2.12.17

Poupanças



Calendário de Advento em tempos de crise.
.

Dica (675)




«O Estado perderia processos judiciais?
Tem sido invocado o exemplo de Espanha, onde as elétricas processaram o Estado pelas medidas que tomou. Mas, por um lado, as medidas espanholas não são comparáveis com a contribuição proposta pelo Bloco: em Espanha foi imposta uma alteração contratual (uma taxa de "rentabilidade razoável" definida por lei com efeitos retroativos); o Bloco propôs uma contribuição de 30% sobre a parte subsidiada do preço de venda, de 2018 até à eliminação do insustentável défice tarifário. Acresce que a litigância em Espanha não teve até agora custos de monta para o Estado, que venceu sempre nos tribunais espanhóis. Na única sentença havida no exterior, o Estado foi condenado por ter pago abaixo da "rentabilidade razoável" (7,5%), sendo obrigado a pagar essa diferença. Assim, a redução pelo Estado da taxa de rentabilidade garantida para 7,5% foi reconhecida como legítima.»
.

Varoufakis e Centeno




Eu dava qualquer coisinha para que Varoufakis fosse de novo Ministro das Finanças da Grécia com Centeno presidente do Eurogrupo.
,

A rede terrorista de extrema direita no pós-25 de Abril


Há alguns dias, pus aqui um pdf com o conteúdo do livro Quando Portugal Ardeu.
Fica hoje uma entrevista muito esclarecedora ao seu autor, Miguel Carvalho. De certo modo, até mais frontal do que o próprio livro, na minha opinião.


,

O que pode avariar a “geringonça”



José Pacheco Pereira no Público de hoje:

«A proximidade com as eleições de 2019. À medida que se aproximam as eleições legislativas de 2019, os riscos de desagregação do acordo que mantém o Governo minoritário do PS aumentam significativamente. O principal factor é o adiamento de qualquer perspectiva de futuro para a chamada “geringonça”, sem nenhuma das partes ter uma ideia clara do que vai fazer, nem do contexto em que se vão realizar as eleições. Uma coisa pode, no entanto, dizer-se: a causa próxima do acordo PS-BE-PCP foi impedir que um governo PAF pudesse existir e continuar a política dos anos do “ajustamento”. A recusa por parte da esquerda do PSD e do CDS deu-lhe o cimento que permitiu até agora manter, apesar de todas as dificuldades, a unidade necessária para passar os documentos vitais para garantir o Governo PS.

Caso houvesse a convicção, com elevado grau de certeza (como se estava a consolidar até à crise dos incêndios), de que o PSD e o CDS não estavam em condições de tão cedo voltarem ao poder, isso fragilizava a “geringonça” porque alimentava as ambições competitivas de cada um dos seus partidos sem grandes riscos. Mas o efeito contrário também existe: sempre que o PSD e, em menor grau, o CDS podem parecer como beneficiários das dificuldades do Governo PS, aí a recusa da direita funciona de novo como cimento da esquerda.

O Orçamento de 2019 já será de enorme risco, em particular se todos os parceiros estiverem convencidos de que, ou têm ganho de causa em ir às eleições sem qualquer entendimento prévio, ou que, com entendimento ou sem ele, podem manter suficiente margem de manobra para renegociar, caso o PS não tenha a maioria absoluta ou mesmo torne de novo a não ser o primeiro partido.

Em todos estes casos, cada dia que passa sem haver qualquer ideia do que possa acontecer em 2019 — que ganha em ser pensado antes e não em cima da data, ou forçado por circunstâncias que serão sempre negativas, ou até por uma queda do Governo por falta de apoio parlamentar em legislação que o Governo e o Presidente entendam ser relevante —, o enfraquecimento da “geringonça” acentuar-se-á. A referência ao Presidente tem tanto mais sentido quanto este pode provocar a dissolução da Assembleia, se entender que o Governo deixou de ter o apoio parlamentar necessário. E, se o Presidente até agora acentuou o factor de estabilidade governativa como uma marca que queria associada à sua Presidência, no seu discurso a seguir aos incêndios e prévio à moção de censura do CDS sugeriu pela primeira vez que em momentos críticos o Governo precisava de legitimação parlamentar clara.

