24.5.14

E a cerveja correu a rodos



Esta tarde, uma rua transversal à Praça da Figueira, em Lisboa ( como muitas outras), transformada em urinol público dos adeptos do Real Madrid.

A CML de Lisboa, na pessoa do seu presidente, tudo fez para que fossem colocados ecrãs gigantes para que nuestros hermanos seguissem o jogo. Mas a mesma CML não se terá lembrado de uma medida absolutamente elementar: colocar urinóis. E a cerveja bebida foi muita, como é óbvio!
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Num mundo ensandecido



Moro onde está o pin amarelo. Já há barulho desde ontem, helicópteros, polícias aos montes, trânsito mais do que limitado, alguns invasores. Já me barriquei, não sairei de casa, se não voltar aqui é porque me entrou um espanhol por uma janela (mesmo estando num 6º andar...).

Entretanto, «a PSP salienta que fará o encerramento total da Avenida Lusíada depois das 20h30 até às 4h». Ou seja: espera-se que haja espanhóis por aqui até mais de 6h depois de o jogo acabar? Importam-se de repetir?

Em 1580, os invasores que conquistaram Lisboa na Batalha de Alcântara, comandados pelo duque de Alba, foram apenas 18.000. Hoje são 120.000 os que vieram apenas para ver uns vinte e dois rapazes a dar xutos numa bola. Mudam-se os tempos, mudam-se as batalhas. Deve ser isso.

Ah, já agora: amanhã há eleições.
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Never forget



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O dia da censura



«Hoje é o dia absurdo em que, mesmo que queira falar de certas coisas, não posso falar delas. Hoje é um dia em que há censura em nome do mesmo princípio com que houve censura durante quarenta e oito anos: proteger a paz dos espíritos dos portugueses para que eles se portem bem.

É um absurdo em democracia e este absurdo soma-se a outros que começam a impregnar o tempo e o modo das campanhas eleitorais, acrescentando-se à já enorme decadência daquilo que foi uma das conquistas da democracia – a possibilidade de fazer livremente propaganda das suas ideias, programas e pessoas. A culpa é de muita gente, do legislador em primeiro lugar, que podia mudar profundamente uma legislação eleitoral que já se revelou ultrapassada e perversa, e não o quer fazer porque isso prejudicaria os grandes partidos. É da Comissão Nacional de Eleições, que soma medidas contraditórias, algumas insensatas e caóticas, actuando pontualmente e sem nexo. É da comunicação social, que se revela muito tesa (e bem) para actuar em conjunto quando os seus interesses económicos estão em causa, e revela uma estranha complacência com esta forma de censura.

Significa que o faz por respeito pela lei? Nem isso, até porque a uma lei iníqua se pode responder com a desobediência cívica e custa-me a perceber por que razão a comunicação social recusa em conjunto esta forma de censura, que viola todos os critérios editoriais e jornalísticos, os únicos que deviam presidir à cobertura de uma campanha eleitoral.»

José Pacheco Pereira
(Não sei para quem funciona o link.)
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Lido por aí (41)

23.5.14

Grande imagem!



Esta, capa do Expresso diário de hoje: «Fim de semana electrizante» 
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Hoje é um belo dia



... para recordar Bonnie & Clyde que morreram exactamente há 80 anos.

Fica a bela balada e o link para um post escrito há dois anos.


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Qualquer semelhança com a campanha eleitoral é pura coincidência


Há 85 anos, Mickey Mouse falou, pela primeira vez. E nunca mais de calou.


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22.5.14

Da abstenção



«O mais importante ficará para dia 25: saber o nível da abstenção. Em 2009 foi de 63%. Se em 2014 ultrapassar esse limite, então o caso será sério. Um sistema partidário que sobrevive, mas sem uma massa crítica de eleitores, viola o princípio de que a natureza tem horror ao vazio. Seria uma sobrevivência com um inquietante presságio de morte.»

