9.5.20

Pelo humor é que vamos...


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Creches? Talvez com jaulas…




Mais vale ler toda a notícia, mas eu não sei, nem consigo imaginar, como é que isto tudo vai funcionar com crianças até aos 3 anos.

Pelos vistos não é só cá, como se vê pela imagem: mais valia que arranjassem jaulinhas individuais e metessem lá as criancinhas!
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Viagens?



Não lhe digo nada e continua em cima de uma cama, pronta para partir. De vez em quando terei de ir limpar o pó, eu sei...
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Quando pudermos voltar a chorar



«Era maio de 2020, os ténis deixados à porta, agora rotos da corrida intensa em tempo concentrado, simbolizam o “grande confinamento”. Ela apercebeu-se da velocidade vertiginosa da transformação brutal do mundo em 45 dias, a casa transformada num cemitério de recordações do passado, uma civilização extinta onde não era permitido chorar.

Resolveu fazer uma visita virtual ao museu Guggenheim de Veneza, lá está ele sobre o verde trémulo do canal, procura o quadro de Giorgio De Chirico, “A Torre Vermelha”. Mergulhar na sua pintura metafísica, as figuras como vazios misteriosos a carregar consigo um sentimento de solidão e silêncio, meias pessoas meias estátuas, a luz derramada sobre o largo como um raio-X, toda a atmosfera de melancolia e enigma. Não há passado nem futuro, a vida transformada numa abstração indizível, o fim de todos os desejos. Permanece a morbidez do nada, como agora.

A ditadura sanitária do vírus-terrorismo pode matar-nos. A ciência não é unívoca, não temos razões para acreditar cegamente em políticas sanitárias radicalizadas, há muitos outros cientistas a apontar-nos a racionalidade do caminho de conviver com o vírus e combatê-lo. A resposta não está na curva epidemiologista ou no índice de infeção, talvez na combinação regrada e integrada de uma política de saúde com a economia a funcionar, evitando a miséria sem precedentes, uma invencível desigualdade social, a catástrofe económica e social iminente. As dúvida fazem parte desta fase, e não são fonte de medo, de terror mas de escolhas de caminhos lógicos e não absurdos. A tecnologia só por si é a resposta mórbida, até porque uma APP saudável só seria eficaz com 100% da população rastreada, o que faz dela um instrumento estigmatizador. Só uma política humanizada poderá impedir que tudo se transforme em pó, cinza e recordações. Os infecciologistas ponderados afirmam que aprender a viver com o vírus faz parte da nossa condição humana, vamos adaptar-nos a ele e ele a nós, o aumento da infeção será aumento de imunidade, um dia, não o fim do mundo. Combater o vírus e simultaneamente trabalhar, ganhar a vida, ser gente, não são realidades inconciliáveis. A morte continuará a fazer parte da vida e como vimos durante o “grande confinamento” houve mais mortes não-covid, além da imersão verificada de todas as patologias da desigualdade e da pobreza.

O território proibido do jardim ao fim da tarde como extensão dos mistérios daquela pintura, a luminosidade demasiado intensa, as pessoas emolduradas em suspenso numa realidade impenetrável. Está muito calor, miúdas em biquíni e rapazes em tronco nu na relva, um homem a treinar com elásticos presos na árvore, impressionismos ou surrealismos, sempre marcados pela metafísica do nada. Procuramos um futuro aparentemente inatingível.

No dia em que compreendermos que temos que combater o vírus convivendo com ele, sem medo irracional, ficaremos infinitamente fortes, poderemos finalmente chorar, como seres racionais. Isto já não é um problema sanitário, mas de direitos humanos.»

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8.5.20

Rentes de Carvalho




- Estamos a ligar-lhe para a Holanda, onde vive parte do ano. Deixe-me perguntar como está a viver este momento de confinamento e como vê a pandemia de Covid-19?

