Foi na manhã de 17 de Dezembro de 1961 que tiveram início as operações militares que levaram à ocupação da cidade de Pangim, capital de Goa, na noite do dia seguinte. O «império português» levou então uma grande machadada com a anexação de parte do seu território pela União Indiana. Lembro-me bem da consternação, quase generalizada, que os acontecimentos provocaram no país, mesmo em meios da oposição. Houve algum tempo depois uma peregrinação a pé a Fátima (julgo que para que os céus nos devolvessem a «católica» Goa) e que o meu pai, ateu empedernido, me disse que me autorizava a ir. Mas não fui, não...
Os factos são conhecidos mas vale talvez a pena recordar o célebre discurso que Salazar fez na Assembleia Nacional, em 3 de Janeiro de 1962 (*). É um longo elogio (de 24 páginas A5) ao «pequeno país» que manteve o seu território «com sacrifícios ingentes», ignorados e combatidos por quase todos e, antes de mais, pela ONU, desde sempre objecto de um ódio muito especial.
Ficam algumas passagens a começar pela primeira frase do texto: «Não costumo escrever para a História e sinto ter de fazê-lo hoje, mas a Nação tem pleno direito de saber como e porque se encontra despojada do estado Português da Índia». Mais: «Não sei se seremos o primeiro país a abandonar as Nações Unidas, mas estaremos certamente entre os primeiros. E entretanto recusar-lhes-emos a colaboração que não seja do nosso interesse directo.» Há que perguntar se vamos no bom caminho «quando se confiam os destinos da comunidade internacional a maiorias que definem a política que os outros têm de pagar e de sofrer».
Amplamente conhecida é a frase que encerra o discurso: «Toda a Nação sente na sua carne e no seu espírito a tragédia que se tem vivido, e vivê-la no seu seio é ainda uma consolação, embora pequena, para quem desejara morrer com ela.»
(*) Estava afónico «com as emoções das últimas semanas» e quem o leu, de facto, foi Mário de Figueiredo.
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1 comments:
Na altura era eu adolescente em Luanda e causou-me então perplexidade o facto dos jornais noticiarem a existência de heróicas bolsas de resistência no chamado Estado da Índia semanas depois da invasão, dada a evidente desporpoção das forças. O futuro revelou-me que não passava de propaganda governamental como se me revelaram como mentiras a multirracialidade e a existência dum Portugal do Minho a Timor. 1961 foi o início do fim, depois dos ent5ã silenciados massacres perpretados pelos portugueses na Baixa do Cassange a que se seguiram o 4 de Fevereiro e o 15 de Março
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