19.12.15

Espanha – Sondagem desta noite



A divulgação de resultados de sondagens para as eleições de amanhã estão proibidas desde há alguns dias, mas continuaram a ser conhecidas via Andorra, num divertido «mercado de frutas». Hoje, às 22h, foi conhecida a última, mostrada na imagem.

(Claro que é necessário interpretar as peças de fruta. Por ordem decrescente: PP, Podemos, PSOE, Ciudadanos, Isq.Unida.) 
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Piaf, 100



Até os meios de comunicação portugueses referem que Édith Piaf nasceu em 19 de Dezembro de 1915, quando aposto que não é elevada a percentagem de portugueses que sabem que ela alguma vez existiu. Mas Piaf colou-se para sempre à pele da minha geração e de algumas outras, como tantos cantores sobretudo franceses, quando este país era quase tão sombrio como os vestidos pretos que ela nunca largou.

Acrescento uma nota pessoal: acabada de regressar de Portugal, onde tinha vivido a primeira parte da crise académica de 1962, eu vi-a e ouvi-a em Lovaina, no mesmo dia (vim a sabê-lo algumas horas mais tarde) em que 1.500 estudantes foram presos na Cantina da Cidade Universitária de Lisboa. Para mim, e certamente apenas para mim, ela ficou para sempre ligada a um acontecimento com o qual nada teve a ver.

O centenário é hoje muito celebrado, sobretudo em França. Vale muito a pena visitar este site de ina.fr para recordar muitas suas canções e dar uma olhadela ao Twitter (#EdithPiaf). Por aqui, ficam algumas das que não saem do meu baú.








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José Dias Coelho



Foi assassinado pela PIDE no dia 19 de Dezembro de 1961.


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Um activo tóxico



Excertos de um texto de José Pacheco Pereira no Público de hoje, no qual leio, finalmente, o que eu própria penso sobre o caso Sócrates depois da sua última prestação televisiva.

«Quando Sócrates passou para a mó de baixo e foi preso, os aduladores transformaram-se em acusadores e os mesmos, ou quase os mesmos, vão lá à trincheira funda onde ele está, e levam a pedra para o lapidar. Detesto isto e, depois de ter sido um dos mais duros críticos de Sócrates (quando, convém lembrar, os dirigentes do PSD de Passos e Relvas, o protegiam), fiquei bastante em silêncio quando bater-lhe se tornou “politicamente correcto”. Não gosto de bater em quem está vencido e perseguido. E Sócrates estava e está vencido (mesmo que ele e os seus fãs não acreditem) e era então perseguido. Penso que ele tem legítimas razões de queixa contra o modo como a Justiça o tratou, abusando dos seus poderes e actuando ad hominem, bem como contra a campanha na comunicação baseada em fugas de informação orientadas, misturando informação relevante com trivialidades interpretadas de modo persecutório.

Mas, atenção, quando José Sócrates liberto passa de novo ao “ataque” dando entrevistas de grande destaque, em que não só fala de política como dá continuidade e um alcance cada vez mais vasto à interpretação política do seu processo, assim como pretende responder a alguns factos de que é acusado, então deixa de ser o homem da mó de baixo, para se tornar um parceiro activo da vida política portuguesa, e, do meu ponto de vista, de forma tóxica e inaceitável na sua jactância e no insulto que faz nas suas “explicações” à inteligência de qualquer português. Isso significa que já não me sinto limitado pela minha reserva de ir bater num homem que estava coarctado de liberdade e com quem qualquer debate e crítica seria desigual e punitivo. Agora estamos de novo perante o “animal político” e esse “animal” quer morder-nos, pelo que penso ser necessário caçá-lo, sejam quais forem as conclusões do processo judicial —porque, do que ele diz, ele não está inocente. (...)