A avaliação do PS de que pode ganhar sozinho as eleições de 2019. Até à crise dos incêndios, havia muita gente no PS — e não estou certo de que se possa incluir António Costa nesse grupo — que estava convencida que o PS poderia ter com facilidade uma maioria absoluta sozinho. Por isso, não fazia sentido qualquer acordo pré-eleitoral com o PCP e o BE, na presunção de que estes estivessem disponíveis para o fazer. A atitude é em grande parte clubista: se se pode ter tudo, por que razão é que se parte para umas eleições já com o poder dividido por qualquer acordo? Se as coisas não corressem bem haveria sempre possibilidade de reeditar uma forma qualquer de acordo, como o que existe actualmente. Esses socialistas são típicos do hardcore dos partidos, em que a identidade partidária está acima de tudo, e são pouco dados a subtilezas políticas. No final, seguem as direcções partidárias e, por isso, a sua ambição de um PS sozinho pode transformar-se na mais modesta do “PS no poder”, sem dificuldades.

Há, porém, outro grupo de socialistas, com ligações a António José Seguro, que pensa que é mesmo contraproducente para o PS ter um acordo dessa natureza. Este mesmo grupo nunca verdadeiramente aceitou o mérito da “geringonça” e prefere que um PS minoritário faça um acordo com o PSD ou o CDS do que com o PCP e o BE.

Seja como for, a actual crise gerada pela sensação de que o Governo está a perder o pé, de que o Presidente se comporta de uma forma mais hostil, e de que a situação mais favorável para o partido e o Governo em termos económicos e sociais já está no passado, levou a uma significativa perda das expectativas mais optimistas para as eleições de 2019 e reduziu o potencial de crise da “geringonça” pelo excesso de optimismo.

A política “europeia” que o PS segue é um factor de instabilidade. Embora este seja um dos aspectos mais importantes da instabilidade estrutural que está sempre por baixo do Governo PS e, por extensão, da “geringonça”, merece uma discussão à parte.



1.12.17

António Vitorino?




«Vai candidatar-se à presidência da Organização Internacional para as Migrações, instituição que pertence à Organização das Nações Unidas.»

Mais um! Em breve o mundo será nosso, nem um novo Tordesilhas será necessário.
.

Dica (674)




«A new report released by McKinsey & Company indicates that by 2030, as many as 800 million workers worldwide could be replaced at work by robots.
The study found that in more advanced economies like the U.S. and Germany, up to one-third of the 2030 workforce may need to learn new skills and find new work. In economies like China's, roughly 12 percent of workers may need to switch occupations by 2030.
The report also provides insight into the industries that will be least impacted by robots and the skills needed to fill those positions.»
.

Pedro Tamen



Faz hoje mais um ano e tenho o prazer de o ter como amigo.

Ao Tempo

Heródoto contava a história,
mas nós contamos memória
entre os pontos e os is
daquilo que Deus nos quis.

É o que vale. Senão
amortecia no chão
o diadema do dia
(o que bem apetecia).

Por isso nos ocupamos
em tiritar pelos anos
o frio que vem das horas
no degelo das demoras.

Oh, que tragada perdida
esta de nós pela vida,
mesmo apesar de polícias
e Diário de Notícias.

Senhorio, mas de partes,
artistas, de malas-artes
e capados; nossa sina
parou no Alto de Pina.

Isto é que se nos dá,
e andamos ao deus-dará
por muito que não queiramos.
Isto é: agradeçamos

E metamos por aí,
por entre o ponto e o i.

Pedro Tamen, Poemas a isto, Moraes ed., Lisboa, 1962.
,.

Rei à vista




A notícia tem poucos pés ou cabeça, mas esta passagem é deliciosa:

«D. Duarte vai mais longe ao considerar que o comportamento do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa “é semelhante ao que seria o de um rei” e que por via desta atuação política fica mais fácil aos portugueses comparar os dois regimes.»
.

01.12.1935 – Woody Allen e a vida de trás para a frente



Woody Allen faz hoje 82. Ele que disse ser «radicalmente contra» a sua própria morte e que nunca foi um génio, mas apenas «um humorista do Brooklyn com sorte».