- O confinamento já não me assusta coisa nenhuma, e o vírus também não me assusta. Se vier, vem, se me matar, matou. Não me importa. O que me assusta enormemente, de um modo que me tira a respiração, é a maneira como, em todo o mundo, os cidadãos aceitam a falta de liberdade. Se um dia destes um governo anunciar que há um enorme perigo e que vem aí outro vírus, as pessoas dizem adeus à liberdade, não querem saber de nada! É um medo tão estranho. As pessoas saíram de si, e não pensam no futuro, nem nada, nem numa tragédia que pode ser uma ditadura. Perdemos a liberdade em três ou quatro dias e ninguém se queixa. Eu fico assustado. Isso para mim é tão estranho e tão fora do natural, que me pergunto se o mundo endoideceu?! E tenho medo, acredite que tenho medo!
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Já nem me indigno, sinto-me gozada



«O Novo Banco contratou um novo administrador financeiro no ano passado e, para o conseguir atrair, pagou 320 mil euros como bónus. Este valor acresce aos cerca de 2,3 milhões de euros atribuídos ao conselho de administração do banco em 2019. (…) 

[O] aumento dos salários fixos dos administradores executivos em 2019 verificou-se num ano em que o Novo Banco voltou a marcar prejuízos, de 1.059 milhões de euros, ainda assim inferiores às perdas de 1.413 milhões de 2018. Foi por conta da evolução dos ativos problemáticos em 2019 que o banco precisou de mais de mil milhões de euros, com ajuda de 850 milhões dos cofres públicos (dinheiro que chegou esta semana, e que levou o primeiro-ministro a pedir desculpa ao Bloco de Esquerda, como contou o Expresso).»
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Imunidade sem rebentar SNS: trabalhadores são os novos heróis



«Os austríacos ou os checos são os mais inteligentes da pandemia? O modelo sueco falhou? É absurdo fazer contas a meio desta corrida. Uma coisa sabemos já: quem confinou mais cedo, acertou. Mas a resposta à segunda vaga não será certamente igual. As circunstâncias mudam todos os dias e informação vital aflui com novos dados. O confinamento está a criar a maior crise económica da História do mundo. Não é um problema de bolhas económicas ou correções financeiras. É outra coisa nunca antes vista: não-produção à escala global, apesar de continuarmos a consumir. Temos de lutar contra duas pandemias em simultâneo. Podemos?

As informações mais relevantes dos últimos dias surgem, não dos cientistas das vacinas ou de novos fármacos, mas dos epidemiologistas. Neste momento são eles quem gerem as expetativas do mundo inteiro.

O que dizem os epidemiologistas? Com a informação disponível projetam cenários de imunização coletiva por países, com base em alguns pressupostos.

Primeiro pressuposto, positivo: a infeção não regressa após o primeiro contágio, dizem os investigadores sul-coreanos. Pode ainda ser cedo para se terem certezas, mas é um indício excelente.

Segundo pressuposto, o mais importante de todos: provavelmente mais de 80% da população não terá sintomas de Covid-19 e só menos de 20% das pessoas acabem infetadas. No universo de casos positivos, 85% fica em tratamento assistido em casa, mais de 10% necessitam de internamento, e menos de 3% têm precisado de cuidados intensivos/ventiladores.

Estes pressupostos fazem toda a diferença face ao que sabíamos há dois meses: não temos de imunizar ou encontrar resposta médica para toda a população, mas apenas para 20%.

O extraordinário estudo de Loulé

O estudo serológico levado a cabo pela Fundação Champalimaud e o Algarve Biomedical Center, em Loulé, trouxe esta semana os primeiros dados nacionais de grande relevância quanto à imunidade.

Em 1235 pessoas testadas - funcionários da Proteção Civil, forças de segurança e trabalhadores dos mercados -, há esta surpresa: por cada teste positivo 14 casos Covid-19 eram assintomáticos, e como tal não testados. É uma proporção brutalmente acima da taxa de infeção que se julga de referência (1 infetado por cada 4 saudáveis).

O exemplo de Loulé é simbólico, mas mais um, que apoia a base matemática apresentada pelos epidemiologistas. Há uma imunização coletiva a desenvolver-se por todo o mundo e a velocidade parece superior ao que pensamos. No limite extremo deste otimismo estão os investigadores de Singapura que anunciaram um possível fim da Covid-19 para este ano.

