiro - em 1966. Vermos um Pamplinas por dia, nem sabemos o bem que nos fazia.

Pretexto para o recordarmos:





Com Chaplin em «Luzes da Ribalta»:



Um pouco mais de azul (23)

 




Memórias da Gronelândia

 


«Há alguns anos, no âmbito de funções que tinha na Assembleia da NATO, tive ocasião de passar algum tempo na Gronelândia. Agora que Trump se lembrou de incluir a grande ilha na sua lista imperial – coisa que em bom rigor não lembrava a ninguém – as memórias dessa viagem regressaram e algumas ajudam-me a ver fisicamente o que ele quer. E como, com excepção de algumas trágicas mortes de pescadores nos confins da pesca do bacalhau que lá estão enterrados, poucos portugueses conhecem a Gronelândia, e nenhuns estiveram em alguns dos sítios que visitei, aqui ficam algumas dessas memórias. Deixo de lado os motivos clássicos da ganância imperial, como sejam as riquezas minerais ou a geopolítica do Ártico, valorizada pela abertura de passagens marítimas que até agora não eram navegáveis, ou as asneiras que ouvi de alguns dos nossos ecologistas preocupados pelas florestas locais, numa terra onde não há praticamente árvores que confundiam com a Sibéria.

A viagem à Gronelândia, feita num avião militar dinamarquês, evitou a pequena parte da ilha onde se concentra a maioria da população e foi para pequenos locais com aeroportos de gravilha ou gelo. Essa viagem incluiu a grande base americana de Thule, um posto de observação fundamental para detectar um ataque russo com mísseis intercontinentais. Os EUA têm por isso, já, uma base militar na Gronelândia, que em nenhuma circunstância foi posta em causa pelo seu parceiro da NATO, a Dinamarca.

Tive ocasião de assistir a um exercício militar dessa vigilância, depois de passar por uma zona onde se encontravam grandes computadores, e onde, por coincidência, um marine caminhava atrás com arma aperrada, caso algum terrorista infiltrado se atirasse aos computadores, tão importantes eles eram do ponto de vista estratégico para processar os dados dos grandes radares que são o núcleo central da base. O exercício foi feito numa sala em que, numa mesa, estavam três oficiais que tinham formação em engenharia, um dos quais uma mulher e, à sua frente, grossos manuais com uma sequência de procedimentos. Uma vez dado um alarme do lançamento de mísseis russos, os militares seguiam página a página os manuais, verificando se não se tratava de falha no sistema de radares em Thule, se os mísseis correspondiam a um ataque hostil aos EUA e quais os alvos previsíveis e, feitas estas verificações, e confirmando que se tratava de um ataque, havia então uma comunicação ao Norad, o comando estratégico sediado numa montanha do Colorado, anunciando que se estava numa guerra nuclear.

Quer os radares de Thule quer o Norad são presenças habituais nos filmes de guerra de Hollywood, mas ver ao vivo é outra coisa, e tive oportunidade de ver ambos.

Outro local visitado nessa viagem, em que se sobrevoou toda a Gronelândia, foi Station Nord, uma base dinamarquesa a 1700 km a norte do Círculo Polar Ártico, onde um pequeno grupo de militares mantém vigilância sobre a parte mais longínqua e inóspita, como aliás quase toda a ilha, da Gronelândia. Como aconteceu com outras instalações militares e aeroportos na ilha, foram os americanos na II Guerra Mundial e nos primeiros anos da Guerra Fria que construíram a Station Nord. No controle do Mar do Norte os alemães precisavam de ter estações meteorológicas na ilha para poderem prever o tempo muito instável de onde operavam os seus submarinos para cortar as rotas de abastecimento dos EUA para o Reino Unido e a União Soviética. Em Station Nord havia mais cães do que homens, e a dureza do clima era visível nas sucessivas instalações abandonadas quando as suas fundações eram destruídas pelo gelo.

Muita coisa já estava a mudar devido às alterações climáticas, principalmente no lado ocidental da ilha, onde já se podia navegar até certo ponto. Um comandante militar dinamarquês estava furioso com os organizadores de cruzeiros que levavam os seus navios com turistas para observar os icebergues, numa zona onde não havia mapeamento dos fundos marítimos e onde, caso houvesse um acidente, se estava a milhares de quilómetros de qualquer ajuda. Após várias tentativas de proibir os cruzeiros turísticos sem sucesso foi apenas ameaçando as companhias seguradoras que se conseguiu limitar as viagens.