Regressa este seu magnífico texto:

Na minha próxima vida quero vivê-la de trás para a frente
Começar morto para despachar logo o assunto.
Depois acordar num lar de idosos e sentir-me melhor a cada dia que passa. Ser expulso porque estou demasiado saudável, ir receber a pensão e começar logo a trabalhar. Receber logo um relógio de ouro no primeiro dia. Trabalhar quarenta anos até ser novo o suficiente para gozar a reforma. Divertir-me, embebedar-me e ser de uma forma geral promíscuo, e depois estar pronto para o liceu. Em seguida a primária, fica-se criança e brinca-se. Não temos responsabilidades e ficamos um bebé até nascermos. Por fim, passamos nove meses a flutuar num SPA de luxo com aquecimento central, serviço de quartos à descrição e um quarto maior de dia para dia, e depois....voilá!
Acaba tudo com um orgasmo!


.

30.11.17

Centeno, Dr. Jekyll e Mr. Hyde




Se ganhar, que seja muito feliz, será bom para o seu currículo, mas dificilmente para o nosso. Ser firme na defesa dos nossos interesses e obedecer aos de Bruxelas nem para o Dr. Jekyll e Mr. Hyde seria tarefa facil.

Daniel Oliveira no Facebook: «A eleição de Mário Centeno para a presidência do Eurogrupo retiraria poder negocial a Portugal, obrigaria a uma total ortodoxia na leitura nacional do tratado orçamental e daria uma nova centralidade às divergências entre os partidos da maioria nestas matérias. A apresentação da candidatura por parte do governo revela, por todas as dificuldades que levanta ao país, ao governo e à maioria, que a estabilidade da chamada "geringonça" não é uma prioridade para António Costa. Resta esperar que sejam os votos de outros a travar as dificuldades que Costa teima, levianamente, em procurar»
.

Sentido de voto



Ricardo Araújo Pereira na Visão de hoje:



Na íntegra AQUI.
.

O bloco central eléctrica



«O PS votou a favor da nova contribuição sobre renováveis, proposta pelo BE, na sexta-feira, mas na passada segunda-feira avocou a medida a plenário e votou contra. Há quem diga que é melhor dormir sobre o assunto, neste caso acredito que Costa e vários ministros tenham passado a noite acordados a atender telefonemas, alguns em mandarim. EDP is the new DDT.

Costa fez do BE o seu Tozé Seguro. Ou o BE fez de Tozé Seguro com o Costa. A "geringonça" já é tão estável que permite que Costa tire o tapete ao BE e o Governo não cai. A irrevogabilidade de Costa em relação às rendas da EDP não teve consequências. O BE que se cuide, porque isto não é uma boa relação. Parece aquelas senhoras que andavam com o Capitão Roby.

Pelo menos ninguém se demitiu. Relembro que, no tempo de Passos Coelho, o secretário de Estado teve de se demitir só por ter abordado ao de leve este assunto. "Pintilhices", como diria Catroga.

Fazendo um ponto da situação, e estou a tentar fazer esta crónica o mais depressa possível, porque ao preço a que está a electricidade a EDP está a ganhar mais dinheiro com isto do que eu, as pensões aumentaram 10 euros, a EDP ganhou 250 milhões, o que dá 25 euros por português. Ou seja, este ano o PM decidiu dar mais às famílias chinesas do que às portuguesas. Cristas vai acusá-lo de estar a governar para as eleições chinesas. Espera, não pode. Também votou contra. Bem diz ela que está pronta para ser PM.

Em termos ambientais, parece-me bem dar mais 250 milhões à EDP Renováveis, todos sabemos como os chineses querem salvar o mundo da poluição.

Custa-me acreditar que todo este poder da EDP venha do charme do Catroga e da inteligência do Mexia. Deve haver gente no Governo a quem cortaram a luz. Na verdade, este detalhe final e esta cambalhota do PS dizem mais sobre o país do que todo o Orçamento do Estado. É a moral do Orçamento. O Orçamento é do Estado, mas o Estado é de outros. Não podes vencer a EDP, junta-te a ela (depois de saíres do Governo).

A EDP Renováveis teve lucros de 165 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano, um aumento de 468% em relação a 2016. Se há alguém que esteja a precisar de ajuda é ela. Ainda bem que vendemos a EDP aos chineses, ou agora não saberíamos o que fazer ao dinheiro. Ainda nos víamos obrigados a aumentar o ordenado mínimo para seiscentos euros.

