O Sol publica hoje uma longa entrevista com o cardeal de Lisboa, com várias passagens chocantes. Detenho-me apenas numa (pelo menos por agora), onde é abordada a questão da natalidade na Europa.
Será longa a citação e o realce é meu.
«As pessoas começam por esbarrar com as dificuldades e habituam-se à ideia de um só filho. Desde que se quebre o coeficiente de equilíbrio a sociedade fica aberta a ser ocupada por gente vinda do terror e vinda do Ocidente e do Oriente como diz o Evangelho. O que faz com que seja previsível que dentro de alguns anos as sociedades europeias percam a sua fisionomia do ponto de vista religioso, do ponto de vista comportamental, cultural. Como se sabe, já há sociedades europeias a braços com a multiculturalidade e com a dificuldade de harmonia entre as diversas procedências da população, de que por um lado precisamos.»
Evidentemente que o mais chocante, na forma, é a expressão «gente vinda do terror». Vai para além do admissível, entra no domínio do mau gosto e é cruel. E tem pouco a ver com um qualquer conceito de caridade cristã...
Não sei o que é nem onde é, para o cardeal, o terror – para mim, está em todo este texto.
Porque o que se diz, muito claramente, é que os europeus deviam ter muitos filhos para não PRECISAREM dos outros, para se DEFENDEREM de más influências, para que não seja ESTRAGADA uma (suposta) harmonia, cultural e religiosa, europeia.
Os mesmos que, a partir da Europa, invadiram o mundo para o «evangelizar», que impuseram as suas verdades pelos cinco continentes, que colonizaram e ajudaram a colonizar, que foram agentes ou cúmplices de tantas prepotências, sentem-se agora acossados e gostariam de poder construir uma espécie de muralha que os protegesse de invasões de novos bárbaros – os tais vindos do terror.
Mas não podem. Não estamos no século XV mas no XXI. O mundo é aberto, multiculural, será cada vez mais mestiço – e isso é um bem e não um mal. Queiram ou não todos os dons Josés Policarpos desta terra.
Será longa a citação e o realce é meu.
«As pessoas começam por esbarrar com as dificuldades e habituam-se à ideia de um só filho. Desde que se quebre o coeficiente de equilíbrio a sociedade fica aberta a ser ocupada por gente vinda do terror e vinda do Ocidente e do Oriente como diz o Evangelho. O que faz com que seja previsível que dentro de alguns anos as sociedades europeias percam a sua fisionomia do ponto de vista religioso, do ponto de vista comportamental, cultural. Como se sabe, já há sociedades europeias a braços com a multiculturalidade e com a dificuldade de harmonia entre as diversas procedências da população, de que por um lado precisamos.»
Evidentemente que o mais chocante, na forma, é a expressão «gente vinda do terror». Vai para além do admissível, entra no domínio do mau gosto e é cruel. E tem pouco a ver com um qualquer conceito de caridade cristã...
Não sei o que é nem onde é, para o cardeal, o terror – para mim, está em todo este texto.
Porque o que se diz, muito claramente, é que os europeus deviam ter muitos filhos para não PRECISAREM dos outros, para se DEFENDEREM de más influências, para que não seja ESTRAGADA uma (suposta) harmonia, cultural e religiosa, europeia.
Os mesmos que, a partir da Europa, invadiram o mundo para o «evangelizar», que impuseram as suas verdades pelos cinco continentes, que colonizaram e ajudaram a colonizar, que foram agentes ou cúmplices de tantas prepotências, sentem-se agora acossados e gostariam de poder construir uma espécie de muralha que os protegesse de invasões de novos bárbaros – os tais vindos do terror.
Mas não podem. Não estamos no século XV mas no XXI. O mundo é aberto, multiculural, será cada vez mais mestiço – e isso é um bem e não um mal. Queiram ou não todos os dons Josés Policarpos desta terra.
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(*) Eu e a Shys trocámos mails e textos sobre este assunto ao longo do dia, mas acabei por escrever primeiro. Mas ela acrescenta aqui algo de fundamental que eu não disse: trata-se de «xenofobia pura e dura».