14.4.18

Dica (744)




«Martin Luther King Jr. once said that “We must create full employment or we must create [basic, guaranteed] incomes.” More than 40 years later, we talk a lot about the last half of that statement: Technology entrepreneurs like Y Combinator’s Sam Altman and Facebook co-founder Chris Hughes have campaigned for universal basic income (UBI)—the idea that everyone should receive a regular, unconditional, government-issued stipend that would be sufficient to cover one’s material needs—to the point at which it’s become a trendy topic.»
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Milos Forman morreu e deixa-nos a voar sobre um ninho de cucos



Miloš Forman, o cineasta nascido checo, mais tarde também norte-americano, morreu hoje com 86 anos. Teve  uma infância complicada: o pai, judeu, preso pela Gestapo quando Milos tinha apenas 8 anos, foi levado para Buchenwald onde veio a morrer em 1944, um ano depois de a mãe ter tido a mesma sorte em Auschwitz. Durante a invasão da Checoslováquia, em 1968, partiu para os Estados Unidos e em 1977 adquiriu a sua segunda nacionalidade.

Pretexto para recordar três filmes «monstruosos»: Amadeus, Voando sobre um ninho de cucos e o primeiro dos que vi – sem nunca mais perder o rasto do autor: O baile dos bombeiros.

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Síria



Nas redes sociais, uma elevada percentagem dos meus amigos parece não ter dúvidas, e raramente se enganar, sobre quem são os bons e os maus nesta tragédia, ontem à noite agravada. Gente feliz, não sei se com ou sem lágrimas. Não é o meu caso e vou-me informando em silêncio. Mas tenho, pelo menos, um bom prémio de consolação: nunca votei no PS, nem em Marcelo.


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Perguntas que não levam a parte nenhuma por causa das respostas



José Pacheco Pereira no Público de hoje:

Centeno quer matar a “geringonça”? Quer.

«Podia dizer-se de Centeno que está sentado em duas cadeiras ao mesmo tempo, mas não está. Quem está sentado em duas cadeiras, uma ao lado da outra, dividindo a sua anatomia pelas duas é António Costa e o PS. Parece que o espaço duplo é reconfortante, mas a prazo ver-se-á que não é. Centeno já está noutra, os resultados portugueses que vier a obter dentro da ortodoxia do Eurogrupo destinam-se essencialmente a reforçá-lo nas suas novas funções. Por isso está a ser excessivo com o défice, mesmo com o risco de ajudar a derrubar o Governo, e isso está a trazer-lhe vários apoios e não são dos socialistas.

A verdade é que alguns dos compromissos do acordo entre PS-BE-PCP não estão a ser cumpridos. Há alguns socialistas mais ingénuos e outros de má-fé que pensam que se o Governo cair o caminho para uma maioria absoluta está garantido. Não está e uma queda do Governo, mesmo por aquilo que alguns podem considerar benéfico com a nova ideologia do défice, é sempre má para o PS ir para eleições, e ainda pior, se depois delas ficar com maioria simples. Não se iludam que o caminho com o PSD é muito mais complicado do que se pode imaginar nestes dias, apesar de tudo, de calmaria antes da tempestade.

A “geringonça” quer matar Centeno? Quer.

PCP e BE, se tivessem a campainha do mandarim, há muito a tinham tocado para pôr Centeno definitivamente em Bruxelas.

Quer o Presidente ver o Governo cair? Já estive mais certo de que não queria...

... e não lhe vão faltar pretextos. É que ele já está a definir casos que servem de pretextos, condições, para preparar o terreno. Não estou inteiramente certo, presumo que nem o Presidente, mas a tentação começa a ser muito visível. E ele é um homem de tentações.

Um dia o turismo diminui ou acaba. O que é que vai sobrar nas cidades de Lisboa e Porto? Imensos estragos.

Eu percebo que enquanto dura se aproveite a benesse. O boom do turismo é positivo em muitos aspectos para as duas cidades em que ele tem tido imenso impacto, Lisboa e Porto. Tem havido alguma remodelação urbana em centros que estavam degradados, e há alguma vida de dia e de noite em cidades que pareciam adormecidas.