Viriato Soromenho Soares

Lido por aí (40)


@João Abel Manta

* Ultrapassar pela Esquerda (Miguel Guedes)

* A encruzilhada da social-democracia (Alexandre Abreu)

* «Élections, piège à cons?» (Tiago Matos Silva)
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Carta de Juncker aos portugueses



Por Ricardo Araújo Pereira, obviamente:

«Estive há dias no vosso país (acho eu) e parece que cometi um erro. Disse que Cristóvão Colombo era vosso compatriota quando, ao que parece, ele nasceu em Génova. O que significa que era grego, ou assim. Também tenho dificuldade em distinguir africanos e chineses. (...)

Portugal é, sinceramente, a minha parte favorita de Angola e tive o privilégio de poder confidenciar isso mesmo a Nelson Mandela, quando ele ainda jogava no Benfica.»

Na íntegra AQUI.
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Algumas notas sobre o início do julgamento dos «acontecimentos do Chiado»



Um texto de Miguel Carmo:

Olá.

O meu julgamento começa amanhã à tarde no Campus de Justiça e prossegue, pelo menos, nas próximas duas quintas-feiras.

O Ministério Público (MP) acusa-me, com base no testemunho de um polícia que assina o Auto de Notícia em anexo, de ter projectado uma cadeira de uma das esplanadas do Chiado sobre uma linha de polícias que na Rua Serpa Pinto protegia a detenção de um manifestante. Não tendo sido identificado durante a manifestação, nem em nenhum outro momento anterior ou posterior, o Auto refere que se fez uso para tal de informações do Núcleo de Informações da PSP, na forma que passo a citar: “trata-se de um indivíduo que é presença habitual neste tipo de manifestações/concentrações, pautando sempre a sua conduta de forma agressiva para com as Forças de Autoridade”. Ainda não é certo se este julgamento servirá para esclarecer a qualidade de polícia política que a PSP parece requerer para si no documento citado.

Passaram agora mais de dois anos sobre os “acontecimentos do Chiado” e a memória dilui-se. Nada que a Internet e os jornais da altura não reponham num instante. Foi dia de greve geral combativa, com várias manifestações a atravessarem o Chiado em direcção a São Bento. Perante a passagem de uma delas a PSP tem a ideia genial de deter um estivador que vinha rebentando petardos ao longo do percurso. É um homem de meia-idade com um pacemaker, cuja detenção provoca o espanto e reacção imediata dos seus amigos e depois a indignação de toda a manifestação. Foi este o momento inicial de um descontrolo policial que varreu, a vários tempos e intensidades, todo o Chiado até ao Largo de Camões com um balanço final de dezenas de feridos entre manifestantes, jornalistas e transeuntes. Nesse dia temos o Ministro da Administração Interna na televisão a explicar-se e dias depois a ser requerido pelo Bloco de Esquerda para uma audiência parlamentar convocada de urgência para o efeito; temos um inquérito aberto pelo IGAI ao comportamento da PSP, preenchido com declarações de várias pessoas agredidas; e temos o MP a agrupar num mega-processo penal cerca de uma dezena de queixas.

De tudo isto nada reza a história. Macedo é ainda Ministro da Administração Interna, os resultados do IGAI são aparentemente nulos e o MP arquiva todos os processos na fase de instrução, por falta de provas, todos à excepção daquele contra mim. A PSP atacou uma manifestação em dia de greve geral, o Ministro da Administração Interna defende-a e responde politicamente no parlamento; as várias queixas apresentadas contra polícias, tanto no penal como junto do IGAI, são arquivadas e esquecidas, sobrando um processo contra uma pessoa que, como milhares de outras desde o último mandato de Sócrates, têm participado e organizado várias manifestações. É disto que fala, em específico, a ideia de que a história é sempre a história dos vencedores.

Junto algumas ligações de Internet.

