31.12.16
Há 48 anos «comemorámos» assim, hoje festejamos, amanhã não sabemos
Francisco Fanhais cantou pela primeira vez a Cantata da Paz, com letra de Sophia Mello Breyner, numa vigília contra a guerra colonial.
Ler AQUI.
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A ascensão da nova ignorância
José Pacheco Pereira no Público de hoje:
«Entre os temas tabu dos nossos dias está a ignorância. Parece que falar da ignorância coloca logo quem o faz numa situação de arrogância intelectual, o que inibe muita gente de a nomear. Mas não há muita razão para se enfiar essa carapuça, tanto mais que o problema é enorme e está a agravar-se e a assumir novas formas, socialmente agressivas. Acompanha outro tipo de fenómenos como o populismo, a chamada “pós-verdade”, a circulação indiferenciada de notícias falsas, e, o que é mais grave, a indiferença sobre a sua verificação. Não explica, nem é a causa de nenhum destes fenómenos, mas é sua parente próxima e faz parte da mesma família. É, repetindo uma fórmula que já usei, como se de repente se deixasse de ir ao médico, e se passasse a ir ao curandeiro. (…)
A ignorância pode ser descrita como a pobreza, cujos efeitos e condições de superação são exactamente do mesmo tipo. A ignorância é uma forma de pobreza e o seu crescimento acentua a pobreza em geral e, mais do que a pobreza, a exclusão e a diferenciação social. É até um dos mecanismos mais eficazes para aumentar a distância entre pobres e ricos, e para estabilizar um statu quo nos pobres, que, como a droga, tem efeitos de satisfação instantânea, de paraíso artificial, ou, se se quiser de “ópio do povo”.
Faço uma distinção entre aquilo a que chamo “a antiga ignorância” e “a nova”. A antiga tem muito que ver com a baixa qualificação profissional, com a insuficiente escolaridade, com a má qualidade de muitas escolas, sem meios, sem professores preparados, com o analfabetismo funcional. (…) O facto de haver um modismo tecnológico e se confundir a utilização de gadgets, aliás bastante rudimentar, com um novo saber, que implica novas competências, esconde essa regra básica de que as literacias para os usar vêm do sistema escolar a montante e a possibilidade de os usar para uma melhoria social só existe a jusante se acompanhar uma evolução social que não se está a verificar. Mais do que uma evolução, há uma involução.(…)
Nada é mais significativo e deprimente do que ver numa entrada de uma escola, ou num restaurante popular, ou na rua, pessoas que estão juntas, mas que quase não se falam, e estão atentas ao telemóvel, mandando mensagens, enviando fotografias, vendo a sua página de Facebook, centenas de vezes por dia. Que vida pode sobrar?
Ainda há-de alguém convencer-me que este comportamento lá por usar tecnologias modernas representa uma vantagem e não uma patologia. Faz parte de sociedades em que deixou de haver silêncio, tempo para pensar, curiosidade de olhar para fora, gosto por actividades lentas como ler, ou ver com olhos de ver. (…) Um dos maiores riscos para o mundo é ter um presidente dos EUA que governa pelo Twitter como um adolescente, com mensagens curtas, sem argumentação, que, para terem efeito, têm de ser excessivas e taxativas.(…)
A crise das mediações profissionais — que retirou aos jornalistas e aos profissionais da comunicação o papel de transformarem qualitativamente os eventos em notícias, muito, aliás, por culpa própria desde a treta do “jornalismo dos cidadãos” até à divulgação não mediada de tweets e comentários — acompanha um dos aspectos mais agressivos desta nova ignorância: o ataque ao saber, ao conhecimento certificado, em nome de um igualitarismo da ignorância.»
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30.12.16
Dica (468)
Greece’s Perpetual Crisis. (Yanis Varoufakis)
«The problem with Greece is that everyone is lying. The European Commission and the European Central Bank are lying when they claim that the Greek “program” can work as long as Greece’s government does as it is told. Germany is lying when it insists that Greece can recover without substantial debt relief through more austerity and structural reforms. The current Syriza government is lying when it insists that it has never consented to impossible fiscal targets. And, last but not least, the IMF is lying when its functionaries pretend that they are not responsible for imposing those targets on Greece.»
