1.4.17

Também pode ser Android


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Incongruências do discurso neo-europeísta



«É tudo menos honesto querer fazer uma discussão de quem está contra e a favor da "Europa", como se para sermos "europeus" tivéssemos que amar as políticas europeias e o sistema institucional tão pouco democrático da UE (onde pesa muito mais o BCE e a Comissão do que o Parlamento, o único dos órgãos eleitos e, por isso, o que menos poderes tem). (…) A UE não foi construída para implementar diferentes políticas económicas; ela é, em si mesma, uma só política económica, ideologicamente liberal, como se comprovou de forma tão evidente ao longo destes anos de crise. (…)

É, por isso, curioso que nos últimos dias nos queiram convencer em Bruxelas que o que está em causa acima de tudo são os direitos, a liberdade de circulação e o bem estar dos cidadãos europeus que vivem na Grã-Bretanha. Curioso porque a mesma Bruxelas e os mesmos governos europeus concederam há um ano ao governo britânico o direito de passar a discriminar os cidadãos europeus que residem no país, retirando-lhes o direito a qualquer prestação social nos primeiros quatro anos de residência, incumprindo todas as normas europeias. Para o fazerem, os britânicos xenófobos não precisavam de votar o "Brexit". Preocupados com os direitos cívicos dizem-se os mesmos governos europeus que expulsam regularmente cidadãos romenos, tão europeus quanto os demais, basicamente porque são ciganos. (…)

Escandaliza-se a Europa "europeísta" com as motivações xenófobas da metade dos britânicos que votou pela saída da UE e, dessa forma, pela limitação dos direitos dos estrangeiros - todos, não só os de outro continente ou de outra religião, mas também os europeus. Brancos, cristãos, bem comportados, presume-se. Mas isto signifca que os mesmos polacos que a tudo estão disponíveis para impedir a entrada de um só refugiado sírio no seu território se indignem hoje com os ataques que na rua sofrem imigrantes polacos nos subúrbios de Londres! Ou que o mesmo governo holandês que na última campanha eleitoral criticava o racista Wilders incluísse aquele Dijsselbloem tão transparentemente racista que nos descreve como uma estouvada cigarra que gastou todo o seu dinheiro em "mulheres e copos" e depois quer pedir ajuda às formiguinhas luteranas do Norte!

Se a batalha de Bruxelas fosse pelos direitos dos cidadãos, a popularidade da UE não andaria tão rasteirinha ao chão.»

Manuel Loff

31.3.17

Dica (518)




«The EU isn't setting out to punish Britain for leaving the bloc. But it is almost certain that the ultimate deal will be portrayed as such by Brexiteers. The reason is the completely unrealistic expectations harbored by the British.» 
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31.03.1974 – Há 43 anos foi assim



Recordado aqui.
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A guerra das rosas



«Theresa May assinou, na passada terça-feira, a carta que dá início ao Brexit. Como diria Paulo Portas, agora é irrevogável. A fotografia do momento da assinatura podia ter sido tirada em 1970. Dá a sensação que Theresa May foi roubar a roupa, os brincos e o colar à campa da Margaret Thatcher. Sinto falta da pena a assinar a carta. Aposto que a vai enviar por fax. Tudo cheira a Naftalina by Dior. (…)

A União Europeia sem o Reino Unido é como um sorriso sem um dente incisivo central superior. Perdemos o sentido de humor único dos ingleses e ficamos mais tristes nas mãos do humor alemão o que, por si só, é um oximoro. (…)

Não vai sair um divórcio amigável. A União Europeia vai exigir tudo o que puder exigir, quanto mais não seja pelo receio de perder o resto do harém. Perita em chantagens, como se viu no nosso caso, e no caso da Grécia, a UE irá fazer tudo para fazer a vida negra aos britânicos. Por outro lado, o Reino Unido está com a postura de quem diz - vou só comprar tabaco e já volto e depois nunca mais aparece.

Este divórcio vai ser uma espécie de Guerra das Rosas. Não falo da famosa Guerra das Rosas pela disputa do trono inglês entre os de York e os de Lancaster, mas do filme realizado por Danny De Vito, onde Michael Douglas e Kathleen Turner, um feliz casal de classe alta que, perante a vontade da parte da mulher de se divorciar, inicia um brutal e destrutivo conflito ao se deixar arrastar para um divórcio litigioso.