Mas se há casos em que a palavra conjuntura é bem aplicada é para o actual boom turístico. Tudo ajudou, a insegurança de muitos destinos, as qualidades do clima português, a facilidade de adaptação de muita gente que rapidamente criou empresas turísticas para responder à pressão, o efeito de “estar na moda” alimentado por operadores e por jornalistas de viagens, os preços baratos, mesmo quando subiram muito, a facilidade de acesso ao país, tudo mesmo. Só que “não há bem que sempre dure”.

Lembram-se do boom das lojas que compravam ouro? Convém lembrar.

Se passarmos os olhos sem qualquer ilusão e auto-engano, nem complacência escapistas, sobre o que realmente está a “mudar”, em particular nas cidades, deveríamos assustar-nos. Estão-se fazer hotéis, hostels, restaurantes a mais e tudo isso vai ficar um dia, que pode não ser muito longínquo, vazio, falido, a estragar-se. Faz-me lembrar um outro boom dos anos da crise, quando abriam lojas de compra de ouro por tudo quanto é esquina. Vejam lá as que sobram.

E pelo caminho, por muito brilhantes que sejam as suas fachadas — e, se virem bem, poucas o são, e percebe-se que para andar depressa os projectos arquitectónicos, as obras de remodelação, os interiores são pouco cuidados e muito estereotipados, feitos para um turismo barato e pouco exigente —, estão a criar problemas na cidade a montante e a jusante que muitas vezes não ligamos directamente ao boom dos hotéis. Por exemplo, o crescente tráfego em ruas pouco preparadas de veículos de serviços e distribuição, que servem a qualquer hora lavandarias, bares, restaurantes, reparações, que a pressão hoteleira fez aumentar consideravelmente. Já para não falar dos tuk-tuk.

E não só, olhem para muitas lojas em pleno centro que substituíram o comércio mais antigo, acabando no centro das cidades, por exemplo, com livrarias, alfarrabistas, e outras indústrias “culturais”, para venderem literalmente pechisbeque e bugigangas para turistas que compram souvenirs, que não são eles mesmos muito qualificados. Alguém tem alguma dúvida que nada daquilo tem qualquer capacidade para sobreviver, nem sequer agora, quanto mais depois. Subam, por exemplo, a Rua 31 de Janeiro no Porto e olhem para as lojas. Ao lado daquilo prefiro mil vezes as mercearias paquistanesas, que são mais úteis e certamente mais sustentáveis.

As cidades vão ficar muito estragadas e não vai ser fácil recuperar. É verdade que já estavam, mas não é a mesma coisa, porque entretanto muita coisa foi destruída pelo caminho.

O que se passa no Sporting é divertido? É.

Porque não é sério. Não dou um átomo de interesse e relevância às cenas absurdas que se passam num clube desportivo, que são tão ridículas que não podem ser tomadas a sério. O que seria, se as tomássemos a sério? Um homem entre o vociferante e o esquisito preside ao clube. Alguém o pós lá, alguém o mantém, e gente da mesma natureza dos dois “alguéns”, nalguns casos os mesmos, vai acabar por o tirar de lá. Mas quem é que quer saber disso? Os sportinguistas, claro. Não têm mesmo mais nada para fazer?

Os jogadores protestam, são suspensos, são readmitidos. Mas quem é que quer saber disso? Os sportinguistas, claro. Não têm mesmo mais nada para fazer?

Há mais duzentas perguntas destas que se podem fazer. Mas não vale a pena. Mas quem é que quer saber disso? Os sportinguistas, claro. Não têm mesmo mais nada para fazer?»
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13.4.18

Inaceitável...


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13.04.1989 – O dia em que morreu um bispo do Porto que escreveu a Salazar



António Ferreira Gomes, o bispo do Porto, que, em Julho de 1958, escreveu uma longa e célebre carta a Salazar, morreu há 29 anos. A carta em questão, muito crítica da situação política, social e religiosa do país, deu-lhe direito a um exílio de 10 anos em Espanha, França e Alemanha, do qual só regressou em 1969, já durante o marcelismo.