As audiências serão sempre às 14h, no 5º Juízo Criminal de Lisboa, 1º Secção (edifício “B” do Campus de Justiça, na Expo).

Agradeço divulgação em blogues e fb pois não os tenho. Que a denúncia seja por ora a nossa arma. Se alguém quiser produzir opinião com mais fôlego sobre esse dia/julgamento posso enviar documentação vária do processo, nomeadamente o despacho de acusação e a nossa contestação.

Abraços e beijinhos.

Miguel Carmo

Ligações:
http://versaletes.blogspot.pt/2012/03/miguel-macedo-brinca-com-o-fogo_27.html http://entreasbrumasdamemoria.blogspot.pt/2012/03/carga-policial-de-22-de-marco-mocao-de.html http://jsgphoto.blogspot.pt/2012/03/22-de-marco.html
http://passapalavra.info/2012/03/54758

Aznavour, 90



Quem não gostaria de dizer isto, na véspera do 90º aniversário: «É uma nova vida que começa, é preciso reinventar o que se fez à maneira da idade que se tem.» Normal para quem comunicou a François Hollande, há poucos dias, que já fixou a data para o seu último concerto: 22 de Maio de 2024, no dia em que fará 100 anos.

Charles Aznavour Estará esta noite num espectáculo em Berlim, lançará hoje uma conjunto de 4 CD com 90 das suas canções mais célebres, não pára, tem a agenda preenchida para os próximos tempos. Um caso raro de energia e vitalidade, deste francês de ascendência arménia e que começou a carreira há... 81 anos. Para a Arménia terá sempre a nacionalidade dos seus pais emigrantes e é um ícone nacional, não só pelo êxito como cantor, mas também pela sua grande acção após o terramoto de 1988.

Para nós, os que nos habituámos a ouvi-lo há décadas, terá sempre um lugar muito especial, não só nos baús do passado mas ainda agora e sempre.

Três clássicas:






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21.5.14

Grécia: «On Sale»



110 das melhores praias gregas estão à venda, sabe-se agora. Em nome do «desenvolvimento» e da «utilização dos bens públicos», uma agência de privatização vai vender a utilização das praias em questão por um período de 50 anos (*).

Está previsto que seja reservado, em cada uma, um pequeno espaço para utilização gratuita, mas, aparentemente, alguns areais são tão pequenos que esse espaço só permitirá que os seus frequentadores apanhem banhos de Sol... em pé!

Claro que já existem praias privadas por essa Europa fora, mas não é bem a mesma coisa do que um governo inserir a iniciativa de um negócio deste tipo no conjunto das medidas de austeridade impostas aos cidadãos do seu país, já tão martirizado – porque é disso que se trata.


(*) Perante as reacções, algumas das vendas serão aparentemente «adiadas».
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Finalmente, uma bela notícia!

João Bénard da Costa



O João morreu há cinco anos, em 21 de Maio de 2009. 

Na memória colectiva, ficou certamente ligado sobretudo ao cinema, como director da Cinemateca, antes como coordenador do respectivo sector na Fundação Gulbenkian, desde sempre por causa da sua paixão pela 7ª arte. Talvez nem todos se lembrem de que foi também actor em onze filmes de Manoel de Oliveira e num de João César Monteiro (e bem recordo o entusiasmo com que se estreou nas filmagens de O Passado e o Presente, em 1972).

Escreveu livros, esteve desde sempre ligado à aventura que foi a história da Editora Moraes, lançou, em 1963, O Tempo e o Modo e foi o seu elemento central durante toda a primeira fase da revista. «Católico progressista» quase avant la lettre, foi também um dos primeiros a deixar o barco, pelo menos como elemento activo.

Mas, para mim, ele ficou sobretudo como um entre muitos amigos de um grande grupo de fronteiras variáveis, com quem atravessei uma das épocas mais importantes da minha vida, não só em militâncias várias mas no entusiasmo inesquecível de todas as vivências de juventude na segunda metade dos anos 60. Foi também um dos elementos de uma família extraordinária que me «acolheu» como amiga próxima e a quem devo, sem dúvida, uma parcela importante daquilo que hoje sou.