A doutorada em matemática de epidemiologia Gabriela Gomes, atualmente na Escola de Medicina Tropical de Liverpool, previu o fim da Covid-19 para Portugal no Outono/Inverno de 2021, sem nunca ultrapassarmos a curva de resposta do SNS e sem nenhuma vaga maior que a de Março passado.

Espanha, por outro lado, teve tantos casos que vai estar fora da Covid-19 muito mais cedo e sem mais vagas.

Ora, informações como estas são importantíssimas. Porquê? Manter a fronteira fechada com Espanha pode acabar por não ser perigoso para nós, daqui a meia dúzia de meses - e isso é vital para o turismo.

É verdade que "imunidade" passou a ser uma palavra maldita, depois da loucura inicial de Boris Johnson, Trump, Bolsonaro e alguns outros. Não enfrentar a Covid-19 no arranque é absurdo, sobretudo quando não se tem sistemas de saúde minimamente preparados.

Todavia, os suecos, que arriscaram mais, até agora não rebentaram a capacidade do seu SNS, embora tenham mais vítimas que os seus vizinhos. Mas os seus cientistas dizem que, no final das diferentes vagas, o padrão de óbitos será idêntico em todo o lado - desde que os SNS funcionem para não haver vítimas extra por falta de tratamento.

Claro, não tivesse Portugal confinado e certamente estaríamos com um cenário de vítimas proporcionalmente idêntico ao de Itália e Espanha. A estratégia foi certíssima no início de Março. Mas coisa diferente é manter-se uma defesa sistemática do confinamento radical daqui para a frente, num mundo em que o SNS não está a rebentar pelas costuras e há hospitais de campanha preparados, muito mais ventiladores disponíveis, e, ainda por cima, este ponto novo: afinal, talvez só 20% ou menos da população não esteja "imune" à Covid-19.

A ser assim - e as próximas semanas vão responder a isso - não só é positivo que o processo de imunização coletiva continue, como vamos poder reabrir a economia com mais confiança em menos tempo. Porque, no final, abrir as fronteiras e os aeroportos dependerá deste ritmo de imunização que o Instituto Ricardo Jorge vai estudar em breve.

Outro dado muito importante é trazido por alguns biólogos, que alertam para um novo perigo: a falta de contacto humano não nos vai permitir produzir imunização a diferentes tipos de "pequenas doenças" como a gripe. E isso vai tornar-nos mais frágeis. Obviamente não podemos correr riscos agora, mas é importante perceber que os "outros" não são apenas ameaças biológicas. No final disto vamos precisar muito da nossa vida em sociedade sem máscaras e com abraços porque "outros" são, quase sempre, aliados biológicos.

(Frise-se: enquanto não existir vacina ou um medicamento eficaz, todo o cuidado é pouco. A missão social de cada um é usar máscara, lavar as mãos e manter a distância social de forma a não contrair a doença.)

Combater o pânico

O novo combate pandémico passa agora por enfrentar o mundo com lucidez crescente. Sabermos ler os números sem pânico e com base em três parâmetros: quantos novos casos e vítimas tem cada país por milhão de habitantes; quantas pessoas perdem a vida diariamente em cada país; e se o número de óbitos é muito excendentário face à média diária. Se os telejornais fizessem isto, fariam uma leitura mais rigorosa da realidade, e com isso diminuiriam a sufocante angústia Covid-19.

No caso português, todos estes vetores são, à data de hoje, completamente aceitáveis. Aliás, mesmo com 500 ou mais casos diários - desde que a taxa de transmissão sintomática (o tal R0) seja sempre inferior a 1 - podemos coabitar em equilíbrio com o regresso ao trabalho.

Um dia como o de ontem, com 539 novos casos, menos de mil doentes internados e menos de 200 nos cuidados intensivos, é um dia na média do expectável. Porque significa que a velocidade da nossa imunização se processa a bom ritmo (como se viu em Loulé), e o SNS está a menos de metade da capacidade de resposta normal ao coronavírus.