É bom recordar que tinham tido lugar, um mês antes, as eleições a que concorreu Humberto Delgado e que o país se encontrava ainda em grande agitação. Para muitos, sobretudo católicos, a conjugação destes dois acontecimentos – eleições com Delgado e carta do bispo do Porto – foi o verdadeiro pontapé de saída para a resistência e luta contra a ditadura, durante as décadas que se seguiram.

Era difícil ter acesso ao texto da carta, mas coloquei-o online na íntegra, já há alguns anos. Trata-se de um documento histórico que não deve ser esquecido. 
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O boneco é engraçado, mas…



A imagem correu pelas redes sociais, logo pela manhã, com centenas de partilhas, mas, de um modo geral, sem o link para o texto de The Economist. Aqui fica para quem não gosta apenas de bonecada. Com especial relevo para a conclusão.

«Portugal’s left-wing government is thriving partly because it is not especially left-wing. For now it is fixated on deficits and debt rather than investment and public services. A centre-right government would be doing much the same. And so, despite Mr Costa’s warm words, the contraption will surely prove to be a temporary marriage of convenience; his party is already said quietly to be putting out feelers to the Social Democrats. European leftists may find inspiration in Portugal. But they will have to seek ideas elsewhere.»
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Face Lift Book



«Após depor no Senado, Mark Zuckerberg, presidente executivo do Facebook, esteve, na passada quarta-feira, na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos para responder a dúvidas sobre o escândalo Facebook/Cambridge Analytica. Começo por dizer que não tenho Facebook desde 2011, logo, se houve dados partilhados até essa altura, espero que saibam que eu já sou uma pessoa completamente diferente, tirando o cabelo. Por exemplo, detestava pickles. Agora, adoro-os, se estiverem acompanhados de frango no churrasco. As razões do meu abandono foram explicadas nas páginas deste jornal, numa crónica publicada a 23 de Setembro de 2011 e intitulada Facebook Free.

Recordo que, a 17 de Março, os jornais The New York Times e The Guardian revelaram que os dados de mais de 50 milhões de utilizadores do Facebook tinham sido usados sem o consentimento pela Cambridge Analytica. Dias depois, o próprio Facebook rectificou a informação e passou a estimar em 87 milhões o número de pessoas atingidas.

Zuckerberg apareceu de fato e gravata na Comissão. Finalmente, teve a oportunidade de pôr aquela T-shirt cinzenta a lavar. Ver o Zuckerberg de fato e gravata causa uma sensação estranha, é o equivalente a ver o Lobo Xavier de fato-de-macaco.

É muita estranha a forma como Zuckerberg bebe água a seguir a uma pergunta. Há quem diga que ele bebe a água devagarinho antes de responder para ter tempo de pensar. Eu acho que aquilo é a pausa para entrada dos pop-ups de publicidade. O Zuckerberg bebe água como quem está com medo que aquilo esteja envenenado. Ou, então, é um robô e bebe só uns golinhos porque tem medo de entrar em curto-circuito. Aliás, pela cara e olhar, eu diria que é irmão da Sofia do anúncio com o CR7. Portanto, beber água como um pisco não me chega, preciso de o ver a comer uma dobrada com tinto para ver se é mesmo humano.

O que percebi, pelo que vi, é que há naquela Comissão senadores que nunca viram uma página de Facebook, por isso há momentos de desconforto entre Zuckerberg e alguns senadores que são muito semelhantes àqueles que tenho quando o meu pai me faz perguntas sobre a forma de funcionar do telemóvel, como por exemplo: "A Siri é mulher para que idade?"

Houve apenas um momento de alguma tensão quando um senador o questionou: "Estaria confortável em partilhar o nome do hotel onde passou a última noite?" Zuckerberg - "Não". Senador - "Estaria confortável em partilhar o nome das pessoas com quem trocou mensagens na última semana?" Zuckerberg: - "... Não." Pensei que ele iria acrescentar: "Mas, se continuas a fazer esse tipo de perguntas, vou ter de dizer os motéis onde ficaste nos últimos dois anos."

Zuckerberg acabou por pedir desculpa e justificou-se dizendo que a Cambridge Analytica lhe disse que iria apagar toda a informação recolhida. Claro que ele acreditou.