Há um enorme conjunto de factos que não são controversos, e que ele mesmo admite que são verdadeiros, que o acusam do ponto de vista do comportamento cívico que é exigível para quem pretende ter uma vida política sem limitações, que levantam legítimas suspeitas de práticas inaceitáveis num antigo primeiro-ministro, de infracções fiscais e, se se vier a provar em tribunal, de crimes. E as “respostas” que ele dá não só não convencem ninguém, o que em si poderia não pôr em causa a sua veracidade, mas são completamente implausíveis e não são, na maioria dos casos, sequer respostas. (...)

Nem vale a pena perder tempo para refutar a implausibilidade de alguém que vive por conta de um “amigo de infância”, que é um “grande empresário”, e que em tempo de vacas magras para todos, a começar pela maioria das empresas, tem dinheiro a rodos para “emprestar” ao amigo sem sequer anotar o valor total, como quem recebe não sabe quanto lhe é emprestado, que, vivendo de dinheiro emprestado pela banca e pelo amigo, vive uma vida faustosa — e pode-se dizer que o conceito de “faustoso” é dúbio num país pobre, mas neste caso é tudo menos dúbio — e não se percebe como lhes vai pagar, que tem uns empregos de lobbyista internacional e de consultadoria, que infelizmente não são únicos no nosso sistema político, mas nem por isso deixam de ser tributários da influência e dos conhecimentos.

Eu não sei se Sócrates é corrupto ou não e, seja qual for a minha convicção, ela em si não vale nada, e o tribunal o dirá, mas sei que em toda a sua vida política, como já o escrevi há muitos anos, sempre que se tropeça numa pedra, sai de lá José Sócrates. Foi assim com a licenciatura, com as marquises feitas sempre na terra do lado, com múltiplas decisões como ministro do Ambiente e depois primeiro-ministro, com a tentativa bem real de controlar a comunicação social usando os meios e a influência do Governo, com mil e uma coisas não explicadas e ou suportadas em mentiras. (...)

O que é tóxico em Sócrates é que a sua postura pública, e as cumplicidades que a suportam, representa objectivamente a indiferença nos partidos face a condutas reprováveis no sistema político português e explicam o crescente divórcio entre os portugueses e os partidos e a democracia, e isolam e estigmatizam a mais que necessária luta que é preciso ter contra a corrupção.» 
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18.12.15

Irresistível


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A primeira machadada no império – Índia, 1961



Foi na manhã de 17 de Dezembro de 1961 que tiveram início as operações militares que levaram à ocupação da cidade de Pangim, capital de Goa, na noite do dia seguinte. O «império português» levou então uma grande machadada com a anexação de parte do seu território pela União Indiana. Lembro-me bem da consternação, quase generalizada, que os acontecimentos provocaram no país, mesmo em meios da oposição. Houve algum tempo depois uma peregrinação a pé a Fátima (julgo que para que os céus nos devolvessem a «católica» Goa) e que o meu pai, ateu empedernido, me disse que me autorizava a ir. Mas não fui, não...

Os factos são conhecidos mas vale talvez a pena recordar o célebre discurso que Salazar fez na Assembleia Nacional, em 3 de Janeiro de 1962 (*). É um longo elogio (de 24 páginas A5) ao «pequeno país» que manteve o seu território «com sacrifícios ingentes», ignorados e combatidos por quase todos e, antes de mais, pela ONU, desde sempre objecto de um ódio muito especial.

Ficam algumas passagens a começar pela primeira frase do texto: «Não costumo escrever para a História e sinto ter de fazê-lo hoje, mas a Nação tem pleno direito de saber como e porque se encontra despojada do estado Português da Índia». Mais: «Não sei se seremos o primeiro país a abandonar as Nações Unidas, mas estaremos certamente entre os primeiros. E entretanto recusar-lhes-emos a colaboração que não seja do nosso interesse directo.» Há que perguntar se vamos no bom caminho «quando se confiam os destinos da comunidade internacional a maiorias que definem a política que os outros têm de pagar e de sofrer».