. «Street food» - Um café e um pastel de nata
Nada a criticar, é a vida e contra factos cada vez há menos argumentos. Mas não deixo de sorrir ao imaginar o que pensaria Sophia, que morava ali mesmo ao lado, desta imagem e desta nova «Brasileira»…
Expresso, caderno de Economia, 30.12.2016.
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A China e os nossos iPhones
Interessante e esclarecedor.
«About half of all iPhones now are made in a huge manufacturing facility in the central Chinese city of Zhengzhou. This is the story of how an iPhone made there can end up in your hands. (…)
Foxconn’s facilities in Zhengzhou cover 2.2 square miles and can employ up to 350,000 workers, many of whom earn about $1.90 an hour.»
. Entrevista com Deus - balanço de 2016
«Jornal de Negócios: Para fazer o habitual balanço do ano, que agora termina, temos connosco Deus. Olá, Deus. Como criador do universo, o que tem a dizer sobre o ano de 2016?
Deus: Se calhar, ainda é cedo para fazer balanços. Ainda faltam mais de 24 horas para acabar 2016, e ainda há tempo para levar mais uns quantos e causar mais uns estragos.
JN: Isso não é bom...
Deus: Pois não. 2016 é das minhas piores criações de sempre. Até me custa assinar esta obra. Correu tão mal que, por mim, desisto de fazer o próximo ano. Vou largar isto, de ser responsável pelo destino dos homens, e vou abrir uma loja no Chiado. Vai ser um pequeno paraíso no inferno que é a baixa de Lisboa.
JN: Mas... se Deus abandona o seu posto, quem é que fica responsável pelo universo?
Deus: Estava a pensar no Doutor António Costa.
JN: No nosso PM?!
Deus: Exactamente. A única coisa que correu bem este ano foi aquilo a que chamaram a Geringonça. Juntar PCP, BE e PS numa coligação é o equivalente ao big bang, e o homem deu conta daquilo. Além do mais, ele tem uma característica essencial para este trabalho: evitar que o Diabo apareça. (…)
JN: Hum..., desculpe a pergunta, mas se Deus pode fazer com que Portugal vença o Euro, porque não usou esse poder para evitar, por exemplo, a vitória de Trump? (…)
Deus: Sabe que Deus escreve direito por linhas tortas. Mas tem de ser daqueles cadernos pautados, senão perco-me. Vou ser sincero. Nunca me passou pela cabeça que ele ganhasse. Eu guio-me muito pelas sondagens.
JN: Eu pensava que Deus era menos de sondagens e mais de "fia-te na Virgem".
Deus: Também é preciso ter em conta que, quando eu criei o Trump, foi só porque queria experimentar o que se obtinha se misturasse um ser humano com uma delícia do mar. Quem diria que aquilo ia chegar a presidente dos EUA?! Eu já devia ter aprendido quando fiz a Margaret Thatcher e misturei uma costela de Adão com a parte de trás de um esquentador.»
João Quadros
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29.12.16
Espanha e o seu «paraíso laboral»
«Según los últimos datos del Servicio Público de Empleo Estatal (Sepe), en noviembre se firmaron 1,74 millones de nuevos contratos, de los que sólo 154.854 tenían una duración indefinida, lo que significa que los 1.588.854 restantes eran temporales (el 91% del total).
Dentro de los temporales, es muy significativo el peso que tienen concretamente los contratos de no más de siete días (26% del total), lo que contrasta con los 257.214 de noviembre de 2007 (el 16% del total) y supone que estos contratos de muy corta duración ganaron importancia durante la crisis.»
, Dica (467)
Is Putin’s Master Plan Only Beginning? (Henry Porter)
«With three consequential European elections occurring in 2017, the former K.G.B. officer has more potential to undermine free societies than he could have ever fathomed during his Cold War days.»