Evitando Nuuk, a capital, a viagem quase não encontrou a população inuit que vive da caça e da pesca em condições muito difíceis, com elevada taxa de alcoolismo, e de facto marginalizada da riqueza da potência que administra a ilha. É por aqui que certamente Trump vai tentar pressionar o governo dinamarquês, que lhe tem respondido à letra e reforçou a presença militar na Gronelândia. Podia ainda, de facto, a primeira-ministra ter mandado Trump fazer o chamado “Bear Jump”, uma daquelas coisas machistas que se fazem na ilha e que dá direito a um diploma: mergulhar nas águas geladas e depois ser içado rapidamente para um barco pelos marines. Custa um pouco, mas o diploma é bonito.

E, já agora, se os EUA invadirem a Gronelândia, aplica-se o artigo 5.º do Tratado do Atlântico Norte?» 


Marianne Faithfull – Menos uma…

 



31.1.25

Transparências

 


Vaso “Pansies” (“Amores-perfeitos”), Arte Nova, em vidro lapidado e esmalte, cerca de 1900.
Montjoye.

Daqui.

António Costa não se livra da Operação Influencer

 

«O futuro não se prevê. A ideia de que António Costa estava totalmente libertado da Operação Influencer já tinha sido desmentida pelo novo procurador-geral da República, Amadeu Guerra. A 31 de Outubro, o PGR confirmou que o actual presidente do Conselho Europeu continuava sob investigação. Esta história da pen descoberta no cofre do chefe de gabinete e que hoje levou Vítor Escária a ser ouvido novamente é a prova de que o processo – agora o chefe de gabinete é suspeito de eventual violação de segredo de Estado – vai continuar a pairar sobre a cabeça de António Costa. A defesa de Escária diz que a pen com os nomes de espiões já existia no tempo do anterior chefe de gabinete, Francisco André.» 

31 de Janeiro de 1891 rima com Porto

 






A política e os factos

 



«A solidez da análise crítica de cada um está pela hora da morte, já que não existe um único dado que justifique que imigração e segurança sejam temas prementes, em conexão, desde a tomada de posse deste Governo. Se nos detivermos com verdade na verdade da vida e dos factos, rapidamente exigimos como temas principais a saúde, a segurança social ou a habitação. Naturalmente, quando se pensa o Estado Social também se pensa, de forma positiva, a imigração. Não como problema, mas como componente do mundo do trabalho a ter em conta num país que é Estado social de direito.

A direita clássica contaminada pela extrema-direita iniciou a governação revogando o mecanismo da manifestação de interesses sem criar mecanismo alternativo, gritando “portas escancaradas” contra os factos e anunciando megaoperações policiais contra imigrantes pobres não-brancos em dias jamais vistos em democracia, por isso e pela aprovação da expulsão de imigrantes residentes do SNS. O horripilante “contra-a-parede” daqueles imigrantes suspeitos de coisa alguma foi normalizado e o resultado ridículo da opressão desconsiderado. A manifestação pacífica a favor dos valores da igualdade e da inclusão foi apelidada de extremista e comparada à vigília da extrema-direita. Para Montenegro, são simétricas.

Neste ambiente tóxico e mentiroso quer-se fazer esquecer que somos um dos países mais seguros do mundo, que o crime que mais mata em Portugal é a violência doméstica, que, desde 2022, por força do crescimento económico e dos níveis de emprego, recebemos, para nossa fortuna, a imigração que justifica os bons números da segurança social, a nossa agricultura, a nossa pesca e tantas outras áreas. O país, sem imigrantes, pararia, ficaria velho de vez e ficaria na mesma em termos de segurança.

A introdução da “perceção” no discurso político foi letal. Carlos Moedas reage com irritação a ótimos indicadores de segurança em Lisboa e trata de os desvalorizar.

Horas e horas e horas de debates em todo os OCS e no Parlamento sobre urgências inventadas e ainda há espaço para dizer que a culpa do crescimento da extrema-direita é da esquerda e das políticas identitárias. Imagine-se que a direita conseguiu convencer meio mundo que a consagração da igualdade entre sexos, a não discriminação com base na orientação sexual ou o antirracismo são coisas woke que enraiveceram as pessoas, pelo que talvez fosse de abandonar precisamente os direitos esmagados nos países dominados pela extrema-direita. Isto é: oferecer o ouro ao bandido.

Talvez perceber que as causas identitárias que deram cabo de algumas democracias foram as causas nacionalistas e de superioridade racial e religiosa ou cultural. Esse tipo de identitarismo aliado ao desprezo pelo Estado social conduziu, como explicou Miguel Vale de Almeida no “Público”, à construção da igualdade como inimigo. É isso que se está a passar nos EUA e em alguns países da UE. Entre nós, o partido identitarista é o Chega, que defende o ideal de Nação, de modelo único de família e de rejeição do outro. Esteve bem Pedro Nuno santos quando afirmou como nossas e irrenunciáveis todas as conquistas da igualdade e da liberdade.