Conclusão, o Zuckerberg esteve para a Cambridge Analytica como a maioria das pessoas está em relação à leitura dos termos de utilização e de privacidade do Facebook. Não há pachorra para ler aquilo, confiam neles e fazem "aceite" e siga. Bem-feita!»

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12.4.18

Deve ser isto


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Monserrat Caballé, 85



Monserrat Caballé faz hoje 85 anos. Nos arquivos da RTP, pode ser vista e ouvida uma entrevista que lhe foi feita no âmbito da apresentação da ópera «Norma», de Vincenzo Bellini, quando veio interpretá-la em Lisboa, em 1972.

Vale sempre a pena recordá-la:




E o que nunca será esquecido: em 1988, gravou com Freddie Mercury o álbum Barcelona. Quatro anos depois, na abertura dos jogos olímpicos naquela cidade, já sem a presença do cantor, que morrera em 1991, interpretou a mítica canção, num impressionante dueto virtual, que viria a ser repetido em 1999, antes da final da UEFA Champions League.



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Centeno é a Estrada da Beira, não é a beira da estrada.

As teias da Europa



«Jorgen Holmquist e David Wright foram, respectivamente, entre 2007 e 2010, director e director adjunto da Direcção-Geral da Estabilidade Financeira, dos Serviços Financeiros e da União e Mercados de Capitais (DG Fisma). Os dois deixaram esta entidade reguladora da União Europeia para, em nome da Comissão Europeia, acompanharem a aplicação do memorando de austeridade à Grécia. Na qualidade de especialistas em regulação e assuntos europeus, o primeiro transitou para a consultora Interel (que tem clientes como a Associação de Seguradoras Britânicas, bolsas de valores e grupos multinacionais de serviços financeiros) e o segundo para a Flint Global (que é dos principais accionistas em bolsas de valores como a Euronext e a Deutsche Borse. O problema de Holmquist e de Wright não foi a troca do público pelo privado, mas sim a troca do regulador pelo regulado. E não foram, nem são, os únicos: foi este o percurso de quatro dos cinco directores do regulador financeiro da União Europeia.

O relatório do Corporate Europe Oberservatory, um órgão independente que acompanha a influência dos grupos financeiros e de lobby na formulação de políticas na UE, vai mais longe e conclui que um terço dos funcionários que exerceram cargos de topo na DG Fisma, entre 2008, após o início da crise financeira, e 2017, “ou vem da indústria financeira ou foi empregue por ela” depois da sua passagem pela Comissão Europeia. Esta “porta giratória”, como lhe chamou George Stigler, mais um prémio Nobel da escola de Chicago, em 1971, num artigo sobre a teoria da regulamentação económica, tem uma finalidade: a criação de uma espécie de parcerias público-privadas das quais resultam a canalização de recursos públicos para interesses privados. 

Esta “porta giratória” é muito elucidativa quanto à forma como os reguladores se tornam as presas dos regulados; como a política e quem a exerceu é utilizada e se deixa utilizar pelos negócios, num amálgama indistinta entre o que é o interesse e benefício de todos e o que é somente o interesse e o benefício de poucos. Esta “porta giratória” é uma prática global, da qual Portugal não se exclui. Não é preciso falar de Durão Barroso, pois não? Nem o caso Barroso foi suficientemente escandaloso para convencer a União Europeia a estreitar a porta, para assegurar a independência dos seus órgãos reguladores face às entidades que deveria regular. Com tanta rotação não há ética que resista» 

Amílcar Correia
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11.4.18

Dica (743)




«The classic theory on how migrants and their descendants assimilate into a host society argues that integration is a linear process as successive generations gradually come to resemble the native population. This was the dominant theory up to the 1990s; in recent decades, alternative theories have proposed more complex processes of adaptation to explain why some ethnic minorities integrate better than others. These theories emphasise, for instance, the influence of societal factors on integration, such as social capital, discrimination, and the context of reception – in other words, the opportunities and challenges presented by the host society.»
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11 anos de teimosia



Este blogue nasceu em 11.04.2007, tem andado comigo pela vida e pelos quatro cantos do mundo, fiel depositário de memórias, descobertas, desânimos e esperanças.

