24.5.14

O dia da censura



«Hoje é o dia absurdo em que, mesmo que queira falar de certas coisas, não posso falar delas. Hoje é um dia em que há censura em nome do mesmo princípio com que houve censura durante quarenta e oito anos: proteger a paz dos espíritos dos portugueses para que eles se portem bem.

É um absurdo em democracia e este absurdo soma-se a outros que começam a impregnar o tempo e o modo das campanhas eleitorais, acrescentando-se à já enorme decadência daquilo que foi uma das conquistas da democracia – a possibilidade de fazer livremente propaganda das suas ideias, programas e pessoas. A culpa é de muita gente, do legislador em primeiro lugar, que podia mudar profundamente uma legislação eleitoral que já se revelou ultrapassada e perversa, e não o quer fazer porque isso prejudicaria os grandes partidos. É da Comissão Nacional de Eleições, que soma medidas contraditórias, algumas insensatas e caóticas, actuando pontualmente e sem nexo. É da comunicação social, que se revela muito tesa (e bem) para actuar em conjunto quando os seus interesses económicos estão em causa, e revela uma estranha complacência com esta forma de censura.

Significa que o faz por respeito pela lei? Nem isso, até porque a uma lei iníqua se pode responder com a desobediência cívica e custa-me a perceber por que razão a comunicação social recusa em conjunto esta forma de censura, que viola todos os critérios editoriais e jornalísticos, os únicos que deviam presidir à cobertura de uma campanha eleitoral.»

José Pacheco Pereira
(Não sei para quem funciona o link.)
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