É assim correto colocar a questão da imigração no lugar do mundo do trabalho digno e com direitos, no campo do Estado social. Pela positiva, porque os imigrantes não são causa de problemas do Estado Social, são contribuintes em milhões e, por isso, razão para aprofundamento daquele.

É imperdoável revogar sem mais a manifestação de interesses e retratar os imigrantes como criminosos. A manifestação de interesses diz respeito a 11% de gente, mas pode ser substituída por outro mecanismo. Não nos atirem para a os olhos a ideia de que é possível sair do país de origem com uma autorização de residência sempre e em qualquer caso, como se tivéssemos postos consulares para isso, como se o mundo funcionasse assim. Façamos as coisas bem e com verdade, solidários entre iguais, na República partilhada.»


30.1.25

Mais um vaso

 



Vaso de vidro com montagem em latão, em exposição no Museu Grassi de Artes, Leipzig, Alemanha, 1895.
Émile Gallé.

Daqui.

Nuno Teotónio Pereira

 


Seriam 103, para nossa tristeza deixou-nos com 94.

A ler: 103 anos do Nuno

30.01.1948 – O dia em que Gandhi foi assassinado

 


Mahatma Gandhi foi assassinado com 78 anos, depois de ter sido o artífice lendário e decisivo dos direitos cívicos que levaram à independência da Índia. Mas nem tudo foi fácil depois e vale a pena ouvir uma curta descrição em «Os Dias da História»

Raj Ghat, memorial e local onde se encontram as cinzas de Ganghi, em Nova Deli, por onde já passei duas vezes. Continua a ser a grande, a enorme referência do país:



A morte e a multidão de dois milhões de pessoas que terão acompanhado o funeral:



Londres, 20.10.1932, um discurso que ficou célebre:


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30.01.1937 – Vanessa Redgrave

 


Vanessa Redgrave, essa grande actriz, chega hoje aos 88.

Com participação em mais de 80 filmes e seis nomeações para Óscares, foi também activista política desde muito nova (várias vezes candidata em eleições gerais, entre 1974 e 1979, pelo Partido Revolucionário Trotskista), mantendo-se depois disso sempre ligada a muitas iniciativas de solidariedade e de protesto, como, por exemplo, a uma campanha contra a guerra no Iraque.

Em 1978 recebeu o Óscar de Melhor Atriz Secundária pelo papel de «Julia» no filme com o mesmo nome, onde actuou ao lado de Jane Fonda e de Meryl Streep. Foi grande então a polémica que o filme provocou e vale a pena ouvir o que ela disse na cerimónia de recepção do prémio:



Julia, 1977:



Julgo que as primeiras imagens dela guardo são de Blow-up (1966) e Isadora (1968):




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Segurança e altos dirigentes com coluna vertebral

 


«A antecipação nesta terça-feira, através do Diário de Notícias, dos dados da criminalidade reportados em 2024 à PSP em Lisboa, dando conta de uma descida significativa da mesma, é uma excelente notícia para a cidade, uma capital europeia que atrai milhões de turistas todos os anos.

O facto de a direção nacional ter decidido divulgar estes números, sabendo que os mesmos iriam contraria perceções que têm sido, e continuam a ser, insistentemente reafirmadas é uma excelente notícia para a saúde da nossa democracia.

No passado dia 17, o desassombro do diretor nacional da Polícia Judiciária, Luís Neves, na conferência dos 160º aniversário do DN, tornou-se viral.

A sua desconstrução solene das perceções de insegurança, as memórias que partilhou da violência dos anos 80 e 90 em comparação com a atualidade, o alerta que deu sobre a desinformação e a polarização da discussão em torno do tema, arrancou aplausos, não só da plateia da Fundação Calouste Gulbenkian, como de milhares de pessoas que partilharam o vídeo da sua intervenção durante vários dias.

Luís Neves sabia bem que as suas palavras não iriam saciar os insaciáveis do medo, os que procuram o caos e fomentam o ódio. Mesmo assim proferiu-as.

Também o diretor nacional da PSP, Luís Carrilho, ao autorizar a divulgação daqueles dados, não só desconstruiu narrativas políticas como as destruiu.

Embora não precisasse, demonstrou que, ao contrário de algumas críticas, a propósito das operações policiais no Martim Moniz, não se deixa instrumentalizar.

Na mesma semana em que a PSP protagonizou a investigação ao furto de malas pelo deputado do Chega (agora não-inscrito) – logo o partido que mais instrumentaliza politicamente as polícias - ambos, Neves e Carrilho, mostram independência, sentido de Estado e respeito por todos os que têm de servir em primeiro lugar: os portugueses.

Como cidadão do mundo e certamente conhecedor das dinâmicas extremistas, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Carlos Moedas, vai acabar por compreender que não só os números, ainda provisórios, da PSP “são uma boa notícia para a cidade”, como reconheceu, mas também que não se combate a insegurança promovendo o sentimento de insegurança.