Foram, continuam a ser, 11 anos de persistência ou de teimosia – como preferirem. Alimento-o todos os dias, de braço dado com o Facebook, mas não o abandono porque ele não deixa.

E muito obrigada a quem passa por aqui. Este é o 14.205º post que publico: loucura, loucura…

La nave va!
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Medeiros Ferreira



Lembra-me o Facebook que, há 7 anos, em 10.04.2011, José Medeiros Ferreira, aquele que tantas vezes viu bem para lá da espuma dos dias, escreveu isto. Já não esteve cá para ver, mas estivemos nós.

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O drible de Centeno



Francisco Louçã no Expresso diário de 10.04.2018:



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10.4.18

Dica (742)

Primeiro o défice, depois as crianças com cancro?



Não sei o que faria se tivesse uma criança da minha família numa situação destas!


«Após a notícia, e numa mensagem enviada esta manhã à Antena 1, a administração do Hospital de S. João disse que esta quase há quase um ano à espera que o Governo liberte verbas para a nova unidade pediátrica. O Ministério da Saúde confirmou que o dinheiro irá ser desbloqueado, mas não avançou uma data.

O Bastonário da Ordem dos Médicos também reagiu. Em declarações à Renascença, Miguel Guimarães disse que "é lamentável que o ministro da Saúde ainda não tenha resolvido uma situação que é muito fácil. O que se está a pedir não é a construção de um hospital novo, é que as crianças e os respetivos profissionais, que estão em contentores no jardim do São João, passem para dentro do hospital. Claro que é preciso fazer algumas obras, que custam dinheiro, e, por isso, essa situação não está a ser a ser resolvida".»
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Não há governos de minoria absoluta

«O Governo decidiu alterar unilateralmente as metas do défice negociadas para o Orçamento do Estado para 2018 e condicionar as negociações para 2019, afastando à partida aumentos salariais na Função Pública. É um mau prelúdio para as negociações do último Orçamento da legislatura.

Esta postura baseia-se em dois equívocos. O primeiro é que a recuperação da economia portuguesa não resulta sobretudo das medidas negociadas à Esquerda, mas unicamente de uma credibilidade assente em brilharetes orçamentais. O segundo equívoco é que o Ministro das Finanças pode dispensar a negociação com a maioria parlamentar.

Quando, em dezembro passado, votamos o Orçamento para 2018, fizemo-lo conscientes das suas limitações, definidas nas metas do défice prometidas pelo Governo a Bruxelas. Foram essas metas que nos impediram de ir mais longe no reforço do investimento, dos serviços públicos e da recuperação de rendimentos. Não se compreende, por isso, que agora o Governo reveja em baixa a meta para o défice, meta que já traduzia um difícil compromisso político, votado na Assembleia da República. Se atingimos o objetivo de, com crescimento económico, criar folga orçamental, essa folga tem de ser investida no país e não permite ir além das metas que formaram o quadro orçamental acordado.

Com a mesma incompreensão se lê outro anúncio com que Mário Centeno pretende definir à partida um orçamento que ainda não negociou: o de que não haverá aumentos para os trabalhadores do Estado no próximo ano. A Função Pública tem os salários congelados há uma década e não há regresso à normalidade sem atualização salarial. Não é aceitável que as escolhas sobre as prioridades orçamentais do próximo ano sejam objeto de vetos unilaterais antes de qualquer discussão e com os tiques de uma maioria absoluta que não existe.

O Governo do PS faz mal em pôr em causa a estabilidade da atual solução parlamentar, a maioria que impôs mudanças importantes no contexto de um Governo minoritário. Estamos a um ano e meio das eleições e temos um Orçamento para executar e outro para negociar e votar. As expectativas do país são altas, como bem se viu na importante mobilização no setor das artes, e há muito por fazer. Aconselha-se tranquilidade e modéstia quanto baste.»