Amplamente conhecida é a frase que encerra o discurso: «Toda a Nação sente na sua carne e no seu espírito a tragédia que se tem vivido, e vivê-la no seu seio é ainda uma consolação, embora pequena, para quem desejara morrer com ela.»

(*) Estava afónico «com as emoções das últimas semanas» e quem o leu, de facto, foi Mário de Figueiredo. 
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Espanha, a três dias



A divulgação de sondagens está proibida desde terça-feira, but we always have Andorra.
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Lesados do BPNESANIF



«Lá vamos nós, outra vez. Agora é o Banif. Passamos de pátria de navegadores a país de socorros a náufragos da banca. Afinal, sobre a estabilidade do sistema financeiro, não era ao António Costa que o Cavaco tinha que pedir garantias. Era ao outro Costa.

Já sabemos que o BES não é o BPN, e que o Banif não vai ser o BES e não tem nada a ver com o BPN. Cada caso é um caso mas acabam todos na mesma: pagamos nós.

Eu estou farto de ter bancos. Começa a ser demasiado. Já salvava um "snack-bar" só para variar. Sempre bancos, acaba por ser dispendioso e monótono. Preferia tentar salvar o rinoceronte branco da extinção que o centauro do Banif. Nós somos a parte besta do símbolo do Banif. (...)

Para muitos não é surpresa. O Banif é mais uma prenda deixada pelos recém-separados PàF e pelo seu mordomo no Banco de Portugal. Agora divorciam-se e ninguém tem culpa. Acho que o país não aguenta mais uns lesados da banca. - "Vais à manif do Banif?" - "Não posso, tenho lesados do BES às oito". Não se pode viver assim.

Segundo as notícias, o Banif tinha interessados na compra, mas o anterior Governo não avançou com concurso. O Sérgio Monteiro não tem tempo para tudo. Era de esperar que o anterior Governo, de Passos e Portas, responsável, entre outros, pela reforma do Estado e pela venda do Novo Banco, tivesse deixado uma solução para o problema, como por exemplo, uma subscrição pública para ajudar na defesa dos lesados do Banif. Ou então, se calhar, a opção do ex-Governo foi deixar correr. Eles não nos pagam, "é dinheiro que está a render", como disse o ex-PM. Portanto, enquanto eles não nos pagarem é dinheiro que rende a bom juro. Só temos de esperar e ficamos ricos.»

João Quadros

17.12.15

Antes dos smartphones

Anestesia linguística



Ricardo Araújo Pereira na Visão de hoje:

«Toda a gente já percebeu que a vida, em inglês, é mais fácil. As coisas passam a ser outras coisas, embora continuem a ser as mesmas. (...)
Quem trabalha são os trabalhadores, e não há trabalhadores desde a Revolução Industrial. Há project managers, web designers, sales assistants e controllers. Esta gente não vai beber um copo a seguir ao trabalho. vai a um sunset. (...)
Ninguém dá crédito nem atenção a um grupo de pessoas que esteja a tentar começar um negócio, a ver se pega. Mas se o mesmo grupo de pessoas se dedicar a montar uma start-up, será convidada a integrar uma incubadora, com vista à formação de clusters estratégicos que contribuam para a federação de players.»

Na íntegra AQUI.
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Dica (186)



Os vistos e os escondidos. (Mariana Mortágua) 

«Os vistos gold são como os offshores. O problema não está no abuso, mas na sua existência, já que ambos os regimes foram criados para facilitar o abuso.» 
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Marcelo e Shirley Temple



«Muitos anos depois de ter sido uma das crianças-prodígio de Hollywood, Shirley Temple recordou um dos seus dias mais dramáticos: "Eu deixei de acreditar no Pai Natal quando tinha seis anos. A minha mãe levou-me a um centro comercial e ele pediu-me um autógrafo".

Shirley Temple era mais conhecida do que o Pai Natal, e os seus autógrafos eram ouro. Talvez esse seja o grande dilema de Marcelo Rebelo de Sousa: em Portugal é, segundo alguns, mais conhecido do que o Pai Natal e ninguém duvida que ele é o candidato com mais hipóteses de ocupar o posto de Presidente da República em Belém. Maria de Belém ou Sampaio da Nóvoa são menos conhecidos do que o Pai Natal ou Shirley Temple, mas isso também não lhes tira hipóteses. (...)