Moedas persiste nas perceções, nas queixas que lhe chegam (mas não chegarão à polícia, segundo sublinhou), invoca as violações, o triplo homicídio e assaltos à mão armada na cidade. São factos. Mas não são padrão.

Sobre o “Sentimento de Insegurança e a Vitimação em Lisboa”, o próprio Carlos Moedas apresentou um estudo em 2022, fruto de uma parceria entre a CML e a Universidade Nova.

Quem revelou mais propensão para se sentir inseguro, embora não tenha sido vítima de nenhum crime, foram inquiridos pertencentes ao “sexo masculino e ao grupo etário mais velho, terem baixa escolaridade e a situação ocupacional de reformado”.

Esse perfil, regista o estudo, “destaca-se particularmente em freguesias como a Ajuda, Santa Maria Maior (que abrange o Martim Moniz) ou São Vicente, ou seja, freguesias situadas na área histórica da cidade, onde a população idosa tem um peso significativo”.

Há outro dado interessante, que mostra como a crítica de Luís Neves ao facto de haver “vários canais de televisão que passam uma e outra vez aquilo que é notícia de um crime”, tem base científica.

Este inquérito concluiu que as respostas os lisboetas “evidenciam um maior sentimento de insegurança por parte daqueles que preferem a CMTV (25%)”.

Aqueles que veem mais televisão surgem como “mais propensos a sentir-se inseguros, independentemente da ocorrência de situações de vitimação, e essa relação reveste-se de grande importância pela forte dependência da televisão como veículo de informação, após a significativa quebra do recurso aos jornais já evidente noutros trabalhos e confirmada por este estudo”.

Moedas não se enquadra em nenhuma destas características. Mas tem poder para revisitar e atualizar este inquérito. É a única forma de medir com rigor as ditas perceções.»


29.1.25

Hermínia

 


29.01.1963 – «O Tempo e o Modo»

 


O primeiro número saiu há 62 anos. Alguns recordarão a importância que teve o lançamento desta revista como plataforma de um diálogo possível em tempos de censura bem dura, na sociedade portuguesa daquele início da década de 60. Tive o privilégio de nela participar.

Foi longa e atribulada a história da revista, publicada entre 1963 e 1977. Actualmente, estão disponibilizados online todos os números das diversas fases.

Ler mais informação AQUI.
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Moedas, ainda

 


Porque se irrita Moedas com uma boa notícia para Lisboa?

 


«Segundo o Comando Metropolitano, a criminalidade no concelho de Lisboa teve, no ano passado, a segunda maior redução dos últimos dez anos. Caiu 12,6%. Já os crimes graves e violentos diminuíram 10,4%. São os números mais baixos da década, se excetuarmos os anos de pandemia. Apesar de forma menos acentuada, as descidas foram acompanhadas pelo resto da Área Metropolitana.

Não conheço qualquer presidente de Câmara que não celebrasse esta notícia. Na realidade, faria dela o maior alarde possível. Porque a perceção de insegurança tem efeitos nefastos na forma como os cidadãos vivem a cidade e na sua intranquilidade. Porque afeta o turismo, área que o presidente da Câmara de Lisboa parece querer proteger, até com algum excesso. Porque a segurança é uma das mais relevantes vantagens de contexto que o país e Lisboa têm para atrair algum tipo de investimento externo. Vejam como Isaltino Morais tem feito tudo para vender a imagem de serenidade no seu concelho.

Só que o presidente da Câmara Municipal de Lisboa é Carlos Moedas. E, em vez de celebrar o que ele próprio reconheceu ser uma boa notícia, ficou tão irritado que quase teve uma apoplexia em direto.

Se a PSP diz que o crime diminuiu, Moedas diz que é mais violento. Se a PSP diz que a criminalidade grave e violenta diminuiu, Moedas diz que a forma como é praticada é pior (até diz que nunca antes não havia assaltos com uma faca, mostrando que vive há pouco tempo na cidade). Se a PSP diz que a criminalidade diminuiu no concelho, Moedas diz que aumentou em Santa Maioria Maior. Se a PSP diz que “os dados não correspondem à perceção de insegurança”, Moedas diz que ele vai aos bairros e os conhece, ficando-se com a sensação que acha que a PSP não sabe do que fala.

O resto da intervenção foi digna de um demagogo incendiário, mandando os jornalistas falar com as famílias das mulheres violadas em vez de olharem para números. Acusa outros de politizarem a segurança quando é evidente, até por esta estranhíssima reação a uma boa notícia, que não pretende outra coisa.