A Arrábida foi uma das maiores paixões da sua vida, a ela me ligam também muitas recordações de longas semanas na casa da família Bénard da Costa, em Alportuche, ainda sem electricidade, das intermináveis conversas noite fora à luz da vela, com o mar de um lado e o Convento incrustado na Serra do outro, da festa pela chegada do primeiro gira-discos a pilhas, vindo dos Estados Unidos, dos dramas de amores e desamores. Aqui fica, por tudo isso, um excerto desta crónica de JBC:

«A gente nunca imagina o que a vida nos reserva. Nos anos 40 e 50, nunca imaginei que havia de chegar o dia em que Alportuche deixasse de ser a minha praia na Arrábida e no mundo. Nos anos 60 e 70, nunca imaginei que fosse desaparecer a Praia dos Pescadores, quando, depois de carregado luto pela praia da infância e da adolescência, a ela me costumava a habituar. Já nesses anos a entremeava com o Quereiro, a duna meigamente opulenta que fica no fim do Portinho. Nos anos 80 e 90, ela tornou-se quase um exclusivo como exclusivas eram as idas e vindas no yellow boat, dos restaurantes do Portinho (Galeão, primeiro, Beira Mar, depois) até esse areal relativamente longínquo – que alguns, menos preguiçosos, percorriam a pé, em coisa de vinte minutos. Mas o século XX acabou e, no actual, a opulência do Quereiro foi-se, como se foi a meiguice. Este ano, a devastação completou-se. Duna de areia? Digam antes cova com areia, que tudo que era convexo côncavo se tornou, com a mesma mágoa sem remédio com que assistimos a semelhantes esvaziamentos nos humanos.» 
(Público 5/10/ 2008) 
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Countdown



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Europa: empurrada para uma espécie de semiperiferia do mundo



«As notícias que chegam da Zona Euro e do BCE continuam a ser preocupantes, mostrando que não só o crescimento não arranca como, mais grave, os efeitos da austeridade, em alguns países, estão a alastrar e se vão prolongar no tempo, com consequências devastadoras, não só para as economias como para a confiança dos cidadãos.

O voluntarismo de uns e os preconceitos ideológicos da ‘agenda liberal’ provocaram erros de cálculo que estão a ser pagos por toda a União. A hipocrisia está a substituir a solidariedade. O caso português é típico. A unanimidade e o calor com que uns quantos saudaram o êxito do cumprimento do plano de ajustamento, ‘permitindo’ a opção por uma dita saída limpa, ilude o facto de que para os governos europeus nunca tinha sido encarada outra hipótese, pura e simplesmente porque, como alguns depois fizeram questão de explicar, estamos num tempo em que cada um tem de se saber desenvencilhar sozinho, atirado ao mar ‘sem rede’. (...)

Nenhuma razão, só por si, parece ter força para fazer implodir a UE ou o euro, mas todas juntas – preconceitos ideológicos, divisões culturais exacerbadas entre o Norte e o Sul, a retracção britânica, o crescente descrédito popular no projecto europeu, a tentação de optar por soluções nacionais em vez de dar prevalência às comunitárias – assumem um elevado poder destrutivo.

É que gradualmente, à escala global, esta Europa sem vontade nem rumo, está a deixar de fazer parte do centro, deixando que a empurrem para uma espécie de semiperiferia do mundo, ultrapassada em poder e influência, não apenas pelos EUA e pela China, mas também outras potências emergentes, que rapidamente assumiram posições dominantes em termos de crescimento, de competitividade e progresso material.»

(O link pode só funcionar mais tarde.) 
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20.5.14

Benfica



Para esquecer a campanha eleitoral durante uns minutos, mais uma «Redacção da Guidinha», de Luís Sttau Monteiro. E não podia vir mais a propósito, quando Benfica é o centro de Portugal e não só.

