«Para grandes males, grandes remédios. Um adágio que parece ter sido escrito para tempos como os que vivemos. Uma emergência sanitária que se transformou numa profunda crise económica e evolui para uma crise social desastrosa. Há um preço a pagar pela opção de ficar em casa. Em troca de maior resguardo ao vírus, que não atravessa paredes, ficámos expostos a um conjunto de outras doenças que nos bateram à porta: ao fecho de milhares de negócios e empresas que deixaram tantos pequenos empresários e as suas famílias sem sustento; aos despedimentos de milhares de trabalhadores precários (sempre os primeiros a pagar a fatura); ao lay-off (redução salarial) para mais de um milhão de pessoas; e, em casos mais extremos, à fome, cada vez mais visível nas ruas. Grandes males, portanto. Que exigiriam grandes remédios. Usemos dois exemplos dos últimos dias. O primeiro dirigiu-se aos concessionários de autoestradas, que tinham receita garantida, mesmo que não circulasse um único carro. Um daqueles contratos que ajudou à bancarrota de 2011. O Estado avisou os baronetes do asfalto que não vai pagar em dinheiro, mas na verdade não os deixará de mãos a abanar e admite pagar em espécie, prolongando os contratos no tempo. Ainda assim, já se anuncia o que aí virá: processos em tribunal e, a julgar pelo caso das famigeradas "swaps", uma conta ainda mais gorda para pagar. O segundo exemplo tem a ver com a tentativa de PCP, PAN e BE impedirem as grandes empresas de se comportarem como nababos orientais e travar o pagamento de dividendos. A iniciativa não passará, uma vez que os dirigentes do PS e do PSD apreciam doses de populismo ocasional sobre a Banca, mas nada que interferira com a vida das grandes empresas e a necessidade de manter bem oleada a famosa placa giratória. A Galp (318 milhões), a REN (114 milhões) e a EDP (694 milhões), três empresas que já foram públicas, têm luz verde para continuar a festa, como se nada tivesse acontecido. Grandes males, grande remédios? Os adágios já não têm o valor que tinham.»
Rafael Barbosa
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