Porque está Carlos Moedas tão empenhado em contrariar qualquer dado que diminua a perceção de insegurança, mesmo com sacrifício para os interesses da cidade? Porque sabe que a segurança é um debate mais fácil para a direita. Sabe que tem todos os condimentos emocionais para ofuscar o que lhe pode correr pior. As suas declarações destemperadas procuravam, aliás, uma reação da sua nova opositora, para que ela se estreasse no terreno onde ele quer fazer o combate.

Carlos Moedas quer passar meses a discutir segurança. Assim, não se fala de habitação, do estado da Carris, do lixo... Não se debate o seu mandato. Ontem, como foi notado, a manchete sobre o os números de segurança em Lisboa era acompanhada, na primeira página do DN, por outra notícia: “Tempo de espera para urgentes no Amadora-Sintra chegou às 34 horas”. A estratégia de Moedas tem paternidade: Luís Montenegro. Falamos da insegurança que não aumenta e esquecemos o que está a correr pior.»


28.1.25

Vida difícil, Mr. Moedas

 


Pete Seeger



Deixou-nos há onze anos, em 27.01.2014, com 94, mas nunca o esquecemos.

Na década de 60, tornou-se um dos ícones da música de protesto contra a guerra e na defesa dos direitos civis. Transpirava força e optimismo, ajudou muitos a lutar para que que este mundo venha um dia a ser melhor.

Sobre a vida de Pete, um texto: La vida en un puñado de versos. O seu primeiro grande sucesso terá sido «Goodnight, Irene».



Seguiram-se muitos, ficam aqui alguns:







E depois do fim:


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Temos de ter uma conversa (4)

 




Gandra d’Almeida ou um país ao espelho

 


«A história da demissão de António Gandra d'Almeida é, a vários títulos, paradigmática. São vários os problemas profundos da nossa sociedade e da nossa cultura de governação que nela se refletem com uma crueza que chega a ser desconfortável. Está lá, de facto, um pouco de tudo. É, nesse sentido, muito mais do que um simples “caso”. E é por isso que vale a pena dedicar-lhe mais umas linhas.

Está lá, é evidente, toda uma cultura profundamente arreigada de expedientes variados para contornar, com uma naturalidade que chega a ser desarmante, os mais básicos ditames das regras e da lei. Gandra d'Almeida, obrigado pelo estatuto do pessoal dirigente dos serviços da administração central, regional e local do Estado a exercer as suas funções de diretor da delegação regional do Norte do INEM em regime de exclusividade, estará ainda hoje firme e espantosamente convicto de que o facto de prestar serviços através de uma empresa da mulher o desobrigava dessa inconveniente maçada. A fazer fé nas notícias entretanto vindas a público, estará, de resto, bem acompanhado a navegar neste caldo de expedientes manhosos. Vários dos atuais responsáveis pelas delegações do INEM estarão, no plano substantivo, na mesmíssima situação. Mas aqui está tudo na paz do Senhor. Para tanto terá bastado recorrer a uma leve tortura das nomenclaturas: em vez de serem nomeados como “dirigentes” terão sido designados meros “responsáveis”. A lei, já se vê, é mero formalismo sem espírito à espera de ser toureado.

Todo este caso é também, do outro lado do espelho, uma história de pacífica aceitação social desta cultura de expedientes. Ninguém me convence de que todas estas situações pudessem não ser do conhecimento de uma miríade de governantes, administrações hospitalares, chefias, colegas e subordinados com que estas almas se vão cruzando no seu duplo labor incompatível de “dirigentes” e tarefeiros. Não se trata, é evidente, de sugerir que todos os demais têm qualquer interesse ou tirem qualquer benefício da situação. O racional é tão simples como é desconcertante: “Toda a gente faz.” A violação grosseira de regras instituídas para defender o bem comum (no caso em apreço, para garantir que os dirigentes de serviços públicos reservam um mínimo do seu tempo para efetivamente dirigir) vive dispensada de qualquer censura social.

Mais caricato, por trás de toda esta história, vislumbra-se ainda, como lembrava no sábado São José Almeida nas páginas deste jornal, uma cultura de honrarias totalmente desvirtuadas de sentido e, com o tempo, tornadas profundamente ridículas. No calor do estio, por proposta da ministra da Saúde, o ministro da Defesa Nacional concedeu a medalha de serviços distintos ao ubíquo dirigente do INEM que, precisamente por causa desses mesmos “serviços distintos”, foi agora defenestrado do SNS. E não é tanto o regresso caricato aos tempos gloriosos do “foge cão que te fazem barão” que incomoda. O que verdadeiramente perturba é o sinal equívoco que sucessivos governantes vão dando ao país ao transformar os rituais simbólicos de celebração dos seus melhores num mero frenesim burocrático de distribuição de honrarias vazias a tudo quanto mexe.