«Lá para o fim do mundo onde a terra não acaba porque ainda há a Venda Nova e a Reboleira e a Amadora e onde o mar não começa porque fica longe como burro fica a aldeia de Benfica que alguns chamam de Malfica porque fica tão longe que os transportes não chegam lá senão depois de uma data de horas de viagem em que morre gente em que se dá à luz e em que se fazem e desfazem casamentos e em que se apanha tanta pisadela e tanto beliscão que se chega lá a Benfica com os pés e o cu numa lástima a minha prima Amélia que vive lá depois de um ano de viagens teve de mandar vir um cu de plástico da América porque o dela tinha-se gasto quem quiser ir de Lisboa a Benfica de carro pode ir pelo mapa pela bússola ou à sorte o pior é que se for à sorte não chega lá mas também não perde nada com isso porque a única coisa que lá há é o Jardim Zoológico e como Lisboa agora é toda ela um jardim zoológico quem é que quer ir ver o de Benfica? Outra maneira de uma pessoa que vai para Benfica de carro se entreter é ir contando os polícias de trânsito que estão por lá aos magotes ao fim da tarde o que explica o facto de haver tanto roubo em Lisboa porque se está mesmo a ver que os polícias foram todos parar à Polícia de Trânsito para caçar mais qualquer coisita aos automobilistas o meu pai diz que entre o Governo aumentar os preços das gasolinas a Polícia de Trânsito a caçar multas e os buracos das ruas a darem cabo das suspensões o diabo que escolha é tudo uma cambada de ladrões enfim estas coisas não se podem dizer senão começam logo a acusar a gente de estar a criar entraves ao Governo quando se está mesmo a ver que o Governo é que passa a vida a criar entraves à gente a gente anda tão entravada tão entravada tão entravada que não sabe o que há de fazer à vida é por isso que há tanta gente em Benfica é uma forma de emigração como qualquer outra só que para a nossa desgraça os emigrantes que vivem em Benfica não têm o carinho das autoridades o senhor Presidente da República não fala deles quando bota o discurso sobre as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo e no Dia de Camões não se lembraram deles e nem mandaram lá um senhor das Forças Armadas botar falação patriótica isto é uma injustiça por um lado mas é uma sorte por outro sim porque sempre se safaram de ouvir mais uma falação diz-se que o senhor Presidente da República agora que veio do Brasil vai em visita oficial a Benfica se isso é verdade ele que venha de helicóptero porque se vier de transporte público só cá chega lá pelo século XXII de qualquer forma há qualquer coisa que não se entende porque nossos bravos militares já não andam de helicóptero como andavam durante o prec que andavam sempre de helicóptero com um ar muito apressado e muito cómico como se andassem a salvar a Pátria e isso enriquecia muito o folclore nacional e punha a gente a rir não havia nada mais engraçado do que vê-los sair dos helicópteros de blusões negros com um ar bestialmente bélico eu tenho pena que isso tenha se acabado porque isto é um país triste e nessa altura era divertido só era pena não andar ainda por cá o senhor Eça de Queiroz que se esse tivesse tido tempo de os descrever antes de morrer a rir a gente tinha ficado com uma literatura mais rica e esses dos helicópteros sempre tinham enriquecido a literatura do País porque com as falações que fazem não chegam lá nem lá nem a parte nenhuma isto quem não tem helicóptero não tem nada e quem tem helicóptero tem tudo mais vale ter um helicóptero na mão do que dois a voar filho de helicóptero sabe nadar helicóptero escondido com o rabo de fora helicóptero a helicóptero a galinha enche o papo quem não quer ser helicóptero não lhe veste a pele basta de helicópteros que de helicópteros andamos todos fartos olá se andamos só não anda farto de helicópteros quem tem saudades de andar de helicópteros e nós que os pagávamos mas não andávamos neles não temos saudades nenhuma eu quando vejo um helicóptero fico a tremer com medo que eles voltem só tenho pena de não haver helicópteros para Benfica por causa da tal qualidade da vida sim porque como é que se pode falar da qualidade da vida de uma pessoa que se levanta às seis e meia da manhã para chegar às nove ao emprego de que sai às seis para ir a correr para a bicha do autocarro ver se consegue chegar a casa às oito para comer uma bucha fria porque está toda a gente tão cansada que ninguém tem coragem para ir aquecer o carapau familiar sim quem é que pode falar da qualidade da vida às pessoas assim ou pedir-lhes que vão a museus e a concertos e a exposições coitados eles não chegam a casa em estado de ir a parte nenhuma o que eles querem é mandar toda a gente àquela parte enfim vou continuar a falar de Benfica e vou indicar as instituições de Benfica para os turistas que lá quiserem ir a principal instituição cultural de Benfica é a pastelaria Califa onde se juntam os intelectuais da região para beberem bicas e para comerem pastéis de Belém têm todos pêra pelo menos os que têm barba e há alguns que têm bigodes e barba toda a gente sabe que a barba dá um ar bestialmente intelectual é por isso que é bestialmente fácil saber quem é que é intelectual e quem não é a regra é simples os verdadeiros intelectuais não têm barba o único que tem é o Júlio Caldeireiro mas esse é especial porque não é um intelectual full-time digamos que faz o seu biscate de intelectual mas que o resto do tempo está na Brasileira e basta isso para não ter direito ao cartão do sindicato ora na Califa todos têm barba o que dá logo a entender à gente que aquilo é a Brasileira de Benfica o que é o mesmo que dizer que nenhum intelectual lá põe o chispe há vinte anos outra instituição de Benfica é o Nilo que é um café que há lá não me lembro de mais nada e estou farta de escrever adeus.»