Os trabalhadores portugueses, que permaneceram ou estão a regressar ao trabalho, são os heróis desta segunda fase. São eles quem se estão a expor ao risco de manter o processo de imunização em curso (ou contrair a doença, mas serem defendidos pelo SNS). São eles que saíram do lay off e voltaram a produzir. São eles que nos vão voltar a fazer exportar a breve prazo.

Hoje, 8 de Maio, dia da Vitória, 75 anos depois da derrota nazi, o combate dos trabalhadores pela economia portuguesa é, também ele, mais um ato de um quotidiano histórico e heroico que nos vai ajudar a salvar o país de uma gigantesca crise económica. Não podemos ficar atolados em dívida e nas mãos dos cruéis credores e agências de rating de que ainda nos lembramos bem. Máscaras e imunidade são as novas armas do quotidiano. Há uma luz ao fundo do túnel. É segui-la.»

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Bansky, sempre ele




«Pintura encontrada em hospital de Southampton vai ser leiloada após estar em exibição na unidade de saúde. Receitas vão reverter para o NHS, sistema nacional de saúde britânico.»

«Banksy, o artista anónimo mais conhecido do mundo, decidiu prestar homenagem aos enfermeiros, médicos e outros profissionais de saúde que ajudam a salvar vidas nos hospitais do Reino Unido. A pintura feita pelo artista foi encontrada num hospital em Southampton, cidade no sul da Inglaterra, onde permanecerá em exibição durante os próximos meses, antes de ser leiloada.

Nesta obra, Homem-Aranha e Batman, dois dos super-heróis mais importantes do universo da banda desenhada, observam, impotentes, a partir do lixo, um menino que brinca com o novo super-herói dos tempos modernos. Neste caso, super-heroína: uma enfermeira equipada com bata e máscara de protecção, às quais se juntam uma capa e um gesto com o braço direito que fazem lembrar o Super-Homem.»
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7.5.20

Uma iniciativa maravilhosa!




«Estas equipas estão a usar uma técnica especial chamada recorte de coral para plantar pedaços de coral nas áreas mais afectadas pelas alterações climáticas. (…) Ao todo, são cinco as empresas de turismo que se inscreveram no Coral Nurture Program, uma parceria entre turismo e ciência para melhorar a administração do recife. (…)

Tudo isto resulta em uma dramática, embora necessária, mudança de rumo para as empresas que antes enchiam os seus catamarãs com turistas para visitarem os corais.

Os recifes de coral serão um elemento essencial num mundo pós-coronavírus. Além de abrigar inúmeros animais marinhos, também protegem os seres humanos, formando um amortecedor natural contra ondas, tempestades e inundações.

Dada a nossa situação actual do coronavírus, também é uma tarefa especialmente oportuna: os recifes de coral são considerados os “armários de remédios do século XXI”.

“Plantas e animais de recifes de corais são fontes importantes de novos medicamentos para tratar cancro, artrite, infecções bacterianas humanas, doença de Alzheimer, doenças cardíacas, vírus e outras doenças”, observa a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica americana no seu site.

Os recifes também alimentam a economia, já que atraem turistas de mais de 100 países. Mas a extrema sensibilidade dos corais também pode ser a sua ruína. Tudo, desde o tráfego de navios até a sobrepesca e as alterações climáticas induzidas pelo homem, estão a ter um impacto perigoso nos sistemas de recifes do mundo.

Estima-se que 50% da Grande Barreira de Coral, por exemplo, já tenha sido perdida, com especialistas a prever que o restante poderia desaparecer nos próximos 30 anos.»
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Isto está a ficar preocupante




Isto começa a ser preocupante e a não ter graça nenhuma. Pretende-se um novo impedimento de sair do concelho de residência, desta vez por causa do 13 de Maio? Situação de Calamidade transforma-se-se em Estado Sitiado? 