Mas há mais e há mais sério. Toda esta história e tudo o que a rodeia é também uma deprimente alegoria da hipocrisia e da disfuncionalidade de um Estado que, pagando mal aos seus quadros para aplacar as fúrias populares, vai ele próprio criando os mais variados alçapões para permitir que, na prática, pela porta do cavalo, se contrate sem critério, sem racionalidade e sem sombra de equidade para manter os seus próprios serviços a funcionar. Outra coisa não é, afinal, a caótica gestão do SNS, a institucionalização dos “tarefeiros” e a normalização do anormal ao arrepio das mais básicas regras de boa administração de recursos públicos (ou privados).

E está lá, finalmente, um dos maiores e mais perniciosos pecados da nossa cultura de governação: a permanente descontinuidade das políticas públicas. É bom lembrar que vamos no terceiro diretor executivo do SNS no prazo de um ano (e, já agora, no terceiro presidente do INEM). Mas mais grave e sintomático do que a dança de cadeiras é o facto de o Governo estar aparentemente empenhado em desmontar, sem que possa ter existido tempo para aferir os seus resultados com um mínimo de propriedade e ponderação, umas das principais (e raríssimas) reformas estruturais do executivo anterior em termos de governação da saúde.

Não contesto, é evidente, a legitimidade total de qualquer governo democraticamente eleito para mudar, rasurar, eliminar ou criar do zero políticas públicas. A alternância democrática não tem outro propósito. O que é censurável é a tentação repentista de fazer inflexões de rumo radicais sem a mínima ponderação e sem avaliações sérias e baseadas em factos e evidências. O que é censurável é a incapacidade de muitos dos nossos governantes resistirem à tentação de “deixar marcas” e de permanentemente reinventar a roda. O que é censurável é o total desrespeito pelos saberes acumulados que sempre existem nos legados dos que antecederam os ministros de turno ou nos serviços que estes são, transitoriamente, chamados a tutelar. O que é censurável é, no fundo, a falta de humildade de quem é incapaz de construir o futuro em cima de heranças do passado, mesmo quando estas parecem conter elementos sólidos ou coerentes para o fundear, pela simples razão de que mudou a liderança de uma pasta ou a cor política de um executivo.

Esta voragem do mudar por mudar, seja em que área da governação for, é profundamente contraproducente. Os custos nem sempre são evidentes, concedo. E a tentação do novo (e da comunicação pomposa do novo) pode ser inebriante. Mas a verdade é que a inconstância das políticas públicas baralha serviços, paralisa dirigentes, introduz incerteza, confunde e perturba agentes económicos, assusta e afasta investidores. E se isso é verdade em tempos de maior constância, em eras de grande instabilidade política essa voragem é, por maioria de razão, duplamente penalizadora. A saúde, a educação, a justiça ou mesmo a economia no seu todo não podem sobreviver a um constante ziguezaguear de prioridades. Nenhum país pode aspirar ao desenvolvimento se se transformar num mero cemitério de reformas que aspiram à perfeição, mas que acabam precoce e invariavelmente interrompidas.

Regresso à casa partida: há histórias e há “casos” assim. Importam não tanto pelo que deles se observa à superfície e que acaba por se perder na espuma dos dias, mas pelo que, na escuridão das suas águas mais profundas, revelam de todos e de cada um de nós. É o caso deste “caso”.»


27.1.25

Edmundo Pedro

 


Sete anos sem este grande amigo que nos deixou a poucos meses de chegar aos 100.

Há 80 anos, a Libertação de Auschwitz

 


Hoje é o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto e celebra-se o 80º aniversário da libertação de cerca de 7.000 sobreviventes que ainda permaneciam no campo, criado em 1940 e onde terá sido exterminado mais de um milhão de pessoas.

Para ajudar a não esquecer, ver e ouvir:






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Pedro Nuno igual a Montenegro: os dois com medo do Chega




Ana Sá Lopes

A Lei dos Solos

 


A Terceira Via de Pedro Nuno Santos

 


«O meu problema com a entrevista de Pedro Nuno Santos, na parte relativa à imigração, não é ter recuado na manifestação de interesse. Sei que a solução atual é uma mentira. Como continuamos a precisar de imigrantes e a única forma deles virem legalmente é por via de consulados que nunca poderão dar esta resposta, só se permitirá a imigração ilegal. A que compete com salários decentes e direitos e fomenta a marginalidade. A que agrava todos os problemas que se dizem querer resolver.

É possível que seja difícil, com uma União com fronteiras internas abertas, um país manter uma política de imigração decente quando todos os outros, reagindo à extrema-direita, optam por transformar a Europa numa temerosa e decadente fortaleza. Mas para se a dizer que os imigrantes vinham por causa da Manifestação de Interesses, porque esta funcionava como chamada, e não porque há trabalho para eles, têm de se apresentar dados que demonstrem essa relação de causalidade.

