A notícia é conhecida e amplamente divulgada: depois de muitas ameaças e de alguns pré-anúncios, o Google recusou submeter-se à censura imposta pelas autoridades de Pequim, tendo estado, na origem próxima desta decisão, ataques de
hackers a alguns dos seus servidores. Pelo meio, alguns protestos e tentativas de conciliação, como
uma carta de internautas dirigida ao governo chinês e à direcção do Google.
A partir de agora, ou se utiliza o motor de busca em inglês, ou se é dirigido automaticamente para servidores localizados em Hong Kong, com acesso a conteúdos não censurados.
Aplausos? Sim, e obviamente, porque está em causa o permanente ataque à liberdade de expressão por parte das autoridades chinesas, nunca suficientemente denunciado. Nem por isso, já que me parece haver aqui, talvez acima de qualquer outro objectivo, uma muito bem orquestrada campanha de marketing do Google.
Antes de mais, porque é óbvio que poderão ser utilizados firewalls – e sê-lo-ão - para bloquear o acesso a tudo o que até aqui foi considerável indesejável, esteja a informação em Hong Kong ou em Freixo de Espada à Cinta. Parece-me estarmos portanto perante um wishful thinking, de inocência pouco provável, quando o Google afirma esperar que o governo chinês respeite esta sua operação e não filtre a informação.
Em segundo lugar, porque se a presença do Google no mercado chinês dos motores de busca não é de desprezar (cerca de 30% segundo algumas fontes, muito menos segundo outras), a de
Baidu.com é pelo menos o dobro (ocupando mesmo já o terceiro lugar a nível mundial – Wikipedia dixit). O impacto desta retirada é assim grave mas não dramático.
Finalmente, porque não há almoços grátis e esta tomada de posição traz dividendos. Na China, sem dúvida, mas também nos Estados Unidos (onde os aplausos já se fazem sentir e esta atitude pioneira impõe protagonismo junto da Microsoft e de outros) e no resto do mundo - sensível e virtuoso como sempre.
P.S. - O
esquerda.net noticia detalhadamente o acontecimento. Mas tem alguma opinião sobre o assunto?