Numa sequência de cenas em crescendo e movidos por uma sede alucinante de vingança, e decisões idiotas, o casal vai acabar por destruir a sua fabula mansão e pertences com requintes de malvadez, acabando por se matarem um ao outro de forma violenta. O filme é uma parábola sobre a mesquinhez e a ganância dos seres humanos, e a fina linha que existe entre o amor e o ódio. Proponho que Theresa May e Donald Tusk, antes de começarem as negociações, assistam a esta obra genial de Danny de Vito.»

João Quadros

30.3.17

Um país, uma imagem (15)



Japão, 2005. Ilha de Miyajima, Santuário Itsukushima.
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Dica (517)



Taxing The Robots? (Robert Shiller) 
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Fronteiras fechadas para…?




«O controlo fronteiriço entrará em vigor às 00:00 do dia 10 e terminará às 00:00 do dia 14, apesar de o Papa Francisco só estar em Portugal entre as 16:20 de dia 12 e as 15:00 do dia seguinte.»

Ou seja: agradece-se que possíveis mal-intencionados (lobos solitários, por exemplo) entrem em Portugal até às 0:00 de 10 de Maio. É isso? 
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Fé por apenas 9 euros e 99



Ricardo Araújo Pereira na Visão de hoje:

«Como já tive oportunidade de confessar, não acredito que a mãe de Jesus tenha estado no concelho de Ourém em 1917. Em nenhum versículo dos evangelhos Nossa Senhora sugere, sequer, a intenção de visitar o Ribatejo. Não há uma referência elogiosa à lezíria, uma expressão de interesse pelas sonoridades do fandango, nada.»

Na íntegra AQUI.
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Aos abrigos!!!




«Esta quarta-feira, na presença da secretária de Estado, o presidente do Turismo de Portugal, Luís Araújo, assinou um memorando de entendimento com o maior operador turístico online chinês, C-Trip, para a promoção de Portugal enquanto destino para o mercado chinês. (…) A C-Trip tem 250 milhões de utilizadores registados (sensivelmente o mesmo número de falantes de Português no mundo).»
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30.03.1922 - E já que tanto se fala em aeroportos…



Não sobra por aí algum a que se possa dar o nome de Gago Coutinho e Sacadura Cabral? E, já agora, convidando um escultor para fazer os respectivos bustos, sem arriscar que acabem parecidos com Dr Jekyll e Mr Hyde ou com o Bucha e Estica?

Reza uma lista de efemérides que eles iniciaram a primeira travessia aérea do Atlântico Sul em 30 de Março de 1922 e que chegaram a Fernando Noronha, depois de várias etapas e muitas aventuras. No dia 11 de Maio, data deste exemplar de O Século, descolaram daquela ilha – e muitas outras peripécias se seguiram. O Editorial do jornal e uma série de textos que preenchem a primeira página são absolutamente extraordinários, tanto quanto a forma como quanto a conteúdo. Não resisto:

«Estua mais forte o sangue nos corações lusíadas. Uma aura emocional desprende-se das almas e flutua e adeja e liberta-se para o Alto, em ânsia e em êxtase.

Hora santificada esta. Hora terníssima e religiosa, em que o espírito da Raça ampara e impele as suas polarizações mais belas para um infinito de glória. (…)

De novo a mais bela aventura da nossa Raça, para uma das maiores de todas as idades, a águia lusitana se libra, fitando o Sol, desafiando os elementos, orgulhosamente, dominadoramente. (…)
E uma saudade há-de cair dolente sobre a pedra tumular dessa «Lusitânia» de Sonho. Rico sarcófago para uma ânsia de infinito – o Oceano! Digna lágea sepulcral essa dos Rochedos – que desafiam os séculos – para um Sonho grande – que assombrou o mundo!»

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29.3.17

Um país, uma imagem (14)



Canadá, 2008. Lago Louise e Glaciar Victoria, Parque Nacional de Banff.
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Hoje é o primeiro dia do resto da vida da UE



… qualquer que essa vida venha a ser. E nada leva a crer que seja feliz para sempre.
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Bombas más e bombas boas…




«Hundreds of Iraqi civilians have been killed inside their homes and in places where they sought refuge, after they were told to stay there by the Iraqi government during the offensive to recapture the city of Mosul from the armed group calling itself Islamic State (IS).