Em 2023, foram concedidas cerca 330 mil autorizações de residência, mas a esmagadora maioria foi ao abrigo do novo visto CPLP, com os brasileiros, grandes beneficiados da nova lei, a representarem 70%. Apenas 11% dos imigrantes usaram a manifestação de interesse para se regularizarem. Na entrevista, as respostas Pedro Nuno Santos foram confusas. Veremos, quando apresentar as propostas concretas do PS, se houve uma mudança sustentada de discurso ou se também anda a trabalhar com perceções.

É verdade que as escolas, que até precisavam de mais alunos em muitas regiões do país, não se prepararam para o impacto de receber crianças que não falam a língua. É verdade que a aprendizagem da língua, incluindo para adultos, é um elemento central (e até obrigatório) para a integração. É possível que o SNS se tenha de adaptar a este aumento da população. Concentre-se então o Partido Socialista em propostas para agir sobre estas carências, de uma forma positiva e distinguindo-se do oportunismo da AD, que trata os imigrantes como um problema que deveríamos evitar. Porque se precisamos dos imigrantes (e não apenas na produção), é na preparação para a sua receção, e não na redução do número de imigrantes de um país muitíssimo envelhecido, que está a resposta.

Mas tudo isto é um debate em que não estão em causa fronteiras ideológicas ou civilizacionais. Há muitas formas de regular os fluxos migratórios e não trai os valores da esquerda estar disponível para os debater. Bem diferente é dizer que os imigrantes têm de partilhar “a nossa cultura, os nossos valores” e o nosso “modo de vida”. Nossos, de quem? Os meus e os de Ribeiro e Castro? Os do Pedro Nuno Santos e de Mário Machado? Esta conversa, sim, é um problema para alguém de esquerda. Porque assume que os países têm valores homogéneos.

Pedro Nuno Santos explica, falando dos direit§os das mulheres. Num país com enormes níveis de violência doméstica, onde a igualdade laboral ainda é uma miragem, partilhamos todos esses valores? Não me parece.

O que os imigrantes têm de respeitar é a lei e a Constituição. Como todos nós. Nem mais nem menos do que isso. Ou por ventura exigimos a um português que partilhe qualquer valor moral que não esteja plasmado na lei ou na Constituição? Imaginando que existem valores nacionais, exigimos aos imigrantes que sejam “mais portugueses” do que os próprios portugueses? Pedro Nuno Santos até fala da lei, mas não como único limite.

Muita gente viu esta intervenção como uma tentativa de recentramento do PS. Esta leitura contem dois equívocos.

O primeiro resulta da conversa que instalou, para fins eleitorais, quando se percebeu que Pedro Nuno Santos ia ser o próximo líder do PS: que ele é um radical. Não é. Nunca foi. No papel do Estado na economia e no que deve ser o Estado Social, é (ou era) da esquerda clássica que a direita passou a achar radical quando impôs toda a sua mundividência. Manteve-se mais fiel aos valores da social-democracia tradicional do que outros socialistas, é verdade. Mas em muitos dos outros temas até será mais conservador do que António Costa ou José Sócrates.

O segundo equívoco é achar que empurrar o PS para a direita é recentrá-lo. É apenas deslocar o centro para a direita. Porque a posição que o PS tinha sobre imigração era, é bom recordar, a consensual ao centro. O centro era, neste tema, o PS.

Compreendo que Pedro Nuno Santos não queira concentrar o debate político na imigração ou na segurança, temas confortáveis para a direita. Que queira que se volte a falar de trabalho, economia, Estado Social, temas onde a esquerda ainda disputa a hegemonia. Que não queira acantonar a esquerda numa redutora aliança de minorias, que matou o partido democrata nos Estados Unidos.

Só que a imigração também é um tema do mundo do trabalho. Bem antigo, por sinal. E ao inclinar este debate para a direita, sobretudo quando lhe acrescentou a ideia de que existem “valores nacionais”, em vez de se concentrar na defesa transversal dos direitos sociais e laborais, Pedro Nuno Santos fez o que tanto criticou à terceira via, no debate económico: aceitou a derrota e adaptou-se. Os temas são outros porque os tempos são outros. Apenas isso.

Seria diferente se, a esta deslocação em matérias como a imigração, correspondesse uma diferenciação clara com a AD em matéria económica e fiscal ou na defesa do papel regulador do Estado. Se não correspondesse ao um suposto “recentramento”, como comentadores de direita celebraram, mas a uma mudança de prioridades. Mas vendo a cedência no IRC, no IRS Jovem ou na lei dos solos e desconhecendo seja o que for em que essa firmeza se sinta, fica a pergunta: Pedro Nuno Santos é à esquerda de Antonio Costa em quê, exatamente?

Pelo contrário, e esse foi um risco que apontei no passado, esperando sempre que não se confirmasse, são os que sentem que têm de provar permanentemente que não são radicais que, muitas vezes, empurram os seus partidos ainda mais para a direita, gerindo a sua própria derrota. Veremos se é o caso.»