Para terminar, convém recordar que António Mexia e João Manso Neto, da EDP, e João Faria Conceição e Pedro Furtado, da REN, foram constituídos arguidos aqui há uns tempos. Em causa estão os crimes de corrupção activa, corrupção passiva e participação económica em negócio. Felizmente, para eles, apesar de trabalharem para o governo chinês, não vão ser julgados na China. Imagino que cá também acabe por acontecer o mesmo.»

.

Rio: «Eu é que sou o Presidente da Junta»




Ele é que será o bom «Presidente da Junta» que vai fazer uma verdadeira Revolução, já que a outra foi apenas «um encontrãozito». E se fosse ar banho ao cão?
.

29.11.17

Pedrógão: a querela soma e segue




«Nós entendemos que este parecer relativo ao relatório que entregámos ao MAI [Ministério da Administração Interna], vincula o MAI e, de certo modo, restringe o MAI à publicação do relatório com aquele capítulo [o que não foi tornado público], com ou sem nomes [de mortos e outras pessoas envolvidas]. Mas, de modo algum, nos pode cercear na nossa liberdade de dar a conhecer os dados da nossa investigação, porque, como investigadores, temos a liberdade, não só de investigar, como a liberdade, e até obrigação, de dar a conhecer os dados da nossa investigação.»

Isto ainda acaba com o governo a dizer, uma vez mais, que se tratou apenas um problema de comunicação.
.

Nação valente



Hoje à hora de almoço, perto da Loja do Cidadão das Laranjeiras, em Lisboa. Uma mulher jovem corre com uma bengala debaixo do braço. Quando chega quase à porta, apoia a dita cuja no chão e entra. Guess why...
.

Dica (673)



O silêncio dos indecentes (Miguel Guedes) 

«A memória fica anotada e não é renovável. Após dois anos, a primeira emboscada à Geringonça não aparece pela mão das linhas vermelhas do BE ou das ortodoxias do PCP: a primeira traição surge pelos interesses instalados no PS. (…)

Depois de todas as bancadas terem cedido tempo para o PS explicar a cambalhota, a explicação surge arrancada a ferros ao deputado Luís Testa: "é necessário prosseguir o cenário de cooperação com estas empresas". Tão-só, um cenário de cooperação. Desenganem-se os crentes na conversão: há um PS dos interesses que nunca apaga a luz. Nem dorme no fim de semana.»
,

Um mundo cão é isto




«Paulette Wilson had been in Britain for 50 years when she received a letter informing her that she was an illegal immigrant and was going to be removed and sent back to Jamaica, the country she left when she was 10 and has never visited since. Last month, she spent a week at Yarl’s Wood detention centre before being sent to the immigration removal centre at Heathrow, where detainees are taken just before they are flown out of the country. It was only a last-minute intervention from her MP and a local charity that prevented a forced removal. She has since been allowed to return home, but will have to report again to the Home Office in early December and is still worried about the possibility of renewed attempts to remove her.»
.

Minha cara cliente,



«Já sabe do inquérito que aqui lhe estendo: de que clientela é vocelência? Porque a sociedade à beira mar plantada está dividida entre as clientelas, portanto malévolas e interesseiras, e os garbosos cavaleiros da virtude pátria. Todas as vozes autorizadas se conjugam nesta certeza, a de que as clientelas tomaram conta do fraco do primeiro-ministro e procedem a esventrar o orçamento, comendo-lhe nacos sangrentos, tudo num apetite que compromete o futuro de Portugal. É portanto de grande responsabilidade a escolha que vai fazer. Pondere antes de assinar, os credores estão de olho em si.

A sua primeira opção é a pior, fica já a saber. Se faz parte dos 210 mil que beneficiam da alteração do mínimo de existência, dos 1,3 milhões salários e pensões que pagarão menos IRS dado que a promessa dos novos escalões se cumpriu, dos 2,5 milhões de reformados que vão ser aumentados ou dos 600 mil funcionários públicos que têm as carreiras descongeladas, se é um dos 600 mil trabalhadores do privado cujo salário mínimo vai voltar a subir, se faz parte dos muitos milhões que usam o serviço de saúde e conseguirão médico de família e esperam a recuperação da qualidade dos tratamentos, se tem crianças que vão ter manuais escolares gratuitos e menos alunos por turma ou se recebe o abono de família, só tenho uma notícia tenebrosa para si: malandra, está a devorar o Orçamento, essa clientela é a vergonha do país.