Mariana Mortágua
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9.4.18

Pensamento da semana



Brasil, Hungria, EUA, etc. E o sucesso do capitalismo chinês aqui tão perto.
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Dica (741)




«O congelamento das rendas foi um erro histórico com múltiplos efeitos perversos; considerar que qualquer solução à calamidade que se vive nos centros de Lisboa e Porto passa por mais congelamento é de bradar aos céus, tanto mais que muitos dos despejos são resultantes da não renovação de contratos posteriores a 1990, quando o mercado de arrendamento foi liberalizado. É preciso pensar uma forma de intervir que limite a possibilidade de aumento histérico das rendas sem desmotivar o interesse dos proprietários pelo arrendamento de longa duração. Condená-los à benemerência e portanto à ruína, que é o que congelamento das rendas implica, não só é completamente iníquo como tem tido o belo resultado a que estamos a assistir.»
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A trista realidade dos factos


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Socorro, democracia!



«Há poucas semanas Xico Sá escrevia, no El País/Brasil, uma coluna que tinha um título arrepiante: "Me chamo Democracia e peço socorro no Brasil". O texto era um postal ilustrado de um país onde a liberdade do samba tinha chegado a um morro e só encontrava um abismo de intolerância. Com urubus a dançar. Não há no Brasil mais garotas de Ipanema, observadas pelos poetas e músicos boémios, nem o mundo maravilhoso da Amazónia, nem as praias sedosas cercadas de coqueiros e cobiçadas pelas tartarugas. Não há aqui mais tempo para um país divino, onde há de tudo, mas que sempre ficou separado, com arame farpado, entre os muito ricos e os muito pobres. O mundo das telenovelas da Globo só serviu para democratizar sentimentos e ambições e para embalar os brasileiros sem futuro num sonho americano em que era possível saltar a vala da diferença social. Hoje, depois de anos de ditadura militar, de sonhos democráticos, da paz de Fernando Henrique Cardoso, da euforia de Lula da Silva, o Brasil deixou de ter tempo para o cafuné de Gabriela. Está dividido ao meio, entre os que apoiam Lula e os que o detestam. Porque, corrupção à parte, o que estilhaça o Brasil é esse fosso que ninguém consegue atravessar. Não há pontes. Há favelas e condomínios privados.

O destino de Lula, seja ele qual for, não trava este desnorte que atravessa o Brasil, como se o ritmo do samba tivesse sido contaminado por uma banda de heavy metal. Se tivesse sobrevivido ao Lava Jato, Lula talvez ganhasse as próximas eleições. Mas o problema é que quase toda a classe política brasileira está contaminada pelo vírus da corrupção. E isso vê-se no Governo de Michel Temer, amarrado aos madeireiros que desflorestam a Amazónia e às seitas religiosas que ganham terreno político. Lula não deveria estar só. Com Lula preso, o Brasil não vai voltar a ser inocente. As rugas da corrupção estão em muitos rostos. Pior, a sociedade cindiu-se. E é nesse mundo que os militares começam a mostrar as garras. Como se dsentissem nostalgia de outros tempos. Socorro, democracia!»

Fernando Sobral
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8.4.18

O discurso de Lula da Silva na íntegra



Para memória futura, deixou aqui o texto do longo discurso de Lula, ontem, 07.04.2018, antes de se entregar à polícia para ser preso.

«Queridas companheiras e queridos companheiros,

Querido companheiro Wagner, presidente da CUT,

Querido companheiro Aloísio Mercadante, ex-Senador, ex-Deputado Federal, ex-Ministro da Ciência e Tecnologia, ex-Ministro da Educação, ex-Ministro da Casa Civil da presidenta Dilma, porra se eu tivesse tantos títulos assim eu seria Presidente da República.

Companheiro Guilherme Boulos, nosso companheiro que está iniciando uma jornada sendo candidato a Presidente da República pelo Psol, mas é um companheiro da mais alta qualidade que vocês têm que levar em conta a seriedade desse menino. Eu digo menino porque ele só tem 35 anos de idade e quando eu fiz a greve de 78, eu tinha 33 anos de idade e consegui, através da greve, chegar a criar um partido e virar Presidente. Você tem futuro meu irmão, é só não desistir nunca.

Quero cumprimentar essa garota [Manuela Davila], essa garota bonita, garota militante do PCdoB, que também está fazendo a sua primeira experiência como candidata a Presidenta da República pelo PCdoB, porque eu acho um motivo de orgulho e uma perspectiva de esperança para esse país ter gente nova se dispondo a enfrentar a negação da política, assumindo a política e dizendo nós queremos ser Presidente da República para mudar a história do país.