. 2017 segundo os sábios escolhidos pela Sábado
Foram excluídos: mulheres, não arianos, deficientes e outros mais. Ficam seis homens, cuja média de idades é 78 anos (fiz as contas), e alinhados politicamente, mais coisa, menos coisa. É a Sábado, eu sei, mas ainda sim…
. 2017 é um mito urbano
Ricardo Araújo Pereira na Visão de hoje:
«No início do século XX, as pessoas pensavam que as coisas dos filmes eram tão reais como as da vida; no início do século XXI, pensam que as coisas da vida são a fingir, como nos filmes. (…)
Que Trump e Putin presidam aos EUA e à Rússia é tão plausível como a carta do príncipe da Nigéria que precisa da nossa ajuda para uma operação financeira que nos vai render milhões. Há uma sensação de fim do mundo que, sinceramente, me deixa um pouco desiludido. Pensei que fosse melhor. Esperava uma onda de libertinagem bastante intensa que, afinal, não se verifica. Se é para esta pasmaceira, não vale a pena o mundo acabar.»
Na íntegra AQUI.
, O que nos reserva 2017? Uns cisnes negros?
«Fazem-se as últimas contas sobre 2016. E todos sabem que 2017 está cheio de incógnitas. Diversas eleições europeias, a começar pelas alemãs, dão o mote às dúvidas.
No "Daily Telegraph", Matthew Lynn avança com cinco cisnes negros para o próximo ano, de uma possível guerra comercial entre a Alemanha e os EUA ao colapso tecnológico da China. E escreve: "Um banco italiano terá de ser resgatado. O presidente Donald Trump escreverá um tweet estúpido a meio da noite. A UE multará o Facebook/Apple/Amazon com umas quantas centenas de milhões de euros por invadirem a privacidade/fugir aos impostos/criarem um monopólio do mercado (apaguem o que acharem apropriado)." Pergunta, "onde estarão os cisnes negros?"
No "Politico/Europe", Florian Eder vira-se para o futuro próximo da UE: "Pouco mais de duas semanas após o início do novo ano os deputados europeus escolherão o seu novo presidente que sairá, quase de certeza, de três candidatos centristas: no centro-direita, Antonio Tajani do Partido popular Europeu; no centro-esquerda, Gianni Pittella dos Socialistas e Democratas; e o líder dos liberais, Guy Verhofstadt, para surpresa de toda a Bruxelas, ainda não disse se é candidato ou não. Pela primeira vez em muito tempo é uma corrida aberta - e complicada. Nenhum dos três pode vencer sem que um dos outros se retire. Nenhum dos três pode alcançar o emprego se os outros dois juntarem forças, excepto se permitirem à extrema-direita ter uma palavra a dizer, e historicamente os principais partidos nunca desejaram fazer isso, vendo isso como prejudicial para o projecto europeu." E acrescenta: "Este é o jogo político das galinhas e a questão é: quem será o primeiro a ficar danificado?". Na "Prospect", Chris Bickerton fala de uma "Europa em revolta". E diz: "Em toda a Europa os partidos principais lutam para liderar a confiança e fé dos votantes." Os europeus estão zangados, é o que é.»
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28.12.16
Dica (466)
The age of humanism is ending. (Achille Mbembe)
«In a world set on objectifying everybody and every living thing in the name of profit, the erasure of the political by capital is the real threat. The transformation of the political into business raises the risk of the elimination of the very possibility of politics.
Whether civilisation can give rise at all to any form of political life is the problem of the 21st century.»