A sua segunda opção é a melhor, vá por mim, assinale que é tudo boa gente. Se tem interesse na privatização dos aeroportos, na venda da TAP ou na concessão dos transportes de Lisboa e Porto, espera pela véspera ou até pelo dia seguinte a eleições, que um governo de gestão lhe vai fazer o despachozinho. Se tem uns dinheirinhos de lado, vai haver um apagão e 10 mil milhões voarão para offshores, se o seu banqueiro for dos tais é coisa garantida. Se tem amigos na mafia russa, um Visto Gold resolve o assunto, seja bem-vindo. Se comprou uns submarinos, já sabe que o Pai Natal está próximo. Se espera dividendos nas energéticas, a renda é confortável e, credo, ninguém lhe mexe. Se teve prejuízos no seu banco, talvez consiga que o Estado lhos pague ao longo dos próximos 19 anos. Isso não é clientela, não senhora, é tudo business.

Assim estamos, então. Invariavelmente, nesta luta sem tréguas pelas palavras, os que dizem “clientela” atribuem-se representação do interesse geral e fazem vénia a quem terçar pelos barões, pelo sr. Neeleman, pelo dono da EDP, por algum aventureiro que quer Visto, são os “investidores”.

Noves fora, um conhecido cientista político norte-americano, que ia pelo difícil nome de Schattschneider, escreveu uma vez o mais óbvio: “Há milhões de conflitos potenciais em cada sociedade moderna, mas só alguns se tornam significativos. A definição das alternativas é o supremo instrumento do poder. Quem determina sobre que é que é a política dirige o país”. Ou seja, quem determina as palavras com que se fala ou os temas que se discutem é o vencedor. É mesmo disso que se trata: se o discurso anti-“clientelar” conseguir marcar um cordão sanitário em volta da vida da maioria da população, patologizando as suas aspirações e fazendo com que os da fila da sopa dos pobres lamentem a desgraça do milionário que tem de pagar o “imposto Mortágua”, então a direita prevalecerá. Mas engana-se quem à direita pense que a batalha está ganha e espero que tome nota: a radicalização do PSD e CDS e de outros como partidos orgânicos dos interesses burgueses impõe-lhes um custo, se à esquerda se perceber que esta discussão exige a centralidade de uma estratégia de bipolarização. Vamos a isso, é tempo de atacar as clientelas sem dó nem piedade. Se se pergunta como serão estes dois anos para construírem uma esquerda que vença, eis a resposta. Bipolarização. Vida mais difícil para o centro? Sim.»

.

28.11.17

Os lóbis maus comeram o Capuchinho Vermelho


.

«A ilusão de que é possível tudo para todos já não existe» (A. Costa)


A ilusão da ilusão (José Manuel Pureza)

«O discurso da ilusão é ilusionista. Porque só mostra o que quer mostrar e oculta o que quer manter como mistério. O discurso da ilusão é o discurso do “já chega” mas já chega só para alguns, os de baixo. Porque ele é também o discurso do “nunca é demais” para os de cima. Quando nos dizem “não é possível dar tudo a todos”, saibamos exatamente o que nos querem dizer: “tudo a todos não, tudo só para alguns: os do costume”.»
.

A contribuição que nunca viu a luz



«O que estava em causa era a votação de uma proposta do Bloco para criar uma contribuição de solidariedade, a incidir sobre os produtores de energias renováveis, altamente subsidiados por contratos e regras decididas no passado. São estas as regras que permitem à EDP Renováveis, uma das maiores beneficiárias, ter apenas 12% da sua atividade em Portugal, mas obter aqui 27% dos lucros. Feitas as contas, no total, se esta energia fosse vendida em Portugal ao preço médio que a EDP Renováveis pratica noutros países, e não ao preço subsidiado, os consumidores pagariam menos 400 milhões de euros ao ano. Era uma pequena parte deste sobrecusto que o Bloco de Esquerda propunha compensar com a criação de uma contribuição sobre estas empresas. O resultado seria a redução da dívida tarifária e, em consequência, da conta da luz, com benefícios óbvios para famílias e empresas.
Apesar da medida ter sido negociada com o Governo, e aprovada na especialidade na sexta-feira, o Partido Socialista avocou-a ontem a plenário e, na repetição da votação, alterou o seu voto, impedindo a contribuição de ver a luz do dia.»