Vivem-se tempos bem diferentes de quando Shirley Temple cantava a inocente "On the Good Ship Lollipop": o Banif e o sector financeiro mostram dias tempestuosos e de insegurança. Aqueles que Maria Luís Albuquerque e Cavaco Silva diziam ser de sol e de "cofres cheios". A política está de volta. Mas as finanças não se foram embora.»

Fernando Sobral

16.12.15

A coligação acabou – R.I.P.

Marisa Matias, candidata



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José Pacheco Pereira não apoia nenhum candidato a PR

Dica (185)



The Great Greek Bank Robbery. (Yanis Varoufakis) 

 «Since 2008, bank bailouts have entailed a significant transfer of private losses to taxpayers in Europe and the United States. The latest Greek bank bailout constitutes a cautionary tale about how politics – in this case, Europe’s – is geared toward maximizing public losses for questionable private benefits.»
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A voz constipada



«Há quem diga que, quando Frank Sinatra abria a boca, até Deus se calava. Um exagero, talvez. Mas o dono da voz do outro mundo foi um dia surpreendido, sem dizer nada, com um copo de "bourbon" numa mão e um cigarro na outra.

Gay Talese, na "Esquire" viu tudo e escreveu uma reportagem célebre: "Frank Sinatra está resfriado". Na política portuguesa ninguém tem a voz de Sinatra, capaz de calar tudo e todos. Não se poderia esperar tanto: neste sítio os silêncios valem mais do que as afirmações, os olhares iludem cumplicidades antigas, o risco é inimigo da frontalidade. Aqui todos parecem constipados. Sempre.

Carlos Costa não é, nem nunca poderia ser, Frank Sinatra. O mistério que encontramos nas baladas que este cantava não se encontra nas frases do Governador do Banco de Portugal ao longo dos anos. Estas não têm orquestração: são áridas e desinteressantes. Onde Sinatra empolgava, Carlos Costa provoca a compreensão. Sinatra enfrentava os fãs. Carlos Costa esconde-se dos microfones. É certo que Sinatra nunca teve um Novo Banco ou um Banif para resolver. Mas tinha Las Vegas, onde toda a vida sempre foi um jogo. Sinatra constipava-se, uma vez ou outra.

Há muito que Carlos Costa parece viver com a voz resfriada. E, neste momento, ouvi-lo era fulcral. Compreende-se que Carlos Costa não possa emocionar-nos com uma versão de "That's Life", mas poderia tentar surpreender-nos, recitando "My Way". Para percebermos o que tem andado a fazer o BdP nestes últimos tempos, à volta do Novo Banco e do Banif.

Carlos Costa, depois da saída de Maria Luís Albuquerque, deixou de ter uma orquestra empolgante que lhe garantia uma voz perfeita. Não teve a sorte, como Sinatra, de ter um orquestrador como Nelson Riddle para lhe envolver a voz. Ainda assim, neste momento que não é para "swinging lovers", precisava-se de uma voz potente para fazer repousar os ânimos e evitar o nervosismo. Mas o problema é que encontramos, neste momento, um Governador do Banco de Portugal constipado. E sem voz.»

Fernando Sobral

15.12.15

New York, New York




Primeiras décadas do séc. XX.
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Gone with the Wind

Marcelo Rebelo de Sousa, criador de passados



Não valeria a pena recordar factos antigos e de importância secundária, não se desse o caso de Marcelo Rebelo de Sousa nos «prometer» que será presidente desta República dentro de algumas semanas e de isso constituir um perigo real.