O Jornal, 16/6/1978
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Juncker?



«Jean-Claude Juncker quer ser o príncipe regente da Europa. Nada a opor. Afinal seja ele ou Martin Schulz a ser eleito pela sua facção a receita é a mesma.

Nada de essencial, em termos de estratégia económica ou de política europeia, os separa. Qualquer um deles será eleito, não por voto directo, como presidente da CE, abençoado por Angela Merkel, e viverá suavemente num clima de ar condicionado até à próxima crise financeira.

Mas Juncker decidiu vir a Portugal para nos lembrar que não devemos acreditar nos socialistas. Empolgado, decidiu inovar a doutrina: "Eles lembram-me um dos vossos compatriotas mais prestigiados: Cristóvão Colombo. Quando partia nunca sabia para onde ia, quando chegava nunca sabia onde estava, e era o contribuinte que pagava a viagem".

Juncker mostrou aqui o seu espírito da Idade Média, que quer ver replicado na Europa. Ainda não percebeu o que foram os Descobrimentos, nem a Renascença. Não percebeu porque os EUA estão na vanguarda da inovação e a Europa parece um museu de ideias falecidas. Lá arrisca-se, aqui tem-se medo. (...)

O que esta frase pacóvia de Juncker demonstra é a pobreza cultural desta Europa burocrática. Que tem medo do risco, que conta as moedas, que não deseja descobrir nada para lá da sua rua, que tem receio do mundo. Com homens como Juncker, a Europa viverá escondida na Floresta Negra.»

Fernando Sobral, no Negócios.
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Lido por aí (39)

Roma e Pavia não se fizeram num dia



Um texto meu, escrito a pedido do jornal «i» e publicado hoje:

Todas as previsões apontam para um dia 25 cheio de Sol e há um prognóstico que pode ser feito antes do fim deste jogo: a abstenção dos portugueses será certamente muito elevada nas próximas eleições europeias, vai ser de novo menosprezado um dever elementar de cidadania.