Mariana Mortágua

Na íntegra AQUI.
.

Centeno e o Eurogrupo


Candidatura de Centeno "pouco falada" na Europa pode ser "trunfo".

Esta história começa a parecer-se com a candidatura à Agência Europeia do Medicamento. Ainda mandam o Centeno para o Porto.
.

Decorações de Natal



«Hoje, como velho chato que sou, venho reclamar contra as decorações de Natal em geral. Nem vou perder muito tempo a falar daquela moda já gasta do boneco do Pai Natal pendurado fora da janela. Cada vez que vejo um Pai Natal, de saco às costas, a tentar entrar por uma varanda, sinto sempre que para ficar mesmo bonito ainda faltava uma rena a tentar arrombar a fechadura da porta do prédio.

Só consigo perceber esta ideia porque também tenho o meu lado exibicionista, e compreendo estas pessoas que apreciam ter um velho de barbas a espreitar pela janela do quarto. Mas isto foi só um aparte.

Não sei se já repararam, mas longe vão os tempos em que as decorações de Natal só queriam iluminar e alegrar e não nos queriam vender nada. Hoje em dia, o que temos nas nossas ruas não são decorações de Natal, são logotipos de empresas com luzes que piscam e um bocadinho de azevinho em cima.

Os miúdos já perguntam quando é que vem o senhor da NOS das barbas brancas que traz as prendas. E estão chateados porque a nossa árvore de Natal só tem bolas em vez de anúncios. Tive que ir pendurar uma placa a dizer "Novo Banco" no lugar da estrela e luzes que tocam a música da Vodafone, senão os miúdos não iam para a sala.

Isto tem de parar! A seguir vem o Presépio da Audi ou da Volkswagen, com o novo Golf no lugar da vaca, uma versão do São José a gasóleo e a Nossa Senhora a não conseguir segurar a cabeça, não porque esteja com sono, mas porque lhe puseram o símbolo da Audi no lugar da auréola.

Uma pessoa está à lareira com os miúdos na noite de Natal a contar a história do Senhor da Coca-Cola, que vem num trenó alugado à Avis com seis renas gentilmente cedidas pelo Talho de Campo de Ourique. Vamos parar com isso, está bem?! Eu prefiro ir para a Avenida da Liberdade dar com a cabeça nas árvores porque está escuro, do que ter um Menino Jesus que me ilumina mas que está vestido com uma Fralda da Lindor para incontinentes. Maldita publicidade, qualquer dia estamos a pôr intervalos para publicidade nas caixas de música dos bebés.

E a mania que tem que ser tudo em grande. A maior manifestação de Pais Natal. O maior presépio vivo do mundo. A maior árvore de Natal da Europa. Orgulham-se de descrever um árvore de Natal como quem descreve um boi – tem três milhões de lâmpadas, pesa 280 toneladas e tem uma altura de 76 metros. Para esta gente o ideal era o Godzilla com luzes a piscar e neve carbónica. Onde é que anda o pinheirinho de Natal da música Provavelmente foi abatido para para dar de comer ao camelo do maior presépio vivo. Para que é que as pessoas querem ter a árvore de Natal mais alta do mundo?! Para quê? Ela não vai jogar basquetebol. Não vai mudar uma lâmpada. Não faz sentido preferir ter a maior árvore de Natal do mundo em vez da mais ternurenta, ou a mais sensível. Ter a MAIOR árvore de natal do mundo é como querer ter o presépio do mundo com o menino Jesus com mais barba.

É ridículo medir símbolos natalícios pelo tamanho. "Ai, eu tenho o Pai Natal mais bem constituído da Europa. Dá umas prendas de merda, mas tem cá um cabedal. Pode não gostar de crianças mas é tramado para a porrada."»

.