Eu tenho uma história para contar sobre a sua veia criativa, não só de futuros possíveis mas também de passados fluidos ou mesmo inexistentes. Ou, se se preferir, sobre a sua enorme capacidade de inventar sempre o lugar em que fique melhor na paisagem. Trata-se de características talvez «louváveis» mas um tanto perigosas quando se tem na mão as rédeas de um país.

Em Março de 2008, uma jornalista do Público inquiriu um grande grupo de pessoas, do qual fiz parte, sobre a forma como tinham reagido à leitura, na Torre do Tombo, dos processos elaborados pela PIDE a seu respeito. Do referido grupo fazia parte MRS e algumas das suas declarações foram extraordinárias pela imaginação que revelavam. (O dossier está online, com destaque, a vermelho, para o que se refere a MRS, mas copio para aqui um excerto)

«O professor de Direito e conhecido comentador televisivo descobriu que foi vigiado de perto a partir da altura em que entrou para a Faculdade de Direito: "Penso que nasci para a PIDE aos 16 anos." O pai de Marcelo, Baltazar Rebelo de Sousa, foi governador-geral de Moçambique, ministro da Saúde e depois do Ultramar. Era um dignitário do regime, o que nunca era esquecido nas anotações que a PIDE fazia sobre o filho, que alinhava pela oposição liberal.

Uma aproximação à descrição que era feita dele nas notas da polícia: "Fulano de tal [eu], que tem ideias perigosas, por sinal filho de Sua Excelência o Sr. Governador ou Ministro, consoante as alturas, estava a distribuir propaganda subversiva no dia x às tantas horas" ou a "colar cartazes" - o que se fazia de madrugada, mas nem por isso deixavam de aparecer as horas certas mencionadas.»

As reacções não se fizeram esperar, primeiro no blogue de Vítor Dias «O Tempo das Cerejas» (que, por azar tecnológico, deixou de estar acessível na sua primeira versão), depois neste, em cadeias de mails trocados com a jornalista que elaborou o dossier, finalmente em cartas ao director do jornal, de Vítor Dias e minha, que foram publicadas pelo menos parcialmente.

Retomo parte do que então escrevi:

É natural que MRS tenha processos abertos na PIDE e que lá estejam alguns dos factos que vêm relatados no Público. Mas não todos. Choca, sobretudo, a impressão geral de história oposicionista que quer deixar no leitor. Ninguém é obrigado a ter passados "com bom aspecto", o que não vale é burilá-los.

Por exemplo: MRS diz que «nasceu para a PIDE» aos 16 anos (em 1964, portanto) porque, enquanto o pai era dignitário do regime, ele pertencia à «oposição liberal». Oposição liberal em 1964? Alguém se lembra do que poderá ter sido? Se pretende referir-se à ala liberal de Marcelo Caetano, essa só nasceu uns cinco anos mais tarde.

Diz também que a PIDE registou que ele, de «ideias perigosas», era visto a colar cartazes e a distribuir propaganda subversiva de madrugada. Cartazes? Como escreveu Vítor Dias, só se fossem recreativos. Outros só foram permitidos, e poucos, nas campanhas eleitorais de 1969 e de 1973 e, aí, ninguém viu MRS do lado das oposições – nem a PIDE! Propaganda subversiva? De que organizações: do PCP, maoistas? Dos católicos progressistas, garanto eu que não eram. Etc., etc., etc.

MRS acabou por responder, em carta ao jornal, na qual referia que as «actividades subversivas» a que aludira se relacionavam com uma associação estudantil, denominada ADOC (???), a que pertencera.

N.B. – José Pacheco Pereira reuniu quase todos os textos desta polémica, que os mais curiosos podem ler AQUI.
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Ninguém há-de calar a voz do MRPP



Confesso que não estava psicologicamente preparada para ler textos como este, escrito pelo grande educador do início dos anos 70, Arnaldo Matos, a propósito dos acontecimentos de Paris.