Seria no entanto bem importante que acontecesse exactamente o contrário e que vivêssemos um dia de luta activa por uma Europa diferente daquela que infelizmente hoje temos, com uma votação, em massa, contra os três partidos nacionais comprometidos com a via austeritária corporizada no Tratado Orçamental, em Portugal e nos grupos a que pertencem no Parlamento Europeu. Sem visões calculistas com as legislativas no horizonte e projectos de consensos à esquerda, ilusórios e ineficazes, nem com antieuropeísmos de pacotilha, mas sim com o objectivo muito claro de «desobedecer à Europa da austeridade», em conjunto com todos aqueles que, por esse continente fora, partilham esse mesmo objectivo.

Pare-se com o discurso de falta de alternativas deste tipo, porque elas existem e virão a ser concretizadas. Depois destes dias, melhores dias virão, Roma e Pavia não se fizeram num dia.

Joana Lopes
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19.5.14

Com um olho nas notícias


... sobre as eleições gregas e dois ouvidos para uma grega. «Em «Jamais le dimanche» – para quem é suficientemente crescido para se lembrar.


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O «caso República» – que fez cair um governo



Lisboa estava bem agitada há 39 anos! O chamado «Caso República» teve o seu início crítico no dia 19 de Maio de 1975, embora as hostilidades internas naquele jornal, entre a Comissão Coordenadora de Trabalhadores (CCT) gráficos e dos serviços administrativos, de um lado, e a Administração e a chefia de Redacção, do outro, tivessem já começado nos primeiros dias do mês.

Na manhã de 19, a CCT decidiu suspender do exercício das suas funções a Administração e a chefia de Redacção, acusando-as de estarem a tentar transformar o jornal num órgão afecto ao Partido Socialista. As instalações do jornal foram ocupadas pelos trabalhadores e a edição desse dia saiu com uma constituição diferente.

O PS organizou imediatamente uma manifestação de apoio à antiga direcção, no Largo da Misericórdia (com a presença, entre outros de Mário Soares, Salgado Zenha e Manuel Alegre), a multidão foi engrossando e gritaram-se palavras de ordem contra o PCP, Álvaro Cunhal e MFA.

Quem estiver interessado nos detalhes desta saga, que foi um marco no PREC, dois meses depois do seu início, tem à disposição um detalhado resumo dos acontecimentos e também uma cronologia do dia.

O República acabou por estar fechado durante algum tempo e reapareceu nas bancas em 10 de Julho, constituído maioritariamente por elementos das forças armadas e de uma certa esquerda radical. Como consequência destes factos, no dia 7 de Julho, o PS abandonou o IV Governo provisório (o mesmo acontecendo pouco depois com o PPD / PSD) que acabou por cair no dia 17 do mesmo mês.

Era assim o dia a dia. Em 27 de Maio, deu-se a ocupação da Rádio Renascença – outra longa e movimentadíssima história. 
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Vários chumbos no porta-aviões ou submarinos ao fundo?

Desempregados versus cabras



Recorrer ao humor, muitas vezes negro, para caracterizar certas realidade vergonhosas, acaba por ser o caminho mais curto e mais certeiro para as desmascarar. 

«Para mim a notícia da semana foi: "governo vai colocar os desempregados e os beneficiários do Rendimento Social de Inserção a limpar e vigiar as florestas do País. O protocolo foi assinado esta segunda-feira e conta com 550 acções de prevenção de incêndio, reflorestação e vigilância das florestas". Portanto, vão pôr os desempregados a ajudar o desemprego.

Perante esta notícia é fácil concluir que o Governo recorreu a uma solução mais barata que a que estava prevista no verão passado. Relembro que, há cerca de um ano, tinham anunciado - "Cerca de 150 mil cabras vão prevenir a ocorrência de fogos, limpando campos e matas". Alguma coisa mudou. Provavelmente, as cabras não aceitaram as condições e tiveram de recorrer aos desempregados e beneficiários do RSI. É compreensível e, obviamente, é mais fácil arranjar 150 mil desempregados do que o mesmo número em cabras. Por outro lado, é sabido que os beneficiários do RSI são animais flexíveis, que se adaptam a todos os terrenos, e que comem tudo por onde passam (e quem nunca experimentou queijo de beneficiário do RSI não sabe o que perde). (...)