«O presidente da Comissão Distrital de Protecção Civil de Santarém defendeu hoje que o Governo deve voltar a proibir as deslocações para fora dos concelhos de residência de forma a evitar a presença de peregrinos em Fátima.»
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Não há remédio



«Para grandes males, grandes remédios. Um adágio que parece ter sido escrito para tempos como os que vivemos. Uma emergência sanitária que se transformou numa profunda crise económica e evolui para uma crise social desastrosa. Há um preço a pagar pela opção de ficar em casa. Em troca de maior resguardo ao vírus, que não atravessa paredes, ficámos expostos a um conjunto de outras doenças que nos bateram à porta: ao fecho de milhares de negócios e empresas que deixaram tantos pequenos empresários e as suas famílias sem sustento; aos despedimentos de milhares de trabalhadores precários (sempre os primeiros a pagar a fatura); ao lay-off (redução salarial) para mais de um milhão de pessoas; e, em casos mais extremos, à fome, cada vez mais visível nas ruas. Grandes males, portanto. Que exigiriam grandes remédios. Usemos dois exemplos dos últimos dias. O primeiro dirigiu-se aos concessionários de autoestradas, que tinham receita garantida, mesmo que não circulasse um único carro. Um daqueles contratos que ajudou à bancarrota de 2011. O Estado avisou os baronetes do asfalto que não vai pagar em dinheiro, mas na verdade não os deixará de mãos a abanar e admite pagar em espécie, prolongando os contratos no tempo. Ainda assim, já se anuncia o que aí virá: processos em tribunal e, a julgar pelo caso das famigeradas "swaps", uma conta ainda mais gorda para pagar. O segundo exemplo tem a ver com a tentativa de PCP, PAN e BE impedirem as grandes empresas de se comportarem como nababos orientais e travar o pagamento de dividendos. A iniciativa não passará, uma vez que os dirigentes do PS e do PSD apreciam doses de populismo ocasional sobre a Banca, mas nada que interferira com a vida das grandes empresas e a necessidade de manter bem oleada a famosa placa giratória. A Galp (318 milhões), a REN (114 milhões) e a EDP (694 milhões), três empresas que já foram públicas, têm luz verde para continuar a festa, como se nada tivesse acontecido. Grandes males, grande remédios? Os adágios já não têm o valor que tinham.»

Rafael Barbosa
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Ora bem...


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6.5.20

Os deputados no primeiro dia do resto da vida deles…



…com máscara. E não tiveram um mini curso, não lhes mostraram um pequeno vídeo para não darem este espectáculo?

E lá teve o homem de se mascarar...

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Lima Duarte: «Eu não tive a coragem de você»




Mensagem para Flávio Migliaccio que se suicidou, como aqui noticiei.
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O Estado que vamos herdar



«O retrato publicado há dias neste jornal sobre o número de portugueses que dependem do Estado para viver é ao mesmo tempo assustador e reconfortante. Assustador porque, se a cifra já era expressiva antes da pandemia (cerca de 5,6 milhões de pessoas), evoluímos entretanto para patamares invulgares: sete milhões de cidadãos contam agora com algum apoio público para se manterem à tona. Mesmo considerando que possa haver duplicação de prestações sociais, falamos de dois terços da população. É esmagador. Mas estes números acabam também por nos trazer algum conforto, na medida em que, apesar da nossa pequenez geográfica e fragilidade económica (a que devemos somar a teia burocrática que agrilhoa tantos serviços públicos), ainda fomos capazes desta proeza. Na gigante Espanha, estima-se que durante a pandemia "só" 40% dos cidadãos estejam a ser apoiados.

Ora, escusado será dizer que nenhum Estado aguenta muito tempo um nível de esforço desta magnitude. Mas, chegados aqui, também é escusado dizer que esta crise maldita tornou evidente que não temos grande alternativa ao Estado quando tudo o resto falha. Não enquanto as famílias não recuperarem rendimentos que lhes permitam escapar à miséria. Não enquanto a atividade económica e as empresas não começarem a respirar um pouco melhor.

Sobre isto, vale a pena recordar o que disse o economista José Reis: "Tudo o que estava protegido pelo trabalho ficou desprotegido. E o único instrumento que temos hoje é o Estado. Não são as empresas, nem o capital, nem a Banca, nem os offshores. Andámos anos a tecer loas ao capitalismo e, afinal, quem não falhou foi o Estado". A claque dos liberais empedernidos dirá que é para isto que pagamos impostos. A claque dos socialistas efervescentes rejubilará com a imagem do "sonho bolivariano" tornado realidade.