Um «cheirinho»:

«E atenção: não só não foi um massacre, como foi um acto legítimo de guerra; não foi cometido por islamitas, mas por jiadistas, isto é, combatentes dos povos explorados e oprimidos pelo imperialismo, nomeadamente francês; e acima de tudo – coisa que estes revisionistas de pacotilha intentam ocultar – foi praticado por franceses, nascidos em França, vivendo em São Dinis e noutros bairros do Paris suburbano. (...)

Os atacantes de Paris nem chocolates roubaram: levaram a guerra aos franceses, apenas para acordá-los: para lembrar-lhes que o governo e as forças armadas do imperialismo francês estão, em nome da França e dos franceses que julgam ter o direito de se poderem divertir impunemente no Bataclan, a matar, a massacrar, a aterrorizar com crueldade inenarrável os povos do mundo.»
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Uma prenda de Natal



«Quando a situação se começa a deteriorar costuma dizer-se, parafraseando Shakespeare em "Hamlet", que: "Há algo de podre no reino da Dinamarca". E a Dinamarca, por estes dias, chama-se Banif.

Como nos próximos poderá chamar-se Novo Banco. Duas caixas de Pandora deixadas por Maria Luís Albuquerque nas mãos de Mário Centeno como prenda de Natal. Como adenda está incluído o cartão de desculpas: o Banco de Portugal dirá que nada teve a ver com o estudo da venda do Banif ou, sequer, com uma solução que vai sugar mais dinheiro dos contribuintes.

Nada de admirar: desde a chegada da troika que as relações entre o Estado, o BdP e os bancos anémicos são um segredo de Polichinelo: parte do dinheiro era para tornar saudável o sector financeiro. Foi? (...)

Esta prenda de Natal, deixada à porta do ministério das Finanças, não deixa no entanto de fazer esquecer um elefante que está de quarentena: o Novo Banco. E que está parqueado no Banco de Portugal e no Fundo de Resolução que este gere. A eloquência gongórica de Carlos Costa não dissipará para sempre as nuvens ameaçadoras que esse problema transporta. Até porque, neste caso, o BdP deixou de ser o mordomo protector do ministério das Finanças: está na mira deste.»

Fernando Sobral
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14.12.15

Dica (184)




«There were no winners in an election that consisted of establishment parties running around at the last minute trying desperately to outwit what they warned was a racist, xenophobic, Islamophobic and overwhelmingly dangerous party. (...)

Even if the FN has failed to win overall control of a region – just as it had failed to win overall control of any smaller local départements earlier this year – its broad trajectory is on the up.» 
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«Regressar» a Gabriel García Márquez



Há três anos eu estava em Arataca, na Colômbia, a terra onde nasceu Gabriel García Márquez e na qual se inspirou para criar a mítica aldeia de Macondo, em Cem anos de solidão. Foi mais um dia inesquecível, entre mais uns tantos, que tenho coleccionado em digressões várias por esse mundo fora. Retomo, em parte, o que então escrevi.

Aracataca é hoje uma localidade de 45.000 habitantes, feia, desmazelada, que não honra como devia o que de mais importante deu ao mundo, a não ser pela (boa) conservação da moradia em que «Gabo» nasceu, actualmente transformada num pequeno museu que justifica, sem dúvida, o desvio e a visita. Trata-se da casa dos avós, com quem viveu até aos 10 anos e que o marcaram profundamente. Família desafogada que não aprovou o casamento da filha com um simples telegrafista e que, por esse motivo, guardou a custódia do neto.

No museu, vêem-se as várias divisões da antiga habitação, documentadas com muitas citações de obras de GGM, sobretudo do primeiro volume da sua autobiografia – Vivir para contarla –, ao qual, infelizmente, não se seguiu nenhum outro.

«Gabo» foi pela última vez a Aracataca em 2007, para uma tripla comemoração: dos seus 80 anos, do 40º aniversário da publicação de Cem anos de solidão e do 25º da atribuição do Nobel da Literatura.