. Democratização social como única saída
Vale a pena ler na íntegra este texto de Juan Laborda, publicado por ATTAC Espanha:
«O neoliberalismo começa a agonizar e só há uma solução justa: a democratização social. A alternativa é o fascismo ou, como alguns dizem em termos politicamente mais corretos, o autoritarismo da oligarquia. A democratização social, parafraseando Frank Delano Roosevelt, passa inexoravelmente por lutar contra os velhos inimigos da paz: os monopólios empresarias e financeiros, a especulação, a banca insensível, os antagonismos de classe, o sectarismo e os interesses bélicos. Todos eles consideram o governo como um mero apêndice dos seus próprios negócios. E já sabemos bem que um governo do dinheiro organizado é tão perigoso como um governo da máfia organizada. A democratização social requer que se inicie uma batalha contra o egoísmo e o desejo de poder. (…)
A globalização baseada no mantra do livre comércio é incompatível com o respeito pelo meio ambiente, pelos direitos sociais e pela democracia. (…)
Mas a reacção está em curso, uma insurreição cada vez mais generalizada contra a globalização predatória. É necessário pôr fim a governos do dinheiro organizado, exigir proteção contra os poderosos, perante um mercado ineficiente, perante uma globalização neoliberal que fracassou. O problema é como o fazer. Só resta uma opção justo, uma solução democrática onde as maiorias sociais recuperem os direitos perdidos, onde as desigualdades diminuam drasticamente, onde os jovens tenham futuro e não se vejam forçados a uma luta intergeracional, e onde a superclasse deixe de pôr as mãos sujas na nossa democracia, abandonando as posições, que tem, em meios de comunicação cada vez mais concentrados e bajuladores do poder. A alternativa? O fascismo.»
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27.12.16
Dica (465)
World War Three, by Mistake. (Eric Schlosser)
«Harsh political rhetoric, combined with the vulnerability of the nuclear command-and-control system, has made the risk of global catastrophe greater than ever.»
. O «Público» e a sua misoginia
O jornal que não tem cronistas do sexo feminino mostra-nos hoje 2017 através de 10 homens – todos brancos, obviamente (e também mais ou menos pitosgas, já que apenas um não usa óculos). Um friso cinzento que reflecte uma realidade lamentável, para a qual só há uma palavra adequada: misoginia.
Shame on you, Público, shame on us!
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27.12.1943 – Joan Manuel Serrat
Joan Manuel Serrat nasceu em 27 de Dezembro de 1943, no bairro Poble Sec de Barcelona, numa família de operários.
Começou por cantar em catalão, passou depois para castelhano no fim da década de 60, o que provocou fortes acusações de traição por parte dos seus conterrâneos. Mas em 1968, selecionado para representar a Espanha no Festival Eurovisão da Canção, disse que só o faria se cantasse em catalão, proposta que não foi aceite e que esteve na origem da proibição, pelo governo, que actuasse na televisão e que as suas canções fossem transmitidas na rádio.
Os anos forma passando e, no Natal de 2014, estoirou de novo a polémica por ter recorrido de novo ao catalão, na TVE, poucos minutos depois do discurso do rei.
Apesar da idade, soma e segue: em Novembro de 2015 terminou uma tournée em que deu mais de 100 concertos na América Latina, Estados Unidos e Europa. E continuou em 2016…
Duas clássicas e uma recente:
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Salário mínimo e TSU
Escreve Mariana Mortágua e com toda a razão:
De que será feita a incerteza política em 2017?
«À medida que 2016 chega ao fim, uma sensação de inquietação está a afectar muitos comentadores que olham para o futuro. Este ano trouxe vitórias para o Brexit e para Donald Trump. O resultado de ambas as votações foi largamente inesperado. O que nos trará 2017? A União Europeia enfrenta, três ou mesmo quatro, eleições nos seus maiores estados-membros. A Holanda, França, Alemanha, e possivelmente também a Itália, irão a votos. Os resultados de todas estas eleições estão longe de serem certos, por esta altura. Na verdade, parece que se tornou difícil prever o comportamento dos eleitores.