A verdade, porém, é bem mais complexa do que qualquer dicotomia ideológica primária. Nem os recursos públicos são infinitos, nem a nossa capacidade de pagar impostos é inesgotável. Portanto, o que quer que seja o Estado depois disto, terá de ter ainda mais em conta o difícil equilíbrio entre estes fatores. Sairemos mais pobres desta borrasca e, porquanto, forçados a aprimorar não só os mecanismos de financiamento dos cofres públicos, como (e mais importante) os critérios que definirão os destinatários preferenciais do nosso esforço contributivo. Salvemos vidas e empregos no imediato, mas não nos esqueçamos de que haverá, no futuro, mais portugueses para salvar. Sobretudo os mais frágeis de entre nós, para quem o Estado é mesmo a única família.»

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5.5.20

Faz-se pela vida...


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O suicídio de Flavio Migliaccio




«Me desculpem, mas não deu mais. A velhice neste país é (…) como tudo aqui. A humanidade não deu certo. A impressão que foram 85 anos jogados fora num país como este e com esse tipo de gente que acabei encontrando. Cuidem das crianças de hoje.»

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Onde param os admiradores portugueses de Bolsonaro?



«Tudo se passou há menos de dois anos. Paulo Portas, já comentador, não via nada "eticamente reprovável" em Bolsonaro e considerava exageradas as acusações de ultraliberalismo. Nuno Melo, sempre enraivecido, desdobrou-se na defesa de Bolsonaro. Assunção Cristas não via diferenças entre o candidato democrático Haddad e este extremista de Direita. Santana Lopes chegou ao ponto de escrever-lhe uma carta de felicitações pela eleição. Carlos Peixoto, deputado do PSD, estava certo que o exercício do poder levaria Bolsonaro "à moderação e ao pragmatismo". Luís Nobre Guedes, do CDS, declarou que, se pudesse, votaria nele. André Ventura, do Chega, encantava-se com "essa frescura de pensamento que os liberais ocidentais podiam aprender com Bolsonaro".

As razões que levaram à eleição de Bolsonaro são complexas. Vão das campanhas de mentiras e desinformação, à pobreza e desgaste do Governo anterior. Mas, para que a história não se apague, é justo perguntar por todos, estes e outros, que, em Portugal, se dedicaram a banalizar a figura e, com ele, as políticas monstruosas que sempre anunciou a quem o tivesse ouvido.

Imagine-se a viver num país com 200 milhões de habitantes, onde 50 milhões são pobres, 13 milhões vivem em favelas sobrelotadas e o acesso à saúde é um privilégio para quem tem meios. Seria um contexto assustador para viver uma pandemia como a covid, não é? Imagine agora que, por decisão do Governo do seu país, os serviços públicos de água, alimentação, habitação, saneamento e saúde tenham sofrido cortes que, segundo a ONU, "violaram os padrões internacionais de direitos humanos". Imagine que o presidente desse Governo usa o tempo de antena disponível para convencer a população que a covid não existe, que não passa de uma gripezinha, uma doença de velhos e fracos. Sentir-se-ia seguro? E se esse presidente se opusesse ao confinamento social para manter a economia em pleno? Se despedisse o ministro da Saúde por causa dessa divergência, ou entrasse em conflito com governadores locais que impusessem algumas regras básicas de saúde pública. Confiaria nas autoridades? E em estatísticas oficiais? E se soubesse que esse seu país testava menos gente que países 20 vezes menores? Teria estômago para saber que há cadáveres a amontoarem-se em hospitais depauperados?

Perante mais de mil mortos num só dia, esta figura, que não levantou estranheza a figuras centrais da Direita portuguesa, responde: "E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagres". Alguns direitistas portugueses podem ter-se encantado com a eleição do extremista brasileiro, mas aposto que nenhum gostaria de viver a pandemia no país de Jair Bolsonaro.»