Shockingly, it looks like a large number of these deaths were caused by US-led coalition airstrikes, which Iraqi forces take part in organising - yet survivors and eyewitnesses in East Mosul said they did not try to flee because the Iraqi authorities repeatedly told them to stay in their homes.

This suggests the US and Iraqi governments did not take proper care to prevent civilian deaths – resulting in an appalling number of casualties.

This activity points to an alarming pattern of US-led coalition airstrikes that have destroyed whole houses with entire families inside over recent months. It cannot continue.

Act now and sign the petition to demand that the US-led coalition and Iraqi government launch an immediate and full investigation into the horrific death toll resulting from this operation – and prevent future civilian deaths.»

A várias velocidades



«Pela minha parte, desde a crise da Grécia concluí que a União se tornou um projecto falhado. Creio que a simultaneidade do início do processo formal do Brexit e a Cimeira de Roma só ilustra essa constatação: se afinal só sobram as “várias velocidades”, que ninguém sabe o que são, como se aplicam, quem incluem e quem excluem, que os chefes europeus façam pelo menos o favor de não nos maçar com discursos sobre os “valores” da Europa.»

Francisco Louçã

A Comissão Europeia anda a gozar connosco

O Brexit e o referendo escocês. Sonhos e pesadelos



«O Brexit vai avançar a toda a velocidade e o governo escocês, que preferia ficar na União Europeia, não acha graça. Por isso deseja convocar um novo referendo para saber se os escoceses querem sair do Reino Unido. Theresa May não achou piada às sugestões de Nicola Sturgeon e disse que a haver referendo só mais lá para finais de 2018 ou princípios de 2019, quando o processo do Brexit tiver terminado. (…)

Sobre o Brexit, William Hague, no "Daily Telegraph" argumenta: "Há quem ainda ache que o Brexit pode ser detido. Devemos mostrar que isto é a sério". E acrescenta: "Para os alemães parece ser tão inimaginável e ilógico deixar a UE que não conseguem acreditar que pessoas racionais como nós vamos nesse caminho". Bem interessante é a reflexão de Satyajit Das no "Independent": "O Brexit e Donald Trump prometeram soluções fáceis para problemas difíceis - mas o que acontecerá quando eles não as cumprirem? (…) O ingrediente político essencial de hoje não é a mudança, como muitos acreditam, mas a nostalgia. Os candidatos não tradicionais prometem restaurar uma idade de ouro da prosperidade, segurança e sociedades largamente homogéneas com valores partilhados". E acrescenta: "A Revolução Francesa não ocorreu quando as condições eram mais difíceis, mas quando a melhoria destas criaram expectativas melhores de progresso e mudança. Hoje as frágeis classes médias nos países desenvolvidos temem que o aumento dos seus níveis de vida esteja em risco".»

Fernando Sobral

28.3.17

Um país, uma imagem (13)



 Índia, 2010. UMA árvore – Howrah, The great banyan tree.
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Dica (516)




«Silvio Berlusconi’s tenure reminds us that the Left needs to attack the neoliberal center, not just the populist right.»
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Insuficiências


«Queriam que ficássemos mais pobres, e o país empobreceu. Queriam-nos mais flexíveis, mais baratos, e o país criou o seu batalhão de precários quinhentos-euristas. Queriam-nos mais dóceis, e o país aguentou. Aguentou a troika e o Governo Passos/Portas. Aguentou o ataque aos salários, os impostos e a humilhação. Porque em terra de cristãos a culpa não morre solteira, a preguiça é um pecado e os povos honrados pagam sempre as suas dívidas. Ou assim nos foi dito. (…)

Se excluirmos os juros, Portugal tem hoje o saldo orçamental mais elevado da Europa. Demasiado foi sacrificado para obter esse resultado, mas dizem-nos que não chega. O Banco Central Europeu quer agora sancionar o país pelos desequilíbrios macroeconómicos. É claro que não importa para esta história que, segundo as regras, o BCE não possa interferir com o poder político. E também não interessa que, segundo o mesmo procedimento que o BCE invoca, a Alemanha deveria ser multada. Sim, porque é tão desequilibrado o défice comercial em excesso como é o excedente predatório. Não interessa nada. A Alemanha é Alemanha, a França é a França, e em Portugal não chega.»