26.1.25

Kovsh?

 


Kovsh antigo (recipiente ou concha tradicional para beber, da Rússia), em esmalte cloisonné prateado. Entre 1908- 1917.
Feodor Ruckert.

Daqui.

Não sabemos mesmo

 


Trump e os palestinianos

 


«Este sábado, durante uma viagem no Air Force One, o avião da Presidência norte-americana, Trump apresentou um plano para a reconstrução da Faixa de Gaza. a ideia é deslocar mais de um milhão e meio de palestinianos para o Egito e para a Jordânia, enquanto os norte-americanos terminam o trabalho de demolição e reconstrução da zona afetada pela guerra com Israel.»

Expresso, 25.01,2025

Um momento arrepiante

 


«A riqueza dos dez homens mais ricos do mundo cresceu, em média, quase 100 milhões de dólares por dia, ou seja, mesmo que perdessem 99% da sua riqueza de um dia para o outro, continuariam a ser milionários. O dinheiro dos super-ricos subiu 2 biliões de dólares só em 2024, o equivalente a cerca de 5700 milhões de dólares por dia, a um ritmo três vezes mais rápido do que no ano anterior, de acordo com um relatório da organização não-governamental de combate à pobreza Oxfam Internacional. Este é o segundo maior aumento anual da riqueza dos bilionários desde que há registos. O anterior maior aumento ocorreu em 2021, durante a pandemia, impulsionado em grande parte pelos triliões que os governos injetaram na economia. No pódio da revista Forbes dos cinco mais ricos do mundo de 2024 encontram-se Bernard Arnault, que gere o império da moda Louis Vuitton e Sephora, com uma fortuna avaliada em 233 mil milhões; seguido dos conhecidos Elon Musk (195); Jeff Bezos (194) Mark Zuckerberg (177) e Larry Ellison (141), cofundador da gigante de software Oracle.

À medida que a quantidade e o património líquido total dos bilionários continua a crescer nos EUA, muitos têm usado a sua riqueza para comprar ilhas — ora inteiras, ora parcelas — ou propriedade edificada. Em 2023, Jeff Bezos gastou 147 milhões de dólares na compra de duas mansões na ilha de Indian Creek, na Florida, onde é, desde então, vizinho do casal Ivanka Trump e Jared Kushner. A pequena ilha havaiana de Lanai, ao largo da costa do Maui, foi comprada por 300 milhões, por Larry Ellison. A Nova Zelândia, encontra-se hoje povoada de casas de pessoas super-ricas da elite tecnológica — Sam Altman, Peter Thiel — que, em caso de um qualquer acontecimento apocalíptico, apanharão um jato para uma das suas casas neozelandesas, de preferência uma que esteja devidamente equipada com um bunker, o último grito nas propriedades bilionárias que se prezem.

Até notícia em contrário, o bunker maior de todos está a ser construído por Zuckerberg na ilha havaiana de Kauai, num terreno de cerca de 6 Km2 que este adquiriu por 250 milhões. Koolau Ranch, de seu nome, organiza-se em torno de duas mansões com a área total de um campo de futebol profissional, unidas por um túnel que se ramifica num abrigo subterrâneo, protegido por uma porta de aço e cimento anti explosão, com espaço habitacional, uma cozinha industrial e abastecimento autónomo de energia e alimentos.

Foram inúmeros os momentos terríveis da cerimónia da tomada de posse de Donald Trump. Mas certamente o mais arrepiante foi aquele em que falou de Gaza, de forma casual, enquanto assinava um dos seus cerca de 200 decretos na sala Oval: “Olhei para imagens de Gaza e aquilo parece um enorme local de demolição. Realmente... tem de ser reconstruída de uma forma diferente. Gaza é interessante, tem uma localização fenomenal. É à beira-mar, tem ótimo clima. Tudo é bom. Podem ser feitas ali coisas bonitas e fantásticas. É muito interessante”. As observações de Trump ecoam os comentários do seu genro Jared Kushner, que já descreveu a propriedade à beira-mar de Gaza como “muito valiosa”. Mais tarde, acrescenta Trump: “Não é possível continuar a ter as pessoas que lá estão — a maior parte delas está morta, de qualquer maneira. Eles não governaram bem Gaza. Dirigiram-na mal e de forma perversa. Isso não pode ser.”

No dia em que se reconstrua Gaza para lá se instalarem os super-ricos, é o dia em que a humanidade se desencontra fatalmente de si própria; é o dia em que perde a cara e se torna a vergonha alheia do universo e mais além. Temos de lutar que nem raparigas e garotos intergaláticos para que esse dia nunca venha a acontecer.»


Não está a ser fácil