27.11.17

Palavra dada é palavra honrada – ou não




Hoje, na votação do OE2018. «Foi arrasadora!», disse Miguel Sousa Tavares na SIC.

Daqui.
.

Dois anos de «gerigonça»: o que se esperava, melhor do que tínhamos, aquém do possível



Daniel Oliveira no Expresso diário de 27.11.2017:



INFARMED: um disparate sem qualificação possível




«Isto é como todas as notícias de surpresa, até cairmos em nós, há uma fase em que se fica com uma espécie de anestesia, de ´isto não pode ser verdade´.. Durante a tarde e no dia seguinte ninguém fez nada no Infarmed. Na noite de terça-feira voltei a ter uma conversa telefónica com o senhor ministro, que já tinha ideia que havia uma grande ansiedade por parte dos trabalhadores e propôs-me receber a comissão de trabalhadores. No dia seguinte estivemos no seu gabinete às 9 da manhã: conselho directivo, comissão de trabalhadores, o ministro e a assessora jurídica. Praticamente o conselho directivo não disse nada, nem era nossa função. O senhor ministro disse que percebia, de certa forma, que isto era uma notícia surpresa e que não era uma decisão, era uma intenção. Várias vezes repetiu isso» - Maria do Céu Machado, presidente do Infarmed.

Caro António Costa, ou «babuche» como o conheci ainda de calções: eu apoio o seu governo, fruto da Geringonça, e quero que ele se mantenha. Mas ponha um saco de areia em cima da cabeça de alguns dos seus ministros para os acalmar ou mande-os dar uma curva Caso contrário, isto não vai acabar bem.
.

Razões para (não) querermos Centeno no Eurogrupo



«Mário Centeno já está no Eurogrupo. Não é o seu presidente, é certo, mas já lá está, como um dos ministros das Finanças da zona euro que têm assento naquele órgão informal de governação económica europeia. Ganhamos em tê-lo na cadeira que actualmente é ocupada pelo holandês Jeroen Dijsselböem? Quanto? Consegue medir-se?

É tão difícil responder a estas perguntas como foi difícil, durante dez anos, fazer as contas aos benefícios de ter um português na cúpula da Comissão Europeia. Até porque as obrigações de imparcialidade a que estes cargos estão sujeitos, e o consequente escrutínio, não deixam margem para tratar Portugal de forma diferente e, sobretudo, mais amistosa.

Há muito anos, quando a lei ainda o permitia (e mal), a minha mãe foi minha professora durante um ano lectivo inteiro. Acabei o terceiro período com nota final de cinco valores, em cinco, mas foi a nota que, nesse ano, mais me custou a ganhar. Custou-me em empenho e em harmonia familiar. Em casa, a minha mãe, que até então me ajudava a estudar, deixou de me dar apoio naquela disciplina. Na sala de aula, por mais que eu tentasse sobressair, era como se fosse invisível. A minha mãe tinha de ser apenas a minha professora, nada mais, nada menos. Uma equação impossível, que provocou grandes angústias a ambas. Balanço: perdi mais do que ganhei. Naquele ano merecia ter tido um seis.

Se Mário Centeno for presidente do Eurogrupo não deixará de ser ministro das Finanças de Portugal (o cargo é de sitting minister, ministro em funções, por enquanto). Ao seu trabalho em Lisboa, juntará as funções de líder da reunião de ministros das Finanças da zona euro (o que acontece pelo menos uma vez por mês). Estará lá para defender os interesses de Portugal como, assumo, sempre esteve, sem mais nem menos legitimidade. Mas como líder de um grupo que inclui outros 18 países, terá liberdade para tomar partido? Para colocar os interesses portugueses acima dos outros? Se bem me lembro da minha mãe-professora, dificilmente isso poderá acontecer. Haverá 18 pares de olhos e de ouvidos concentrados em Centeno.

Qual é, então, o grande interesse para o país que nos leva a discutir esta candidatura como se fosse uma questão de sobrevivência política de Portugal na Europa? Além do prestígio, claro, esse benefício tão difícil de medir.

Como eleitora e contribuinte, espero que o Governo me explique bem a importância de ter Mário Centeno na presidência do Eurogrupo, caso a decisão de avançar com a candidatura seja tomada - a data limite para decidir é o dia 30 de Novembro. O que tenho ouvido até aqui – “seria uma grande honra” [António Costa] ou “prestigiante” [idem] – não chega.