A investigação económica e sociológica aponta para um conjunto de diferentes factores que estão a provocar estas surpresas eleitorais. O debate é, de forma ampla, sobre se são os temas económicos tais como a desigualdade de rendimento, se são os temas culturais como a rejeição de direitos iguais para as mulheres, minorias e gays, ou se são os factores relacionados com a percepção dos cidadãos de que perderam controlo sobre o seu destino, que estão a levar as pessoas a apoiarem candidatos e causas populistas. (…)
Vendo a questão pelo lado económico, os europeus não deviam estar demasiado preocupados com as eleições do próximo ano. Afinal de contas, os países da Europa continental têm os maiores estados sociais do mundo com níveis de desigualdade comparativamente baixos. (…) Mas se pusermos mais ênfase nos aspectos culturais, e em particular na sensação de se estar a perder o controlo, então o resultado das eleições na Europa parece menos seguro. (…)
Em 2017, os eleitores darão o seu veredicto sobre o que tiverem sido as políticas dos líderes nacionais e europeus. Mas estas batalhas eleitorais irão bem para lá da imigração e da desigualdade. Os factores culturais parecem ser mais centrais do que muitos economistas gostariam de aceitar. E é nesta arena que os cidadãos e os peritos terão de se empenhar, caso queiram segurar a democracia liberal.»
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26.12.16
As escolhas do presidente
No site da Presidência da República, o presidente lamentou hoje a morte de George Michael.
Ontem, um avião militar russo caiu no Mar Negro e, entre as 92 pessoas a bordo, figuravam cerca de sessenta membros do Coro do Exército Vermelho, que iam celebrar o Ano Novo com as tropas russas na Síria.
Nada consta no site da Presidência da República.
. Roménia, 26.12.1989
No dia 26 de Dezembro de 1989, as televisões mostraram ao mundo o julgamento de Nicolae Ceauşescu e da mulher, fuzilados na véspera, depois de um tribunal militar os ter acusado de uma série de crimes, incluindo o genocídio de mais de 60 mil cidadãos.
Nunca cheguei a perceber se a RTP mostrou aos portugueses o filme do processo logo no dia 26, em directo a partir da Roménia, mas eu vivia então na Bélgica e fiquei colada ao ecrã que me trouxe a transmissão feita pela televisão Antenne 2 francesa. Estava-se muito longe do hábito de assistir a este tipo de acontecimentos televisivos, que constituiu um verdadeiro choque, sem grandes possibilidades de recuo crítico imediato. Aqui está ele:
Mas as polémicas e as dúvidas sobre todo o desenrolar dos acontecimentos, e, sobretudo, sobre os métodos utilizados nos mesmos, depressa surgiram e mantêm-se até hoje. Vale a pena ouvir isto:
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Dica (464)
How Republics End. (Paul Krugman)
«One thing all of this makes clear is that the sickness of American politics didn’t begin with Donald Trump, any more than the sickness of the Roman Republic began with Caesar. The erosion of democratic foundations has been underway for decades, and there’s no guarantee that we will ever be able to recover.
But if there is any hope of redemption, it will have to begin with a clear recognition of how bad things are. American democracy is very much on the edge.»
. Geringonçando
«A máquina está suficientemente bem oleada para que pouco mais oiçamos, em público, do que um ou outro arrufo sem grande significado. (…)
Hoje colamos nomes e rostos a esse esforço contínuo de concertação de posições políticas. Não é algo a que a política portuguesa estivesse habituada, pelo menos não nesta escala e entre partidos com posições tão afastadas em áreas-chave como a Europa ou a política de defesa, mas o diabo é que a coisa está a funcionar.
Já lá vão dois Orçamentos aprovados sem grande sobressalto, mais de um ano de governação sem qualquer ameaça séria à sobrevivência política do governo, mas há uma sombra que subsiste. É a mesma para o país e para a geringonça e, em boa verdade, pouco ou nada depende da vontade de socialistas, bloquistas, comunistas ou verdes. Continuamos descontraidamente estendidos, de pés esticados sobre uma mesa, em cima da bomba-relógio da dívida.
Por muitas voltas que Costa e Centeno deem, por muito lustro que consigam puxar ao défice público, o facto é que o ratio da dívida em relação ao PIB tem aumentado. É uma espécie de bola de ferro, pesadíssima, amarrada às pernas. Às do governo e às nossas. O serviço da dívida há de continuar a condicionar o crescimento da economia e a criação de emprego, o investimento e a confiança dos mercados. Teremos sempre o santo Draghi em quem confiar, mas nem um BCE hiperativo pode garantir, para lá de qualquer dúvida, uma travessia tranquila de 2017.»
Paulo Tavares
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