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4.5.20

Ferro Rodrigues e o baile das máscaras




Mudam-se as semanas, mudam-se as vontades – mascarados andarão.

«A decisão surge pouco mais de uma semana depois de Ferro Rodrigues ter recusado o uso de máscaras na sessão solene do 25 de Abril. “Então nós íamos mascarados para o 25 de Abril?”, questionou aos microfones da TSF.»
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Marcelo? Quem quiser que o compre




«"A minha ideia era mais simbólica e mais restritiva. Não era desta dimensão e deste número", declarou o chefe de Estado, falando em entrevista por telefone à Rádio Montanha, da ilha do Pico. (…)
De todo o modo, a "interpretação das autoridades sanitárias foi mais extensa, ampla e vasta" da que o chefe de Estado tinha idealizado no seu "espírito", declarando Marcelo entender as críticas à dimensão e características do assinalar da data em Lisboa.»
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Medo de existir



«É um abuso recorrer ao título do ensaio de José Gil e transpô-lo para um momento de paralisação que nada tem a ver com a sua reflexão sobre as prováveis causas do medo de arriscar e de enfrentar dos portugueses.

Mas há, no processo de transição que hoje iniciamos, um ambiente de alarme e uma sensação de anormalidade que nos confronta com decisões que têm tanto de existencial como de crise sanitária.

Muitos portugueses passaram o último mês e meio isolados. Se alguns estão ansiosos por mexer-se, outros receiam deixar a redoma protegida que criaram. Não há respostas seguras nem certezas. Mas também não há razões, nem sequer médicas, para considerar que pôr um pé na rua é uma fatalidade. A absoluta prevenção é perfeitamente compatível com a confiança. Confio na minha esteticista, nos cabeleireiros, na minha ótica e lojas de roupa. Confio nos outros e na nossa capacidade de nos protegermos solidariamente. Voltarei a viajar e a estar em hotéis assim que tiver condições para isso.

Parecendo uma banal frase feita, viver é de facto mais do que estar vivo. Não tenho a existência por garantida, nem ambiciono opções desprovidas de riscos. Continuo a preferir um mundo aberto e amplo, ainda que com imprevistos e incerteza acrescida, à visão de pessoas ensimesmadas e territórios cheios de fronteiras. Não podemos ficar de tal forma paralisados pelo medo que deixemos de viver.

Não é altura de ficarmos infinitamente a olhar para nós mesmos, nem a procurar culpados. O que nos faz mover, coletivamente, é a procura de soluções para os problemas. E por isso acredito que rapidamente teremos medidas para mudar um dos mais graves que persiste, no meio deste calendário para a reabertura: o isolamento dos mais velhos e a sensação de abandono de tantos que estão em lares. É a resposta mais urgente em que as autoridades da Saúde, o Governo e as instituições têm de trabalhar.»

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3.5.20

Georges Moustaki nasceu num 3 de Maio



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Dia da Mãe?



Eu também não fui filha do capim, embora tenha nascido em Moçambique.

(A minha mãe, na Praia da Parede, anos 20)
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3 de Maio na Sorbonne – e já lá vã 52 anos



Informação e vídeos neste «post» de 2018.
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O mistério da Cultura



«Raymond Chandler foi convidado, um dia, para escrever um argumento para o realizador Billy Wilder. Apesar de considerar que Hollywood era uma mansão mal-afamada, Chandler aceitou. Mas colocou uma condição. Tinham de pagar-lhe 150 dólares pelo trabalho. Wilder respondeu que tal não seria possível: o estúdio já tinha decidido pagar-lhe 750 dólares. Nunca houve o perigo de alguém chegar ao Ministério da Cultura e ser surpreendido por uma resposta assim. A generosidade tem limites na instituição sitiada no Palácio da Ajuda.