Quero agradecer a companhia dessa mulher[Dilma Rousseff]. Possivelmente a mais injustiçada das mulheres que um dia ousaram fazer política nesse país. A injustiçada pelo jeito de governar, acusada de não saber conversar, acusada de não saber fazer política, mas eu quero ser testemunha de vocês: a Dilma foi a pessoa que me deu a tranquilidade de fazer quase tudo que eu consegui fazer na Presidência da República pela confiança, pela seriedade, e pela qualidade e competência técnica da Dilma. Eu sou….eu sou grato, grato de coração porque não teria sido o que foi se não fosse a companheira Dilma. Portanto Dilma você sabe que eu serei profundamente, para o resto da vida, repartirei o meu sucesso na Presidência com Vossa Excelência, independentemente do que aconteça nesse mundo.

Quero cumprimentar o meu querido companheiro Fernando Haddad que viveu o melhor período de investimento na educação brasileira.

Quero cumprimentar o meu companheiro Celso Amorim. Companheiro que certamente foi o mais importante Ministro das Relações Exteriores que esse país já teve, que colocou o Brasil como protagonista mundial durante todo nosso governo.

Quero parabenizar o nosso companheiro Ivan Valente, deputado pelo Psol, companheiro que está aqui.

Quero cumprimentar o nosso valoroso, o nosso extraordinário João Pedro Stédile, presidente e coordenador do Movimento Sem Terra.

Quero cumprimentar, eu não sei o nome, mas o companheiro presidente do Psol, o Juliano, jovem presidente do Psol.

Quero cumprimentar o nosso querido escritor Fernando de Moraes que está escrevendo a biografia do meu governo que nunca termina, porra. Eu estou quase para morrer e ele não termina minha biografia.

Quero cumprimentar o nosso querido companheiro Paulo Pimenta, líder do PT. O homem que tem o blog dos deputados mais importante em Brasília e o cidadão que melhor tem enfrentado o Moro e a operação Lava Jato, naquilo que são os defeitos dela. Parabéns, companheiro Pimenta.

Quero cumprimentar o índio mais esperto do Brasil o Presidente do Piauí, o Governador do Piauí, o companheiro Wellington, que está cumprindo o terceiro mandato e pelo andar das pesquisas ele está a caminho de cumprir o quarto mandato como governador do Estado do Piauí.

Quero, aqui, cumprimentar o companheiro Emídio, tesoureiro do PT e ex-prefeito de Osasco, que tem trabalhado incansavelmente para a gente recuperar o papel do PT na história desse país.

Quero cumprimentar o companheiro Orlando Silva, presidente, ou melhor, deputado do PCdoB.

Quero cumprimentar o nosso companheiro Índio, que é da Intersindical, é um companheiro de muita qualidade.

Quero cumprimentar o Presidente da CTB que está aqui, que é companheiro Adílson, que é um companheiro também muito importante no movimento sindical.

Quero cumprimentar a nossa companheira Gleisi Hoffmann, a nossa querida Presidenta do nosso partido.

08.04.1929 - Brel 89



É um ritual a que regresso todos os anos: recordar que Jacques Brel seria hoje um velho (de 89 anos) se não tivesse adormecido demasiado cedo: «Les vieux ne meurent pas, ils s’endorment un jour et dorment trop longtemps» – disse ele



Um dos meus monstros mais do que sagrados, com um registo especial: tive a sorte de o ver e ouvir, em pessoa, era ele jovem e eu muito mais ainda... Em Lovaina, na Bélgica, num espectáculo extraordinário a que se seguiu, já na rua, uma cena de pancadaria entre valões e flamengos, com bastonadas da polícia e muitas montras partidas à pedrada. Tudo porque Brel, em terra de flamengos, insistiu em cantar um dos seus êxitos – Les Flamandes – onde uma parte das suas compatriotas não é muito bem tratada. Ele era assim.



Uma das minhas preferidas:



E a inevitável:


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Quem se mete com Centeno, perde



Pedo Adão e Silva no Expresso de 07.04.2018:

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