«As políticas de contenção orçamental acelerada pretendem precisamente gerar efeitos recessivos, aumentar as desigualdades e asfixiar o Estado social. Por José M. Castro Caldas.
Dizer da contenção orçamental acelerada que ela encerra o risco de nova recessão, de aumento das desigualdades e de asfixia do estado social, sendo verdade, é uma caracterização enganadora das políticas de austeridade recessiva. A questão não é apenas “o risco” que elas encerram mas antes a sua intenção. As políticas de contenção orçamental acelerada pretendem precisamente gerar efeitos recessivos, aumentar as desigualdades e asfixiar o Estado social. Pretendem e provavelmente conseguem.
Qual é a lógica? Induzir a descida dos salários em termos nominais e reais, para reduzir o consumo, o preço dos bens e serviços de exportação e atrair capitais. Supõem que se isto acontecesse o desequilíbrio da balança de bens e serviços seria corrigido, as necessidades de financiamento externo diminuiriam, obtendo-se deste modo o que a desvalorização cambial que deixou de ser possível permitia alcançar no passado.
A descida dos salários pretendida não é apenas a dos salários da administração pública. Essa descida pode ser obtida por decreto. Já a outra, a do sector privado, é mais difícil. Mas pode ser conseguida com a influência que as decisões salariais na administração pública têm no sector privado, com mais desemprego, uma menor duração e montante das prestações sociais de apoio aos desempregados e a retirada de outros apoios sociais. Com mais desemprego e menos protecção os trabalhadores seriam obrigados a aceitar trabalhar por menos dinheiro. A isto chamam eles com enorme desfaçatez “políticas que tornam o trabalho compensador”.»
(Continuar a ler.)
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8 comments:
Joana,
Li até ao fim o artigo à procura da prova da tese que apresenta, de que os efeitos recessivos, as desigualdades e a asfixia do estado social são o objectivo das políticas de contenção orçamental, e não uma mera consequência.
E não encontrei...
Encontrei sim uma linguagem fundamentalista religiosa, cheia de alusões às trevas, e um incitamento à mudança do pessoal dos partidos e da sua representação nos parlamentos e governos, sem especificar o método para o conseguir, ou seja, se é dentro do quadro do sistema democrático, ou se é através dos métodos mais musculados típicos dos fundamentalismos religiosos.
Então as políticas de contenção orçamental não são uma tentativa (desesperada?) de pagar as dívidas que acumulámos em décadas a viver de empréstimos? Ainda não consegui perceber se a crítica ao monolitismo e a promessa de haver soluções alternativas que a esquerda tem tentado fazer passar têm por base o pressuposto de pagar a dívida, ou o pressuposto alternativo de dar um calote?
Respondo o que já te disse no Facebook: o esquerda-net tem comentários.Põe lá as tuas questões.
Boa sugestão! Já fiz o "copy & paste". Enfim, cortei 2 ou 3 palavras porque tinha 1025 bytes e os cmentários estão limitados a 1000. Vamos esperar a resposta...
Manel,
A pergunta não está esquecida, mas só te responderei em comentário a um post teu (sim, num blogue que acabarás por criar, mais dia menos semana, porque as C. de Comentários não dão para estas coisas…) no qual expliques, muito direitinho, qual é para ti a relação entre as dívidas que têm de ser pagas (e onde pareces colocar a origem de tudo) e o que esteve, em grande parte, a montante: o incitamento às mesmas, durante décadas, por especuladores mundiais, agora substituídos por novos monstros sem rosto - «os mercados».
Joana,
Os governos têm efectivamente procurado desresponsabilizar-se da situação insustentavel a que nos conduziram pelo recurso contínuo, excessivo e imprudente, ao crédito para financiar obra.
Até toda a gente perceber que o crédito é para pagar um dia, a coisa funcionou às mil maravilhas: a obra foi aparecendo feita, o déficit é um mero indicador contabilístico e, na hora de votar, entre a obra concreta e o número abstracto, o pessoal foi sempre preferindo os mais obreiros.
Tu dizes-me que há uma indústria financeira a aliciar quem recorra ao crédito, substituindo a prudência pela possibilidade de fruição imediata daquilo que ele permite comprar.
Eu sei que há.
E há pessoas a endividar-se impensadamente para poderem comprar coisas que, reflectindo bem, lhes acabam por ser menos valiosas que a liberdade futura que empenham ao recorrer ao crédito.
São abordadas no banco, na TV, no supermercado, na loja de móveis ou na agência de viagens, e não resistem ao impulso.
E as instituições de crédito que as aliciam merecem cada calote que sofrem, porque são tão imprudentes a emprestar sem saber se as pessoas lhes conseguem pagar como as pessoas que gastam sem ter capacidade de pagar.
Mas quando os governos recorrem ao crédito, a coisa não funciona assim.
Não recorrem ao crédito por aceitar por impulso um empréstimo que lhes é proporcionado em condições aparentemente irrecusáveis, recorrem ao crédito porque gastam mais do que cobram, e por sua iniciativa. Não aceitam "negócios da China" propostos por instituições de crédito, lançam leilões para conseguir créditos com as melhores condições comerciais possíveis.
Os especuladores, ou "os mercados", têm neste processo o mesmo papel que a bomba de gasolina aonde abasteces o carro tem no abastecimento: aparece-lhes um cliente, combinam o preço e, se o cliente aceita o preço e tem ar de conseguir pagar, abastecem, cumprem a parte deles do contrato, e o cliente paga, cumpre a sua.
Onde está o monstro?
Joana, o assunto não estava esquecido.
A sugestão pareceu-me boa mas afinal não foi, a minha pergunta continua lá, solitária, como o homem do adeus, e por responder...
A minha sugestão é que pode ter sido má porque linkei o esquerda.net, o primeiro local em que vi o texto.
Copia o teu comentário para aqui, o blogue onde ele escreve - e que espero que leias todos os dias, claro :-)
Não respondeu... mas obrigado pela sugestão.
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