Ao pôr os pés em Aracataca, está-se sempre à espera de reencontrar algum membro da família Buendía ao virar de uma esquina, um qualquer José Arcádio ou um dos muitos Aurelianos…




(A escola primária frequentada por GGM)


(A Casa do Telégrafo, onde trabalhava o pai de GGM)
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Argel, «esta é a Voz da Liberdade»



Por razões de memória histórica e não só, há anos que procurava gravações da Rádio Voz da Liberdade durante os anos do fascismo, rasto das emissões que tantas vezes procurava ouvir, umas vezes com sucesso outras sem ele, com som mais ou menos roufenho mas sempre acolhido com emoção. Mais: há bem pouco tempo tentei mesmo encontrar algumas, a pedido de alguém que instalava o Museu do Aljube onde até à data não existem nenhumas.

Eis senão quando, numa conversa acidental, descobri há dois dias que um amigo tem muitas, feitas por ele e em excelente estado, com acabei de comprovar pela primeira que me enviou: uma verdadeira pérola que data certamente do dia em que Salazar morreu (era segunda-feira, nesse 27 de Julho de 1970, um dos dias da semana em que a Rádio emitia) e onde se dá conta também, entre outras notícias, do acidente aéreo em que morreram quatro deputados da ala liberal, ocorrido dois dias antes.



(Já vai a caminho do Museu do Aljube, com todos os agradecimentos e créditos atribuídos ao meu amigo Alexandre Romeiras.)
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Entretanto em Espanha



Hoje é o último dia em que é permitida a divulgação de sondagens relativas às eleições do próximo Domingo.
Em relação à última sondagem da mesma empresa ( de 30/11): PP subiu 2,6%, PSOE baixou 1,5%, Podemos subiu 2% e Ciudadanos desceu 4,4%.

(Fonte)

O PSD «recomenda»...



«O País, não tendo a possibilidade de (...) cativar Jar Jar Binks, o célebre militar e político de Gungan, requisitado para o novo episódio da "Guerra das Estrelas", tem de se contentar com candidatos mais mundanos para o cargo de Presidente da República. Todos têm virtudes e defeitos. E ainda bem que assim é. Mas isso não impede de termos assistido a um episódio de comédia, como se PSD e CDS, em vez de estarem a apoiar Marcelo Rebelo de Sousa, estarem a declarar o seu apoio a Jar Jar Binks. O PSD, nesse aspecto, tornou-se um George Lucas em versão Groucho Marx: "recomenda" Marcelo, o que aparenta ser um apoio ao estilo "já que não há camarão podem servir tremoços". E, depois, realça a razão fulcral da sua murcha "recomendação": Marcelo é "a favor da Europa e da NATO".

Como lógica de escolha é inabalável, revelando convicções ideológicas profundas. Só faltou acrescentar: "é contra o Governo de António Costa, o Pacto de Varsóvia e recusa usar gravatas vermelhas". Ao apoiar assim Marcelo o PSD parece querer que ele não ganhe votos à esquerda. E perca.»

Fernando Sobral

13.12.15

Dica (183)




«Paul Krugman comments that Portugal can be a situation where its aging population, combined with a large outflow of younger people due to high unemployment, can lead to an ever worsening financial situation where fewer workers are left to support a larger debt and non-working population.» 
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Vive la France




...e a «derrota» da Frente Nacional que não conseguiu ganhar em nenhuma das 13 regiões.
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Sampaio da Nóvoa, candidato do centro



«Eu estou sempre no mesmo lugar. E o meu lugar é um lugar de independência, é um lugar de uma grande serenidade, é um lugar do centro, é um lugar de falar para toda a gente.» (Sampaio da Nóvoa)

(Ouvido aqui.)
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A Espanha no seu labirinto



A uma semana das eleições, uma sondagem revelou ontem estas previsões (PSOE em 4º lugar, atrás de Podemos). 

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Marisa Matias



Ontem na TVI24, Marisa Matias, bem diferente de outros candidatos, sem calculismos nem papas na língua. A entrevista pode ser vista AQUI (ou, «rebobinando» em televisão: 12.12.2015, início às 21h14). 
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