Vista daqui, a liderança do Eurogrupo é uma oportunidade de carreira excepcional, como o era a presidência da Comissão Europeia. José Manuel Durão Barroso não voltou para Portugal depois de Bruxelas. É, sim, chairman de um dos mais influentes bancos a nível mundial, o Goldman Sachs. E Jean-Claude Juncker, o primeiro presidente que o Eurogrupo teve entre 1 de Janeiro de 2005 e 21 de Janeiro de 2013, está actualmente a engrandecer o currículo como presidente da Comissão Europeia - na altura era primeiro-ministro do Luxemburgo e ministro das Finanças. O futuro de Jeroen Dijsselböem, esse, logo se perceberá. Para já, está de saída da política.»

.

26.11.17

É este o turismo que se pretende?



No Porto, um bairro inteiro foi comprado para ser convertido em alojamento local.

«A Tapada é um dos bairros das Fontaínhas, com 88 pequenas casas na escarpa dos Guindais, que no início do mês foi comprado pela empresa de investimento imobiliário Porto Baixa. Os novos donos, responsáveis por várias requalificações na baixa portuense, pretendem reabilitar as casas do bairro para as transformar em alojamento local.»
.

Biografia



Helena Pato publicou hoje, no jornal Tornado, notas biográficas sobre a minha pessoa.

AQUI, para quem estiver interessado.
.

Dica (672)




«Ao Porto não interessa ter uma placa a dizer “Infarmed” num edifício municipal vazio. Interessa ter serviços qualificados e organismos com massa crítica e isso não se faz dispensando quem dedicou décadas a construir o mais importante naquele instituto: o seu conhecimento técnico. O problema de Rui Moreira é uma questão de fundo. Para ele, a descentralização não é uma forma de repartição do poder (pelas pessoas, pelos territórios, pelos diferentes grupos sociais), mas apenas um despotismo que muda de escala.»
.

O nosso 1997



«Em 1997, sonhávamos com 1998. Os sonhos tinham encontrado a árvore das patacas e desse casamento, acreditava-se, nasceria um país cosmopolita, culto e, também, rico.

Lisboa ia ser redesenhada e a Expo 98 mostraria ao mundo que Portugal já não estava refém de um império com pés de barro. Grupos económicos portugueses renasciam, um dinâmico sector financeiro alicerçava-se, empresas como a PT e a Cimpor pareciam poder ser as nossas novas caravelas para conquistar o mundo. O velho sonho de Camões de que os portugueses poderiam ser deuses no lugar dos deuses ameaçava ser possível. A idade do consumo estabelecia-se e nada parecia poder opor-se à nossa nova saga para ultrapassarmos os novos cabos da Boa Esperança. A Europa chamava por nós. Mas, já então, nessa nossa inocente alucinação, estavam semeados os nossos cíclicos encontros com a realidade e com a nossa conhecida incapacidade de organização, de construirmos mais do que conjunturas radiosas, de ultrapassarmos a nossa incapacidade de definirmos projectos de longo prazo. Estava tudo na canção que representou Portugal no Festival da Eurovisão desse ano: chamava-se simplesmente "Antes do Adeus".

Não sabíamos, então, que estávamos a entrar numa crise profunda, típica da nossa vocação de Ícaros fora do tempo. O resultado é que agora somos uma sociedade mais desigual, social e geracionalmente, como consequência da recessão. Não sabíamos que trocaríamos a nossa disposição de conquistar o mundo por uma crise de confiança. Não sabíamos que o défice e a dívida voltariam não como farsa, mas como um cutelo. Não sabíamos o que nos custaria a falta de um projecto para Portugal, enquanto algumas elites se entretinham a aproveitar as benesses do Estado. Não sabíamos que nos iríamos equivocar no diagnóstico e que o resultado seria a austeridade e a fuga de uma geração de jovens quadros em busca de oportunidades noutras partes do mundo. Não sabíamos, em 1997, que todos os sonhos tinham sido trocados pelos nossos Midas: o ouro prometido haveria de se transformar em chumbo. Como sempre.»

.