Vale a pena ler esta crónica de Pedro Lomba, publicada no Público de 4 de Novembro (sem link):
Quem somos nós
Dentro de dias chega a Portugal o Presidente da China. Visita inédita, anunciada com um elogio em "diplomatiquês" às "relações bilaterais Portugal-China frutíferas em todos os domínios". Antevemos que a visita será lacrada com dúzia e meia de acordos de cooperação. Mas não é por aí que o tema ferve. Não existem viagens de Estado gratuitas e muito menos para a China. Tudo é business.
Se estiveram atentos aos saldos de Outono, repararam que a China tem andado num périplo frenético pelas economias mais endividadas da Europa. Irlanda, Itália e, há já algum tempo, Grécia. Este interesse nem sequer é recente, mas a aflição dos últimos tempos, sobretudo em Portugal e Grécia, subiu os descontos. Repararam que a China tem prometido comprar mais dívida pública grega. Agora somos nós a estar na berlinda, pois a China manifestou interesse em comprar dívida portuguesa. "Temos vontade em participar nos esforços dos países europeus para recuperar da crise", disse a responsável chinesa para as relações com a Europa.
Agradeçam mas desconfiem. Para nós, vender dívida é opção irrecusável. Haja quem nos compre e de permeio nos financie. Para a China, que tem o armazém cheio de reservas, comprar dívida soberana dos Estados doentes da Europa "ainda" significa arrecadar "risco euro". O casamento parece perfeito. Mas para os chineses tudo isto implica certamente outras consequências políticas.