O Ministério da Cultura é um OVNI. Consta que os agentes Scully e Mulder chegaram a investigá-lo, mas o episódio dos X-Files com esta averiguação nunca foi exibido. De nada vale tocar à campainha do MC. Está desligada. Como se está a provar agora. Perante a implosão do sector da cultura em Portugal, o que fez? Criou um festival televisivo, que custaria um milhão de euros, e preparou um pacote para ajudar as editoras no valor de 400 mil euros. Com essa extremosa actividade, a sr.ª Graça Fonseca ganhou a distinção de “inexistência ministerial de 2020”. Não é um acaso. A sr.ª Fonseca, exemplar executiva, está no cadeirão do MC como poderia estar noutro lugar qualquer. Está lá em comissão de serviço para gerir uma casa sem destino e sem dinheiro. Viveu até agora de aparências.

Muitos acreditaram numa ilusão. Que, com a passagem de secretaria de Estado a ministério, a cultura ganharia dignidade. E dinheiro, o célebre maná do 1% (ou, mesmo, a utopia dos 2%). Errado. Nada mudou, só o nome. O resto, o dinheiro, continuou a ser uma miragem. A comédia continuou em marcha. Até agora. O momento da verdade. Acreditar que este MC existe é acreditar que Elvis Presley continua vivo. O MC é a caverna de Ali Babá. Bem os artistas podem clamar: “Abre-te, Sésamo!” A única coisa que de lá saem são personagens da Rua Sésamo. Divertem-nos, mas não têm ideias para a cultura nem dinheiro para fazer o que seja. São inúteis. Embora, bondosamente, acreditem (e acho que alguns acreditam mesmo) que estão ali para mudar o mundo.

O que custa mais é que o MC não tem uma estratégia para a cultura em Portugal. E isso é grave. O sucesso de um país depende das pessoas e das ideias. Não é só contabilidade. Há dias, o realizador Costa-Gavras dizia no El Mundo: “Creio que as coisas do espírito, a cultura, ainda mais nos tempos de crise, ajudam a reflectir, a unir as pessoas. A cultura liberta-nos dos nossos medos e faz-nos melhores. Por isso deve dar-se à cultura a mesma consideração, se não mais, que a todas as demais necessidades da sociedade.” Este poderia ser um momento de ruptura. Teme-se que seja o do colapso total.

Estes tempos lembram o célebre fim do século XIX, numa Viena por onde deambulava Karl Kraus. Aí, a política tornara-se a menos empolgante das artes performativas. Não eram os políticos, mas os actores, pintores, escritores e músicos que capturavam a imaginação das classes médias e altas. Com o império Habsburgo a desintegrar-se, parecia a Kraus que ali a vida já não imitava a arte. Estava a parodiá-la. Assistimos a tempos destes, e a política (como se viu nas propostas minimalistas e vazias para o sector da generalidade dos partidos políticos na última campanha eleitoral) trata a cultura como um acessório.

A existência da sr.ª Graça Fonseca à frente de um OVNI, o MC, é o fruto da inexistência de uma estratégia cultural do Estado em Portugal. Seja a nível das ideias, seja a nível do dinheiro para que elas se concretizem. Criou-se uma comédia: os políticos ainda gostam de rodear-se de artistas antes das eleições, mas rapidamente os substituem por visitas aos programas de entretenimento. O intelectual deixou de ser um passaporte de credibilidade. E, por isso, a cultura tornou-se um cálice frágil. Basta reler o OE de 2020 para ver que estão afectados a todas as áreas tocadas pelo MC muito menos de 0,5%, para sectores que vão da preservação de património ao cinema, teatro, dança ou literatura. É uma comédia para não rir.

A crise da cultura portuguesa, com as livrarias, os cinemas, as galerias e as salas de espectáculos fechados, é uma tragédia sem nome. O resultado de uma ilusão colectiva. Num mundo em que o economista substituiu o intelectual como referente, este sector sente na pele o quase desprezo pela cultura. Como se fosse um puro objecto comercial que deva ser colocado sob o signo das implacáveis leis de mercado. Sem mais. A cultura e o pensamento assumiram um papel subordinado face aos números e são incapazes de reivindicar o seu valor. Longe vão os tempos em que uma seguradora, a New England Life, usava uma biblioteca como referência num anúncio. Isso perdeu-se. Vamos descobrir rapidamente porquê.»

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