Mariana Mortágua

A mula da cooperativa


Esta não me sai hoje da cabeça. E por que raio é que passou a ser obrigatório dar nome de gente a aeroportos?


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Jogos sem Fronteiras



«Os célebres "Jogos sem Fronteiras", programa televisivo que teve muito sucesso em Portugal, nasceram alguns anos depois do Tratado de Roma. O criativo de serviço não estava habituado a pensar em formatos televisivos.

Chamava-se De Gaulle e era um general que, também por acaso, era Presidente de França. A sua ideia é que os divertidos jogos permitissem às juventudes alemãs e francesas reforçar a amizade. No fundo, era o lado fraterno da divisão política da futura Europa unida entre França e a Alemanha. A pouco e pouco, tal como a União Europeia, os "Jogos sem Fronteiras" alargaram-se a outros países até ao seu fim, pouco glorioso, em 1999. Os jogos bizarros acabaram por enfadar o público, farto de ver concorrentes a cair em piscinas. E as tentativas de os ressuscitar depararam com o problema europeu do costume: quem paga o delírio? A igualdade de circunstâncias entre os concorrentes alemães e franceses também se esfumou com o tempo: no fim, os alemães ganham sempre. Os "Jogos sem Fronteiras" dizem-nos muito sobre esta Europa burocrática que se celebra a si própria, com políticos que mais parecem estar a velar alguém em estado vegetativo do que a comemorar o futuro.

Não é para admirar: a "nomenklatura" europeia, sediada em Bruxelas e Frankfurt e tutelada por Berlim, procura apenas sobreviver. Para combater a crise financeira e as crescentes assimetrias tirou do bolso a austeridade militante, para resolver o problema da emigração decidiu pagar à Turquia para o fazer. Como se não bastasse, os líderes que decidem o que quer que seja estão ao nível do gongórico Dijsselbloem: são os melhores propagandistas do populismo latente. Porque se enganam os que acham que a extrema-direita holandesa foi derrotada: ela conseguiu a hegemonia cultural ao colocar os temas da emigração, da desigualdade e da identidade no centro do debate político. Os líderes europeus são praticantes deploráveis de uns "Jogos sem Fronteiras" que afectam a vida dos cidadãos. Tem tudo muito piada, mas já ninguém se diverte com isso.»

27.3.17

Um país, uma imagem (12)



Namíbia, 2007. Deserto visto de um pequeno avião.
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Dica (515)




«The debate about how to respond to the digital revolution in policy terms will be one of the crucial discussions in the years to come. Basic income is just one – and highly problematic for the reasons outlined here. There are also other ways to address this issue.»
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Aretha Franklin, 75



Aretha (Louise) Franklin nasceu em Memphis, em 25 de Março de 1942. Já houve quem a considerasse a maior cantora de todos os tempos, é certamente uma das muito grandes.

Em Fevereiro, anunciou que vai reformar-se, depois de 56 anos de carreira, não antes da edição de um novo álbum com produção de Stevie Wonder.

O seu último álbum (o trigésimo) – Aretha Franklin Sings the Great Diva Classics –foi publicado em Outubro de 2014.

A recordar:





Em 2014, na Casa Branca:


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Hino Fátima 2017


Não comento, não comento… Ou talvez sim: com isto, podíamos ter sucesso no Festival da Eurovisão.


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Agora, não “dormir sobre os louros”!




«Esta semana soube-se que o desempenho orçamental do país foi extraordinário. O défice público mais baixo desde há 46 anos (2,06% do PIB), não obstante uma factura com juros que é das mais elevadas da zona euro. Tal performance é excelente, mas é, em parte, perigosa. Porque poderá levar a acreditar que é possível cumprir o Tratado Orçamental, quando não o é.

Isto fundamentalmente porque o desempenho orçamental depende em grande medida do desempenho externo.

Ora, em 2016, pelo quinto ano consecutivo, a balança comercial do país será superavitária. Algo que não ocorria há muitas décadas, num país cronicamente deficitário nas suas trocas com o exterior ao longo de séculos. Estaremos perante um novo Portugal “alemão”?