À partida a ideia não me parece má - se não fossem ideias como esta nunca teria havido pirâmides no Egipto.»

Entretanto, na Grécia




La coalición de izquierdas Syriza se hace fuerte Ática, la región más importante, con el 23,5% de los votos, y opta a la alcaldía de Atenas y Salónica en la segunda vuelta. Nueva Democracia se queda fuera de la segunda vuelta en los grandes núcleos de población.

Além de hipótese de legislativas antecipadas:

18.5.14

Comemorar o quê?



«Três anos depois, temos um país de que fugiram mais de 250 mil pessoas, com níveis de desemprego potencialmente desagregadores da comunidade, com centenas de milhares de pessoas sem subsídio de desemprego e que jamais arranjarão um trabalho, com um sistema produtivo em que a única coisa que mudou foi as pessoas serem ainda mais miseravelmente pagas, com os serviços do Estado em risco de colapso, sem o Estado reformado, sendo o empobrecimento generalizado considerado uma reforma estrutural, com níveis de investimento que farão a nossa economia regredir décadas, com exportações a depender de uma refinaria entrar em manutenção e com uma dívida muitíssimo mais insustentável. O Governo comemora o quê, afinal?»

Pedro Marques Lopes

Final da Taça



Nunca tinha ido ao Jamor e nunca voltei depois. Mas em 22 de Junho de 1969 lá estive, como muitos milhares de pessoas, não por causa do Benfica nem do jogo, mas em solidariedade com a luta académica de Coimbra. Cartazes, 35.000 comunicados distribuídos, palavras de ordem. Pela primeira vez, o desafio não foi transmitido pela RTP, pela primeira vez, também, a taça não foi entregue pelo presidente Américo Tomás. Foi um grande dia de luta.





Hoje, há neste preciso momento futebol e apenas futebol. O país está óptimo, o Benfica é já vencedor de quase tudo (e talvez ganhe hoje), pelas terras do Rio Ave a vida é bela e escorre mel, a troika foi-se embora e o relógio do dr. Portas está a zeros. Reclamar porquê e contra quem?
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A ver se ainda chega a tempo


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Cavaco e Ronaldo 2.0



Nesta bela manhã de Verão adiantado, a prosa de Vasco Pulido Valente, no Público de hoje, tem graça. Humor negro, mas é o que se pode arranjar.

«Segundo o dr. Cavaco, a China deve fazer de Portugal o seu “ponto de entrada” na Europa e poderemos por isso esperar daqui a pouco tempo dezenas de milhões de chineses a desembarcar por essa costa com biliões de coisas para vender à Finlândia ou à Dinamarca, a pretexto de que Sines fica mais perto dos mercados do que, por exemplo, Dover ou Southampton. E Cavaco não pára nesse pequenino “ponto”, quer também que Portugal sirva de intermediário entre Pequim e os PALOPS, que andam ansiosos por arranjar quem tome conta deles, para os defender da roubalheira geral do Ocidente. Esta parte “triângulo” da teoria mostra bem a profundidade de espírito do nosso inspirado Presidente.

Só que o sr. Xi, apresentado ao ilustre representante dos nossos navegadores, e pretendendo ser amável, puxou pela cabeça e, depois de muito puxar, saiu com um único nome: Ronaldo. (...) Na bruma, que certamente é o resto da terra para um mandarim, o sr. Xi não se lembrou de mais nada sobre Portugal. Na sua sereníssima cabeça, Portugal é Ronaldo e foi mesmo uma trabalheira para o convencer que o próprio Cavaco, apesar da sua idade avançada, não era Ronaldo.»