Tivemos muita sorte (ou algum azar, dependendo da perspectiva) e beneficiámos de algum auxílio até à data. (…)

O desempenho da balança comercial é, aliás, um dos indicadores – em conjunto com a taxa de desemprego jovem e a evolução do valor dos salários – que evidenciam a pressão austeritária a que tem estado sujeita a economia portuguesa. Entre 1776 e 2011 – 236 anos – Portugal registou 7 anos de excedentes na balança de bens, os últimos dos quais em 1941-43 (não disponho nem existem, creio, séries históricas relativas à balança comercial antes de 1953). Entre 2012 e 2016, como referido, regista 5 anos consecutivos de excedentes na balança comercial.

Por conseguinte, os portugueses presentemente vivem um momento único na História do país, um momento em que Portugal parece a um “Portugal alemão”, com excedentes recorrentes na frente externa.

Mas (…) esse excedente da balança comercial é “comido” pelos juros e dividendos pagos ao exterior anualmente, que resulta numa balança de rendimento primário deficitária.

Assim, o bom desempenho das contas externas – que se deve também (ou, mesmo, sobretudo) ao esforço de contenção imposto à economia pela “brutal” travagem da procura interna (consumo e investimento) nas últimas duas décadas – não é utilizado para promover o desenvolvimento do país e as condições de vida dos portugueses. (…)

É, portanto, necessário aproveitar a actual envolvente externa favorável para adoptar medidas de médio e de longo prazo, que permitam, de uma vez por todas, deixar para trás a estagnação das últimas duas décadas…»

26.3.17

Um país, uma imagem (11)



Austrália, 2017. Cairns, Grande Barreira de Corais
(vista de um pequeno submarino)
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Dica (514)




«Instead of using a horrific terror attack to bolster prejudice, politicians should consider how Muslims in the west should be treated.» 
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Ide e lede




«The bad news is that Mr. Trump is succeeding. Fraudulent news stories, which used to be largely a right-wing phenomenon, are becoming increasingly popular among those who oppose the president. (I prefer not to add to the appeal of such stories by citing them, but an example is the string of widely shared items that purported to link every death of a more-or-less prominent Russian man to Russian interference in the election.) Each story dangles the promise of a secret that can explain the unimaginable. Each story comes with the ready justification that desperate times call for outrageous claims. But each story deals yet another blow to our fact-based reality, destroying the very fabric of politics that Mr. Trump so clearly disdains.»
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Rua com eles



«Depois da Holanda, temos eleições importantes na Bulgária, na França, na Alemanha e na República Checa, o pedido de saída do Reino Unido, efeitos simétricos dos resgates na Grécia e na Irlanda, manifestações na Roménia e inversões democráticas na Hungria e na Polónia, momentos independentistas em Espanha e incompatibilidades regionais acesas na Bélgica, perceções graves de insegurança no Báltico, instabilidade crónica em Itália, lados sombrios na Dinamarca e na Suécia, interesses pouco mediáticos em Malta, no Luxemburgo ou na Eslováquia, a Croácia e a Eslovénia a fugirem da tremedeira balcânica e o Chipre dividido enquanto vê a Turquia afastar-se fatalmente de Bruxelas. Mas não terá sido sempre em volta de constantes dúvidas existenciais que os europeus se foram integrando, numa cadência natural de ritmos nacionais e de alinhamentos forçados também pelo exterior? O nosso pior defeito tem sido o umbiguismo inebriante, perigoso etnocentrismo militante que nos tira perspectiva, relevância e influência. (…) É por isto que a história dos últimos 60 anos não pode ser reduzida a uns lirismos romantizados sobre o "projeto europeu", o "sonho dos pais fundadores" ou "solidariedade europeia". Foi muito mais cru, sujo e político do que isso. (…)

Feita de altos e baixos, avanços e recuos, a integração europeia não pode ser vendida como uma ilha de fantasia, um oásis funcionalista, um projeto identitário reservado, uma "potência normativa" exemplar. Ou mesmo uma criação "pós-moderna", a qual tem invariavelmente esbarrado na inadaptação a um mundo que permanece moderno, perigoso e agressivamente concorrencial. O umbiguismo e a soberba europeias têm cegado os decisores, esvaziado a natureza política e até tática da integração e respondido mal às angústias de quem cá está ou de quem quer para cá vir. Porque as crises internas e os eventos exteriores são o sangue que corre nas veias da Europa, o que precisamos é de políticos corajosos com senso e perspetiva histórica, não de proclamadores asséticos com horário de trabalho. Por isso, rua com eles e viva a Europa.»